quinta-feira, 28 de abril de 2011

01 - ESPECIAL ELIZABETH TAYLOR: O PECADO DE TODOS NÓS - ESPECIAL 300ª POSTAGEM


NOTA: 10.
- Há um forte ao sul onde, alguns anos atrás, um assassinato foi cometido.

O último filme da lista é o menos conhecido da atriz. Mesmo naquela época, onde qualquer coisa que ela fazia virava capa de todas as revistas, o filme chegou sem muito alarde nos cinemas. E justo quando o encontro com Brando finalmente aconteceu. Talvez seja pelo seu conteúdo polêmico, ou talvez seja porque é tão bom que quiseram deixar em segredo. O fato é que até hoje o filme não é conhecido de muitas pessoas, mas pode valer muito a pena para quem procurar.
Dessa vez a adaptação não é de uma peça de teatro, mas sim de um livro e dirigido pelo grande diretor John Huston (de O falcão Maltês - Relíquia macabra, O tesouro de Sierra Madre entre outros grandes filmes). 
O filme se passa no tal forte do sul que é citado logo no início do filme como o local onde teve um assassinato. Brando interpreta um major Weldon do exército que dá aulas para soldados sobre liderança e bravura. Começamos a acompanhar também, que ele começa a manifestar um homossexualismo que tenta reprimir, afinal, isso não seria bem visto no exército e poderia prejudicar sua carreira. Ele é casado com Leonora (Taylor), a filha de um militar meio masculinizada que faz questão de mostrar quem manda na relação e que o trai com um outro oficial.
Na casa ao lado, mora esse oficial que é "amigo" de Weldon, Morris, e sua mulher, Alison, gentil mas com problemas psicológicos. Ela passa a maior parte do tempo trancada dentro de casa com seu criado, e amigo, Anacleto, um filipino que agrada seus dias. O último personagem importante é o estranho soldado Williams (Robert Foster), que não é muito atento às ordens mas que é muito bom em cuidar dos cavalos.
Tudo começa a sair dos eixos quando Brando decide cavalgar o cavalo de sua mulher. Em determinado momento, ele perde o controle do cavalo que sai em disparada pelo meio da mata até derrubar o cavaleiro. Irritado, ele pega uma madeira e castiga o cavalo. Quando chega em casa, a mulher descobre o que ele fez ao animal e bate com o chicote na cara do agressor. Não só ele mostra que não tem a capacidade de cavalgar o cavalo da mulher, quanto é desmoralizado em frente a todo o quartel. A partir daí, começa a se desintegrar, a aponto de sequer conseguir fazer direitos as suas palestras.
Taylor está competente como nos outros filmes, mas aqui é novamente eclipsada por outro talento. Depois de uma sequência ingrata de atuações desastrosas, Brando renasce e toma conta do filme. A cena do cavalo é o ponto alto do filme com uma atuação magistral. Talvez um dos pontos altos de uma brilhante carreira.
Quem se dispor a assistir, pode se surpreender com um filme realmente bom. A fotografia é muito bem feita e bonita, toda puxada para o dourada, o que dá um efeito muito interessante no filme. Só não espere ver os belos olhos de Taylor se sobressaírem na fotografia, mas ainda assim é interessante. E apesar de ser eclipsada por Brando, mostra também o talento de Taylor, que tinha que mostrar a cada filme que não tinha apenas beleza, mas também talento. Talvez por isso tenha ido tão longe, ela sempre conseguiu mostrar que era mais. E especial. 
Eu encerro aqui o especial. Espero que tenham gostado de acompanhar tanto quanto gostei de homenagear essa lenda. Até o próximo especial.

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quarta-feira, 27 de abril de 2011

02 - ESPECIAL ELIZABETH TAYLOR: QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF?


NOTA: 8,5.
- Eu juro que se você existisse, eu me divorciaria de você.

Esta é outra adaptação de uma peça que entra nesta lista. Dessa vez, uma peça escrita por Edward Albee, que ao contrário de Tennessee Wiliams, gostou do resultado final da transposição para as telas. Ela divide as telas (novamente) com Richard Burton e o resultado também é de um filme com uma acidez fora do normal. Poucas vezes um filme teve todos os seus atores creditados indicado para o Oscar, este é um deles. As duas mulheres venceram, os dois homens não.
Acompanhamos a volta para casa do casal principal: Martha (Taylor) e George (Burton). Eles estão vindo de um jantar, e um jovem casal que estava junto se juntará a eles em breve. Aparentemente para beber mais ainda do que já beberam e poderem conversar com mais franqueza. A pequena reunião começa com pequenas brincadeiras de mal gosto que vão ficando cada vez mais cruéis com o avançar da noite, e do nível alcoólico de todos. Em especial do casal anfitrião que, mais velhos, estão mais acostumados em dizer as piores coisas um para o outro. O amanhecer traz apenas a destruição total dessas pessoas.
Além do quarteto, há um importante personagem que não aparece de verdade. É o pai de Martha, dono da universidade onde os dois homens do filme trabalham. George parece não ter conseguido chegar onde queria lá dentro e a chegada deste novato vem a ser uma ameaça. O pai de Martha não parece confiar nele. Além disso, Martha sempre compara seu marido com o pai. Mais uma forma de rebaixar George é idolatrando o pai. Não há muito que ele possa fazer, afinal é o dinheiro de pai de Martha que os mantém naquele lugar.
Aqui neste filme, pelo menos, há uma tentativa de esconder o tom teatral do filme. Os personagens se movem para diferente cômodos da casa e há cenas no jardim e eles até mesmo saem da casa para irem a um bar, em determinado momento. Não afasta totalmente a sensação de estarmos vendo uma peça, mas pelo menos ameniza.
Adaptações de peça de teatro para o cinema são sempre complicadas. Em especial naquela época em que muita coisa era assunto proibido em Hollywood. Por isso muito cineastas evitam adaptações. Mike Nichols não apenas topou a parada como fez desse filme sua estréia, baseado em uma peça que era o maior sucesso da época. Só é uma pena que os enquadramentos não são inventivos e Nichols ainda não sabia como deixar sua marca. Parece que a presença de dois astros, muito maiores que ele, o intimidou e ele queria apenas acabar logo com o trabalho. Longe de ser o Nichols que conheceríamos depois por Closer e A primeira noite de um homem.
Ainda assim, é um filme muito interessante. Taylor usa a experiência em Gata em teto de zinco quente para comandar o show de maldades do filme. Se no outro ela dividia a cena com outras pessoas, aqui ela é soberana e mesmo Burton não consegue pará-la. Umas das atuações mais impressionantes da atriz, que declarou ser este seu melhor trabalho. Se é realmente o melhor trabalho, é difícil dizer, mas com certeza foi marcante. Espetacular como ela.

terça-feira, 26 de abril de 2011

03 - ESPECIAL ELIZABETH TAYLOR: CLEÓPATRA


NOTA: 6.
- Ela é bem familiarizada com assuntos de ciência e matemática. Fala sete línguas fluentemente. Não fosse uma mulher, seria conhecida como intelectual.

Claro que não poderia deixar este filme de fora, já que é provavelmente o filme mais famoso da atriz. Mas também é claro que ele entra na lista mais pela fama do que pela qualidade. Dos cinco escolhidos para a lista, este é com certeza o mais fraco de todos. Para quem quer ver a atriz apenas, sem ligar para a qualidade, pode ser uma boa pedida, já que de suas longas quatro horas de duração, ela aparece em mais de três. Sem esquecer que esse é o famoso filme que ela recebeu o cachê de 1 milhão, valor alcançado pela primeira vez por um ator. Nada que aumente muito o total dos 44 milhões que o filme custou.
O diretor, Joseph L. Mankiewicz, fez questão de dizer que queria que a história pudesse se sobrepor à grandiosa produção. Para ter certeza que isso ia acontecer, ele apresenta não uma, mas duas histórias com duas horas cada. A primeira é sobre o romance entre ela e Julius Caesar, com quem acaba tendo um filho. A segunda é de seu romance com Marcus Antonius, que para soar melhor na terra do Tio Sam vira Mark Antony, com quem passa seus últimos dias.
Então o filme vira uma batalha entre a direção do filme e a direção de arte. Mankiewicz, porém, está em uma batalha perdida. Apesar de contar cada mínimo detalhe com muita calma (isso não é elogio, só para constar que o filme soa arrastado), tudo é muito grandioso e lindo de se ver. Cenários, vestimentas, objetos de cena e até mesmo uma frota de navios. Uma réplica do fórum romano foi construída nos estúdios da cinecittà, mas a soberba da produção fez com que ficasse três vezes maior do que era na realidade. E ainda assim, o diretor falha onde esperava acertar. Apesar da primeira parte ser até interessante, embora não seja brilhante, a segunda é bastante decepcionante. Grande parte porque o amor entre Marcus Antonius e Cleópatra não parece ser real. Eu não acredito que eles se amem em momento algum. Marlon Brando estava cogitado para o papel, talvez o resultado fosse mais interessante com ele como Marcus Antonius.
Dizem que o diretor teve a idéia de ter dois filmes de 3 horas. O estúdio insistiu em único filme. O primeiro corte do diretor tinha cinco horas e meia. Depois fez o corte final com mais de quatro. Agora, depois da morte de Taylor, estão cogitando lançar a "versão do diretor" com as seis horas que ele queria. Talvez, nessa nova versão, a a morte de Julius Caesar (Rex Harrison, a melhor coisa no filme) seja melhor aproveitada.
Naquela época, ninguém poderia acreditar que tanto dinheiro pudesse ser gasto em único filme. Ele foi concebido para ser um super espetáculo, como Ben-Hur ou E o vento levou..., mas não consegue se equiparar a nenhum dos dois. Se torna um filme muito menos interessante por isso. Não chega a ser ruim, mas o seu grande problema é o seu tamanho. Pense em custo benefício. Pouco filmes valem realmente serem assistidos por mais de três horas. Cleópatra, mesmo com a presença de Elizabeth Taylor, não vale a pena ser assistido por quatro.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

04 - ESPECIAL ELIZABETH TAYLOR: GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE



NOTA: 8.
- Eu tenho coragem de morrer, Brick. Minha dúvida é se você tem coragem de viver.

O segundo filme escolhido é esta adaptação para as telas da peça homônima de Tennessee Williams, que também escreveu Um bonde chamado desejo. O autor ganhou dois pullitzer em sua carreira, e os prêmios foram dados por essas duas peças. A pressão por conta da adaptação era grande e o resultado decepcionou muita gente. Inclusive o próprio autor da peça e até mesmo Paul Newman, que esperavam que certos temas fossem mantidos.
Toda a história gira em torno da possibilidade da morte de Big Daddy (Burl Ives). Ele é o patriarca desta família, que se une para comemorar seu aniversário. Na verdade, a comemoração é apenas uma desculpa para que possam bajulá-lo e convencer que devem ficar no controle dos negócios. Todos querem sua parte da herança, menos Brick (Newman), que está mais preocupado em acabar com as garrafas de bebida da casa.
Uma situação como essa, faz com que "o melhor e o pior da família venham à tona", como diz Brick. A comemoração vira uma lavagem de roupa suja, onde Gooper (Jack Carson) e Mae (Madeleine Sherwood) aproveitam cada ocasião para puxar o saco de Big Daddy e denegrir a imagem de Brick. Todas as questões serão discutidas: Quem se considera melhor para cuidar dos negócios? Por que Brick e sua esposa, Maggie (Taylor), não têm filhos? Por que ele bebe tanto? E por que evita tanto o contato com seu pai?
A grande sacada, é fazer com que cada cena tenha sua dose de veneno. E apesar da maior parte estar guardada para Ives e Newman, todos os atores em um determinado momento tem suas chances de destilar seus venenos também. Não há pessoas inocentes aqui. Todos sabem como atacar e dizer as coisas mais cruéis.
O que faz com que o filme perca força em relação à peça, são as modificações que foram feitas na adaptação. Na peça há insinuações de homossexualismo, fato que é substituído por uma complicada trama sobre negócios em esporte. Uma pena que a história perca força por causa do puritanismo da indústria, mas ainda assim a história ainda mantém parte da sua força.
Já a grande força mesmo do filme está na força das atuações do elenco. Todos eles, sem exceção. Newman tem uma papel ingrato de um jovem atormentado que esconde seus problemas atrás da bebida até ter coragem de resolvê-los. Taylor está ótima como a mulher que não quer largar o marido que sequer encosta nela. Assim como ela quer seu marido de volta ela também quer que Brick tenha direito à herança. Ela já foi pobre e não pretende voltar para essa situação. Ives é o típico homem poderoso que pisa em todos que estão na sua frente. Mesmo que esta pessoa seja sua própria esposa que devotou sua vida a ele. Todos ótimos.
Não tivesse tanto pudor em contar a história e se fugisse um pouco mais da aparência de um "teatro filmado", poderia ser um filme inesquecível e provavelmente definitivo sobre a peça. Ainda assim, pelo talento que se tem aqui, é um filme difícil de ser batido em futuras adaptações. E apesar de seus defeitos, é um bom filme.

domingo, 24 de abril de 2011

05 - ESPECIAL ELIZABETH TAYLOR: ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

Está chegando a postagem de número 300 deste blog. Como já fiz anteriormente, a comemoração do blog é a homenagem a alguma lenda do cinema. Da outra vez, a postagem de número 200 brindava 10 filmes do diretor francês Godard.
Para comemorar a chegada da 300ª , resolvi homenagear a que foi uma das maiores , se não a maior, estrelas do cinema: Elizabeth Taylor. O tipo de estrela que Hollywood não faz mais. A atriz faleceu em março deste ano, para a tristeza do mundo. Aqui, separo cinco filmes da atriz. Os filmes estão dispostos por ordem cronológica. Comecemos a contagem regressiva.




NOTA: 10.
- Dinheiro não é tudo.
- Não é quando você o tem.


O primeiro filme da lista, é um dos melhores filmes da atriz e um dos maiores sucessos da Warner Bros. em muitos anos. Antes do surgimento dos blockbusters, claro. Os números foram tão impressionantes, que não foram batidos até o lançamento de Superman, mais de 20 anos depois. Este filme também é conhecido por ser o último filme de James Dean. O ator morreu em um acidente de carro antes do seu lançamento. Pelo menos sua despedida foi num grande filme.
O filme é quase um documentário sobre como os barões do gado se transformaram em magnatas do petróleo. Nós acompanhamos toda a transformação através dos olhos da personagem de Taylor, Leslie. Primeiro como funcionavam aquelas terras em um sistema praticamente feudal, para vermos as transformações e o individualismo dando lugar a uma horda de trabalhadores.
Leslie se casa com Jordan Benedict (o também saudoso Rock Hudson) e os dois se mudam para um rancho isolado. A princípio ela não gosta da mudança, mas assim como aprende a amar seu marido, ela aprende a gostar daquele lugar. Lá, Jordan tem seus atritos com um capataz que trabalha para ele, Jett Rink (James Dean). Num acordo, ele dá a Rink uma pequena parte de sua terra. A princípio ele acha que Rink não vai conseguir muita coisa naquele espaço de terra, mas é Rink que perfura e descobre petróleo pela primeira vez. Não só ele começa toda a produção de petróleo naquela área, como se transforma no primeiro magnata do petróleo.
É apenas uma questão de tempo até que todos fiquem adeptos da nova onda. É difícil ignorar a quantidade de dinheiro que é gerado por aquela prática. Até mesmo Jordan, apesar de resistir o máximo que pode, se vê tendo que aderir. A corrida desse "ouro negro", transforma totalmente a cidade e até mesmo os habitantes.
Outras tramas permeiam a história, mas o grande mérito é não ficar um filme arrastado apesar da sua duração. Grande parte da "culpa" é da habilidade do diretor de transformar cada tomada em um espetáculo visual impressionante. Cada cena, e cada enquadramento, é tão bem trabalhado que ficamos arrebatados a cada momento.
O elenco foi muito bem escolhido. Rock Hudson é o personagem que menos muda. É um homem de princípios e muito teimoso, e que no final do filme continua teimoso. Certas pessoas não mudam. Dean rouba a cena quando aparece. Ele é espirituoso e depois de ficar rico, faz uma espécie de milionário vulgar. Hoje, com certeza seria bilionário. Mas é Taylor quem brilha aqui. Como disse, acompanhamos o filme através de seus (belos) olhos. Ela é a essência do filme. Uma mulher também espirituosa mas muito sensível, que pouco a pouco no filme vai se transformando em uma mulher tolerante. É por filmes como esse, que ela mostra porque era a estrela maior. É competência em sua atuação misturado com uma beleza fora do normal. Apesar de na época muitas pessoas acharem que ela não sabia atuar.
Alguém escreveu que um grande filme deveria ser "grandioso e magnífico". Se for assim, este é com certeza um grande filme. Talvez o melhor dessa estrela e um ótimo começo para a lista.

sábado, 23 de abril de 2011

O FILHO DA NOIVA



NOTA: 8,5
- Eu não assisto filmes argentinos. Trabalho o dia inteiro. Você sabe como é.
- Eu não assisto realidade argentina.

No ano de 2002, a academia premiava o insosso Uma mente brilhante como melhor filme do ano, que apenas confirmava seu (fraco) favoritismo. Na parte de filmes estrangeiros, a briga era muito mais interessante. O premiado acabou sendo Terra de ninguém, mas estavam também na briga os ótimos O fabuloso destino de Amélie Poulain e este O filho da noiva.
Aqui, acompanhamos a relação entre homens e mulheres de diferentes épocas. O filme se passa em apenas uma época, apenas que dizer que os homens nasceram em épocas diferentes. O filho da noiva é Rafael Belvedere (Ricardo Darín), pai divorciado que tenta tocar o restaurante familiar em plena crise econômica. Por conta da crise, o trabalho de manter o restaurante se tornou quase impossível e consome o tempo e a vida de Rafael.
De outra época é seu pai, Nino Belvedere (Héctor Alterio). Sua esposa, mãe de Rafael, tem alzheimer e está internada num asilo já que requer tratamento especial, mas isso não impede Nino de visitar sua esposa todos os dias, com uma paixão tão impressionante mesmo depois de tantos anos que emociona, mas que ainda assim não consegue inspirar Rafael e fazer a mesma coisa. Apesar de tão bom exemplo, Rafael é incapaz de ficar realmente íntimo com sua namorada, Naty.
Nem um infarto faz com que Rafael mude sua atitude. É somente depois de um segundo susto que ele percebe que sua vida deve realmente tomar novos rumos. Ele passa a visitar mais sua mãe, vende o restaurante e tenta passar um tempo mais tranquilo com sua filha. Mais importante, tenta atender um pedido de seu pai. Apesar de seu pai estar junto de sua mãe por 44 anos, eles não se casaram. Foi a única coisa que não deu para ela, e é o presente que deseja dar agora.
Rafael estava brigado com sua mãe. Eles tiveram um desentendimento alguns tempo antes por conta de ela achar um erro ele ter largado a faculdade de direito. Ela achava um erro pro futuro dele. Talvez por isso ele tenha aceitado o desafio de reerguer o restaurante da família. E justamente quando consegue colocar o restaurante e a sua vida nos eixos, vem essa doença maldita e faz com que seu esforço nunca seja apreciado pela mãe. Talvez por isso ajudar com esse casamento seja uma forma de deixar sua mãe feliz de algum jeito, mesmo que seja por um curto intervalo de tempo. Porque talvez isso faça parte do rumo que ela queria pra vida dele.
Darín está muito bem no papel do homem enfrentando a crise de meia idade. Além disso está muito bem acompanhado por um elenco afiado e muito competente. Mas o destaque vai para esta deusa chamada Norma Aleandro no papel da mãe de Rafael. Em todas as visitas de Nino, ela está com uma cara impassiva, perdida. Mas consegue fazer seu rosto e olhos brilharem a cada vez que vê seu companheiro. É impresssionante como pode se dizer tanto sem falar nada. Ela consegue nos dizer que ama aquele homem só com um olhar.
Um filme muito bonito e com performances primorosas. Uma história que pode ser vista e revista, com seus momentos engraçados e com muitos momentos emocionantes. Um belo trabalho do diretor Juan José Campanella, que depois nos brindarias com os também ótimos Clube da lua e O segredo de seus olhos.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

TEMPO DE GLÓRIA


NOTA: 8,5.
- Você é tão cheio de ódio que acha que pode sair por aí lutando contra todo o mundo. Isso pode não ser vida, mas com certeza não é morte. 

A guerra era para ver se conseguiam livrar os negros da escravidão, mas ocorre a poucas pessoas que os próprios negros tenham lutado nesta guerra. Realmente, nem foram tantos negros que realmente conseguiram lutar. Ao mesmo tempo que as pessoas, em sua maioria branca, lutavam pelo fim da escravidão, guerra que matou muita gente, a maioria dos soldados eram extremamente racistas. Os negros demoraram muito para serem reconhecidos. Tanto que na batalha do forte, o Sargento Carney foi o primeiro afro-americano a ganhar uma medalha no exército. A honraria lhe foi "dada" 37 anos depois da sua morte. São contradições como essa que permeiam o filme. 
Logo nas primeiras cenas, vemos Robert Gould Shaw (Matthew Broderick) em uma batalha. Ele não é um soldado nato. A batalha o perturba e o desorienta. Ele cai ao chão e desmaia, muito mais pelo horror da batalha que por seu ferimento, que é praticamente um arranhão no pescoço. Ele só vai acordar muito depois da batalha terminar, quando negros vão juntar os corpos dos soldados mortos para serem enterrados. Entre os negros está Rawlins (Morgan Freeman). O caminho dos dois se encontrarão novamente.
Shaw volta para a casa para se recuperar de seu ferimento, mas volta como herói. Como um homem que foi para a batalha e conseguiu sobreviver. Além de uma promoção, ele tem a chance de liderar a 54ª infantaria, um novo batalhão que está sendo formado apenas por negros. Como vimos nas cenas anteriores, ele não parece apto para liderar, mas ainda assim aceita a missão.
A verdade é que ninguém acreditava que os negros dariam bons soldados. Claro que volta a questão do racismo, ninguém podia acreditar que eles pudessem fazer um trabalho no mínimo tão bom quanto o dos brancos, mas Shaw logo percebe que aqueles homens aprendem rapidamente. Especialmente Rawlins e Trip (Denzel Washington numa atuação perfeita que lhe valeu um Oscar).
O que ninguém esperava é o batalhão pudesse se tornar tão orgulhoso. Aqueles homem realmente se sentiam honrados de vestir o uniforme, de poder lutar pela sua própria liberdade. Apesar dos brancos não terem vontade de mandá-los para a guerra, esses homens anseiam pela oportunidade de irem para a batalha. Tanto que quando chega o dia do pagamento, eles descobrem que vão receber menos que os brancos. Com o orgulho que agota tem, eles não podem aceitar aquilo. Eles querem o mesmo pagamento. Eles merecem o mesmo pagamento. Os oficiais brancos também se recusam a receber o pagamento. Todos estão de acordo. E a união dentro do batalhão está formado. E se Shaw deu a esses homens orgulho, eles lhe dão coragem na batalha.
A história do filme é muito bonita e interessante de acompanhar. Meu único problema com o filme é ter que acompanhar todo o filme e ver todo um batalhão de homens negros marchando para a morte sob a ótica de um homem branco. Inclusive, esse homem branco recebe mais destaque no poster e nos créditos. Está certo que o filme é baseado em cartas que Shaw escrevia, mas acho que o filme podia ganhar muito mais força se fosse visto sob o ponto de vista do interior do batalhão. Dos próprios soldados. Gostaria muito mais de ver Rawlins e Trip. Mas ainda assim é um filme notável.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

PEIXE GRANDE E SUAS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS

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NOTA: 7.
- Um homem conta suas histórias tantas vezes que acaba se tornando suas histórias. E elas continuam depois que o homem morre. Dessa forma, ele se torna imortal.

Há um conflito entre pai e filho aqui. O filho cresceu escutando histórias que seu pai conta sobre seu passado e que são fantásticas demais para serem levadas á sério. Quando era criança eram divertidas, depois de um tempo perderam a graça. Ele agora quer saber a verdade sobre o passado de seu pai, mas a tarefa não é fácil quando se está lidando com um mitômano.
O filho é Will (Billy Crudup), e ele recebe uma ligação dizendo que seu pai está doente, o que o faz voltar para sua antiga casa. Lá ele tenta descobrir a verdade por trás das histórias, seja ela qual for. O filme então se divide entre o velho Edward (Albert Finney) contando as histórias com sua esposa, Sandra (Jessica Lange) e os flashbacks onde o casal é interpretado por Ewan McGregor e Alison Lohman. 
Realmente as histórias contadas são inacreditáveis demais. Elas envolvem um lobisomem, um gigante de quatro metros de altura, duas gêmeas siamesas que dividem o mesmo par de pernas e uma cidade que beira a perfeição e todos andam sem sapatos. E no meio de todas essas histórias, há também histórias sobre o porquê dele ter perdido o nascimento de Will e como conheceu o amor da sua vida, Sandra. Apesar dessas duas histórias parecerem mais simples, são tão fantásticas quanto todo o resto.
O filme é dirigido por Tim Burton, que criou para si um estilo pessoal de fazer filmes que é facilmente identificável. No aspecto da direção, o filme também se divide em duas partes: a parte do presente que se apresenta de forma corriqueira e os flashbacks que são mostrados no tal estilo "burtoniano". Aqui se apresentam dois problemas. Um, é que o resultado soa irregular entre os dois tipos de filmagem e fica um pouco estranho em suas transições. O segundo problema é que Burton parece ansioso demais para contar a história do jovem Edward, que é mais fantástica, mas quanto mais ele conta as histórias mais elas vão perdendo seu efeito. Em certo momento começam a ficar cansativas. Quando o final chega, nem parece tão impressionante assim. Além disso, deixa de lado o casal Finney e Lange que é a melhor coisa do filme. Eles não mereciam serem deixados de meros coadjuvantes.
No filme, as pessoas se dividem entre os que acham Edward adorável e os que se cansaram de ouvir suas histórias. Acredito que com as pessoas que assistem o filme pode acontecer a mesma coisa. Muitos podem achar o filme maravilhoso e querer me criticar, mas eu sou do time que acha que essas histórias deveriam ser contadas com mais parcimônia.
Eu sou como Will. As histórias fantásticas podem ser interessantes, mas o que há por trás delas também pode ser interessante. Seria bom poder conhecer os dois lados. O filme acaba ficando com aquela sensação de ouvir uma piada que já ouviu antes. Até pode ser melhor contada da última vez que ouviu, mas não tem a mesma graça de quando a ouve pela primeira vez. E não achem que não gosto do diretor, eu o adoro, mas ele já fez e é capaz de fazer coisas melhores.

PS: Este é o primeiro filme americano de Marion Cotillard e também a estréia de Miley Cyrus nos cinemas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O GOLPISTA DO ANO


NOTA: 8.
- O amor é uma coisa engraçada. Te alegra, te entristece, te faz realizar todo um monte de coisas que você nunca pensou em fazer antes. Na verdade, amor é a razão pela qual eu estou aqui deitado e morrendo.

Como o filme tem um tom de comédia, somos avisados logo de cara que a história que vamos ver é real. Somos avisados duas vezes, para não ter dúvidas. Então para deixar claro, essa é uma história real. Os diretores escreveram o roteiro baseado no livro que conta a impressionante história de Steven Russell, que aqui é interpretado por Jim Carrey.
Quando pequeno, Russell descobriu que era adotado. Ele cresceu, se casou, teve uma filha e virou policial. Mas que ninguém se engane, ele não virou policial para fazer o bem. A verdadeira razão de se tornar policial era simplesmente encontrar sua verdadeira mãe e saber porque ela o abandonou. Ele acaba a encontrando, mas nunca consegue descobrir o motivo que ela teve. De qualquer forma, como não vê mais motivos em continuar como policial, ele muda de emprego e de cidade.
Acontece que toda essa vida que ele levou até o momento é uma mentira. Depois de se envolver em um acidente, ele tem uma epifania: ele é gay. Nada mais de esconder quem ele realmente é e forjar uma vida de fachada para as pessoas. Ele vai viver como quer e, principalmente, ele vai transar com quem ele quiser. Por isso se muda para Miami onde vive com seu namorado Jimmy (Rodrigo Santoro). Para seu azar, ele descobre que ser gay é muito caro, por isso aplica golpes em seguradoras e e falsifica cartões de banco para manter seu estilo. Eventualmente, ele vai preso.
É na cadeia que ele encontra seu verdadeiro amor: Phillip Morris (Ewan McGregor). Mas encontrar o amor da sua vida não o faz sossegar. Se passando por advogado, ele consegue sair da cadeia e tirar Morris de lá. Disposto a dar tudo para ele, ele até mesmo vai para julgamentos como advogado. Consegue um bom emprego com um bom salário, mas nunca se dá por satisfeito. Mesmo com o emprego ele ainda aplica seus golpes para fazer ainda mais dinheiro. O grande problema de Russell é ser ganancioso demais. E Morris é inocente demais para perceber rapidamente o que está acontecendo.
Antes que alguém reclame que escrevi que ele decide ser gay, que venham dizer que a pessoa ou é ou não é, eu digo que apenas acho que não é o caso aqui. Morris é um personagem interessante, parece que tudo que ele faz é para ser do contra. Ele poderia ser brilhante e ganhar muito dinheiro, mas preferiu ser do contra e vive numa eterna luta contra as autoridades. A única coisa que realmente parece ser real é seu amor por Morris.
Carrey está ótimo no papel do vigarista. Pode-se até questionar um ator de comédia para fazer um papel desses, mas na verdade ele caiu como uma luva. Pelo simples fato de ser uma história demasiadamente fantástica para se acreditar. Mesmo se fosse uma ficção, pareceria exagerado. Além disso, ele consegue passar uma imagem afável com contornos cômicos e dramáticos quando necessário. Ótima performance.
Bem. A pena de Russell parece muito exagerada para alguém que nunca causou mortes ou qualquer tipo de destruição. Ainda assim, realmente deve ser muito embaraçoso para as autoridades um sujeito que consegue fugir diversas vezes (4, sempre às sextas-feiras 13) e que conseguiu também enganar todo o sistema penal e penitenciário. Pena que usou sempre seu intelecto de forma destrutiva. Pelo menos rendeu uma ótima história.

sábado, 16 de abril de 2011

HOMENAGEM AO ANIVERSÁRIO DE CHAPLIN: LUZES DA CIDADE


NOTA: 100.
- Você pode ver agora?

No dia 16 de abril de 1889, nascia Charles Spencer Chaplin, criador do personagem conhecido apenas como "The Tramp" (O Vagabundo). Li uma vez que a imagem do personagem é a mais famosa no mundo inteiro. Então devo supor que estou escrevendo sobre um personagem que todo mundo que está lendo, conhece.
Se perguntar sobre Chaplin, todos vão dizer que fazia comédias e citarão, principalmente, Tempos modernos e O grande ditador como seus melhores filmes. Bem, eu diria que o que ele fazia ia muito além de uma simples comédia, e se pudesse rever apenas um de seus filmes (que nada aconteça com seus filmes para que ninguém tenha que fazer essa escolha), o filme seria este.
Ele estreou o filme em meio a dois importantes eventos históricos. A grande depressão abalava economicamente e o cinema estava se reinventando. Fazia 3 anos que o primeiro filme falado tinha sido lançado e todos estavam correndo para lançarem seus filmes com falas. Chaplin foi contra à corrente e lançou seu filme sem um diálogo sequer, e ainda brincou com as duas coisas.
Logo no início, vemos o que vai ser a inauguração de uma estátua. O homem vai ao microfone para falar, mas ao invés de palavras, ouvimos um estranho barulho. Soa como um discurso, mas é incompreensível. Chaplin estava dizendo o que achava do cinema falado. Ele era a favor do som nos filmes, mas era contra os personagens falarem. Por isso que The Tramp nunca falou. Quando Chaplin finalmente falou em um filme, o personagem era diferente. The Tramp jamais falaria, e nunca falou porque não precisava falar. Seus gestos diziam tudo que precisávamos entender.
Ainda bem que ele se arriscou assim. Naquela época, a sonorização dos filmes ainda engatinhava e os filmes só podiam ser rodados em estúdios. Tais limitações só fariam o filme perder o seu encanto. Sem diálogos e com pouquíssimas cartelas (também quase tão desnecessárias quanto os diálogos), acompanhamos o mais nobre dos vagabundos conhecendo uma jovem vendendo flores. Ele demora a perceber que a jovem é cega. Ouvindo um barulho de porta de carro, ela acha se tratar de um homem rico. Ele se apaixona por ela e ela por ele. Apesar da confusão, eles se apaixonam por algo que vai além da beleza. Ela não pode vê-lo, o que a faz se apaixonar é a pessoa que ele realmente é. Ela foge de todos os estereótipos.
A outra relação que ele mantém no filme, também é de certa forma similar. O milionário que tenta o suicídio é salvo por ele e promete amizade eterna. O único problema é que toda vez que fica sóbrio, se esquece, mas quando volta a beber, vira novamente seu amigo. Isso acontece algumas vezes. Na última vez que se encontram, Chaplin lhe pede dinheiro para uma operação que pode restaurar a visão da jovem. O homem bêbado lhe dá o dinheiro, quando sóbrio o confunde com um ladrão querendo lhe roubar. Chaplin consegue fugir com o dinheiro e dá para a moça. Ele sabe que terá que pagar por isso, mas também sabe que vale a pena. Que ela vale a pena.
No final do filme, ele sai da cadeia e está ainda mais maltrapilho do que quando entrou. Ele passa em frente à loja que a jovem montou para vender flores. Ela não o reconhece. Como poderia? Ela nunca o viu. Ela o chama e ele tenta fugir, mas se vira para ela. Ela lhe dá uma rosa e uma moeda. Ao entregar a moeda, pelo toque, reconhece a mão dele. Ela não sabia que ele era pobre. "Você?", ela lhe pergunta. Ele somente balança a cabeça positivamente. "Você pode ver agora?", ele pergunta, e abre um sorriso. Ele sorri porque sabe que realmente valeu a pena. Aquela mulher é uma boa pessoa como ele imaginava que fosse.
É por isso que digo que seus filmes vão além da comédia. Claro que ele fazia rir, e aqui temos uma cena de luta de boxe que é candidata a mais engraçada de todos os tempos, mas seus filmes vão muito além das risadas. Eles tocam o coração. Aqui, não é somente o final do filme que nos emociona, mas em várias cenas ele mostra isso. 
E se nem o final deste filme te emocionar, se você realmente parar para prestar atenção no filme e a cena não surtir efeito algum, nada mais o fará. Você está além de qualquer relação humana, porque, para mim, estamos diante do melhor e mais emocionante final de um filme de todos os tempos. Mudo ou não. Agora, se reagir com emoção, verá porque Chaplin é o maior de todos os tempos. E porque esse é um dos melhores filmes.
Assim como ele é protagonista da cena mais emcionante do Oscar. Ele foi receber um prêmio honorário e teve o que deve ser (não posso afirmar com certeza) a maior ovação da história da cerimônia. Foi o reconhecimento de um gênio. E foi também um prêmio se emcionar como emocionou tanta gente. Poucos aplausos devem ser mais merecidos.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

HOMENS E DEUSES


NOTA: 8.
- Os homens nunca cometem o mal tão completamente e alegremente como quando eles o fazem por convicções religiosas.

A frase acima, usada no filme, foi escrita por Pascal e é perfeita para o filme. O homem é capaz de fazer guerras pelos mais diversos motivos, mas sempre parece mais fácil o fazer por motivos religiosos. Mesmo que se pregue tolerância, os homens estão sempre dispostos a matar, e morrer, pelas suas convicções.
Este filme conta a história de 8 monges trapistas que estavam na Argélia em 1996. Eles celebravam seu Deus e ajudavam as pessoas na vila ao lado do monastério. Na verdade, conforme descobrimos no filme, a vila cresceu por causa deles. Quando não estão rezando e cantando, eles dão roupas para as pessoas, assistência médica entre outras coisas. Além disso, cuidam das suas plantações e vendem mel para suprir suas despesas.
Apesar de serem religiosos, eles não tem intenção de converter nenhuma pessoa da vila. Eles atendem a todos e em nenhum momento tentam convencer ninguém a nada. Tanto que todos os dias, apenas os monges estão presentes nos ritos religiosos. Em nenhum momento vemos qualquer outra pessoa participando. Essas são pessoas que prezam a tolerância, e nós conseguimos sentir o clima de paz que eles conseguem manter.
Os conflitos na região começam a piorar. Terroristas cortam as gargantas de trabalhadores, as tropas do governo matam terroristas na estrada. Um grupo obriga os monges a cuidarem de um de seus homens, que foi baleado. O governo quer que os monges saiam de lá, mas eles sentem que não podem sair. Sentem a missão deles ainda não está terminada. Sem contar que eles sentem uma obrigação para as pessoas da vila que dependem dele.
Apesar de acompanharmos todos os monges, dois se destacam. Um é Christian (Lambert Wilson), eleito o líder do grupo, um homem correto que realmente acredita que sua missão de vida está naquele lugar. Outro é Luc (Michael Lonsdale), um velho cansado e asmático que ainda assim não se nega a ajudar todas as muitas pessoas que vão em busca de ajuda.
Eles poderiam evitar qualquer coisa de ruim que pode acontecer com eles. Seria tão simples. Eles só precisariam sair daquele lugar, mas não o fazem. Há cenas muito boas, em especial quando os monges se sentam para beber vinho. Eles simplesmente colocam uma música e aproveitam a ocasião. Não há palavras e elas não são necessárias. Esta é a "última ceia" desses homens.
Não é um filme que foca em discutir questões políticas. É um filme que pretende mostrar a nobreza desses homens. Talvez pudesse levantar algumas questões que prefere não tocar e ser mais contemplativo, mas ainda assim é um filme tocante.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

FEITIÇO DA LUA


NOTA: 10.
- Chega um dia em que um homem descobre que sua vida é vazia. Esse é um péssimo dia.
- Sua vida não é vazia. "Ti amo".

Alguns filmes devem ser vistos antes que você leia alguma coisa sobre eles. Este é um deles. Se eu escrever que é uma comédia étnica, pode passar uma idéia errada sobre o filme. Não que ele deixe de discursar sobre ítalo-americanos, é só que ele é muito mais que uma comédia étnica. Há uma magia nele que não encontro maneira de descrever em um texto. Pouco filmes tem essa qualidade de serem tão mágicos.
Loretta Castorini (Cher) é uma viúva de seus 30 e poucos anos que parece muito mais velha do que realmente é. Sua expressão e seus cabelos grisalhos podem fazer com que ela parece assim. Johnny Cammareri (Danny Aiello) a pede em casamento e ela aceita. Não aceita porque o ama (na verdade ela não o ama), ela aceita porque é conveniente.
Ele vai viajar para a Itália para visitar a mãe que está morrendo. É o tempo de ir, esperar ela morrer e voltar para se casarem. Ele só pede uma coisa: há muitos anos ele está brigado com seu irmão e ele quer que ela vá até ele e o convença a ir no casamento.
É assim que ela conhece Ronny Cammareri (Nicolas Cage). Uma alma atormentada que amaldiçoa o irmão. O problema? Johnny o fez olhar para o lugar errado na hora errada, e por isso ele teve um acidente que arrancou fora sua mão. O que não se podia esperar é que Ronny e Loretta se apaixonassem um pelo outro.
O filme é bom não apenas porque conta a história desse casal. Ela é boa que porque conta a história deles e de vários outros personagens que são tão interessantes quanto eles. Como os pais de Loretta, um casal de amigos e até mesmo um professor que se especializou em levar copos d'água na cara no mesmo restaurante de mulheres diferentes. É de um desses personagens que descobrimos que a lua estava especial, mágica (desculpem a repetição), quando se apaixonaram. E quando Ronny e Loretta se conhecem, a mesma lua volta a aparecer nos céus.
E todas as histórias tem suas complicações. Cher está noiva de um e apaixonada por outro. A mãe acha que está sendo traída, e realmente está, e acaba jantando com o tal professor, que vê nela uma sexualidade que seu próprio marido há muito não vê. E Cher no centro de tudo comandando o show com atuação inspirada ao lado de um também inspirado Cage (longe do que faz nos "filmes" que lança atualmente. O filme é tão delicioso, que rendeu a Cher seu único Oscar, assim como Olympia Dukakis venceu de atriz coadjuvante como a mãe. O filme também venceu por roteiro, mas Norman Jewison (que também tinha sido indicado por No calor da noite) perdeu pela direção e filme para Bernardo Bertolucci e seu O último imperador.
O tempo não fez diminuir a delícia de assistir a esse filme. Ainda bem.

domingo, 10 de abril de 2011

NO CALOR DA NOITE (1967)


NOTA: 9.
- Eles me chamam de SENHOR Tibbs.

A melhor cena do filme, para mim, não está no final do filme. Tibbs (Sidney Poitier) vai até a casa de um rico homem branco, Endicott, para fazer algumas perguntas. Em determinado momento, Endicott lhe dá um tapa no rosto. Sem pestanejar, Tibbs lhe devolve o tapa e o homem fica sem saber como agir. Aquele tapa é a mensagem que não há mais espaço para o racismo no cinema. Endicott ainda diz que se fosse outros tempos, faria Tibbs ser morto por isso, mas agora não há nada que ele possa fazer.
É uma pequena cidade que pode crescer por conta de uma fábrica que vai se instalar lá. O homem que está construindo a fábrica é encontrado morto, vítima de uma pancada na cabeça. Um policial vai até a estação de trem e encontra um homem negro sentado. Numa cidade racista como aquela, aquele negro é o provável culpado, e se não for o culpado pode ser transformado em culpado.
Acontece que o negro, que estava somente de passagem, é um policial e não um comum, ele é perito em homicídios. Os policiais daquela cidade existem apenas para manter a ordem e "colocar os negros nos seus devidos lugares". Eles não estão aptos para aquele tipo de crime. Por isso a viúva pede que Tibbs auxilie nas investigações ou ela vai desistir de montar a fábrica naquele lugar. Tibbs pode não ser bem vindo, mas terá que ser tolerado.
Tibbs é diferente de todo o resto das pessoas daquela cidade. Não importa a cor. Ele é um homem muito mais sofisticado do que toda aquela cidade. Principalmente se considerarmos que praticamente todos são ignorantes racistas e os únicos que ficam do seu lado só o fazem depois de irem para a cadeia.. Toda sua sofisticação pode não servir para muita coisa, se ele sumir, ninguém será punido por isso. E mesmo que seja tolerado pela polícia, ainda tem todo o resto da cidade contra ele.
O filme é muito bom para destacar os conflitos do policial com o resto das pessoas. O único problema é que foca muito nessas relações e acaba negligenciando um pouco a resolução do crime. No final, ele descobre o culpado e fica difícil de saber qual foi o seu raciocínio. Nada que atrapalhe o andamento do filme.
A dupla principal entre o xerife (Rod Steiger) e Tibbs é o melhor do filme. Primeiro, o que os une é o puro profissionalismo. Depois, um respeito começa a ser forjado entre os dois. Não apenas pelo xerife, mas também por Tibbs. E os dois atores interpretam com maestria os seus papéis, fugindo dos estereótipos do gênero. Steiger ganhou um Oscar pela sua atuação. Uma pena que no final, nada na cidade tenha mudado. A única coisa que Tibbs conseguiu foi resolver um assassinato, nada além disso.
O filme também ganhou o prêmio de melhor filme. E olhe que se tratava de um ano ótimo para o cinema. Concorriam para filme os ótimos Bonnie e Clyde - Uma rajada de balas, Adivinhe quem vem para o jantar (também com Poitier) e A primeira noite de um homem. Não era o melhor, mas ainda assim um filme notável.

sábado, 9 de abril de 2011

O PEQUENO NICOLAU


NOTA: 10.
- Eu sou Nicolau. Minha vida é muito legal e não quero que ela mude.

Logo no início do filme, a professora pede que escrevam uma redação sobre o que as crianças querem ser quando crescer. Nicolau descreve o que cada amigo seu vai ser: um vai ser ministro porque gosta de comer e essa função exige que ele vá a muitos banquetes, o outro vai trabalhar com o pai porque ele ganha muito dinheiro e por aí vai. Todas as descrições são inocentes como uma criança somente poderia fazer. Não há nada racional naqueles relatos, e desde o início do filme embarcamos nessa inocência.
O filme se passa nos anos 1950, época onde puxar uma criança pela orelha deveria ser considerado totalmente normal. Nicolau (Maxime Godart) é mimado por sua mãe e adora a sua vida. Gosta tanto que não consegue escrever na redação o quer quer ser quando crescer. Ele não quer crescer. Ele quer que sua vida permaneça da mesma forma que está agora.
Para seu desespero, seus pais começam a ser gentis um com o outro. Esse "comportamento estranho" bate com a descrição que seu amigo lhe deu de seus pais. Quando isso aconteceu, ele teve um irmão. Nicolau não quer ter um irmão. O nascimento de outra criança mudaria totalmente sua vida. Ser irmão mais velho o obrigaria a envelhecer, coisa que não pretende fazer. Além disso ainda fica com medo que seus pais o larguem na floresta para cuidar apenas da nova criança.
Tentando evitar as mudanças, Nicolau tem uma idéia simples: ele deve se livrar da nova criança. Para isso, ele conta com a ajuda de seus amigos que bolam os planos mais mirabolantes (que nós sabemos que não vão funcionar, e nem precisam, mas é divertido ver as crianças tentando). O importante aqui é acompanharmos a lógica das crianças. Apesar de podermos acompanhar a lógica dos adultos também, é o ponto de vista infantil que domina a tela.
O elenco funciona muito bem. Sejam adultos ou crianças, todos empenham seus papéis de acordo com o estilo do filme. A direção de arte faz um bom trabalho não só mostrando a época retratada no filme como também a personalidade de cada pessoa no filme. Incluindo ótimos figurinos do garoto rico que usa as roupas mais estranhas.
No mundo cínico que vivemos hoje, o cinema também se tornou em uma coisa cínica. Um filme como esse facilmente teria algum momento de ruptura que levaria o personagem a um amadurecimento precoce. Não é o caso aqui. Nicolau não vai amadurecer. Essa doçura é a alma do filme e é isso que o torna tão bom. E melhor ainda, agrada plenamente adultos e crianças. Diversão garantida para quem se deixar levar pela história.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

HAMLET (1948)


NOTA: 10.
- O resto é silêncio.

O personagem já foi interpretado, e até pode-se dizer massacrado, por muitos e muitos atores. Depois de Romeu e Julieta, é provavelmente a peça mais conhecida de Shakespeare e todo mundo um dia já ouviu a frase "Ser ou não ser, eis a questão". Entre nomes como Ethan Hawke, Kenneth Branagh, Richard Burton e Mel Gibson, o ator que mais se destaca é com certeza Laurence Olivier, que também dirigiu o filme. O primeiro filme não-americano a vencer um Oscar de melhor filme, Olivier também venceu o de melhor ator mas perdeu o de direção para John Huston (O tesouro de Sierra Madre). E até hoje a melhor versão da peça clássica.
Olivier interpreta o personagem título, o príncipe da Dinamarca que uma noite conversa com o fantasma de seu falecido pai e descobre que ele foi envenenado. O autor do crime casou-se com sua mãe e hoje ocupa o trono. O fantasma pede que Hamlet vingue sua morte, mas que nada faça contra a rainha. Para o estratagema que montou, Hamlet se finge de louco para atormentar toda a corte, incluindo Polônio, pai de Laertes e Ofélia (Jean Simmons), amor de Hamlet.
Pela quantidade de adaptações feitas anteriormente a este filme, duvido que as pessoas pensassem que grandes clássicos dos palcos poderiam ficar tão bem nas telas. Olivier provou que podem, e é provavelmente o responsável pela onda de adaptações que seguem fazendo sucesso até hoje. Uma das mais esdrúxulas que ouvi falar, até mesmo transforma Hamlet em um caçador de vampiros.
Uma das principais diferenças entre cinema e teatro, é a distância da platéia. No teatro, o público está sempre distanciado do material, por isso eles ouvem muito mais do que podem realmente ver o que acontece. O cinema já é o contrário. Ele convida as pessoas a ficarem muito mais próximas, a ver os detalhes que poderiam não prestar atenção no teatro. Olivier convida a todos a compartilhar minúcias mais intimistas desta história. Claramente inspirado nos jogos de câmera criado por Orson Welles e Gregg Toland para Cidadão Kane, ele nos convida até mesmo para ver o que se passa dentro da cabeça do nosso herói. Deve ser a primeira vez que uma peça ficou tão próxima assim de seu público.
Olivier também foi bem corajoso na transposição. Personagens pequenos, mas importantes, como Rosencratz e Guildestern ficaram de fora do filme e tiveram algumas de suas falas diluídas entre outros personagens. Nada que atrapalhe nada do filme.
Ele também fez questão de se cercar de um talentoso elenco. Se brilha quando está em cena, o filme jamais perde o vigor quando ele sai. O cenário sombrio serve bem ao filme assim como uma trilha sonora bem intrigante. Um filme corajoso e que é até hoje o filme definitivo baseado nessa peça. E que dificilmente conseguirá ser batido.

PS: Hoje, apenas dois atores que fizeram esse filme estão vivos. E nenhum dos dois foram creditados por seus papéis. São Patrick Macnee e Christopher Lee (o Saruman da trilogia O senhor dos anéis).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

NEGÓCIO ARRISCADO


NOTA: 10.
- De vez em quando, diga "que se dane". "Que se dane" traz liberdade. Liberdade traz oportunidades. Oportunidades fazem o seu futuro.

Joel (Tom Cruise) é um jovem que mora em uma ótima casa, daquelas bem grandes com espaço de sobra. A garagem conta com dois carros, sendo um deles um Porsche do seu pai. Decoração impecável e equipamentos sofisticados. Sob esse ponto de vista, a vida dele deve ser desprovida de problemas, certo? Só acredita nisso quem nunca foi adolescente.
Apesar de tudo a seu favor, é de conhecimento geral que todos os adolescente são cheios de problemas. E se não o tiverem, eles criam um. Joel não sabe se vai ter condições de entrar na faculdade que deseja e está perto de suas provas finais. Ele também é um dos únicos do grupo de amigos que não perdeu sua virgindade, o que o faz ser alvo de chacotas.
Duas coisas fazem a vida de Joel mudar radicalmente, uma viagem que seus pais vão fazer para passar um tempo fora de casa e o conselho de um amigo seu (frase que abre o post) dizendo para curtir a vida. Para começar ele acaba se envolvendo com uma prostituta chamada Lana (Rebecca De Mornay). Lana acaba mudando para sua casa e ele tem que lidar com o cafetão dela além de ter que arranjar dinheiro para consertar o Porsche de seu pai que teve um infeliz acidente. A solução é transformar sua casa num bordel com a participação das amigas de Lana para fazer dinheiro. Pode parecer um filme bobo, mas é uma ótima comédia com um Tom Cruise ainda se lançando para o estrelato.
O filme é escrito e dirigido por Paul Brickman, dono de um curto currículo. Somente dirigiu um outro filme, e seu trabalho mais recente no cinema é o roteiro de Crime verdadeiro, dirigido por Clint Eastwood. Chego a não entender porque tão pouco trabalho, já que aqui faz um trabalho muito competente, além de nos presentear com ótimos diálogos.
O elenco se encaixa bem. De Mornay faz uma prostituta bem enigmática. Ela não é uma personagem doce, mas também está longe de ser uma má pessoa. Ela até mesmo é terna quando deve ser e se envolve com esse garoto mais novo que não sabe de nada da vida. Apesar de ir para o colégio, ele é apenas um garoto. Só isso. "Vá estudar para aprender alguma coisa", ela lhe diz. Ela não é uma garota.
Vendo o filme hoje, é fácil dizer que tem uma estrela encabeçando o elenco. Cruise tinha ainda uma carreira muito curta, mas justamente revendo o filme sabe-se que ele realmente estava destinado ao estrelato. Pode não ser um ótimo ator, mas com certeza é sempre eficiente e em muitas vezes entrega mais que os personagens dizem. Nós sabemos mais sobre ele do que ele nos diz. Esse talento ele sempre teve.
Este é um filme engraçado e divertido. Ao mesmo tempo faz refletir sobre amor, ganância e até mesmo sobre o desejo. Para quem ainda é adolescente, fica uma certa identificação com o personagem. Para quem já deixou de ser, fica a ironia e a lembrança de que sua vida já foi assim.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A FORÇA DO DESTINO


NOTA: 10.
- Quer saber de uma coisa? Você não é especial. Não tem boas maneiras e trata mulheres como como prostitutas. Se me perguntar, não tem chance de virar oficial.

Don Simpson, o falecido produtor, não queria que Debra Winger fizesse o papel da mocinha, segundo ele, deveria ser uma mulher que desse vontade de transar, e ela não era esse tipo. Além disso, queria cortar a música tema, Up where we belong por não considerar um hit. Debra Winger foi indicada ao Oscar por esse papel, perdeu para Meryl Streep (A escolha de Sofia). A música não somente venceu o prêmio como até hoje é ouvida nas rádios. Se existe quem não tenha visto o filme, já ouviu a música.
A história centra em Zack Mayo (Richard Gere), um malandro filho de um soldado da marinha que se inscreve para se tornar oficial da marinha. A cada 13 semanas, há uma nova turma de novatos que vão para a base ver se conseguem passar pelo treinamento, que inclui humilhações físicas e psicológicas. Quem passar, estará habilitado a ir para a escola de voo.
Sempre perto da academia, estão mulheres dispostas a casar com esses futuros oficiais, nem que tenham que ter um filho para segurá-los. Para elas é a chance de conseguirem sair daquele cidadezinha e até mesmo viajar conhecendo o mundo.
É nesse contexto que Mayo e Paula (Winger) se conhecem. Nós sabemos mais sobre a vida de cada um do que eles sabem sobre a vida um do outro. Ele é um perdedor e é solitário. Ela é uma filha de um oficial que abandonou sua mãe. Ele não quer se casar e ela se recusa a fazer como as outras mulheres da cidade e engravidar para ficar com ele. Apesar da situação, eles se apaixonam um pelo outro, quer ele queira admitir ou não. Os dois querem mais da vida do que a vida os ofereceu até agora. Talvez seja isso que os aproximem. Mesmo sem saber, eles tem mais em comum do que pensam.
O romance, porém, não é a história central. O treinamento é a história central. E eles são treinados pelo impiedoso (que depois descobrimos não ser tão impiedoso assim) Sargento Foley (Louis Gossett Jr., que venceu um Oscar por essa atuação). Sequer a mulher da turma escapa da sua língua ferina. Apesar de tudo, ele se preocupa com sua classe. Apenas quer que eles se tornem pessoas melhores. Ou que pelo menos se encaixem em seus padrões.
Tudo é cuidadosamente trabalhado. Não há pressa para contar uma história ou outra. Até mesmo há tempo para contar a história de outro aspirante amigo de Mayo, Worley (David Keith), filho de um oficial militar que carrega o peso da pressão de seus familiares para seguir seus passos. Worley se envolve com uma amiga de Paula e não importa o que aconteça, ele quer apenas fazer a coisa certa.
O que o torna um filme bom, é que não é apenas sobre o amor. Não é apenas sobre o treinamento militar. É sobre o crescimento de seu personagem. Como ele começa o filme de uma forma, e termina como um homem diferente. Nós acompanhamos esse crescimento e por isso começamos a nos importar com suas decisões. E como ele precisa aceitar outra pessoa em sua vida para terminar esse processo de crescimento. Então, talvez somente aí ele possa ser capaz de se formar. E realmente amar.

terça-feira, 5 de abril de 2011

TRAGAM-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA


NOTA: 9.
- Um milhão de dólares para quem me trouxer a cabeça de Alfredo Garcia.

Alguns filmes impressionam pela sua beleza. Ou por uma história bonita ou até mesmo por lindos enquadramentos de tirar o fôlego. Este filme é totalmente o oposto desse tipo de filme. É uma história bizarra filmada de forma a nunca querer parecer que há algo bonito no filme. Seu conteúdo controverso fez com que o filme fosse proibido na Alemanha, Suécia e Argentina depois de seu lançamento.
Logo no início do filme vemos uma mulher, menina ainda, na beira de um lago. Sua barriga indica que está grávida. Ela é levada perante seu pai e tem seu braço quebrado para que informe a identidade do pai da criança que vai nascer. Ela diz que o filho é de Alfredo Garcia, e seu pai, algum bandido cercado de capangas, oferece 1 milhão de dólares pela cabeça dele.
A notícia chega ao ouvido de Bennie (Warren Oates), que conhece Alfredo e chega a  um acordo com os homens que o procuram. Como Alfredo está aparentemente morto, ele levará a cabeça em troca de 10 mil dólares. Parece ser uma quantia suficiente para ele começar uma nova vida, mas para isso ele precisa de sua antiga namorada que estava envolvida com Alfredo. Juntos, eles partem para procurar o corpo daquele homem tão procurado.
A busca o leva somente para a desgraça. Nada de bom acontece em sua bizarra odisséia. Apesar de não procurar violência, é somente isso que ele encontra em seu caminho. Até mesmo sua companheira parte. Em determinado momento, não é mais o dinheiro que o motiva a seguir adiante. Ele quer saber porque Alfredo Garcia é procurado. E se esse motivo é forte o suficiente para valer a morte de tanta gente pelo caminho e o dinheiro oferecido.
Engraçado é que a relação mais duradoura que existe no filme é entre Bennie e a cabeça de Garcia. Os "dois" são os que passam mais tempo juntos e Bennie acaba criando uma espécie de relação com Garcia. Eles até mesmo amaram a mesma mulher. Há uma espécie de cumplicidade entre os dois. Como é comum nos filmes de Peckinpah, não é um final feliz que nos espera no final. Nem haveria espaço para isso nessa narrativa.
Acredito que a maioria das pessoas não vá gostar desse filme. Talvez achem violento demais, talvez bizarro demais. Ainda assim acho interessante ver filmes que fujam do padrão. E esse filme faz isso com muita competência.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

UMA MANHÃ GLORIOSA


NOTA: 7,5.
- O que o programa precisa é do que eu preciso: alguém que acredite nele.

Esta não é uma comédia romântica. Pelo menos, não no sentido convencional da garota que se apaixona por um cara. Aqui a história é sobre uma mulher apaixonada pelo seu trabalho e que vive para ele. Não é profundo, mas é bem divertido.
Becky Fuller (Rachel McAdams) é uma produtora de um jornal matutino que acaba de ser demitida. Desesperada para arrumar um novo emprego, ela acaba sendo contratada para trabalhar em outro programa matutino, mas esse é um programa com péssima audiência. Sua tarefa é melhorar a audiência do programa. 
Logo no primeiro dia ela não só descobre que a duração de produtor naquele programa é bem curto, como descobre que ele é o patinho feio da emissora. Por conta disso, ela até mesmo percebe que eles tem as piores instalações de todo o prédio. Sequer as maçanetas funcionam. Na primeira reunião é bombardeada por inúmeras perguntas, mas ela não só responde a todas sem pestanejar como ainda despede o co-apresentador. Botar o programa na linha não vai ser tarefa fácil.
Por isso ela revisa o contrato de uma lenda do jornalismo que está encostado na emissora sem fazer nada, Mike Pomeroy (Harrison Ford), e o convence a se transformar no novo co-apresentador do programa sob o risco de ter o contrato terminado. O problema é que o programa representa tudo que Pomeroy odeia em jornalismo, mas terá que fazer parte daquilo de qualquer jeito se quiser continuar recebendo.
Pomeroy e Fuller são opostos, e não é apenas pelo fato dele ter muita experiência e ela estar apenas começando. Ela é uma pessoa positiva, esperançosa, impulsiva e meio maníaca, mas ainda assim muito adorável. Ele é um carrancudo e tido por alguns como a terceira pior pessoa do mundo. Ele acha que o programa deve cobrir as notícias mais importantes antes de todo mundo. Bem, não é assim que esses programas funcionam.
Ford entrega seu melhor personagem em muitos anos. Não só é uma interpretação notável, como é muito engraçado mesmo. E estou incluindo o último Indiana Jones. Ainda assim é McAdams a força que move o filme. Sua energia é contagiante e é quase impossível não gostar dela. Diane Keaton também faz um ótimo trabalho, mas é muito mal aproveitada.
Dirigido por Roger Michell (Um lugar chamado Notting Hill), o filme tem roteiro de Aline Brosh McKenna (O diabo veste Prada). O material é mais ou menos parecido, sobre uma jovem mulher que é obrigado a lidar com uma pessoa maligna. Além disso, o próprio filme se repete na segunda metade. Mas é um filme muito divertido. Tudo segue uma fórmula, mas não acha ótimo quando uma fórmula funciona bem?
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