quarta-feira, 29 de setembro de 2010

WALL STREET (1987)


NOTA: 9.
"Não é uma questão de quanto é suficiente.Alguém vence, alguém perde. O dinheiro, por si mesmo, não é perdido ou feito, é simplesmente transferido de uma percepção para outra." Gordon Gekko

Fim de semana passado, o diretor Oliver Stone estreou a sequência de um de seus maiores sucessos: a continuação deste Wall Street. Na verdade, o primeiro filme de Stone a ganhar uma sequência, mas vamos primeiro falar do original.
Charlie Sheen interpreta Bud Fox, um corretor da bolsa de valores que trabalha em uma firma. Seu trabalho consiste em ligar para pessoas buscando novos cliente para investir dinheiro. A pessoa que ele mais quer conseguir como cliente é Gordon Gekko (Michael Douglas), um dos grandes tubarões da bolsa de Wall Street.No aniversário de Gekko, ele leva uma caixa de charutos cubanos, o que o faz conseguir cinco minutos de audiência com o homem. Querendo impressioná-lo, Fox lhe dá informações que seu pai lhe deu na companhia de aviação em que trabalha, o que é ilegal.
Ilegal ou não, Gekko usa a informação e faz muito dinheiro com ela. Fox ganha um cheque polpudo e a chance de continuar trabalhando com ele. O problema é que trabalhar com ele não é necessariamente ficar dentro da lei. A fortuna de Gekko é feita em cima de ações ilegais. Obtenção de informações confidenciais e por aí vai. O fato é que não importa mais o dinheiro. Talvez Gekko nem sequer saiba quanto dinheiro tem. O que o parece motivar é o jogo, fato que ele entrega no novo filme. O dinheiro é uma forma de manter um placar.
Fox admira Gekko e Gekko se vê em Fox quando era mais novo. O filme segue uma estrutura até bem tradicional. Fox está tão interessado em impressionar Gekko que se dispõe a fazer qualquer coisa para impressionar. Quem sabe até mesmo para se tornar um novo Gekko. Aí vem o deslumbramento, a traição e o peso na conseciência que o leva a ir contra seu mentor. Todos ganham dinheiro de forma tão ilegal que frases como "Ninguém se machuca" ou "Todos estão fazendo" saem tão naturalmente que assusta pela distorção moral.
Stone claramente critica a mentalidade capitalista americana. O sonho americano. E isso durante a Guerra Fria, o que torna o filme ainda mais interessante. Mas o que realmente torna o filme interessante é Michael Douglas. Parece que ele era a terceira escolha de Stone, depois de Richard Gere e Warren Beauty. Depois de vê-lo em ação é difícil imaginar outra pessoa fazendo o personagem. Ele é tão real e diz atrocidades como se não fossem nada. Chega a ser assustador. Sua interpretação foi tão perfeita, inclusive lhe rendeu seu único Oscar como ator, que a fraca interpretação de Sheen destoa no filme. Chega a ser triste ver sua atuação chorando.
Não é essencial para assistir para o novo filme, mas para quem se dispor a assistir pode ser um experiência ainda melhor. Talvez esteja um pouco datado, mas no mínimo vale pela interpretação de Douglas.

sábado, 25 de setembro de 2010

OS MERCENÁRIOS


NOTA: 4.
"Eu prometi a mim mesmo que vou morrer por alguma coisa que valha a pena." Tool

Parece que Stallone está tentando voltar aos seus bons e velhos tempos. Depois de inúmeros fracassos, divide seu tempo na frente e atrás das câmeras tentando voltar à velha forma. Primeiro ressuscitou o personagem Rocky Balboa, depois Rambo até chegar nesse filme, que se trata de uma mera desculpa para juntar uma enorme quantidade de "atores" de filmes de ação, incluindo antigos conehcidos e novos  nomes de sucesso mais recente.
Na história, Stallone "interpreta" Barney Ross, um chefe de uma gangue de motoqueiros que trabalham como mercenários. Em seu grupo estão nomes como Dolph Lundgreen, Jason Statham, Jet Li, Terry Crews e Randy Couture (ex-campeão de vale tudo que já havia aparecido como comentarista no filme Cinturão vermelho). O único da trupe com algum talento dramático real é Mickey Rourke e a participação especial de Bruce Willis, já que as atuações do "Governador do Futuro" são ainda piores que as de Stallone.
Logo de cara a equipe vai salvar homens que foram sequestrados por piratas. Tudo sai como planejado e somos brindados por um diálogo sobre como a única coisa mais veloz que Stallone é a luz e por aí vai. Depois disso, eles são contratados para fazer um trabalho em uma ilha governada por ditador, que é na verdade apenas um testa de ferro de um grande traficante americano (Eric Roberts). O contato deles lá é Sandra (a brasileira Giselle Itié), que causa um sentimento de culpa em Ross e o faz voltar para livrar aquele lugar do ditador.
Um amigo me pediu para eu tentar ver como se fosse um adolescente pra ver se gostava do filme. Bem, não sou mais um adolescente o que torna tudo um pouco difícil, mas duvido que mesmo se fosse ia curtir muito esse filme. A grande quantidade de atores famosos é pra compensar o fato que não sequer uma única grande estrela, sem falar na falta de uma grande história. Com exceção de Rourke, o filme não tem nenhum ator que consiga dar veracidade a qualquer cena que seja e as cenas de ação são tão confusas que impedem que o espectador saiba exatamente o que está acontecendo.
A coisa ainda piora quando se pensa que filmes mais modernos apresentam personagens muito mais profundos que estes aqui, o que os torna muito mais interessantes. Talvez por isso o personagem de Rourke, mesmo com pouco tempo em cena, seja o mais interessante. Os anos 80 se foram e o filme ficou fora de época. Esse filme não incomoda o espectador e nem chega a ser irritante. Provavelmente depois de meia hora já terá esquecido até sobre o que era o filme. A coisa que mais me lembro agora é como o símbolo do filme é colocado forçadamente em quase toda cena, seja nas motos ou em aviões. Gostaria de ter assistido Meu ódio será sua herança de novo a ter visto esse pela primeira vez.

sábado, 18 de setembro de 2010

A RESSACA


NOTA: 7.
"Eu realmente tenho que ser o babaca a dizer que a gente entrou nessa porcaria e voltamos no tempo?" Jacob

Eu não esperava muita coisa deste filme. Quer dizer, o título nacional foi roubado do nome de outra comédia, Se beber não case (The hangover, no original) e o nome original do filme não inspira grande coisa. Quer dizer, você iria desavisado pro cinema assistir algo como "Banheira quente máquina do tempo"? Não acredito nisso. Talvez por isso o filme inspire tanta confiança no seu potencial em manter um nome como esse. Isso e talvez pelo fato do nome de John Cusack não estar associado a filmes ruins. Pelo menos não geralmente.
Três amigos de infância se reencontram. Um deles, Lou (Rob Corddry), ficou cantando músicas na garagem com o carro ligado e quase morreu. No hospital os médicos viram o incidente como uma tentativa de suicídio e chamaram os amigos para ajudar o alcoolátra e depressivo Lou. Os amigos, porém, não estão em melhor fase: Adam (Cusack) acabou de ser abandonado pela esposa e Nick (Craig Robinson, da série The office e em Segurando as pontas) é dominado pela esposa e sempre pensando que podia ter tido uma carreira musical.
O trio depressivo, mais o sobrinho nerd de Adam, Jacob (Clark Duke), partem para uma viagem onde eles tiveram dias mais felizes. Eles vão para onde passaram umas férias nos anos 80 e inclusive pegam o mesmo quarto que usaram na época. A cidade hoje está abandonada e nada se parece com a da época em que conheceram e os 4 acabam se embebedando na tal banheira do título, que os transporta de volta para os anos 80 e os péssimos cortes de cabelo e as roupas bregas.
Aí o filme parte para a comédia escrachada. De qualquer jeito que possa imaginar, sexual, escatológica e non sense. Cada cena do filme é recheado de piadas (ás vezes, recheado até demais) sobre cultura pop da época entre outras coisas. Em uma cena um deles chega a declarar: "Tudo que tínhamos era Reagan e AIDS." O que eles realmente descobrem rapidamente é que os bons e velhos tempos não eram tão bons assim, então resolvem que tudo que devem fazer é repetir o que fizeram anos atrás e arrumar um jeito de voltar para o presente.
O filme ainda presta uma homenagem ao filme De volta para o futuro, tendo em seu elenco o ator Crispin Glover (o pai de Marty McFly) e também a John Huges com a presença de outro ícone das comédias dos anos 80, Chevy Chase (da série Férias frustradas). Para os que viveram essa época fica um sentimento de nostalgia, mas mesmo para os mais novos fica a garantia de diversão. Talvez esteja um pouco abaixo do nível de Se beber..., mas ainda assim uma boa comédia e provavelmente o filme mais divertido da carreira de Cusack.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

ESPECIAL GODARD: WEEKEND - 200ª POSTAGEM


NOTA: 100.
Corinne - Você não ouviu o que ele disse? Marx disse que somos todos irmãos.
Roland - Marx não disse isso. Foi outro comunista quem disse. Jesus disse isso.
Chegamos a postagem de número 200 e a última resenha do especial sobre Godard. Desde sua estréia em Acossado até este filme, em 1968, Godard sempre procurou formas de surpreender a platéia. Aqui não foi diferente, basta dar uma olhada na foto escolhida para ter uma idéia. Esta é uma das imagens surpreendentes que o diretor colocou que vai surpreender, e em alguns casos chocar, a platéia. Os fãs de David Lynch devem assistir a esse filme antes de chamá-lo de inovador.
Basicamente o filme conta a história de um casal. Eles planejaram um acidente de carro para que o pai da moça morra e eles fiquem com a herança. Pouco a pouco, o diretor vai colocando cenas para preparar o terreno para o que está por vir. Um acidente de carro acaba com o espancamento de um homem, depois, o próprio herói do filme, Roland, tenta fugir de um acidente que cometeu, a cena segue com ele jogando tinta em uma mulher enquanto esta lança bolas de tênis contra ele usando uma raquete.
Se o filme já parece estranho, depois só piora (ou melhora, dependendo do ponto de vista), e as cenas vão ficando cada vez mais desconexas. Os personagens tem plena consciência de que estão em um filme. Um chega a afirmar que é um filme ruim onde só tem gente estranha. Em uma outra cena, Roland toca fogo em uma personagem que parece ter saído de uma viagem lisérgica de Lewis Caroll. "Ela é só um personagem" ele responde quando a mulher diz que são pessoas terríveis.
Até que chegamos em uma das cenas mais emblemáticas da carreira de Godard: os dois estão presos em um engarrafamento enorme. A câmera acompanha em um travelling enquanto o casal vai avançando na contra mão para fugir do engarrafamento. A câmera deve acompanhar o carro por cerca de um quilômetro ou mais enquanto o carro deles passam pelas pessoas e até mesmo um carro de zoológico. Depois disso eles abandonam o carro e seguem sua jornada a pé, onde encontram até mesmo um bando canibal.
Falar mais sobre o filme pode estragar a surpresa. Ou até mesmo cair no erro de tentar explicar o que não pode ser explicado. Este pode ser um dos melhores filmes do diretor e com certeza o mais inventivo, deixando para trás até mesmo O demônio das 11 horas. Ele nos envolve num cenário de loucuras que começa a parecer totalmente normal nesse maravilhoso mundo que ele criou. E tal qual os personagens agem perante a desgraça dentro do filme, tudo que fazemos é assistir.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ESPECIAL GODARD: A CHINESA


NOTA: 10.
"Se uma coisa como Marxismo-Leninismo pode existir, então tudo é possível" Kirilov

É incrível como o cinema pode produzir tanto efeito com tão pouco. A maior parte do filme se passa todo dentro de um apartamento todo decorado de vermelho com cinco personagens habitando aquele espaço. Foi só isso que Godard usou e que arrebatou a atenção de muita gente pelo mundo afora. Diz-se que os estudantes de uma universidade em Columbia que invadiram e ocuparam o campus teriam se inspirado nesse filme. mito ou realidade? De qualquer forma, mais um mito em volta do nome do diretor.
O filme conta um verão onde esses cinco personagens, militantes políticos, passam dentro de um espaçoso apartamento desocupado. Lá dentro, eles formam uma célula "Maoista" onde discutem política, revolução e até mesmo decidem chegar ao ponto de armar planos terroristas para conseguir mudar a política francesa da época. Isso sempre citando nomes como Lenin, Marx, Mao e outros comunistas. Em determinados momentos parecem que eles estão se educando para isso.
Na verdade, parece que estamos acompanhando cinco crianças em um jardim de infância. Até mesmo como eles se organizam para receberem uma espécie de palestra sobre as idéias lembram um jardim de infância. Tudo muito bem decorado com cores vermelhas. Seja em livros, ou mesmo portas e janelas devidamente pintadas. Entre os integrantes estão uma filha de banqueiro, seu namorado que é ator (Jean-Pierre Léaud, um dos ícones da nouvelle vague e que já havia feitos papéis menores em filmes anteriores de Godard), uma ex-prostituta não muito inteligente, um outro militante com nome tirado de livro de Dostoiévski e o último que é expulso do grupo por não concordar com terrorismo.
Godard realiza um dos primeiros falsos documentários do cinema (não me arrisco a dizer que foi o primeiro por não ter certeza), gênero que até hoje faz sucesso em filmes recentes como Distrito 9 entre outros. Em uma determinada parte, Guillaume olha para a câmera e faz um discurso. Ele diz que não está falando por estar em frente da câmera e a câmera é mostrada. Assim como em inúmeras partes os atores respondem perguntas como se estivessem sido entrevistados para um documentário. No resto do filme, agem normalmente. Alheios a presença de uma câmera.
O filme chegou a ser considerado como impossível de ser lançado nos EUA. Não à toa, Godard fez  inúmeras viagens pelas universidades para mostrar o filme para estudantes (talvez por isso exista o mito que tenha inspirado a invasão da universidade de Columbia). Ele acabou conseguindo fazer barulho suficiente para o lançamento do filme no país. No dia 3 de abril de 1968. O clima de revolução era grande, no dia  4 de abril,  Martin Luther King seria assassinado. Realmente era o filme certo a ser feito na época certa e de fora corajosa.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

ESPECIAL GODARD: MADE IN U.S.A.


NOTA: 9,5.
"Agora a ficção toma conta da realidade. Agora há sangue e mistério.Agora eu me sinto presa em um filme de Walt Disney, só que com Humphrey Bogart, o que o faz um filme político." Paula Nelson

Este é mais um filme da fase mais produtiva de Godard. Está certo que desde sua estréia, em 1960, ele mantinha uma marca de um filme por ano. Em uns dois anos ele até mesmo dirigiu dois filmes em um ano, mas era um caso mais raro que uma regra. Entre 1963 até 1967, porém, ele conseguiu dirigir nada mais nada menos que 12 filmes, incluindo O desprezo, O pequeno soldado, Demônio das onze horas, Alphaville, este Made in USA, Weekend e A chinesa (estes dois últimos são os próximos a encerrar o "especial Godard". Nada como além de ser produtivo criar várias pérolas entre outros bons filmes.
Mais notável ainda se considerarmos que ele continuou, mesmo após tantos filmes, surpreender sempre a platéia com suas narrativas pouco usuais. Como neste filme, estrelado novamente por Anna Karina, que na época desse filme havia acabado de se tornar sua ex-esposa, mas não sua ex-colaboradora. Mais de uma vez ele declarou que para fazer um filme tudo que ele precisava era uma mulher e uma arma. E foi exatamente isso que usou para realizar esse filme.
Ela é Paula Nelson, uma mulher misteriosa que parece estar envolvida com uma vida criminosa apesar de nunca ficar claro exatamente de qual natureza. Ela começa em um hotel procurando pelo seu namorado. Um Richard que nunca sabemos o sobrenome porque toda vez que é dito há alguma espécie de barulho que impede que possamos ouvir. E acredite, há muitas cenas em que o nome é pronunciado. Ela é reconhecida por um antigo associado do tal Richard e acaba o assassinando.
É quando ela pronuncia a frase que abre a resenha e o filme toma contornos surreais. Ela joga o corpo do homem de volta para o seu quarto e descobre que seu sobrinho e namorada estão hospedados com ele no quarto. Mas ele não tem o menor interesse em entregar Paula, que ainda o ajuda a escrever poemas para o livro que está escrevendo, e que diz que nunca ficará pronto. Essa é só uma das cenas que Godard preenche o filme. Como também há uma cena onde uma mulher canta "As tears go by" em um bar onde há homens gritando e discutindo e até mesmo discussões políticas.
Esse é provavelmente o filme mais estranho de Godard postado aqui. Até mesmo mais estranho que O demônio das onze horas. O nome não é á tóa. Apesar de filmado na França, o filme é cheio de citações à cultura americana. Os nomes por exemplo são basicamente todos de lá, incluindo um Robert Mcnamara, que foi secretário de defesa entre 1961 e 1968. Dizer mais que isso pode estragar o prazer de assistir o filme. Como ela diz, a ficção é mais forte que a realidade. Então, quem se interessar pode apreciar essa ficção de Godard.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

ESPECIAL GODARD: O PEQUENO SOLDADO

NOTA: 9,5.
"Fotografia é a verdade. E o cinema é a verdade 24 vezes por segundo." Bruno Forestier

Esse é um dos filmes menos conhecidos de Godard.  Foi rodado em 1960, logo após o lançamento de O acossado. Na mesma época, eram lançados Hiroshima, mon amour e Jules e Jim, outros dois filmes marcantes da nouvelle vague francesa dirigidos por Resnais e Truffaut respectivamente. A diferença é que enquanto os outros filmes eram glorificados, esta pequena pérola de Godard foi alvo constante de críticas negativas. Na maior parte por não ter a exuberância de seu predecessor.
Claramente não era a intenção de Godard de fazer um filme que se assemelhasse ao seu filme de estréia. Pelo contrário, aqui ele descontrói a própria forma narrativa que tinha usado para mudar seu estilo. Não que eu ache ruim o que ele fez antes, mas hoje o seu recurso é usado em demasia em muitos filmes e perdeu de certa forma o frescor. Talvez, nem sequer ele mesmo quisesse repetí-lo. Aqui, Godard se mostra mais maduro para realizar um filme. É como se estivesse se preparando para se tornar o diretor relevante e reverenciado que é hoje.
Sai Belmondo e entra Michel Subor, na pele de Bruno Forestier, um francês exilado na Suiça. Genebra para ser mais exato. Ele é um fotógrafo ligado com os revolucionários franceses que atuam contra a guerra da Argélia. Ao mesmo tempo que ele deve tirar fotos de uma jovem modelo que quer ser atriz, Veronica Dryer (Anna Karina), ele recebe uma missão de eliminar um árabe. Não executando o trabalho, ele acaba ficando entre os dois grupos revolucionários.
Não há muito mais o que dizer sobre o filme, exceto que Veronica na verdade trabalha para os revolucionários e que Bruno deve arrumar um jeito de se livrar dessa situação. Uma boa parte do filme mostra dois homens torturando Bruno em um quarto de hotel para que ele fale, e todos os momentos ouvimos os pensamentos dele. Chega a ser um exagero de didático.Todo o filme é narrado pelo herói, que em determinada parte percebemos que não importa o que faça ou diga, isso não fará nenhuma diferença. Seu destino está traçado e ele somente adia o inevitável.
Não é um dos filmes inesquecíveis de Godard, mas é um filme importante para acompanhar o desenvolvimento de um grande diretor. O que sinto falta, é de uma certa coragem narrativa que ele mostrou em seu trabalho anterior e que mostraria em muitos trabalhos posteriores. Talvez por ser um filme mais político, Godard tenha achado que era melhor fazer esse filme de forma mais sóbria. De qualquer forma se não é um filme inesquecível, é um trabalho muito competente. Para parte dos espectadores, pode até mesmo parecer menos datado que O acossado.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ESPECIAL GODARD: DEMÔNIO DAS ONZE HORAS

 

NOTA: 10.
"Ainda bem que eu não gosto de espinafre. Porque se eu gostasse, comeria, e eu não suporto aquilo." Ferdinand "Pierrot Le Fou" Griffon

Esse filme marca o início de uma nova fase na carreira de Godard. Na época de Alphaville, o tom político do filme era uma exceção até o momento entre seus filmes, aqui é o início de uma nova fase onde o diretor se mostrava mais preocupado politicamente. Assim como Godard também abandona o preto e branco de seus filmes, com algumas raras exceções anteriores como O desprezo, e passa a fazer filmes coloridos e em widescreen. Um novo Godard no visual mas não no conteúdo.
Ferdinand Griffon é casado com uma mulher italiana rica e tem dois filhos. Um dia, eles estão saindo para jantar quando chega a babá, Marianne Renoir, que parece conhecer Ferdinand. Depois da festa, Ferdinand a leva para casa e a dúvida se dissipa. Eles se conhecem e a partir desse momento eles não pretendem mais se separar. No apartamento dela onde estão, há um cadáver que ela parece ter matado. Eles devem fugir para escapar. É onde o filme ganha os contornos absurdos que dão seu tom.
Como dito nas vezes anteriores, Godard não abandona suas experiências no cinema, nem deixa de ser audacioso. Ele sabe como os filmes funcionam. Assim como ele sabe que em um filme, qualquer coisa pode acontecer.E acontece. Os dois fogem em um carro roubado que dirigem até mergulhar com ele no mar. Depois moram isolados em uma ilha deserta até ficarem entediados um com o outro, até que por fim são encontrados por gansgters que querem um dinheiro de volta.
Mas a história do filme não parece interessar tanto assim Godard. A relação entre o casal é que importa. Apesar dos protestos, Marianne frequentemente o chama de Pierrot Le fou, e todas as vezes ele a corrige dizendo que seu nome é Ferdinand. Eles se amam mas não apenas isso, a relação deles é quase real, assim como eles também se entediam como qualquer casal em um determinado ponto de um relacionamento. "Você deveria acreditar em mim. Eu te amo do meu jeito.", ela diz.
Novamente o casal é interpretado por Anna Karina e Jean-Paul Belmondo, seus atores preferidos, e os dois interpretam brilhantemente esse filme non sense do diretor. Há uma cena, quando eles estão pensando em fugir, que ela canta para ele. É uma cena linda até que a cena do corpo é revelada, mas mesmo com o corpo lá eles continuam conversando como se nada estivesse acontecendo de anormal. É como se fosse uma cena comum. Por isso não estranhamos quando ele abandona sua mulher e filhos para fugir com essa mulher.
Uma das poucas cenas "normais" do filme acontece durante a festa. Um diretor de cinema conta sobre como quer rodar um filme de ação na França. Os seus relatos sobre o filme são mais normais que qualquer coisa que aconteça na película. Do que qualquer coisa que até mesmo aconteça durante a festa ao redor deles. Talvez seja a forma de dizer que os filmes devem fugir da realidade. No caso, este filme foge da nossa realidade. O diretor contando uma história dentro do filme,  foge daquela realidade e assim se aproximando da nossa.
De qualquer forma, esse é um dos últimos grandes marcos de Godard. O próprio diretor reconheceu que essa foi uma das últimas vezes que ele criou uma obra desse tipo. "Depois desse filme, ficou uma sensação de que não havia mais nada para fazer.", ele declarou em uma entrevista. Assim começou a nova fase de Godard. E sempre fazendo barulho.
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