quarta-feira, 30 de setembro de 2009

TOP GUN - ASES INDOMÁVEIS


NOTA: 7.
- Você é problema pra todo mundo. Porque toda vez que está no ar, você não é seguro. Eu não gosto de você porque você é perigoso.

Top Gun é para mim um filme muito difícil de analisar. Primeiro porque se trata de um filme que assisti a uma centena de vezes na TV com meu irmão quando éramos crianças. Para um nostálgico como eu, isso já conta muito. Segundo porque ele me confunde de certa forma. Apesar de ter um roteiro banal, as cenas boas são tão boas, que parecem apagar todo o resto do filme.
E claro que as cenas boas são as cenas de batalhas dos aviões que são nada menos que espetaculares.  Mesmo assistindo hoje, não deixei de me impressionar como elas são bem filmadas. Não foram superadas até agora e nem devem ser, já que as altas tecnologias de hoje transformam pilotos em peças obsoletas e geram, no máximo, filmes ruins como Stealth.
Logo na sequência inicial, vemos um piloto em atrito com um caça russo. Ele vira de cabeça para baixo ficando a poucos centímetros da outra nave e lhe mostra o dedo. Isso o torna uma lenda já que a manobra era considerada impossível.
Apesar de ser considerado perigoso, ele é selecionado para ir para Top Gun, uma escola onde os pilotos aprendem a serem os melhores do mundo (não se esqueçam que os americanos são extremamente presunçosos). O piloto é Pete “Maverick” Mitchel (Tom Cruise em início de carreira e no auge da canastrice). O melhor da turma, tem o nome posto em uma placa.
Aí seguem os clichês do gênero. A relação dele com a garota, o mistério sobre seu pai que morreu num acidente sigiloso e a rivalidade com outro piloto tão bom quanto ele de nome Iceman (Val Kilmer). Por sorte, essas cenas duram pouco e são imediatamente substituídas por mais batalhas.
Mas ainda assim o filme apresenta seus problemas. O principal e a química entre Cruise e McGillis. Ou a falta dela. O romance entre eles é tão fraco e inconvincente apesar da beleza dos dois. Mais uma prova que apenas beleza não basta.
De resto não há surpresas. Todos sabem que vai acontecer e quando vai acontecer. Formulaico até a raiz do cabelo, o roteiro se arrasta enquanto as cenas de ação salvam o filme. Simplesmente isso.
Fica a curiosidade de ver Cruise no início de carreira e observar o quanto ele melhorou com o passar dos anos. Pode não ser o melhor ator, mas com certeza é esforçado o suficiente para evoluir na sua profissão. Mas uma coisa não mudou, canastrão ou não ele sempre pareceu uma estrela de Hollywood.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

CORAÇÃO SATÂNICO


NOTA: 9.
“Quão terrível é a sabedoria quando ela não traz nada de bom para o conhecedor dela, Johnny?” Louis Cyphre
Ao final do filme, eu fiquei me perguntando se ele se tratava de uma história policial ou de um filme de terror. Acho que o mais correto seria dizer que se trata de um filme policial com requintes de terror, mas não consigo ter muita certeza.
Acompanhamos Harry Angel (Rourke), um detetive pé de chinelo que cuida apenas de pequenos casos. Na maioria das vezes, casos conjugais. Até ser contratado por Louis Cyphre (De Niro), um estranho homem que deseja procurar um soldado desaparecido e ex-roqueiro chamado Johnny Favorite.
Não é o tipo de caso a que ele está acostumado, mas Cyphre insiste e lhe oferece um bom dinheiro. O problema é que a busca por Favorite o leva pelo submundo dos EUA, incluindo uma trilha de cadáveres frescos que parecem o perseguir, fazendo que sua situação só piore e não possa largar facilmente o caso.
Falando assim, pode parecer apenas mais um filme policial como existem aos montes. De certa forma, até chega a ser. Então o que torna esse filme mais interessante? O sobrenatural. O diretor e roteirista entrega um filme onde as coisas não são o que parecem ser. O submundo do filme esconde muita sujeira e magia negra.
Por isso, o filme é levado até o limite tanto em sua forma visual quanto na atuação dos próprios atores. De Niro aparece com um longo cabelo negro, uma barba estranha mas cuidadosamente cuidada e unhas que lembram as do Zé do Caixão. Ele entrega um personagem enigmático com uma atuação inspirada, mesmo que tenha pouco tempo em cena. Quando o vir descascando um ovo, entenderá do que estou falando.
Ele conta ainda com Mickey Rourke, aqui, no seu auge. Ele entrega uma ótima interpretação de um homem que aos poucos vai perdendo sua razão por conta da situação. Incrível como um ator pode fazer sucesso apresentando personagens tão relaxados.
O filme é de 1987 e dirigido por Alan Parker, que já havia entregue a pérola O Expresso da Meia Noite, além de outros filmes como o musical infantil Quando as Metralhadoras Cospem e o Pink Floyd The Wall. Aqui, ele entrega um filme tão inspirado quanto seus antecessores.
No final do filme vem a revelação do mistério. Por mais estranho que pareça a revelação com seus toques sobrenaturais, ela faz sentido. Ainda que de forma distorcida. Mas somos perfeitamente capazes de aceitar. Porque o diretor nos prepara para ela com extrema habilidade. Pena que ele tenha diminuído consideravelmente seu ritmo de trabalho.

domingo, 27 de setembro de 2009

IRRESISTÍVEL PAIXÃO


NOTA: 8.
“É como ver uma pessoa pela primeira vez e há um tipo de identificação. Como se os dois soubessem de algo. No momento seguinte a pessoa se foi e é muito tarde pra fazer algo. Aí você se pergunta: ‘E se eu tivesse parado?’.” Jack Foley
Esse é um daqueles “pequenos” bons filmes que acabam te surpreendendo. Talvez seja pro causa do foco que o filme tem. Esse é um filme de crime onde o que menos interessa é o próprio crime. É mais sobre os personagens e seus trejeitos.
Os principais são Jack Foley (George Clooney) e Karen Sisco (Jennifer Lopez, numa das únicas vezes que não estraga o filme). Ele é um ladrão de banco que acaba de escapar da prisão onde foi preso depois de roubar um banco. A melhor parte é saber que em nenhum dos casos ele usou uma arma. Ela é uma Agente Federal que se apaixona por ele na mala de um carro depois que tenta acabar com a fuga dele. Depois, ela é responsável por tentar capturá-lo.
Claro que não há somente os dois no filme. Há vários outros personagens interessantes no filme como o parceiro de Foley, Buddy Bragg, o atrapalhado e pateta Glenn e o ex-boxeador Snoopy Miller. Esses são os envolvidos no esquema para assaltar a casa de um banqueiro que também cumpriu pena chamado Ripley.
Mas é no meio de todos que acompanhamos o flerte entre Foley e Sisco, apesar de estarem em lados opostos da lei. Sisco leva seu trabalho muito a sério e Foley não sabe fazer nada além de ser um criminoso. Como pode dar certo? O principal é muito charme. Não sou fã de Lopez, mas aqui, ela faz o par ideal com Clooney. Me lembra um pouco dos filmes de antigamente onde interessava mais o casal de atores que o próprio filme em si.
Não me entenda mal. O filme não é veículo para os atores. Há uma grande história brilhantemente escrita. É só que eles se encaixam perfeitamente no papel. A cena de sedução é ótima. Os vemos conversando na mesa numa cena cortada com a ação dos dois no quarto. Os diálogos não batem com o que está acontecendo. A cena toda parece errada e ainda assim tão certa.
Soderbergh surpreende em um filme simples que beira o brilhantismo, para fazer esquecer as besteiras dos “Segredos”, também com Clooney. Diálogos brilhantes, ótimos personagens, boa história e tudo otimamente filmado. Um dos melhores do diretor.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

TRÊS REIS


NOTA: 9,5.
“Bush disse as pessoas para se levantarem contra Saddam. Elas acharam que iam ter nosso apoio. Não tem. Agora estão sendo massacradas.” Archie Gates
Não lembro de ter assistido até hoje um filme sobre a guerra do Golfo tão bom quanto este. Nem ao menos perto. Convenhamos, estamos diante de uma obra prima sobre uma guerra bizarra que certas pessoas nem consideraram uma guerra.
O ano é 1991 na então conhecida “Operação Tempestade no Deserto”. Acompanhamos os tais três reis: os soldados Troy Barlow (Mark Wahlberg), Chief Elgin (Ice Cube) e Conrad Vig (Spike Jonze, que curiosamente dirigiu no mesmo ano o estranho Quero Ser John Malkovich).
Num primeiro momento, Troy, atira num homem balançando uma bandeira branca. A trégua é tão recente que eles não sabem como reagir ainda. Há uma festa para ele por conta do tiro. Ele é provavelmente o único que atirou em alguém naquela guerra. Logo depois, há uma revista em todos os homens da área. É quando eles encontram um mapa escondido no traseiro de um deles.
O mapa leva ao tesouro escondido de Saddam Hussein. A história vaza e acaba caindo nos ouvidos do sargento Archie Gates, um veterano das Forças Especiais, que está de saco cheio das suas tarefas e pretende ficar com o ouro para se aposentar. Afinal, sua tarefa atual é pajear uma repórter.
O diretor leva o filme com uma energia visceral. Assisti-lo é uma experiência visual como tivemos poucas vezes na história do cinema. Mas o filme não é apenas uma experiência visual, além da direção, O. Russel entrega um roteiro que mostra o que uma boa história pode trazer de diferente para um filme de ação. A violência e a morte andam lado a lado com uma história bem bolada e diálogos inteligentes, e muitas vezes hilários. A ação vem da história, não o contrário.
Seria fácil estereotipar os personagens. Principalmente os árabes. Mas Russel vai além, todos os árabes do filme são o que os americanos fizeram dele. Se são “vilões”, o são por culpa dos “mocinhos”. Não é um filme de tão fácil digestão. Talvez por isso, Russel entregue um final mais moralista.

domingo, 20 de setembro de 2009

ROCKNROLLA


NOTA: 5.
- Não é a bateria, drogas ou sexo. Alguns gostam das drogas, outros do sexo, do glamour ou da fama. Um Rocknrolla gosta de tudo pra caralho.

Eu vejo esse filme e fico pensando na facilidade que certos diretores tem de repetir a si mesmos. Guy Ritchie surgiu com o bom Jogos, Trapaças e 2 Canos Fumegantes, depois disso ele repetiu a fórmula e a deixou em maior escala com Snatch. Depois de algumas investidas em outros gêneros (sem sucesso), ele volta para fazer um filme exatamente como fazia antes. Não se trata de exageros, é um filme que mostra mais do mesmo das habilidades do diretor.
Aqui a história toda gira em cima de um golpe imobiliário envolvendo as máfias russas e britânicas. Um golpe meio idiota que pode render alguns milhões para ambas as partes. O mais interessante nessa história toda, é que se as duas máfias se unissem elas poderiam ganhar muito mais dinheiro e mais facilmente do que com o estranho golpe imobiliário mostrado aqui. Mas quem sou pra julgar? Cada criminoso deve saber quanto vale.
Aí a fórmula se repete. Muitos outros bandidos que fazem alguns golpes que interferem na trama principal do filme de alguma forma para dar desculpas ao diretor de dar reviravoltas em cima de reviravoltas na trama. Dessa vez, tudo pode ser arruinado por causa de um quadro! O russo empresta um quadro da sorte para o britânico (?) e o quadro acaba sendo roubado. Beira o patético. Temos um guitarrista “morto” e um Gerald Butler que assalta o russo a pedido de Thandie Newton.
O que o filme tem de bom para ganhar um pouco da minha simpatia é Tom Wilkinson. Você pode não reconhecer o nome, mas com certeza reconhecerá seu rosto. Que ele é um ótimo ator, isso ele já tinha confirmado em filme depois de filme. Mas é justamente num filme como esse entrega um papel como não havia entregue antes: o papel mais engraçado do filme. Ótimo como sempre e dessa vez divertido como nunca.
Do mais, é a mesma pirotecnia visual do diretor. Na edição ele acaba de multilar o filme. São sucessivos cortes para emendar as tramas uma na outra e acaba cansando o espectador. Agora ele vai finalizar Sherlock Holmes, com Robert Downey Jr., vamos esperar pra ver se ele vai se reciclar ou se vai pegar o detetive mais famoso e entregar mais do mesmo de novo.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

FROST/NIXON


NOTA: 9.
“Eu não queria ser presidente da Rússia. Lá nunca se sabe se está sendo gravado.” Nixon
Esse filme é baseado numa série de entrevistas que o apresentador David Frost realizou com o ex-presidente Richard Nixon, que havia renunciado alguns anos antes. E em que situação ele se eternizou na política americana. Único presidente a ter renunciado por lá. Mais conhecido por ser corrupto do que por seus feitos.
A tarefa não é fácil, Nixon já havia passado por várias entrevistas sem que ninguém conseguisse lhe arrancar uma confissão. E todos profissionais de gabarito. Diferente de Frost, que era mais conhecido como um apresentador de TV. E pior ainda: por que um britânico queria uma entrevista política com um ex-presidente americano.
Durante toda a entrevista, Nixon “engole” Frost nas entrevistas. É por isso que Frost sai vitorioso. Frost não tem uma reputação boa. Apesar de ser uma pessoa conhecida, ele é sempre tido como um mero apresentador. Subestimado. Mesmo quando convida o produtor para trabalhar com ele nessas entrevistas, este se surpreende: “Você não estava entrevistando os Bee Gees ontem?”. Frost aposta tudo nessa entrevista. Investe um dinheiro que não tem. Ele não consegue patrocinadores para o programa. Se tudo der errado, ele está acabado, do contrário é a glória.
Frost entende de televisão. Nixon quer a absolvição e espera conseguir isso com uma entrevista impecável. Ele quase consegue. Ainda assim, não consegui o enxergar como um vilão. Claro que ele errou, ainda que ele ache que por ter sido presidente seus atos não sejam errados. O que Frost consegue não é uma confissão, é a humilhação pública do entrevistado. Ainda que o filme privilegie o entrevistador, é difícil não sentir pena daquele homem que pede desculpa na frente das câmeras.
Não há o que dizer das atuações dos atores principais. Eles estão nada menos que perfeitos em seus papéis. O roteiro foi muito bem adaptado do mesmo autor da peça. Teria apenas um porém na direção de Howard. Ele coloca os atores do filme para darem entrevistas como se o filme é um documentário. O que é isso, Howard? Todos sabemos que é uma história de ficção ainda que seja inspirado em uma história verdadeira. Ainda assim um erro menor em um grande filme.
Para quem interessar, há uma série de clipes da entrevista verdadeira disponíveis no youtube.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

NO LIMITE, A HISTÓRIA DE ERNIE DAVIS




NOTA: 7,5.
“Engraçado. A maioria das pessoas acha que minha vida tem sido apenas sobre futebol. Eu mesmo pensei isso. Mas futebol é só um jogo. O que interessa é pelo que você joga.” Ernie Davis
Essa fala resume um pouco do filme. Baseado na vida do falecido jogador Ernie Davis, este filme conta uma história não apenas de futebol, mas de superação contra as dificuldades e o preconceito.
Você pode achar um pouco parecido com Duelo de Titãs, mas não é. Se no filme com Denzel Washington um time inteiro integrado se levantava contra o racismo, aqui apenas um homem se levanta para fazer a diferença.
Desde sua infância, Davis não tem uma vida fácil. Ele enfrenta seu problema para falar (ele é meio gago). “Parece que as palavras não vem à cabeça.”, ele diz. Além disso, desde sempre as pessoas dizem para ele aonde pode ir ou não, o que fazer ou não, pelo simples fato de ser negro.
Ele cresce e se transforma num dos maiores “corredores” de futebol americano. “O Expresso de Elmira”. E é chamado por Schwartzwalder (Dennis Quaid), o técnico de futebol da Universida de Syracuse. São apenas três negros no time, mas é Davis quem chama atenção. Rapidamente ele se torna o astro do time. O adversário a ser batido não apenas pelo seu talento, mas também pelos racistas que querem se mostrar superior.
Seu sucesso não facilita sua vida. Ele tem que usar a entrada de serviço em hotéis, dormir em quartos de serventes, e mesmo quando ganha o campeonato e conquista o troféu de melhor jogador da temporada, ele não pode ir a festa pois “não aceitam pessoas de cor”.
O que enriquece mais o filme, é que além de futebol e a superação de Davis, vemos a amizade entre ele e seu treinador. Pelos padrões da época, ele devia ser considerado o mais perto possível de uma pessoa não racista. Para a época. A princípio ele não se preocupa com a pessoa, mas com o atleta. Davis joga por muito mais que o futebol, e ele precisa do treinador do lado dele para isso.
Davis vai além do que podiam imaginar. Ele se torna o primeiro negro a ganhar o prêmio Heisman, dada por excelência atlética. Parece muita coisa para se contar, mas a verdade é que são apenas 23 anos de vida do jogador. Quando chega a sua hora de passar a bola adiante, ele diz: “Quer ser como eu? Isso não é suficiente.”
Claro que apenas ele dizer isso não é o suficiente. Seu treinador diz que nunca haverá um outro Ernie Davis. Ele provavelmente está dizendo a verdade. Filmes sobre esporte não costumam dar errado, desde que haja uma grande história por trás. E essa é grande. Pena que seja outra que esteja na galeria de filmes que não chegam ao Brasil.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O CASAMENTO DE RACHEL


NOTA: 9.
“Faz nove meses que estou limpa.” Kym
Assim como o Há tanto tempo Que Te Amo, o novo filme de Jonathan Demme (O Silêncio dos Inocentes) conta a história de uma mulher que deve ficar com a irmã depois de passar por alguma dificuldade. Aqui, Kym volta para casa para o casamento de sua irmã.
Kym passou por várias clínicas de reabilitação. Ela é uma ex-viciada em drogas. Um dia que estava muito drogada acabou sendo responsável pela morte de seu irmão menor. Apesar do título, a história é centrada nela e em seus problemas em reencontrar com a família depois de passar mais de dez anos entrando e saindo de diversas clínicas.
Mais que acompanhar os preparativos do casamento, o filme mostra os conflitos dessa família disfuncional. Rachel acredita que seu pai gosta mais da irmã do que dela. Rachel que está preocupada com sua reabilitação e acaba virando parte das atenções para si mesmo e seus “12 Passos”. O pai é como todo o pai, procura conciliar as coisas sem parecer tomar parte. E por aí vai.
Demme dá ao filme um tom documental. A câmera tremida não serve apenas para exteriorizar a loucura da família (em especial de Kym), mas também para nos familiarizar com a situação. No jantar de ensaio, assim como nos preparativos do casamento até o casamento, a câmera faz lembrar nós mesmo em uma festa, quando vagamos pelo salão observando os acontecimentos. É assim que me senti assistindo o filme. Nem sempre vemos o que é mais interessante, e sim pequenas coisas que captam nossas atenções mesmo quando coisas (aparentemente) mais importantes estão acontecendo.
Os méritos de Demme são divididos com Jenny Lumet, que entrega logo em seu primeiro roteiro uma história contundente. Ela segura os porquês. As informações vem pingadas. Logo de cara, Walter, um interno assim como Kym, a pergunta se ela tem matado mais alguém em acidentes de carro. Numa loja a balconista a pergunta se ela não apareceu em Cops. A informação de que é o irmão dela que morreu só vem muito depois. E mais ainda para sabermos o que realmente aconteceu.
Depois de entregar O Silêncio dos Inocentes (Oscar de filme, direção, roteiro, ator e atriz) e Filadélfia no início dos anos 90, Demme estava devendo um bom filme. Agora não deve mais.

domingo, 13 de setembro de 2009

UM ATO DE LIBERDADE


NOTA: 6.
“Nada é impossível. Tudo que fizemos até agora é impossível.” Asael Bielski
Esse é mais um filme sobre os judeus na segunda guerra, mas com uma diferença: mostra um novo tipo de judeu. Geralmente os judeus aparecem nos filmes para serem massacrados. Eles parecem aceitar seu destino, aqui os vemos lutando pela sua liberdade. São judeus guerrilheiros.
Durante a Segunda Guerra Mundial, um grande grupo de judeus se reuniram no meio de uma floresta formando toda uma sociedade auto sustentável. Liderados pelos irmãos Bielski, chegaram a ter um número estimado em 1.200 pessoas que desafiaram os nazistas. Foi o maior grupo e mais bem sucedido registrado.
O filme conta uma história de grande carga emocional, mas de alguma forma o filme falha ao transmitir essa emoção para o espectador. Grande parte disso acontece porque não há uma ameaça real mostrada no filme. Sabemos que os nazistas existem, sabemos que eles matam judes, mas não os vemos como uma ameaça real no filme. Todo o conflito do filme se concentra na própria sociedade.
O elenco foi muito bem escalado. Os irmãos são Daniel Craig (Tuvia), Liev Schreiber (Zus) e Jamie Bell (Asael). Eles se refugiam na floresta depois de terem a família exterminada. Tuvia mata os responsáveis e eles juntam pessoas que também precisam se refugiar. Tuvia está mais interessado em salvar os judeus, mesmo os indefesos e Zus está mais interessado em matar nazistas (assim ele acredita que estará salvando mais judeus). Os dois interpretam maravilhosamente bem seus personagens.
Edward Zwick é um cineasta irregular. Seus filmes ás vezes são longos demais, ás vezes muito melodramáticos. Aqui ele podia ter investido um pouco mais no drama, deixando a ameaça real ainda que o filme ficasse um pouco mais longo. Ainda assim é interessante conhecer essa história.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL


NOTA: 6.
- Para um velho, até que você não luta mal. Tem tipo o quê? 80?” 

Há um hiato de quase 19 anos entre este filme e o anterior da série. E infelizmente esse hiato é percebido na tela. Chego a dizer que o problema começa logo no título. Este novo parece um título de episódio de He-man.
Outro fato que se nota de cara é o envelhecimento do ator. Me lembra muito Sean Connery em A Liga Extraordinária, quando se vê claramente que o ator interpreta um personagem que não condiz com sua idade. Indiana Jones é capaz de proezas ainda mais inacreditáveis do que realizou nos longas anteriores. Podiam ter brincado um pouco mais com isso no filme.
Aqui, Indiana é capturado por Russos (pensei que iam ser deixados em paz com o fim da Guerra Fria) para recuperar um objeto no mesmo galpão superguardado onde foi deixada a Arca da Aliança no primeiro filme. O objeto em questão é a Caveira de Cristal do título.
Mas por que essa caveira é tão importante? Para descobrir Indiana passa pelos mesmos problemas de sempre: é capturado, escapa, é capturado de novo, escapa de novo, e por aí vai.
Dessa vez ele conta com a companhia de Mutt Williams, interpretado por Shia LaBeouf que não convence de forma nenhuma como herói de ação apesar de Spielberg querer empurrá-lo dessa forma. Um garoto irritante e nervoso que não faz que seja surpresa nenhuma ele ser filho do herói (com a personagem Marion, também do primeiro filme).
O que fez com que a série tivesse grande sucesso, era ver Indiana correndo atrás para desvendar grandes segredos da humanidade, aqui é só enfadonho o vir perseguir uma lenda obscura que, para fazer com que tenha um significado maior do que realmente merece, recebe uma explicação pra lá de estapafúrdia.
O filme até segue tentando recuperar a magia dos anteriores, com boas perseguições e cenas de ação, apesar de uma cena ridícula envolvendo formigas gigantes que comem pessoas. Mas não é de se espantar que o final do filme seja um festival efeitos especiais. Spielberg sempre se mostrou um devoto a elas: quase estragou o relançamento de E.T. substituindo o boneco do original por um ser digital; e não só isso, nos próprios Indianas anteriores ele usava em menor escala (hoje, acho que mais por necessidade que por escolha). Aqui ele erra de vez a mão.
Difícil acreditar que toda essa espera para fazer a continuação por não encontrar a “história certa” tenha acabado com o roteiro desse filme. Indiana tenta fazer jus a sua reputação, só podia ter esperado por uma história boa o suficiente para isso. Ás vezes, só carisma não basta.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

COM MÉRITOS



NOTA: 8.
“Eu tinha uma casa. Tinha um lugar quente pra dormir, 17 banheiros 8 andares de livros. Eu tinha um palácio. Sabe por que preciso de uma casa? Por sua causa. Porque quando você olhou pra mim não viu um homem.” Simon Wilder
Esse é mais um dos filmes da Sessão da Tarde que também era repetidamente exibido logo após Vale a Pena ver de Novo (Sim, são muitos e muitos anos que a programação não muda).
Eu lembro de achar que a história, apesar de bonita, não parecia muito verossímil. Um mendigo morando na biblioteca de Harvard? Não pode ser. Ainda por cima ele lia Germinal, de Emile Zola.
Foi quando lembrei de uma história aqui no Brasil. Um homem que vivia há 12 anos nas ruas, estudou sozinho e passou para o concurso do Branco do Brasil. Se considerarmos que concursos públicos são a opção de vida de muita gente e gera um negócio lucrativo para os cursos preparatórios, ele ter estudado sozinho e passado é muita coisa. E se isso foi possível...
Monty é um estudante de Harvard. Não é rico como a maioria das pessoas de lá. Então fez da sua carreira seu projeto de vida. Nada mais importa para ele. Nada de diversão, apenas está focado na sua tese final para se formar com méritos. Até que seu computador “torra” com uma queda de luz. Com medo de perder a única cópia impressa que tem ele vai tirar cópias no meio da noite.
No caminho ele tropeça e sua cópia cai na sala das caldeiras da biblioteca. Quando chega lá, ele descobre que o mendigo Simon Wilder está usando sua tese para se manter aquecido. Desesperado pra tê-la de volta, ele concorda em trocar uma coisa por uma página da sua tese. De 88, ele agora procura recuperar as 83 páginas que restam. Ao invés de realizar a troca, ele telefona para a polícia. Simon Wilder porém, não está com sua tese. “Se tivesse uma apólice, andaria com ela?” ele diz. Assim, Monty deve mantê-lo por perto pra realizar a barganha.
É claro que esse encontro vai trazer mudanças para Monty. Não apenas ele, mas também seus companheiros que dividem a casa com ele: o irritante Jeff, o amor não consumado Courtney e o rico Everett. Todos acabam se envolvendo com o adorável mendigo, que chega a “ensinar” em uma classe Harvard. Simon é muito mais inteligente do que parece.
O filme tem dois defeitos, em se tratando da vida de um mendigo, que no mínimo tem uma vida errática, o filme é certinho demais. Um pouquinho de loucura seria muito bem vindo. Ao invés, o roteirista está tão preocupado com as fórmulas que chega a ser fácil antecipar o que vai acontecer em seguida.
Ainda assim, o filme consegue emocionar, em especial pelas boas interpretações de Brendan Fraser, que quando quer entrega ótimas performances como essa e Deuses e Monstros, e o sempre ótimo Joe Pesci. Além disso, apesar de formulaico, conta uma história bonita que emociona.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

AMANTES


NOTA: 8,5.
“Você é maluco?” Sr. Cohen
Essa é a pergunta que é feita pra Leonard (Phoenix) em certa parte do filme pelo seu sogro. Ele é realmente maluco? Logo na primeira cena do filme, ele tenta se suicidar se jogando de uma ponte. Maluco ou não, ele tem problemas.
O mesmo pode ser dito sobre o ator. Afinal, esse pode ser conhecido como o derradeiro filme de Joaquin Phoenix. Ele está abandonando a carreira de ator para se tornar rapper e só poderá ser visto num documentário que está sendo feito sobre sua nova carreira.
Leonard tem que viver com problemas emocionais. Não vemos muito sobre esse problema, apenas que ele tem que usar uma medicação para não ter problemas e ouvimos que ele já esteve numa clínica. Sua noiva o abandonou. Esse é o motivo da sua dor.
Para aplacar sua dor, aparecem duas mulheres na sua vida. Sandra é a mocinha certinha que se apaixona por ele. O pai dele e o dela vão virar sócios e ela pede para conhecê-lo. Ela se interessou por ele. Sabe que trata de uma mercadoria defeituosa e mesmo assim está disposta a cuidar dele.
Michelle é o oposto de Sandra. Ela é a mercadoria defeituosa. Trabalha para uma firma de advocacia e tem um caso com um dos sócios. Seu “namorado”, porém, tem mulher e filho. Ele diz que vai largar tudo por ela, mas ela nunca sabe se ele diz a verdade ou não. Ela fascina Leonard.
Esse é o triângulo formado por dependência. Sandra quer cuidar de Leonard e Leonard quer cuidar de Michelle. Michelle precisa de Leonard enquanto Leonard precisa de Sandra. Mas o filme trata do que a gente quer, e não do que precisa. E Leonard quer Michelle, e Michelle quer que seu amante largue a família.
Não parece difícil entender o fascínio que Leonard tem por Michelle. A maioria das pessoas já deve ter encontrado com uma pessoa parecida na vida. Divertida e charmosa de uma forma natural. Como culpá-lo?
Ao mesmo tempo, Leonard, apesar de estranho, tenta se socializar com as pessoas, ser gentil. Até tenta ser útil para a loja do seu pai. E seus pais só querem o melhor para ele. Seu pai quer realizar a fusão com a loja do pai de Sandra para garantir o futuro do filho. Sua mãe apenas quer que ele seja feliz. Não importa como.O pai de Sandra quer a felicidade da filha. Mas será que Leonard se permitirá se feliz? Passar por cima da dor e abraçar a felicidade?
Esse é o terceiro filme do diretor James Gray, e sua terceira parceira com Joaquin Phoenix. Aqui ele sai do gênero policial para o drama e acerta em cheio. Amantes é um filme sensível e inspirado que foge dos clichês do gênero. E a atuação de Phoenix (mesmo que seja a última) é memorável.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

APPALOOSA: UMA CIDADE SEM LEI


NOTA: 6.
“A maioria das pessoas inocentes não são espancadas, e se foi, é por causa do que Virgil Cole é, e vocês o contrataram para ser Virgil Cole.” Everett Hitch
Eu adoro filme de faroeste. Sempre que há uma nova produção sendo lançada, eu tenho esperança que vá ver a um bom filme do gênero. Geralmente acabo decepcionado. Aqui não é muito diferente. Não que o filme seja ruim, só não tem o que os filmes costumavam ter.
Aparentemente, o politicamente correto cinema moderno não tem mais espaço para esse tipo de filme e os faroestes de hoje são mais “certinhos”. Bem. Vejamos, era uma expansão para o oeste, uma terra que não tinha lei ou que quando tinham, nem mesmo as leis eram iguais para todo o território, uma constante guerra com os habitantes originais das terras – os índios, onde os duelos eram considerados normais e as pessoas morriam por nada.
Um faroeste certinho sobre uma época dessa? Realmente o gênero está morto para esses novos tempos. Eu não acho que eles estavam certos em matar índios, mas é o que eles faziam naquela época.
Appaloosa não foge desta regra. Everett Hitch e Virgil Cole são uma dupla de pistoleiros que ganham a vida acabando com os bandidos das cidades que os contratam. No caso em questão, a cidade título do filme. Virgil como o xerife e Hitch como seu delegado. Eles têm uma amizade de muitos anos. Hitch completa as frases que Virgil esquece. Pura confiança entre eles e eles são muito bons no que fazem. E eles tem sangue-frio e coragem para levar a lei numa terra dominada pelo terror sob o domínio de Randall Bragg e seu bando.
O elenco é todo de primeira. A dupla é interpretada por Ed Harris e Viggo Mortensen, já o vilão é Jeromy Irons. Além disso há a presença de Renée Zellweger e Lance Henriksen.
Zellweger é uma mulher que vai para cidade a procura de emprego. Não como prostituta. Ela toca piano e rapidamente se torna o alvo de interesse por Virgil. Este, que parece sempre ter procurado ficar longe de uma mulher fixa, se apaixona rapidamente por ela. A trama complica quando Virgil tem que prender Bragg.
O filme tem um ritmo interessante e vai além dos tiroteios. Há discussões sobre ética e até mesmo sobre o tipo de cortina da casa. Tudo segue muito bem até o inevitável tiroteio. Aí entra o problema.
As cenas de tiroteio são econômicas demais além de poucas. Não há nem uma tensão pré-tiroteio ao estilo de Sergio Leone. Tudo começa muito rápido e termina prematuramente. Até mesmo Hitch se impressiona: “Essa foi rápida.”. Se essa é a nova forma dos filmes atuais de faroeste, eu não gosto.

sábado, 5 de setembro de 2009

FOME (HUNGER)



NOTA: 9.
“Eu aceitei o castigo porque sabia que era a coisa certa a ser feita.” Bobby Sands
Hunger é um filme de uma situação de medidas desesperadas, e como tal é um filme que “exala” esse desespero. A situação em questão era o conflito entre o governo britânico e o Exército Republicano Irlandês (IRA).
O ano é 1981. Acompanhamos a vida na prisão das pessoas. São basicamente três núcleos distintos que vemos no filme. Primeiramente acompanhamos o desgaste psicológico que os guardas da prisão tem. Depois o dia a dia dos presos. E por último acompanhamos a greve de fome.
Cada núcleo nos leva a entender o outro. É fácil pensar que são os presos e não os guardas que deviam estar sob grande desgaste emocional, porém vemos as coisas que eles tem que passar, como se comportam os presos e como eles têm que reagir para manter controle na prisão.
O dia de visita por exemplo, não é um dia de rever os familiares. É um dia para traficar todo tipo de coisa para dentro da prisão. Uma criança que é pega na colo tem coisas dentro de sua roupa. Um beijo que passa outra coisa de uma boca para outra. E por aí vai.
Se não conhece muita coisa coisa sobre o conflito e não sabe como se posicionar sobre ele, não é aqui que vai encontrar uma posição a que se possa se apoiar. Esse filme é sobre fatos. Sobre as pessoas que estão dentro da prisão, como vivem e como convivem. Nada além disso.
Steve McQueen (diretor e não o ator, que já é falecido), filma com uma crueza espantosa. O presos tem que colocar seus restos por baixo da porta. São espancado e tem seus orifícios inspecionados numa sessão de espancamento. Nada de grandes diálogos nesse filme, Hunger é um filme de imagens.
No único grande diálogo do filme, acompanhamos o embate entre Bobby Sands, um dos líderes da prisão e um padre. Bobby explica que vai fazer a greve de fome para chamar a atenção da sua causa. O padre tenta persuadi-lo de sua campanha. “Se funcionar, você não estará vivo para ver.” Mas Bobby está convencido e explica seus motivos. Não é uma questão de quem está certo ou errado, são dois pontos de vistas distintos e acabamos “aceitando”ambos. O Governo não está recuando, Bobby também não pode.
O padre nem ao menos discute sobre o ato de Sands ser considerado um suicida, apenas argumenta sobre o ato que ele vai realizar por si próprio.
A greve é filmada com a mesma crueza espantosa de todo o resto do filme. Sands vai definhando de forma lenta. Pouco a pouco, num emagrecimento que o ator Fassbender faria Christian Bale (O Operário) ficar com inveja. Cada vez mais magro e fraco com feridas pulando por sobre seu corpo, é uma questão de tempo até sua morte.
A greve tem seu efeito. Tatcher não admite (ela não era conhecida como a Dama de Ferro à toa), mas com essa greve de fome, que acabou com a morte de dez internos, o governo teve que reconhecer os prisioneiros como políticos, e não criminosos comuns. Mas Sands realmente não viu isso acontecer.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

FACES DA VERDADE - NOTHING BUT THE TRUTH


NOTA: 8,5.
- Um homem deixa sua família para ir pra cadeia pra defender um princípio e eles criam um feriado com o nome dele. Um homem deixa seus filhos para lutar numa guerra, e constroem um monumento para ele. Uma mulher faz a mesma coisa e vira um monstro.

Um filme inspirado (e não baseado) em uma história real. Segundo uma pesquisa, o filme é baseado na história de Judith Miller, uma repórter do New York Times, que passou 85 dias na prisão por não revelar sua fonte.
No caso original, um vazamento de uma agente secreto foi realizado para desacreditar o marido da agente e suas investigações da venda de Urânio para o Iraque. Foi uma mentira realizada pela dupla Bush-Cheney para justificar a guerra do Iraque.
No filme, da mesma forma, uma repórter revela a identidade de uma agente secreta causando grandes problemas para o governo. Nunca nos é mostrado a fonte de Rachel Armstrong, apenas sabemos que ela tem uma fonte que revela a identidade da agente. De posse das informações, ela conta a agente que a reportagem será publicada.
Rachel ganha grande prestígio assim como um grande problema. Normalmente, a repórter teria o direito de preservar sua testemunha, mas como se trata de um vazamento no governo, o caso vira um problema de segurança nacional. Dessa forma, Rachel deve dizer quem é sua testemunha ou sofrer com as conseqüências.
Rachel, porém, é uma mulher de fibra. Ela não vai contar quem é sua fonte. Se ela o fizer, nenhuma outra pessoa falaria com ela novamente. Ela não protege apenas a integridade da pessoa que a contou, mas a própria integridade da profissão que ela pratica.
Sua prisão vai muito além dos 85 dias que Miller sofreu. Em um determinado momento ela conta quantas companheiras de cama ela já teve, e que é disparada a interna mais antiga daquela cadeia. Chegando a ser espancada por uma companheira, dá nervoso ver a punição que Rachel agüenta. Ela sofre muito mais do que deveria. Pra completar, seu marido aliena o filho dizendo sobre como a mãe é uma mulher sem coração, enquanto a substitui como amante.
Optando por apenas se inspirar na história, o diretor e roteirista toma certas liberdades que engrandecem o filme. O caso é mostrado com muita clareza, e a punição que a repórter leva vai até o limite do possível. Da mesma forma, não temos um “vilão” no filme. O promotor está apenas fazendo seu trabalho. No final, quem está certo e quem está errado?
Uma pena que este filme não teve vez no mercado de cinema do Brasil, mas não ter sido lançado nem ao menos em DVD é uma vergonha. Quem tiver acesso a uma locadora com DVDs importados pode ter a sorte de encontrar esse filme. Faces da verdade é um filme forte que levanta interessantes questões políticas para qualquer país que se considera democrático.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O TRAIDOR


NOTA: 8.
“Sabia que o Alcorão diz que se matar uma pessoa inocente é como se tivesse matado toda a humanidade?” Samir Horn
É estranho pensar que o livro religioso que contém a frase acima, possa ser usado para convencer pessoas a realizarem ataques terroristas. Seus ataques matam tanto homens, quanto mulheres e crianças. E mesmo o atentado contra o World Trade Center matou não apenas americanos, mas pessoas de diversos outros países.
Essa é uma das questões levantadas pelo filme: quantas pessoas inocentes devem morrer para se ganhar uma guerra. Ao mesmo tempo que matar uma pessoa inocente é matar a humanidade, salvar uma pessoa inocente é salvar o mundo.
O filme foca em Samir Horn (Don Cheadle), nascido no Sudão que viu seu pai ser assassinado dentro do seu carro por uma bomba. Anos depois, Samir se torna um agente secreto para o governo americano. Trabalhando infiltrado, sua missão é se infiltrar e acabar com uma célula terrorista.
Depois de tanto tempo lutando essa guerra, ele fica sem contato com seus superiores. Na verdade, pelo tempo que passou, apenas uma pessoa sabe da existência de Samir. Então ele é um agente duplo? Ou será que é um agente triplo? Ele quer acabar mesmo com a célula terrorista ou usa o governo para conseguir efetuar os golpes terroristas?
A maioria dos Mulçumanos é contra o terrorismo e Samir é um devoto. Ele sempre reza voltado para Meca e frequentemente cita o Alcorão. Inteligente demais para se matar com uma bomba. Não. Samir planta bombas que vão ser detonadas por controle remoto.
Até que surge o grande plano: várias bombas que vão ser detonadas em diferentes lugares ao mesmo tempo. Uma mensagem que a América vai sentir e muito.
O filme não toma lados. Vemos tanto as operações terroristas e sua motivações quanto o modo de agir das equipes dos EUA, liderados por Guy Pearce e Neal McDonough, dois agente do FBI que discordam da forma de como devem agir contra os terroristas.
Mas é Cheadle que segura todos os aspectos do filme. Seu personagem permanece obscuro durante todo o filme. Afinal, de que lado ele realmente está? A interpretação do ator está ótima. Talvez se ele se focasse apenas em papéis de alta projeção como Hotel Ruanda ou os “Segredos...” ao lado de George Clooney, já seria um dos atores mais reconhecidos e bem pagos de Hollywood. Pra nossa sorte ele sempre arranja um espaço para filmes como esse.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

KRAMER VS KRAMER


NOTA: 9.
- Quanta coragem é preciso para uma mãe abandonar o filho?

Este filme aborda uma questão que sempre considerei interessante:quando os pais se separam, quem tem mais direito a ficar com a criança? Normalmente, é claro que a guarda sempre costuma ir para a mãe. Meio óbvio devido ao fato que ela consegue suprir necessidades em um bebê que o pai não consegue. Mas e depois que a criança atinge uma certa idade, o que muda? Pelo visto pouca coisa, mas este filme não ajudou muito a entender o porquê.
Isso porque o filme não toma parte do pai ou da mãe, pelo contrário, ele deixa o espectador decidir pra que lado torcer. Se é possível escolher um lado para torcer numa situação como essa. Essa é sua maior força, na verdade. É com isso que ele consegue ser tão intrigante. Tomasse partido, perderia metade da sua força. Nenhum dos dois parece estar certo na situação. São dois egoístas que só querem mais tempo para si mesmos.
Nesse egoísmo, Joanna Kramer (Meryl Streep) abandona seu marido, Ted (Dustin Hoffman), com o filho do casal, Billy. “Eu não sou boa mãe para ele.”, ela diz. Ela precisa de tempo para se encontrar. Descobrir a mulher que poderia ter se tornado se não tivesse abandonado tudo para se tornar esposa e mãe. E pai e filho devem aprender a viver juntos sozinhos, tendo que conciliar o trabalho com a educação do filho, Ted finalmente se torna um pai.
Acontece que essa não é uma história de pai e filho aprendendo a viver juntos. É a história de um casal lutando pela guarda do filho. A criança apenas teve o azar de estar presa no meio da situação. Depois de anos, Joanna volta e quer a guarda do filho. Aí começa a batalha pela custódia do filho. “Não vai ser bonito. Vamos dizer coisas sobre ela e eles vão dizer coisas sobre você. E no final o juiz sempre pode favorecer a maternidade”, lhe avisa o advogado de Ted.
Ambos querem a guarda do filho. Joanna diz agora que está pronta para ser a mãe que Billy merece. Ted não fica para trás. Despedido, ele sabe que precisa de um novo emprego para ter alguma chance de ganhar a guarda. E consegue em 24 horas numa véspera das festa de fim de ano. Essa é a vontade que ele tem para ficar com o filho.
É nesse momento em que podemos tender a escolher um lado. Talvez o dele, pois o vemos mudar como homem e como pai. Talvez porque ela os abandonou. Mas nós conhecemos Ted antes da mudança e ele não era uma pessoa agradável. E ele sabe disso nesse momento. Ele não guarda mágoas dela. Se ele pode perdoá-la, como não podemos? Talvez se fossem se casar nesse momento do filme, não se separariam.
Não posso esquecer das performances dos atores. A escolha não poderia ser mais perfeita do que Dustin Hoffman e Meryl Streep. Dois monstros do cinema que dão uma veracidade impressionante ao filme e nunca deixam o clima cair em momento nenhum. No final é difícil decidir pra quem torcer. São personagens muito profundos e interessantes. Num mundo perfeito, eles ficariam juntos. Mas se o filme tivesse um final de mundo perfeito, estragaria a força da história.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...