segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O ÚLTIMO DOS MOICANOS


NOTA: 7.
- O povo do meu pai diz que quando nasceu o sol e sua irmã lua, a mãe deles morreu. O sol deu à Terra sua forma, que foi o início de toda a vida. E ele retirou do seu peito as estrelas, e as estrelas iluminam a noite para lembrá-lo da alma dela. 

O diretor Michael Mann é ligado em detalhes. Roupas, armas e objetos de cenário foram construídos como se fazia na época em que o filme se passa. Não satisfeito, todo o elenco teve que passar por todo um curso de sobrevivência na selva, para dar mais autenticidade aos seus papéis.
Somado a isso, Daniel Day-Lewis é um ator conhecido pela imersão que faz para poder viver seus personagens. Segundo muitos dizem, ele vive aquele personagem. Acredito que muito do personagem de Robert Downey Jr. em Trovão tropical tenha sido inspirado nele. Inclusive quando ele diz: "só saio do personagem depois de gravar os comentários em DVD". Para este filme, parece que Day-Lewis viveu alguns meses na selva vivendo da caça e tudo, para poder dar vida à Hawkeye, um inglês adotado pelo último representante da tribo que dá nome ao filme.
Essa riqueza de detalhes dá uma autenticidade interessante ao filme e o torna muito interessante. Mas O último dos moicanos está longe de ser uma obra perfeita. O que dá uma impressão de muito esforço para pouco resultado.
Dois moicanos legítimos andam com Hawkeye, seu pai e irmão adotivos. Os últimos descendentes da tribo. Não saberia dizer se o resto da tribo eram fracos e eles sobreviveram porque eram os mais habilidosos ou se todos eram habilidosos. Acredito que a primeira opção se aproxime mais do real, porque se a tribo toda fosse tão boa quanto esses três, não estaria ameaçada de extinção.
De qualquer forma eles rastreiam uma outra tribo que ataca uma tropa inglesa. O ataque é um massacre, e eles apenas conseguem salvar duas mulheres, filhas de um general, e um oficial. Então resolvem escoltar os três até o forte onde o general está sitiado debaixo de um ataque.
O dilema de Hawkeye é se ele deve ajudar os ingleses na guerra contra a França, ajudar seus amigos que já estão lutando no forte a fugirem de lá para ajudarem nas suas casas que estão sob ataque e se foge dali ou fica perto da mulher por quem se apaixonou, Cora (Madeleine Stowe). O resto é previsível.
Previsível porque o filme toma um ritmo de matinê, filme de Sessão da Tarde, com repetidas cenas de batalhas (incluindo um Hawkeye executando um mesmo golpe pelo menos três vezes no filme). Além da paixão entre ele e Cora, os irmãos dos dois também se apaixonam. Como isso acontece não sei dizer, já que ele deve ter apenas umas três falas no filme e ela apenas fica se lamuriando. Nem sequer conversam em algum momento. Simplesmente há uma troca de olhares em uma cachoeira e pronto, Love is in the air.
Isso é apenas uma das coisas que fico sem entender no filme. Por que três homens, os últimos representantes de uma tribo, rastreiam para matar dezenas, se não uma centena, de homens de uma outra tribo? Por que arriscar escoltar esses ingleses sem a menor ligação com eles?
São questões que me fizeram perder o interesse pelo filme em determinado momento. A situação não piora por conta do elenco. Stowe está bem como poucas vezes esteve. E Day-Lewis, o mais improvável ator para fazer um filme de ação, está impecável.
Na época do seu lançamento, o diretor Michael Mann disse o quanto ficou insatisfeito com o lançamento. Seu corte tinha quase três horas de duração. Os produtores deixaram a versão de cinema com menos de duas horas. Infelizmente, os efeitos dos cortes são sentidos. A única coisa estranha, é que muitos anos depois ele teve a chance de lançar sua versão integral nos famosos Director's Cut de DVD, e sua versão é apenas alguns minutos mais longo do lançado no cinema. O resultado é ainda uma obra incompleta.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

DRÁCULA DE BRAM STOKER


NOTA: 9.
- Eu não sou um lunático. Sou um homem são lutando por sua alma.

Muitos filmes já foram feitos sobre o personagem, que hoje está em desgraça por causa da Saga Crepúsculo que ainda tem filmes chegando ao cinema. De muito tempo para cá, o personagem original, baseado no livro escrito por Bram Stoker, foi caindo cada vez mais em desuso.
Stoker baseou a história em um personagem real: Conde Vlad, também conhecido como empalador. Era um general do exército que empalava os seus inimigos em uma lança e os deixava escorregar lentamente de uma ponta à outra. Fato que aparece em uma cena maravilhosa logo nos primeiros momentos do filme. Quando também descobrimos que sua amada morreu e ele renuncia a igreja se transformando em um vampiro. Sua idéia é abraçar a imortalidade e esperar a reencarnação de sua amada.
Até que o momento chega, e a reencarnação é a noiva de Jonathan Hacker (Keanu Reeves), Mina (Wynona Ryder). Hacker é enviado para Transilvânia para cuidar da aquisição de algumas propriedades que Drácula (Gary Oldman) está fazendo em Londres. Hacker acaba prisioneiro enquanto Dracula vai tentar conquistar (ou reconquistar?) sua amada. Para se alimentar e permanecer jovem, ele ataca Lucy, a melhor amiga de Mina. O médico dela chama um professor Van Helsing (Anthony Hopkins) para ajudar no caso, formando um grupo disposto a perseguir e matar Dracula.
Coppola é um mestre na direção, mas não consegue acertar inteiramente a mão. Ele é capaz de construir cenas maravilhosas. E muitas cenas maravilhosas. Além disso, o filme se vale de trucagens de câmera ao invés de efeitos digitalizados. Cinema ao modo antigo no melhor estilo Coppola. O visual todo também é perfeito para o tipo de filme, mas ainda assim ele falha ao criar o filme definitivo sobre Drácula.
Isso porque ele está mais preocupado em criar um espetáculo visual do que contar uma história. Copolla se perde em inúmeros subplots e narrações totalmente desnecessárias para a história principal. O desenvolvimento perde a coerência e fica cada mais mais difícil de acompanhar o que está acontecendo. O que é o único, porém um grande, problema do filme.
Até porque o elenco está quase todo impecável. O único que destoa um pouquinho é Reeves, que não acompanha a veracidade e ferocidade  que Hopkins, Ryder e Oldman dão aos seus personagens. Mas nada que chegue a atrapalhar alguma coisa.
Tivesse trabalhado mais na história do filme, Coppola poderia ter levado mais um Oscar para casa. Acabou se perdendo cada vez mais depois desse filme.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

TRÊS HOMENS EM CONFLITO


NOTA: 100.
- Duzentos mil dólares é muito dinheiro. Vamos ter que fazer por merecer.

Na minha humilde opinião, esse se trata de um dos melhores faroestes de todos os tempos. E feito por ninguém menos que um gênio: Sergio Leone. O maior nome dos chamados "faroestes spaghetti". E esse é provavelmente o maior, e melhor, dos filmes spaghetti. Somente Leone competiria com ele mesmo lançando Era uma vez no oeste.
Antes de começar a falar do filme, é melhor avisar que este é a terceira parte de uma trilogia: A trilogia do homem sem nome. É chamada assim, porque o personagem principal interpretado por Clint Eastwood nunca se apresenta. No primeiro filme o chamam de Joe, no segundo Manco e aqui um personagem o chama de Blondie.
Talvez assim que deva ser um personagem de faroeste: um homem sem nome e sem passado. E digo isso, porque não precisa assistir os dois filmes anteriores para curtir esse. Ele fala pouco, mas sempre evoca autoridade. Não é o tipo de cara que você se meteria.
O filme foca em três personagens: Blondie é o bom, Olhos de Anjo (Lee Van Cleef) é o mau eTuco (Eli Wallach) é o feio (do nome original, The good, the bad and the ugly). A história dos três se junta porque  estão atrás de duzentos mil dólares em ouro, o que era muito dinheiro naquela época. Segundo uma conversão que li, esse dinheiro hoje seria equivalente a mais de 10 milhões. Por isso que eles fazem por merecer esse dinheiro.
Os dois filmes anteriores parecem apenas um rascunho do que Leone estava a ponto de nos presentear. Eram extremamente baratos, o que atrapalhava o resultado final. Aqui ele não tem essa limitação, o filme contava com um orçamento de 1.6 milhões de dólares. Considere ainda que todo o elenco era muito barato (na época, Eastwood ainda era ator de TV e visto como nada rentável - quem pagaria pra ver um ator que pode ver de graça na TV?), que podemos considerar que todo o dinheiro era usado para fazer o filme. Isso inclui a explosão real de uma ponte (que por um erro teve que ser reconstruída para explodirem de novo).
Leone usa um recurso muito interessante pouco usado em faroeste, especialmente os de Ford, os close-ups. As cenas fechadas limitam o espaço conhecido pelo espectador. O que não vemos, pode nos surpreender. Há uma cena, por exemplo, que Tuco e Blondie caminham em uma estrada e são surpreendidos por soldados que os capturam. Eles dão apenas dois passos e se encontram num acampamento gigantesco, com milhares de pessoas. Como eles não puderam ver aquilo? Pelo mesmo motivo que nós: não estava aparecendo no quadro. Simples assim. Outras cenas ilustram o mesmo conceito.
E tudo termina num "trielo" maravilhoso. O conceito por si só já é interessante. Três homens armados se distanciam. Quem atira em quem? Se um atirar um no outro, o terceiro escapa. E por aí vai com outras possibilidades. Para melhorar, Leone testa os limites da paciência da platéia. O tempo se estende a um ponto tal que parece que o tiroteio nunca vai acontecer realmente. E quando parece que vão atirar, ele alonga o tempo mais um pouco. É de roer as unhas.
Com certeza é uma obra prima maravilhosa.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

UM PARTO DE VIAGEM


NOTA: 8.
- Olha só. Tenho cobertura do seguro. (depois de jogar o carro de um viaduto)

O diretor Todd Philips está se tornando um dos maiores nomes da comédia da atualidade. Não por acaso, fez pelo segundo ano seguido a comédia que mais me fez rir no ano todo. Ano passado o fez com Se beber não case e agora com este filme. E planeja mais ainda, pro ano que vem já está agendado o lançamento de Se beber não case 2 (se é que vão manter esse nome em português, já que segundo informações não haverá casamento algum).
As tramas de seus filmes são simples em sua forma. Antes, era um grupo de amigos tentando encontrar o noivo desaparecido em Las Vegas. Aqui, são dois homens que, por uma série de acontecimentos, tem que viajar juntos de carro de Atlanta para Los Angeles.
Os dois são bem diferentes. Peter (Downey) é um arquiteto certinho e organizado que está voltando para Los Angeles depois de uma viagem de negócios. Ele está ansioso porque sua mulher está perto de dar a  uma menina. Ethan Tremblay (Galifianakis) é um ator relaxado, maconheiro que consegue fazer os dois serem expulsos do avião por usar as palavras "bomba" e "terroristas" insistentemente. Como a carteira de Peter ficou dentro do avião, ele é obrigado a viajar junto com Tremblay de carro.
A viagem conta com algumas paradas inesperadas. Eles param para tentar receber dinheiro numa agência, na casa de um amigo de Peter que os ajuda a continuar a viagem e até mesmo para comprar maconha (Tremblay afirma o filme inteiro que sofre de glaucoma). O papel da traficante fica por conta de Juliette Lewis, fazendo uma segunda participação pequena nos filmes de Philips. A primeira foi a esposa infiel de Luke Wilson em Dias incríveis. Todas essas paradas geram situações de fazer rolar de rir.
E realmente o filme tem ótimas cenas hilárias, mas peca pelos personagens de pouca empatia. Peter é um estourado que explode e fala as maiores grosserias por muito pouco. Chega até a cuspir na cara de um cachorro. Tremblay não melhora muito, ele não tem sequer qualquer capacidade aparente para viver em sociedade. Muito menos para passar uma viagem com um descontrolado. Não dá sequer pra descobrir porque Peter volta para buscar Tremblay depois de abandoná-lo senão porque o filme ainda não tinha acabado.
Por isso que apesar de ter feito rir bastante, não alcançou seu sucesso anterior. Na verdade, poucos filmes conseguirão ser tão engraçados quanto Se beber não case. Chego até a duvidar que a continuação conseguirá esse feito. Mas ainda assim pode gerar boas risadas, e em uma quantidade que nenhum outro filme tinha conseguido até então esse ano. Como a função é fazer rir, a missão foi bem sucedida.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ENTREVISTA COM O VAMPIRO


NOTA: 9.
- Seu sangue amaldiçoou minhas veias mais doce que a própria vida. Foi então que as palavras de Lestat fizeram sentido para mim. Eu só conhecia a paz quando matava. 

Antes de vampiros virarem material de bobagens como Crepúsculo e Os diários do vampiro, eles eram usados como personagens de terror. Anne Rice, escreveu uma série de livros e escreveu o roteiro adaptando um deles para o cinema. O resultado se encontra aqui, em mais um belo filme de Neil Jordan (não creditado como roterista).
Acompanhamos Louis (Brad Pitt) contando sua longa vida de vampriro para um repórter (Christian Slater). Não toda sua vida, mas a partir do momento em que foi transformado. Começa em 1700, logo após a morte de sua mulher e filha (no livro ele nunca teve uma esposa). Louis se encontra em tamanho desespero que faz qualquer besteira que possa o levar à morte. Ao invés disso, ele encontra o vampiro Lestat (Tom Cruise).
Lestat lhe faz uma proposta simples: ou Louis aceita se transformar em um vampiro e lhe fazer companhia ou Lestat dará a morte que ele tanto deseja. Claro que Louis se transforma em um vampiro e os dois ficam passeando (e se alimentando) pelas principais cidades da época.
Há uma coisa aqui que o diferencia dos demais filmes. Não há uma "glamourização" no fato de ser vampiro. O personagem Louis é melancólico. Ele sempre se arrepende de ter se transformado no que se transformou. Duas pessoas no filme vão lhe pedir para virarem vampiros, e ele não tem a menor intenção de transformar nenhuma delas.
Ao mesmo tempo, o filme desmistifica muito coisa sobre os vampiros. Os vampiros aqui não morrem com estacas no coração, não temem símbolos religiosos ou coisa do gênero. Fica um ar de realidade no ar. Algo do tipo: "como seria se um vampiro realmente existisse". O que o torna muito interessante.
O filme não se aproxima muito do terror também. Cada mordida é feita com finesse. Há uma sedução no ar, mesmo quando Lestat vai morder Louis, há uma sedução. Não acho que chegue a ser homossexual, na verdade os vampiros não parecem ter apenas uma preferência sexual. Eles não estão apenas dizimando gado, eles estão realizando uma caça. Talvez o mais divertido seja a caça.
Inclusive, por isso acontece a parte mais assustadora do filme: eles transformam uma criança de 12 anos em uma vampira. Ela tem um rosto angelical e uma veia assassina que se transformam numa mistura impressionante. Vale ressaltar que ela não é uma má pessoa, ela na maioria das vezes sequer tem noção do que faz a princípio. É apenas uma criança que mata, e com passar dos anos sua aparência não muda. Nem nunca mudará.
Tom Cruise foi criticado pela sua escolha, mas está ótimo no papel. Há algo em sua maquiagem que tira a aura de astro misturado com uma atuação contida. O melhor do filme, sem dúvida.
A única coisa que me incomoda é que pouca coisa acontece no filme. É como uma vida normal de uma pessoa, só que bem mais longa. Sinto falta de alguma grande ação que levasse para o final, ao invés de ficar quase que numa enrolação. Não queria esperar tanto assim para o final do filme. Afinal,, não sou imortal como eles.

OBS: O papel do repórter deveria ser interpretado por River Phoenix (irmão de Joaquin Phoenix), mas ele morreu de overdose antes do início das filmagens. Por isso o filme é dedicado a ele.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

MATRIX


NOTA: 9.
- Eu sei porque você está aqui, Neo. Eu sei o que tem feito. Você está procurando por ele. Eu sei porque eu estava procurando pela mesma coisa. E quando o encontrei ele disse que eu não estava procurando por ele, estava procurando por uma resposta. É a questão que nos motiva, Neo. É a questão que te trouxe aqui. Você sabe a pergunta, Neo, assim como eu sabia.
- O que é Matrix?

Em 1999, chegaram aos cinemas dois filmes que prometiam revolucionar o cinema: George Lucas iniciava uma nova trilogia da franquia de maior sucesso da história com Guerra nas estrelas - A ameaça fantasma. Já cultuada por milhões de fãs espalhados pelo mundo, o restart da franquia deixou muita gente decepcionada. Correndo por fora veio também esta fábula de ficção científica, que viria a se transformar numa trilogia e arrebatou muitos fãs também. No quesito de revolucionar o cinema, porém, os dois falharam, mas Matrix pelo menos chegou um pouco mais perto.
Keanu Reeves interpreta um personagem duplo, de dia é um programador conhecido como Thomas Anderson, e de noite é um hacker conhecido apenas por Neo. Neo é convencido por uma mulher, Trinity, (Carrie-Anne Moss) a se aventurar em descobrir o que é a Matrix do título. É assim que ele chega ao enigmático líder dos homens de couro conhecido como Morpheus (Laurence Fishburne).
E é assim que ele descobre a verdade. Uma verdade tão grande que mesmo quem nunca assistiu o filme conhece: o mundo em que vivemos não é real, é uma realidade virtual criada para não percebermos que somos escravos de máquinas que nos usam como fonte de energia. Morpheus acredita que existem pessoas com poder de controlar os elementos da Matrix, e que Neo é um deles. O escolhido.
A trama montada pelos irmãos Wachowski (na época do filme, Andy e Larry, que agora atende por Lana) é muito intrigante e segura a platéia. E não segura apenas pela trama, mas também pelo visual do filme que é arrebatador. Figurinos e fotografia estão ótimos. Aliado a isso estão cenas de ação espetaculares e lutas que desafiam a gravidade. Efeitos especiais revolucionários totalmente integrados ao filme (não se esqueçam que os efeitos bullet time foram um dos mais copiados do cinema). Tudo muito divertido, mas poderia ter ido além. Acabou ficando no meio do caminho.
O único problema, é que depois de tudo isso, eles apelam para fórmula. Os bandidos atiram nos mocinhos e erram. Os mocinhos conseguem escapar. Aí entra uma luta onde o bandido bate no mocinho até quase matá-lo. Então o mocinho descobre uma força interior que o permite derrotar o bandido. Tudo isso já tinha sido feito, todos já viram. Só não perdem muitos pontos, porque dificilmente foi visto com cenas tão brilhantes como estas.
No final fica parecendo uma espécie de video game muito bem feito. Tem até mesmo os vilões da fase: os agentes (o principal interpretado por Hugo Weaving). Eles são uma espécie de Irmãos cara de pau que servem para matar os mocinhos.
Podia ter revolucionado, mas não conseguiu por esse pequeno detalhe. Tivessem dado uma conclusão espetacular ao filme, sem ser apenas um tiroteio muito bem coreografado, o filme seria perfeito. Se tivesse ao menos um detalhe mais intrigante para segurar melhor a platéia depois do tiroteio, seria quase perfeito. Mas ao invés disso, deixaram o final em aberto para concluir ao final da trilogia. O resultado são dois filmes ruins que não acompanham satisfatoriamente este aqui e que fecham de maneira fraca uma trilogia que poderia ter sido muito mais. Dos três, só fico com esse.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CORAÇÃO VALENTE


NOTA: 10.
- Lutem, e pode ser que morram. Corram, e vocês vão viver. Pelo menos por um tempo. E morrendo em suas camas, daqui há muitos anos, vocês vão querer trocar todos esses dias que tiveram por uma chance, só uma chance, de voltar aqui e dizer aos seus inimigos que eles podem tirar nossas vidas, mas não podem tirar nossa liberdade.

Há uma coisa muito interessante neste filme. Logo no início, é dito que algumas pessoas podem dizer que o que está para ser contado é mentira e que a história é escrita pelo lado vencedor. É assim que Mel Gibson (que também dirige) cria o clima do seu filme. Um filme que não conta a história de um homem, mas sim como ele se tornou um mito. Quer as coisas tenham acontecido assim ou não.
O filme conta a história do herói escocês William Wallace, que ficou conhecido como Braveheart, apelido que dá o nome original do filme. Segundo um antigo poema, ele unificou todos os clãs da Escócia numa campanha contra a Inglaterra vencendo inúmeras batalhas antes de ser traído, capturado, torturado e morto. Isso tudo por volta da década de 1300.
O filme vai além do que se sabe na realidade e extrapola todo uma parte da vida dele não conhecida. Depois da morte de seus pais, ele vai ser educado pelo seu tio Argyle (Brian Cox). Retornando muitos anos depois, ele pretende apenas cultivar a terra e criar uma família. O plano parece ir bem até um inglês matar sua esposa para forçá-lo e se expor. Aí começa a sua campanha contra o rei conhecido como Longshanks (Edward I). Wallace era um excelente estrategista militar, e talvez se não tivesse sido traído, poderia ter sido bem sucedido em sua campanha. Mas não dependia apenas de sucesso nas batalhas, dependia também de sucesso político. Essa foi sua desgraça.
E o filme está recheado de batalhas, que é o que a platéia mais irá se lembrar. E apesar de ser marinheiro de primeira viagem em cenas como essa, Gibson faz um excelente trabalho. As batalhas tem muitos e muitos homens a pé ou em cima de cavalos, e ainda assim fluem de forma quase brilhante ao invés de sair um amontoado confuso de pessoas.
E não é só nas batalhas que Gibson se sai bem, o filme como um todo se sai muito melhor do que se podia esperar. Isso porque como disse, é um filme que não conta a história, mas mitos. Ele cria um mundo ficcional baseado na realidade que se torna extremamente divertido de se assistir. Tanto que as "licenças poéticas" que ele toma passem tranquilamente, assim como as licenças históricas. Para se ter uma idéia, não há um fato histórico que indique que Edward II era homossexual, e ele somente se casou com Princesa Isabelle depois das mortes de Wallace e de seu pai, mas o mito aqui funciona melhor que a realidade.
Uma pena que depois desse filme, Gibson nunca mais tenha feito algo que chegue perto da qualidade desse trabalho. O resto da sua biografia como diretor é curta e somente com filmes sem muita expressão, que provavelmente fizeram mais barulho do que mereciam pelo seu nome do que pela qualidade de seu trabalho. Antes havia dirigido O homem sem face, depois deste foram apenas o espetáculo sádico de A paixão de Cristo e o também ultraviolento Apocalypto. Mas pelo menos aqui, ele se destaca.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA


NOTA: 10.
- Se ela estivesse aqui eu provavelmente ficaria maluco agora como era naquela época. Isso não é ridículo? Não, não é. Porque ficar maluco por uma mulher como aquela é a coisa certa a se fazer. Ficar velho e decrépito é que é ridículo.

Este filme foi feito mais ou menos na mesma época que Uma rajada de balas. Como havia dito então, a história sobre Bonnie e Clyde redefiniu o cinema na época. Levou o cinema em direção ao cinema moderno de hoje. Esse filme se aproveita disso, fazendo um cinema moderno que ao mesmo tempo flerta com o antigo cinema dos anos 1950.
Acompanhamos a história de dois jovens, Sonny (Timothy Bottoms) e Duane (um Jeff Bridges com apenas 22 anos) que moram em uma pequena cidade. E pequena mesmo, daquelas que somente tem um restaurante, um salão de bilhar e um cinema. Ou seja, uma cidade onde não há nada para se fazer. Sequer tem um time de futebol decente para quem torcer.
Os dois se apaixonam pela mesma menina, Jacy (Cybill Shepherd, debutando nos cinemas), a única menina bonita da cidade. Mas é Duane que acaba com ela, e Sony acaba com uma menina tão irritante e pouco interessante que acaba a trocando pela mulher do treinador do time do colégio. Não há sequer a aparição de qualquer novo rosto que possa servir de interesse para Sonny, ele está perdido no meio daquele nada, e numa relação com alguém muito mais velha que ele.
Já Jacy não é nenhuma flor que se cheire. Ela é de uma das poucas famílias ricas da cidade, cresceu em uma bolha como uma garota mimada e calculista. Até a perda da sua virgindade é de acordo com os seus interesses. No caso, o interesse era pra ter relações com outro rapaz.
Se a vida amorosa dos rapazes não vai bem, não se pode dizer que eles tem um grande exemplo familiar também. Principalmente, eles não tem a menor criação por uma figura paterna. O que se passa mais perto de pai para os dois é Sam The lion, que por acaso também é dono do salão de bilhar, do restaurante e do cinema.
O mais interessante é a ambientação do filme. O lugar, a decoração de cada lugar, cada casa e até mesmo as roupas que as pessoas usam, tudo remete imediatamente aos anos 1950. Mais impressionante ainda é que o filme foi rodado como se fosse um filme feito nos anos 1950, mesmo sendo um filme de 1971. Da mesma forma que se fazia na época, até mesmo com seu preto e branco tradicional (segundo dizem, um conselho de Orson Welles, amigo do diretor).
Mais ainda, o filme evoca uma nostalgia dos anos 1950 mesmo para os que não viveram naquela época. Um ótimo trabalho do diretor Peter Bogdanovich, que faria poucos filmes depois desse. Menos ainda de filmes que sequer valham a pena serem vistos, mas pelo menos aqui ele acertou a mão entregou um ótimo filme para ser visto em qualquer época.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

BARRADOS NO SHOPPING


NOTA: 3.
- Você vai ME escutar? Alguma coisa que EU disse? Será que não ficou claro durante a nossa amizade que eu não sei NADA?

Em 1994 Kevin Smith surgiu para o mundo graças ao seu (ótimo)  O balconista. Filme independente que fez um certo barulho no seu lançamento e que chegou como um furacão no Festival de Sundance e posteriormente em Cannes.
Diz-se que, na época, ele teria dito que não queria ser um cineasta independente, que preferia ser o tipo de cineasta que os grandes estúdios queriam que ele fosse desde que recebesse por isso. Talvez alguns pensassem que era brincadeira, mas aqui ele mostra que não era. O filme tem um orçamento cem vezes maior que o seu antecessor e é proporcionalmente pior em qualidade.
Acompanhamos um dia na vida de dois amigos: T.S. (Jeremy London) e Brodie (Jason Lee), que acabaram de ser chutados por suas respectivas namoradas.
T.S. é indiretamente responsável pela morte de uma mulher que ia participar de um Reality Show produzido pelo pai da sua namorada, que não gosta dele. Isso porque ele apenas disse que a TV engordava 5 Kg e ela se esforçou tanto para perder peso que teve uma embolia. Já Brodie é somente um inútil mais interessado em video game que em sua namorada.
Para afogar as máguas, eles resolvem passar um dia inteiro no shopping, que coincidentemente é o mesmo frequentado por suas namoradas e onde o sogro de T.S. vai filmar seu show. Então basicamente eles querem voltar para suas namoradas e arruinar o show.
O filme é um banho de água fria para qualquer um que tenha gostado do trabalho anterior de Smith. Ele parece realmente vendido em uma trama que não há um décimo da originalidade que mostrou anteriormente. Na verdade, parece uma versão piorada apenas, realizando o mesmo conceito.
O problema é que, pra começar a história é a mesma. Adolescentes que passam um dia juntos. Antes era uma loja de conveniência e agora se encontram em um shopping. A diferença é que em O balconista não havia um plot específico. Era apenas um dia na vida dos dois. Aqui temos um plot e ele realmente não funciona.
O fraco elenco não ajuda a melhorar a situação, mas também é difícil separar até onde a culpa é do elenco ou do filme. Digo isso porque até mesmo Ben Afleck está pior que o normal aqui.
Um dos maiores fracassos da carreira de Smith que hoje em dia se arrasta apenas. O único filme em que conseguiu repetir o sucesso de seu filme de estréia viria depois desse: Procura-se Amy. Seu último filme foi o tenebroso Tiras em apuros. Uma pena, conseiderando um começo de carreira tão promissor.

OBS: Para quem não sabe, Smith fez seis filmes com personagens interligados: O balconista, Barrados no shopping, Procura-se Amy, Dogma, O império do besteirol contra-ataca e O balconista 2. Os únicos personagens que aparecem em todos são interpretados pelo próprio diretor e Jason Mewes: Jay e Silent Bob. Atores se repetem mas nem sempre nos mesmos personagens. Já as referências de um filme aparecem em outros. No primeiro, dois amigos vão ao enterro de uma mulher que morreu na piscina. É a mesma menina que iria participar no reality show desse filme. Já Brodie comenta alguns casos de seu primo Walter, que são ligados a bizarrices sexuais. No primeiro, também se conta sobre um primo Walter que morreu tentando realizar sexo oral em si próprio. E por aí vai em outros desses filmes também.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

AS MELHORES COISAS DO MUNDO


NOTA: 8,5.
"Fui buscar meu sonho."

Muitos filmes sobre adolescentes já foram feitos, mas até agora, nenhum tinha retratado bem a adolescência da era da internet atual. Até agora. O mais perto que tínhamos disso feito com a mesma competência que vemos aqui foi Aos 13, mas de lá para cá já se foram sete anos, e nesses tempos a tecnologia não andou, pulou.
Digo isso por causa da facilidade que os jovens nesse filme tem que não se encontra em nenhum outro. Todos tem celulares, internet banda larga e blogs. Mesmo que sejam usados para os motivos que podemos considerar os mais ridículos possíveis.
A história se baseia numa série de livros escritos por Gilbert Dimenstein e Heloisa Prieto, que contam as aventuras de um adolescente de 15 anos chamado Mano (Francisco Miguez). Quem lembra dessa fase também lembra bem dos "enormes problemas" que se enfrenta quando se tem 15 anos. Perda da virgindade, reputação no colégio entre outras coisas. Assim como tudo é "hiperlativado" nessa época. Todos os pequenos problemas são os piores do mundo e tudo é quase como a morte.
E sempre mais preocupados com eles mesmos do que com qualquer outra pessoa que pode ter problemas reais e não simples crises adolescentes.
Apesar de tudo parecer meio fútil para as platéias mais adultas, todos agem como adolescentes reais, e não como costumam aparecer em filmes que são dirigidos por pessoas mais velhas. Os realizadores passaram um tempo com adolescentes dessa idéia com o intuito de refinar o roteiro. O trabalho ficou ótimo.
Tudo isso torna o filme um trabalho maravilhoso de Laís Bodanzky, que já havia o feito o também  ótimo Bicho de sete cabeças, com um Rodrigo Santoro antes de ficar internacional. Ela foge  do padrão dos grandes sucessos dos cinema brasileiro que só falam de violência excessiva, palavrões ou comédias rasgadas. Ela entrega filmes que podem ser apreciados por qualquer pessoa. E mesmo aqui, de qualquer idade.
Neste caso, é apreciar o retrato dessa nova geração de juventude que goza de uma espécie de liberdade que nenhuma outra teve antes. Todos eles tem computadores nos seus quartos, celulares que batem, recebem e enviam fotos e todas as suas opiniões estão disponíveis em blogs na internet. Não há privacidade para eles. Todo mundo sabe de todo mundo. Como se lida quando isso quando se está crescendo e não se tem certeza de nada?
Para mim, é o melhor filme sobre adolescência que se pode encontrar hoje em dia. E tenho orgulho de dizer que o melhor filme do assunto é brasileiro. Assim como também acho que o cinema brasileiro precisa de mais filmes como esse.

OBS: Antes que perguntem, Fiuk não é comentado porque não vale a pena. Simples assim.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

SCOTT PILGRIM CONTRA O MUNDO


NOTA: 8.
"Nós somos The Sex Bob-Omb e estamos aqui para ver Scott Pilgrim quebrar seus dentes. Um, dois, três, quatro." Kim Pine

O diretor Edgar Wright teve que fazer seu primeiro filme nos EUA para finalmente chegar aos cinemas do Brasil. Está certo que chega com um atraso de três meses, mas considerando que seus filmes anteriores (os ótimos Todo mundo quase morto e Chumbo grosso) só saíram no mercado de vídeo e TV, é um avanço para ele aqui. E olha que não é o seu melhor filme.
Scott Pilgrim é um nerd de 22 anos que toca em uma banda de rock no Canadá. Para esquecer sua antiga namorada que lhe partiu o coração, ele começa a sair com uma menina bem mais nova que ainda está no colégio chamada Knives Chau. Não se preocupem com a diferença de idade entre os dois, o namoro consiste em segurar as mãos e dançar juntos em um jogo. Ela sequer pode sair à noite.
Até que Scott encontra a garota dos seus sonhos. Literalmente. Ele realmente sonha com ela para depois a encontrar em carne e osso. Seu nome é Ramona Flowers e aparece durante o filme com cabelos pintados de rosa, verde e azul, lembrando um pouco a personagem de Kate Winslet em Brilho eterno de uma mente sem lembranças.
Ela é meio misteriosa, mas ainda assim eles começam a namorar. Só que para Scott namorar Ramona, ele deve derrotar uma liga do mau formada por sete ex-namorados em batalhas que desafiam a gravidade ou qualquer outro senso de lógica e que no final o perdedor se transforma em um monte de moedas. Como num jogo de videogame.
Videogame é apenas uma das referências pops do filme. Todo ele é feito para as platéias mais jovens. Cada personagem que aparece, tem seu perfil exibido na tela. Como se fossem as informações de Facebook ou Orkut. O que é bom de um lado pelo excesso de informações jogadas na tela e ruim por por ficar cansativo depois de um tempo.
E na verdade, ele fica cansativo. Cada cena é recheado de absurdos que no início são ótimos mas depois de um tempo parecem apenas se repetir. Acredito que isso não seja nada que vá atrapalhar as platéias mais novas, mas me incomodou um pouco. Assim como as "mortes" dos oponentes não são tão interessantes assim.
Wright constrói uma ode aos nerds, ou geeks como estão sendo popularmente chamado. E posso dizer popularmente mesmo. Eles estão na moda como a própria presença de Michael Cera no papel título indica isso, já que ele é um herói geek dos novos tempos. Assim como o sucesso da série The big bang theory reforça a tese que eles estão na moda.
Além disso, o filme também tem suas participações especiais para atrair platéias. Algumas são surpresas e não estão sequer nos créditos do filme. Outras como a de Chris Evans e Brandon Routh já podiam ser vistas em trailers e vídeos promocionais. Pessoalmente eu gostei de ver Kieran Culkin em um papel de destaque de novo, o que não via desde a A estranha família de Igby. Aqui ele faz o amigo gay que divide o quarto com Scott e rouba a cena toda vez que aperece. Uma bela surpresa para mim.
Voltando ao filme, a verdade é que a maioria dos homens tem problemas em saber sobre o passado de suas namoradas. Scott Pilgrim tem a infelicidade de descobrir sobre o de sua amada, mas sorte o suficiente para poder lutar ele. Ou eles, nesse caso. Derrotando-os, ele pode conseguir a paz para ter um futuro com ela. O que poderia vir com a ignorância, mas aí não teria graça.
Como disse antes, não é o melhor filme de Wright, mas ainda assim ele impressiona pela capacidade de fazer grandes homenagens a gêneros do cinema. Já havia feito duas homenagens a filmes de zumbis e filmes de ação, agora aos videogames. A surpresa é que ele acabou fazendo um dos melhores filmes sobre games de todos os tempos. Eu achei um pouco exagerado, mas como todo bom game, talvez ele tenha que ser exagerado.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

SONHOS DE AKIRA KUROSAWA


NOTA: 9.
"Algumas pessoas dizem que viver é duro, mas isso é só papo furado. É bom estar vivo, é excitante." Velho da aldeia

Muito antes de Nolan presentear a audiência com seu A origem, já tínhamos uma mostra de sonhos no cinema. Algumas pessoas se perguntam como funcionam as mentes de gênios, com o que eles sonham. No caso do diretor Akira Kurosawa a resposta é simples e se encontra nesse filme. Aqui, temos uma sequência de 8 sonhos que o mestre japonês teve em diferentes partes da sua vida e que levou às telas em 1991.
O resultado é uma série de imagens tão lindas que somente o cinema poderia conceber. E melhor ainda, que um cineasta do calibre de Kurosawa poderia realizar. Este é um filme que preza a imagem e não os diálogos. O que não é muito diferente de outros filmes do diretor, mas aqui a coisa toma um contorno especial por se tratar de contos que exploram mundos apocalípticos e lendas japonesas.
Depois dos créditos iniciais, uma cartela aparece na tela: "Uma vez eu tive um sonho...". Esse é provavelmente o diretor nos dizendo que estamos prestes a entrar num lugar onde ninguém mais esteve antes. Nos seus sonhos. Outras sete cartelas escritas "Outro sonho..." anunciam os episódios restantes.
Apesar de não aparecer na tela, cada sonho tem um título. Ele começa com um dos sonhos mais sublimes e com pouquíssimas falas. O único diálogo (estaria mais para monólogo) é de uma mãe aconselhando o filho a não sair de casa. Quando chove e faz sol ao mesmo tempo as raposas se casam e não gostam de serem vistas. O aviso só desperta a curiosidade do menino que observa uma linda cerimônia impecavelmente coreografada. Assim começa o filme com "Um raio de sol através da chuva" e já estamos arrebatados pelas imagens.
O conto seguinte não faz menos do que o primeiro. "O jardim das pessegueiras" mostra um menino que chega em uma plantação de pessegueiros, pessegueiros que seus pais cortaram. Lá ele se encontra com um grupo de "espíritos" que representam as pessegueiras cortadas, e de novo uma bela coreografia ainda mais intrincada toma conta da tela.
Os sonhos vão se seguindo, e percebemos a diferença entre eles. As diferenças correspondem a diferente fases da vida do cineasta. Diferença de tempo e percepção da vida.
Seguem outros sonhos como "A tempestade", que mostra uma entidade que tenta seduzir um homem para a morte;  "O túnel", onde um capitão se confronta com seu pelotão morto em combate; "Corvos",  onde um pintor se encontra com um Van Gogh interpretado por Martin Scorcese e passeia pelos quadros do pintor; "Monte Fuji em vermelho", mostra um grupo de pessoas fugindo de um vulcão em erupção e catástrofe nuclear ao mesmo tempo; "O demônio que chora", onde a radiação deixou as pessoas com chifres; e "O vilarejo dos moinhos", onde um homem chega ao vilarejo e descobre que todos lá vivem sem nenhuma das invenções de hoje, nem sequer eletricidade.
Isto é o que compõe esta obra do diretor. São sonhos que servem para exibir a exuberância dele. Cada sonho é um curta que impressiona pela beleza. Algumas vezes belo, outras contundente e sempre interessante. Um filme belíssimo de se ver, ainda que não seja a melhor obra do diretor. Memorável.
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