NOTA: 100.
- Duzentos mil dólares é muito dinheiro. Vamos ter que fazer por merecer.
Na minha humilde opinião, esse se trata de um dos melhores faroestes de todos os tempos. E feito por ninguém menos que um gênio: Sergio Leone. O maior nome dos chamados "faroestes spaghetti". E esse é provavelmente o maior, e melhor, dos filmes spaghetti. Somente Leone competiria com ele mesmo lançando Era uma vez no oeste.
Antes de começar a falar do filme, é melhor avisar que este é a terceira parte de uma trilogia: A trilogia do homem sem nome. É chamada assim, porque o personagem principal interpretado por Clint Eastwood nunca se apresenta. No primeiro filme o chamam de Joe, no segundo Manco e aqui um personagem o chama de Blondie.
Talvez assim que deva ser um personagem de faroeste: um homem sem nome e sem passado. E digo isso, porque não precisa assistir os dois filmes anteriores para curtir esse. Ele fala pouco, mas sempre evoca autoridade. Não é o tipo de cara que você se meteria.
O filme foca em três personagens: Blondie é o bom, Olhos de Anjo (Lee Van Cleef) é o mau eTuco (Eli Wallach) é o feio (do nome original, The good, the bad and the ugly). A história dos três se junta porque estão atrás de duzentos mil dólares em ouro, o que era muito dinheiro naquela época. Segundo uma conversão que li, esse dinheiro hoje seria equivalente a mais de 10 milhões. Por isso que eles fazem por merecer esse dinheiro.
Os dois filmes anteriores parecem apenas um rascunho do que Leone estava a ponto de nos presentear. Eram extremamente baratos, o que atrapalhava o resultado final. Aqui ele não tem essa limitação, o filme contava com um orçamento de 1.6 milhões de dólares. Considere ainda que todo o elenco era muito barato (na época, Eastwood ainda era ator de TV e visto como nada rentável - quem pagaria pra ver um ator que pode ver de graça na TV?), que podemos considerar que todo o dinheiro era usado para fazer o filme. Isso inclui a explosão real de uma ponte (que por um erro teve que ser reconstruída para explodirem de novo).
Leone usa um recurso muito interessante pouco usado em faroeste, especialmente os de Ford, os close-ups. As cenas fechadas limitam o espaço conhecido pelo espectador. O que não vemos, pode nos surpreender. Há uma cena, por exemplo, que Tuco e Blondie caminham em uma estrada e são surpreendidos por soldados que os capturam. Eles dão apenas dois passos e se encontram num acampamento gigantesco, com milhares de pessoas. Como eles não puderam ver aquilo? Pelo mesmo motivo que nós: não estava aparecendo no quadro. Simples assim. Outras cenas ilustram o mesmo conceito.
E tudo termina num "trielo" maravilhoso. O conceito por si só já é interessante. Três homens armados se distanciam. Quem atira em quem? Se um atirar um no outro, o terceiro escapa. E por aí vai com outras possibilidades. Para melhorar, Leone testa os limites da paciência da platéia. O tempo se estende a um ponto tal que parece que o tiroteio nunca vai acontecer realmente. E quando parece que vão atirar, ele alonga o tempo mais um pouco. É de roer as unhas.
Com certeza é uma obra prima maravilhosa.
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