terça-feira, 31 de janeiro de 2012

AS AVENTURAS DE TINTIM - THE ADVENTURES OF TINTIN


NOTA: 9,5.
- Você acha que é coincidência? Nada do que eu faço é um acidente.

Fazer um filme como esse não é uma novidade para o diretor Steven Spielberg. Temos um intrépido herói que se envolve em uma história emocionante, enfrenta diversos perigos em diversas e exóticas locações, grandes vilões com planos mirabolantes, aviões, trens, barcos e a busca por um tesouro. Troque Tintim por Indiana Jones e verá que o diretor está em casa. Na verdade, ficou uma vontade que o último filme do arqueólogo fosse mais parecido com esse. Teria sido bem mais divertido.
E pela segunda vez (ou pelo menos esse é o número que me recordo) eu vou fazer um elogio ao uso do 3D aqui no blog. A exemplo do que James Cameron fez em Avatar, Spielberg usa a ferramenta com maestria para dar novas dimensões às filmagens convencionais, e não apenas para justificar um ingresso mais caro nos cinemas. E com isso, ele ainda consegue fazer com que este seja o primeiro desenho animado em 3D que realmente valha a pena ser assistido nesse formato.
Não sei porque os franceses não pensaram em fazer uma versão moderna do personagem que eles tanto amam. Afinal, muitas pessoas no Brasil (assim como nos EUA onde foi feito) sequer conhecem o personagem, mas com certeza menos ainda conhecem Adèle Blanc-Sec e ela ganhou sua versão nos cinemas franceses ano passado (a personagem também vem dos quadrinhos). De qualquer forma coube a Hollywood na figura de seus produtores Peter Jackson (De O senhor dos anéis) e Spielberg a colocarem o personagem novamente nas telas.
Esse Tintim (Jamie Bell) é um personagem bem interessante. Mesmo que Indiana Jones passasse a maior parte dos filmes correndo atrás de tesouros arqueológicos por todo mundo, nós o vemos dando suas aulas na universidade. Quer dizer, ele busca aventuras mas tem seu trabalho. Tintim é um repórter, mas só sabemos disso porque alguém fala, já que não pisa no jornal em momento algum. Fora que ele certamente parece com um adolescente, mas todos o tratam como se fosse um adulto.
Ele está sempre acompanhado por seu fiel cachorro Milu, que é mais inteligente que a maior parte dos outros personagens do filme. Além disso, ele se junta ao Capitão Haddock (Andy Serkis), e uma dupla de policiais atrapalhados que acabam sempre investigando os mesmos casos que Tintim, Dupond e Dupont (interpretados por Nick Frost e Simon Pegg). Todos para tentar impedir os planos do maquiavélico Rackam (Daniel Craig).
O filme foi rodado com a captura de performance, que está crescendo cada vez mais em Hollywood. Confesso que ão sou muito fã dessa tecnologia em desenhos animados, pois tem uma função de deixar um desenho tão real como se fosse um filme, mas qual o propósito de se fazer isso ao invés de se fazer um filme? Mas aqui, o efeito fica bem interessante. Tintim parece humano como um filme deve ser, mas ao mesmo tempo ele também parece com o personagem desenhado em suas histórias. O mais importante é que Tintim funciona nas telas.
E isso tudo faz de Tintim um dos filmes mais divertidos de 2011. Tenho certeza que pode agradar aos fãs do herói ao mesmo tempo que pode conquistar novas plateias, especialmente as mais novas que sequer o conhecem. Só não levou nota máxima, porque quando a ação começa não pára mais. Tivesse me dado um tempo para respirar um pouco, eu teria gostado ainda mais.

domingo, 29 de janeiro de 2012

OS DESCENDENTES - THE DESCENDANTS


NOTA: 10.
- Essa é uma situação única e dramática.

Este filme é dirigido e coroteirizado por Alexander Payne, que ficou mais conhecido por comédias como Eleição, As confissões de Schmidt e Sideways. Por este último, concorreu ao Oscar de direção e filme e venceu o de roteiro (o grande vencedor do ano foi Menina de ouro). Pela filmografia dele, alguns podem achar que se divertirão assitindo a um filme agradável, e esse não é exatamento o caso. A verdade é que esse filme vai além disso. 
George Clooney, em uma das suas melhores performances até agora, interpreta Matt King. Ele mora num pequeno pedaço do paraíso situado no Havaí, o que pode fazer as pessoas pensarem que ele vive uma vidinha perfeita e esse está longe de ser o caso. A esposa de Matt sofre um acidente dando um passeio em um barco e fica em coma. Segundo as vontades dela, os médicos devem desligar seus aparelhos para que ela morra. Assim, Matt, que sempre foi um pai ausente, deve lidar com suas filhas nessa delicada situação.
Além disso tem uma outra questão familiar. Matt vem de uma longa linhagem de proprietários de terra no Havaí. Provavelmente um dos primeiros brancos a possuirem terras por lá. Toda a família, composta por inúmeros primos, quer vender essas terras que se trata um extenso pedaço lindíssimo do Havaí, para poderem dividir o dinheiro. Apesar de Matt dizer que acata o que a maioria decidir, a verdade é que ele sozinho tem o poder da decisão.
O fato é que os dois "negócios" tem grande peso. Não apenas financeiro, mas também emocional. Ao mesmo tempo que ele está perdendo a sua mulher, que nesse período difícil ele ainda recebe a notícia de que ela não era fiel como pensava, ele tem que assinar um contrato que vai tirar da sua família uma herança inestimável. Aquele não é apenas um pedaço de terra. É um lugar onde partilhou bons momentos com sua mulher e filha mais velha, e que a mais nova ainda não teve a chance de curtir. E que nunca irá se ele vender realmente as terras. E mais ainda, talvez seja quando ele se afastou daquelas terras é que ele tenha se afastado de sua mulher e filhas. Talvez isso tenha muito mais peso que todo o dinheiro que estão dispostos a pagar por ela.
Payne tem uma característica muito interssante. Em seus filmes, o personagem principal está sempre sendo obrigado a tomar difíceis decisões pessoais. Ele estabelece esse conflito e vai acrescentando personagens à trama que vão dando mais peso e complexidade em cima das decisões. É dessa forma que ele vai nos envolvendo cada vez mais com o drama vivido pelo personagem, fazendo que com possamos sentir o peso do que ele está passando. 
Ao contrário do que acontece na maioria dos filmes, não temos aqui uma "batalha entre o bem e o mal". Mesmo quando Matt recebe um sermão que achamos que ele não merece de seu sogro, Matt não reage. E é simples, aquele é um desabafo de um homem que está perto de perder a filha. O amante dela, não é uma pessoa ruim. Não há um vilão aqui, apenas pessoas preocupadas com suas famílias de alguma forma. Nós vemos todos os seu problemas e nos importamos com elas. Nos importamos com o que elas vão deicidir fazer. E isso é muito raro em um filme. Por isso talvez eu tenha gostado tanto desse. Especialmente quando o filme é protagonizado por um ator com tanta inteligência quanto Clooney. Não sei se ele vai vencer o Oscar pela sua atuação ou não, mas com certeza é a mais que mais me amocionou até agora. Simplesmente espetacular, complementando um filme especial.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

MILLENNIUM: OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES - THE GIRL WITH THE DRAGON TATTOO


NOTA: 9,5.
- Eu quero que você me ajude a pegar um assassino de mulheres.

Para ler a resenha da primeira adaptação, clique aqui.

Depois do sucesso dos livros e até mesma das adaptações suecas para o cinema, era apenas uma questão de tempo até que Hollywood fizesse a sua versão. E não apenas pelo sucesso que vinha fazendo. Em qual outro filme você pode encontrar uma personagem como Lisbeth Salander? Filmes desse tipo geralmente apresentam homens de 30 e poucos anos. E geralmente eles funcionam, mas aqui vemos que outros tipos de personagens também podem funcionar. E, na verdade, o sucesso dessa história indica que a platéia está ansiosa por certas mudanças de vez em quando.
Nessa versão ela é interpretada por Rooney Mara, que já havia trabalhado com o diretor em A rede social. Salander tem um corpo magro cheio de piercings e tatuagens. Ela se veste como se fosse participar de um filme sadomasoquista. Quem a vê pode achar que não é ninguém especial, mas Salander é extremamente inteligente apesar de seu temperamento explosivo e antissocial. É essa personagem interessantíssima que me prende a ficar assistindo a este filme. Como li os livros e vi a versão sueca dos filmes, eu já sabia tudo que a levou a ser assim, mas ainda assim não consegui deixar de ficar impressionado em como a personagem é mostrada aqui.
Seu caminho acaba se cruzando com o do repórter Mikael Blomkvist (Daniel Craig). O filme começa com o final de um julgamento em que Blonkvist perde um processo para um grande empresário sobre quem escreveu um artigo para a revista Millenium. Para se afastar um pouco dos holofotes, ele aceita investigar o sumiço da neta de um milionário que sumiu há mais de 40 anos. Ele não é um detetive e depois de tanto tempo ele sabe que não deve encontrar nada que sirva para ajudar no caso, mas o velho lhe garante que tendo sucesso ou não ele vai ter uma coisa que o dinheiro não compra: verdadeiras provas para acusar o empresário que lhe processou.
Quando escrevi a resenha do filme sueco, a produção deste filme tinha apenas começado e os rumores é que Lisbeth Salander seria interpretada por Kristen Stewart. Na época duvidava que Hollywood contaria uma história tão contundente e duvidava que fosse ser melhor que a versão sueca. Agora devo dizer que não saberia apontar qual dos dois filmes eu considero melhor. Depois de ver os 3 filmes e ler os 3 livros, eu entro novamente nesse universo e ele tem um frescor diferente. Os filmes suecos eram adaptações fiéis aos livros, a versão americana tem uma diferença sutil que dá um novo tom à história.
O roteiro de Steven Zaillian (que já venceu um Oscar pelo roteiro de A lista de Schindler e que está concorrendo novamente este ano pelo roteiro de O homem que mudou o jogo) foca um pouco menos nas histórias paralelas dos personagens e mais na história principal do filme. Mais no crime. A mudança dá um ritmo um pouco mais interessante para o filme. Uma pena que o Blomkvist sueco seja um pouco melhor. Michael Nyqvist trazia uma fragilidade que era um pouco mais interessante, enquanto Daniel Craig parece mais um personagem de ação acostumado com o perigo. Como não pareceria acostumado? Ele é o James Bond, oras.
Blomkvist e Salander mantém histórias separadas por mais tempo que a versão original, e quando finalmente se reúnem eles estão "presos" em uma ilha que tem um provável assassino. Tirando as modernidades (piercings, tatuagens, computadores, etc), temos uma história de suspense nos mesmos moldes a que estamos acostumados a ver. Como estamos acostumados a ler nos livros de Agatha Christie. O que é ótimo. Só não conseguiria dizer que versão eu gostei mais. O que me importa é que, cada um a seu modo, eu assisti a dois bons filmes ainda que contem a mesma história. Para os que vão assistir pela primeira vez, a novidade pode ser ainda melhor.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

MELANCOLIA - MELANCHOLIA


NOTA: 2.
- A Terra é maligna, não devemos lamentar por ela. Ninguém vai sentir sua falta.

Foi no lançamento deste filme que o diretor Lars Von Trier declarou ser um simpatizante de Hitler. Talvez  alguém tenha se espantado que ele tenha feita uma declaração tão infeliz, mas acho que todos deveriam esperar isso de alguém que ao invés de lançar filmes resolveu lançar provocações. Melancolia é uma nauseante história sobre o fim do mundo que Trier declara ser seu filme com final feliz, ou o mais perto disso que uma pessoa com a cabeça dele possa considerar feliz.
Ele segue o mesmo modelo que usou em seu filme anterior, Anticristo. O filme começa com cenas longas em câmera lenta mostrando imagens que misturam beleza de produção com cenas tristes de alguma forma. No anterior eram cenas de sexo explícito e uma criança caindo pelo janela, aqui são pessoas fazendo nada, cavalos caindo e muitas cenas do fim do mundo se aproximando.
Depois que essas cenas passam, acompanhamos o casamento de Justine (Kirsten Dunst que ganhou um prêmio por fazer uma atuação catatônica). Um longo e cansativo casamento em que nada de interessante acontece e que nenhuma das pessoas, convidados ou noivos, parece agir com qualquer tipo de coerência. Justine arruma a biblioteca, toma banho e até mesmo tem sexo num campo de golfe com um convidado aleatório enquanto todos esperam por ela. Depois, ao final da festa, seu noivo se despede dela e ela diz para sua irmã que tentou. 
Quando achamos que a tortura acabou, a coisa piora. Justine vai pra casa da irmã que mora com o marido e filho (interpretados por Chartlotte Gainsbourg e Kiefer Sutherland) enquanto ficam na expectativa se um planeta chamado Melancolia vai se chocar ou não contra a Terra ao mesmo tempo que Justine parece não conseguir sair da sua fase depressiva. O planeta se aproxima em câmera lenta para exterminar a vida na Terra, mas isso pouco comove as pessoas do filme.
Caire (Gainsbourg) e Justine deveriam ser daquelas irmãs totatlmente diferentes uma da outra. Claire mora com o marido excessivamente rico numa casa com campo de golfe, estábulos e muito mal gosto e deveria ser a irmã sã para contrastar com a louca Justine que deveria ser internada no asilo mais próximo. A única coisa que fica clara é que as duas não são irmãs. Elas em diversos momentos chegam a agir como se fossem.
A única coisa que nos resta, a menos que queira parar de ver o filme, é esperar o planeta que anda por aí demolindo outros planetas acabar com a Terra. Se Lars Von Trier queria que eu torcesse pelo fim do mundo, ele fez um ótimo trabalho. Nunca torci tanto para isso acontecer. E ele só piora as coisas tornando o processo muito mais lento que o necessário. E quando o fim do filme chega, só uma pergunta ficou na minha cabeça: "Qual o objetivo desse filme existir?". Ainda não encontrei a resposta.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A HORA DA ESCURIDÃO - THE DARKEST HOUR



NOTA: 4.
- Eles vieram aqui com um plano. Qual é o nosso?

Se tem algo que sempre me incomoda e que não me canso de falar é sobre personagens ruins. O filme pode até ser pouco interessante, mas com um personagem bem construído e com substância é capaz de segurar o filme. Não vejo o inverso acontecendo. Isso pelo simples motivo que estamos acompanhando aquelas pessoas, se não nos interessarmos por elas, qual o objetivo de assistirmos? O personagem que não me faz torcer por ele me afasta do filme.
Então chega uma invasão alienígena, que pela primeira vez que me recordo não é nos EUA, e acompanhamos um grupo de jovens tão desinteressantes quantos eles podem ser. Manual de sobrevivência: serem atraentes de certa forma, não estarem vestidos adequadamente, não possuírem alguma habilidade específica que os tornem aptos a sobreviverem e de preferência que tenham mais falhas do qualidades.
Nossos "heróis"estão em uma casa noturna de Moscou quando a luz de toda a cidade falha. Eles saem pra rua onde milhares de pontos luminosos caem do céu até baterem am alguma superfície e desaparecerem. Quando um policial encosta no lugar de onde um desses pontos estava, ele é desintegrado instantaneamente e o massacre de todos em volta começa numa cena que lembra muito, mas que não tem a mesma qualidade, A guerra dos mundos, de Spielberg. Só sobram duas moças e três rapazes.
Até que eles resolvem sair da cozinha onde estavam se escondendo para chegar na embaixada americana. O que deve fazer muito sentido, já que se a Rússia inteira está vindo abaixo, a embaixada americana vai ser o único lugar de pé, certo? E assim eles se aventuram pelas ruas de Moscou para se salvarem ao mesmo tempo que tem que ter cuidado com os alienígenas que não parecem ter fraquezas: são invisíveis, extremamente letais e nenhuma arma humana parece ser capaz de matá-los.
O produtor do filme, Timur Bekmambetov (diretor de Procurado), disse que o fato do filme ser em Moscou vai dar uma sensação de novidade em quem assistir. Eu não teria tanta certeza assim. Com certeza a cidade é muito bonita e o diferencia das outras produções filmadas nos EUA, mas as imagens em 3D ficaram tão ruins que o filme parece ter sido filmado em chroma key (fundo verde ou azul que é apagado digitalmente depois para se colocar qualquer outra coisa no lugar) de qualidade duvidosa. Qual a vantagem de filmar em Moscou se as imagens parecem falsas?
O que nos deixa por último com os aliens. Eles já tiveram diversas formas, das mais assustadoras até as agradáveis. Assustadoras ou não, sempre tinham uma face. Aqui, eles são invisíveis. Exceto por curtos segundos, nunca os visualizamos a não ser por pequenos pontos de luz. Se o diretor se propõe a não mostrar os bichos durante todo o filme, é porque esperamos que ele tenha uma grande carta na manga para nos agraciar no final, mas a verdade é que ele não tem. Quando finalmente os vemos, a decepção é tão grande que a preguiça da produção transparece.
E o filme ainda é uma prova que o 3D precisa evoluir muito para se tornar interessante, porque na maioria dos filmes ele parece apenas servir para tirar a qualidade das imagens.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

CAVALO DE GUERRA - WAR HORSE


NOTA: 9.
- Você não pode fazer isso. Ele é meu cavalo.

Existe algo além da história que está sendo contada nas telas. Baseado tanto em um livro infantil quanto em uma peça de teatro, o filme faz mais que contar a história do cavalo. É uma obra com imagens tão carregadas de beleza e textura que não se pode explicar em palavras, é preciso ver para saber do que estou falando. Tudo é tão bonito e tão impressionante, que Spielberg quase nos faz esquecer que o filme se passa durante uma guerra onde milhões de pessoas estão morrendo.
A história começa com uma pequena família que vive numa pequena vila inglesa. São apenas pai, mãe e filho que cultivam numa fazenda que alugam de Lyons (Davids Thewlis), que está sempre os cobrando pelos atrasos no aluguel. O filho, Albert (Jeremy Irvine) ajuda como pode o pai que está quase sempre bêbado e sua mãe que é muito trabalhadora.
Até que acontece um leilão na vila, e o pai bate os olhos num cavalo que parece ser especial. Ele disputa com Lyons pelo cavalo até sair vencedor, mesmo que tenha pago muito mais do que deveria pelo animal. Especialmente se isso significa que ele gastou o dinheiro do aluguel para isso. Quando volta para casa, a mãe fica aterrorizada pelo preço pago no animal, afinal, ela apenas queria um robusto cavalo para arar o campo. Mas Albert cria uma forte conexão com o animal e consegue com que ele realize tudo que precisam. Infelizmente, seu pai acaba tendo que vender o cavalo para um militar quando estoura a primeira guerra mundial. Albert promete que eles vão se encontrar de novo.
O cavalo, Joey (que segundo li, também personificou Seabiscuit) passa por uma série problemas. Do oficial inglês ele vai parar nas mãos de alemães. Dos alemães ele vai ser cuidado por uma menina em um moinho na França. Da França ele vai acabar parando no meio da guerra numa batalha com muito arame farpado, lama e corpos espalhados.
Joey, porém, realmente parece ser um cavalo especial. Tão especial que passa por vários donos e todos o tratam com muito cuidado. Com carinho. Mesmo um oficial que diz que os cavalos são armas de guerra e que devem ser usados até que morram, contrasta com o subalterno que apesar de obedecer as ordens tenta fazer o que pode pelo animal. Joey passa pelos dois lados da guerra, mas é sempre admirado e bem cuidado por todas as pessoas.
Tudo isso é filmado com muita beleza, mas não dá uma coesão perfeita ao filme. O protagonista é um mero espectador das coisas que acontecem ao seu redor, e cada parte do filme parece ser um pouco desconectada das demais.
Spielberg, consegue passar uma nobreza ao animal e o dá um final feliz. Alguns podem reclamar da pieguice, mas depois de passar por tanta coisa e depois de muita gente morrer, o final feliz é apenas um alívio para a plateia. Seria muito triste se terminasse de outra maneira. E ao final do filme, o cavalo correndo pelo pôr-do-sol dá uma bela visão que só um mestre como o diretor sabe fazer. Quase como se fosse uma homenagem à John Ford que tanto fazia cenas assim em seus faroestes. Assim como o final que nos inspira, como a Hollywood fazia naquela época. Spielberg nos lembra que cinema é também espetáculo, e nessa matéria ele é mestre.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

HITCHCOCK TRUFFAUT 33: FESTIM DIABÓLICO - ROPE (1948)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui. 


NOTA: 7.
- Ninguém comete um assassinato só pela experimentação de se cometer um assassinato. Ninguém exceto a gente.

Chegamos a uma nova etapa na carreira de Hitchcock. É a partir deste filme que ele se torna o produtor de seus próprios filmes. Talvez esse tenha sido o motivo que o levou a fazer um projeto que o próprio diretor considerava uma cilada. O filme era uma adaptação de um peça de teatro onde o tempo de duração era o mesmo que a ação encenada. Para conseguir o mesmo efeito no filme, o diretor resolveu fazer deste filme um longo plano-sequência. Para quem não sabe o que é um plano-sequência, trata-se de um plano sem corte, contínuo. Em película, é impossível se fazer um filme inteiro sem cortes pois o rolo de filme tem pouca duração (cerca de 10 minutos). Por isso durante o filme, a câmera eventualmente passava pelas costas de alguém ou algum móvel, isso permitia que a troca do rolo fosse quase imperceptível.
Nesse aspecto só tenho a admirar a habilidade dele. Claro que um filme desse tipo ia totalmente contra o tipo de filme que ele costuma fazer, que sempre prezava pela fragmentação do filme e o fazia com maestria invejável. Ainda assim, é incrível que ainda assim ele consiga mover a câmera de modo a contar a história com a mesma intensidade com que costumava contar todos seus outros filmes, além disso o controle da luz que faz o tempo passar de forma quase despercebida. Considerando que era seu primeiro filme colorido, tais méritos se tornam ainda maiores.
A história do filme é sobre uma dupla de jovens estudantes muito inteligentes que matam um colega de turma só pela volúpia do ato em si. E isso a pouco minutos do início de uma festa onde convidam os pais do rapaz, a ex-noiva de um deles e um professor, interpretado por James Stewart, de quem eles acham que vão conseguir admiração pelo crime que cometeram. A dupla, ainda que não tivesse sido falado abertamente (provavelmente pela época em que foi filmado), eram homossexuais que agem quase como um casal.
Apesar de admirar a habilidade do diretor, não posso esconder que o filme me decepciona um pouco. É realmente um trabalho fantástico de câmera, iluminação e movimentação de atores, mas não passa nem um terço do mistério que outros produtos dele. Justamente ele que sempre procurou disfarçar quando adaptava uma peça, aqui parece abraçar o tom teatral. Temos pouca coisa aqui para diferenciar o filme de uma peça teatral, o que diminui a força do filme por se tratar de um filme de Hitchcock.
O filme foi um sucesso comercial, o que deve ter sido ótimo para sua carreira, mas artisticamente ficou aquém do que se espera de um filme com o seu selo. Ainda que tente passar suspense, o filme acaba mais sendo sobre um longo, e entediante, coquetel do que sobre um crime ou descobrir se os culpados serão descobertos ou não. Infelizmente, no início de sua carreira de produtor, Hitchcock vai acabar acumulando uma sequência de filmes que não se orgulha muito.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

BELEZA ADORMECIDA - SLEEPING BEAUTY


NOTA: 6.
- Não faça desse trabalho sua principal fonte de renda.

Emily Browning já tinha servido de fetiche no filme Sucker Punch - mundo surreal e volta a fazer o mesmo tipo de papel ainda que num tipo de filme totalmente diferente. Ela é Lucy, uma estudante universitária que vive sem dinheiro e está sempre entediada. Para continuar nos seus estudos, ela trabalha num escritório fazendo e organizando cópias de documentos, trabalha num restaurante e ainda serve de cobaia em algum tipo de experimento. E mesmo assim paga seu aluguel com atraso.
Para se divertir, ela sai para bares e mantém relações sexuais da maneira menos romântica possível. Parece que nada a interessa além do sexo e ela parece disposta a ter uma relação com qualquer pessoa que sente ao seu lado e fale qualquer tipo de besteira. Na verdade, ela passa a maior parte do filme sem sequer parecer que tem sentimentos, a não ser em breves momentos (e mesmo assim de forma meio doentia) com um amigo chamado Birdiemann.
Para aumentar a renda, ela responde a um anúncio e ingressa em um lucrativo e estranho negócio sexual. Ela não mantém relações sexuais com os clientes, mas o seu trabalho consiste em servir velhos ricos num jantar vestindo apenas suas roupas de baixo. Sua chefe lhe diz para não fazer disso sua ocupação principal, mas ela acaba querendo mais dinheiro e vira a tal "bela adormecida" do filme. Basicamente, ela é drogada para entrar em um estado parecido com um coma e fica na cama com os velhos ricos. Eles são instruídos a não penetrarem ou marcarem a moça, mas se ninguém fica a os vigiar, como saber o que realmente pode acontecer dentro do quarto?
O filme marca e estreia da romancista Julian Leigh na direção de filmes. Não sei quais eram as expectativas em cima de seu trabalho, mas posso dizer que fiquei um tanto quanto frustrado. O filme perde muito tempo com penteados, maquiagens e manicures ao invés de procurar alguma coisa realmente interessante para filmar. Em vários momentos, ao invés de procurar fluir, ele fica tão estático quanto sua câmera. Nenhum dos dois se movimenta para algum lugar e o meu interesse foi diminuindo cada vez mais.
Emily Browning pouco acrescenta ao filme. Dizem que Leigh pediu para ela assistir Anticristo para se inspirar na atuação de Charlotte Gainsbourg. Apesar de odiar o filme, devo reconhecer que a atuação dela no filme é ótima. Seja lá o que Browning esteja fazendo nesse filme, não é sequer parecido. Sua Lucy é tão apática que não desperta qualquer interesse. Depois de certo tempo, começo a não me importar com o que vai acontecer com a sua personagem.
E é uma pena, pois esses detalhes vão enfraquecendo o filme. A temática podia ser melhor explorada assim como a própria personagem. E no final o que sobra acaba sendo câmera que sequer acompanha os fetiches do filme.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

AGENTE 86 - GET SMART


NOTA: 8.
- Eu estou tão feliz. Esse é o dia mais feliz da minha vida.
- Pro cone do silêncio funcionar você tinha que ter apertado o botão até o final.

Adaptado de uma antiga série da TV, este filme não agradou nem toda a crítica ou todo o público. Talvez por isso, apesar de ter sido lançado em 2008, ele não gerou nenhuma continuação. Eu acho uma pena, pois tem as antigas falas, boas piadas e novas ideias além de uma dupla que traz bons (e novos) ares. Além disso, cenas de ação que são muito melhores do que de qualquer outro filme de comédia que consigo me lembrar. E até mesmo que alguns blockbusters.
O Maxwell Smart neste filme é interpretado por Steve Carell. O agente meio atrapalhado mas que sempre consegue salvar o mundo, ou pelo menos os EUA, que opera em uma agência secreta americana chamada de CONTROLE. Seu trabalho é espionar agentes de um grupo terrorista conhecido como KAOS decifrando suas conversas. O desejo real de Smart é ser promovido a agente de campo, mas apesar de ter todas as habilidades, seu trabalho é bom que o Chefe (Alan Arkin) decide deixá-lo onde está.
Então a sede do CONTROLE é atacada e destruída. Além disso, diversos agentes são mortos e as ações estão comprometidas. Apenas a Agente 99 (Anne Hathaway) está em condições de operar, pois passou por uma reconstrução facial completa e ninguém sabe como ela parece atualmente. Para atuar com ela, Smart é finalmente promovido a agente de campo. Ele é o novato trabalhando com alguém mais experiente que tem que livrá-lo das confusões.
O plano para assassinar o presidente que KAOS planeja fazer é explodir com uma bomba nuclear um concerto na Disney onde haverá um concerto. Confesso que não consigo descobrir porque a bomba deve ser colocada dentro da onde o presidente vai estar. Já que é uma bomba nuclear, um ou dois quilômetros de diferença não fariam o mesmo efeito? Mas Siegrified (Terence Stamp) tem um plano interessante que parece que somente Smart é capaz de deter.
Acho que uma das coisas que mais achei interessante é a mistura de humor com as cenas de ação. Filmes de ação sempre buscam uma piada quando podem para aliviar a tensão. Aqui, as cenas cômicas é que são intercaladas com cenas de ação. Como já disse, as cenas de ação são ótimas, o diferencial é que a comédia aqui é muito melhor.
Existem muitos derivados e paródias de filmes de James Bond, eu devo dizer que a série era a melhor paródia que já vi do gênero, e felizmente o filme não fica muito atrás. Algumas cenas de ação são tão elaboradas que deixa até mesmo vários filmes do agente 007 no chinelo. Especialmente a cena final que envolve um carro em chamas andando em trilhos e um avião enquanto Smart tenta reaver o detonador de uma bomba nuclear que pode matar o presidente. Me impressionou bastante e me desaponta que não tenha tido uma continuação.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

HANNA


NOTA: 9.
- Isso é muito, muito difícil. Mas algumas vezes, crianças podem ser más pessoas também.

Lembro de ter visto algumas vezes filmes onde os pais isolam os filhos, educando-os por conta própria. Sempre achei que isso limitaria o que uma criança pode aprender. Não é esse o caso da menina criada na floresta de nome Hanna (Saoirse Ronan), que parece saber, pelo menos na teoria, como qualquer coisa funciona (até mesmo os músculos utilizados em um beijo) e ainda sabe falar espanhol, francês, árabe, alemão entre outras línguas. Além disso, ela sabe caçar e é mestre em combate com ou sem armas.
Claro que Hanna não é uma criança qualquer. Ela é até mesmo muito forte para uma criança e chega a vencer um combate com seu tutor, e pai, Erik (Eric Bana), que é muito maior e experiente do que ela. Depois de anos isolados na floresta, ela se diz pronta e não sabemos para o quê. Erik apenas lhe diz que se ela estiver pronta, ela deve pressionar um botão e se preparar pois alguma mulher não vai descansar até que ela esteja morta. Ele parte e deixa a menina lá sozinha.
E "ela" recebe o sinal. Ela é algum tipo de agente de uma agência internacional, embora não lembre de tal agência ter sido mencionada agora. Marissa (Cate Blanchett) manda uma equipe para a floresta e resgata a garota que é levada para o quartel. Lá Hanna começa uma matança e foge para encontrar seu pai em um lugar pré-estabelecido. Nesse ponto o diretor Joe Wright (O solista) já nos mostra um filme que ora parece um thriller com agentes secretos altamente treinados e ora parece um conto de fadas da menina que pela primeira vez está conhecendo um novo mundo. Mundo que ela só conhecia na teoria.
Não é uma novidade filmes que mostrem uma menina pequena que é capaz de matar quase todo homem que encontra. Basta lembrarmos de Kick-ass onde uma criança ainda menor do que Hanna cometia grandes chacinas. A diferença deste filme para os outros com crianças deste tipo, é que aqui o diretor parece ter algo a dizer. É um filme com sentimento, e as mortes não tão estilizadas tem um motivo maior para acontecer do que simplesmente agradar a plateia.
Wright pode parecer uma escolha estranha para esse filme. Ele apareceu adaptando grandes clássicos da literatura como Orgulho e preconceito e Desejo e reparação e pode parecer o nome errado para este tipo de filme, mas a verdade é que ele parece ter um propósito aqui. E talvez o propósito seja mostrar que os filmes de ação não precisam ser acerebrados. Além disso, ele traz uma grande dose de realidade para as cenas, mesmo as que exibem doses de CGI. Tudo é coreografado e parece tangível.
E talvez seja por isso que este filme tenha me surpreendido tanto. Hanna é não somente um filme de ação, mas um bom filme. Diferente das confusões que os filmes do gênero estão se transformando nos dias de hoje. Apesar de Blanchett parecer meio estranha como uma mulher sem qualquer sentimento, Ronan segura o filme inteiro em um papel extremamente complicado. Ela é a outra parte que faz o filme funcionar. E realmente faz com que funcione.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

HITCHCOCK TRUFFAUT 32: AGONIA DE AMOR - THE PARADINE CASE (1947)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.




NOTA: 7.
- Os melhores homens sempre terminam com as piores mulheres.

Em mais um filme do diretor sob a produção do lendário produtor David O. Selznick, Hitchcock pela primeira vez tem a tarefa de colocar nas telas um roteiro escrito pelo próprio produtor. Talvez não seja por acaso que é um dos filmes dele com uma história mais mal contada. 
É um drama de tribunal. É também um drama romântico. Se eu disser que é também uma sátira social dos costumes da alta sociedade de Londres, eu também não estaria errado. Assim como também retrata uma crise conjugal entre o advogado e sua esposa. Talvez por mirar em tantos alvos ao mesmo tempo, é que o filme não consiga saber exatamente que direção deve levar a plateia.
Começamos com a prisão da Sra. Paradine, acusada de ser responsável pela morte do esposo cego que foi vítima de envenenamento. O que geralmente acontece é a prisão de delinquentes que parecem pertencer ao lugar. Aqui, temos uma mulher de classe que fica realmente deslocada lá. Ela chega toda arrumada e com seu cabelo penteado e a guarda desmancha o penteado para verificar se não há nada escondido nele.
Ela vai ser defendida por Anthony Keane (Gregory Peck), um ótimo advogado que acaba se apaixonando pela acusada. Com isso, ele acaba se entregando demais ao caso para soltar a mulher por quem se apaixonou e acaba negligenciando até mesmo sua própria esposa. Esposa que acaba descobrindo a paixão do marido mas mesmo assim insiste que ele vença o caso.
E são esses detalhes que são interessantes no filme. Não se trata de um grande mistério, apesar de não ser desprovido dele, e nem sobre um crime. Apesar do diretor admitir que não entendeu muito bem como o crime teria acontecido e por isso não o filmou, o importante é perceber que não é esse seu alvo. Ele quer mostrar as pessoas. Não somente a acusada, seu defensor ou a esposa, mas também o juiz (interpretado pelo ótimo Charles Laughton) e várias mulheres que acompanham o julgamento.
E ainda que a história não seja sobre um grande mistério ou um crime, e que o roteiro não ajude muito a desenvolver melhor a trama, Hitchcock consegue tirar mais tensão do que a maioria dos diretores conseguem em filme de tribunal. Grande parte por conta da grande habilidade da câmera, que parece cúmplice do julgamento e nos deixa a par de tudo que acontece.
Apesar de Peck não ter sido escolha do diretor, ele está melhor que na parceria anterior com Hitchcock. Claro que realmente não seria a melhor escolha (Hitchcock diz que gostaria de ter filmado com Laurence Olivier), mas não atrapalha o filme. que marca também o final da parceria com Selznick.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...