sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O HOBBIT: UMA JORNADA INESPERADA - THE HOBBIT: AN UNEXPECTED JOURNEY


NOTA: 6.
- Estou procurando alguém para participar de uma aventura.

Depois da trilogia de O senhor dos anéis fazer um sucesso estrondoso, quase três bilhões nas bilheterias e ainda levar 14 Oscars, o diretor Peter Jackson resolveu contar a história que se passa antes de tudo que vimos. É a história de como Bilbo Bolseiro conseguiu o anel que deixou para Frodo. Não chega a ser decepcionante como A ameaça fantasma, mas com certeza está muito aquém do que se deveria esperar. Ou simplesmente pode ser o caso de ser porque essa história realmente devesse ter sido contada antes.
Digo isso, porque provavelmente se tivesse sido contada antes, um único livro não teria sido transformado em uma trilogia de filmes. Se na trilogia original Jackson realizou uma série de cortes para termos uma média de três horas por filme, o que temos aqui é uma história bem mais simples que foi esticada até não poder mais para poder justificar a razão de termos três filmes com menos de três horas, ao invés de um só, ou quem sabe com boa vontade até mesmo dois.
Claro que ter menos de três horas não quer dizer que temos uma história que flua mais rápido. Na verdade estamos longe disso. Levamos muito tempo acompanhando até que Bilbo (Martin Freeman) concorde em ir na viagem com os anões, e com o final do filme parece que sua viagem, que no livro é bem mais curta que a de Frodo, vai levar muito mais tempo para ser contada. Tudo isso com a escolha da filmagem em 48 quadros por segundo (tradicionalmente se usa 24) que, na minha opinião, não funcionou muito bem.
Claro que o talento de Jackson em montar quadros de extrema beleza não se perdeu. Cada cena do filme é, assim como na trilogia original, uma pintura com efeitos que muitas vezes passam despercebidos. Ele continua criando beleza e eficiência como poucos fazem, mas os personagens nas telas, especialmente os anões, conseguem ter ainda menos profundidade do que os personagens que tínhamos antes, e são ainda menos carismáticos apesar de serem interpretados com grande talento. A situação piora um pouco quando temos a aparição de personagens conhecidos e melhores como Gandalf (Ian McKellen), Elrond (Hugo Weaving) ou Galadriel (Cate Blanchett).
Outro grande problema do filme é seu tom. O senhor dos anéis é um livro escrito durante a Segunda Guerra Mundial e conta uma história muito sombria. O confronto definitivo entre o bem e o mal. O hobbit é um livro escrito em 1937 tendo em mente que era uma história para os filhos do escritor. Ou seja: o filme poderia ser uma divertida aventura, mas ao invés disso o que temos é uma grandiosa e perigosa aventura com muitas batalhas e decapitações que não vão decepcionar a jovem plateia sedenta de sangue.
Ao invés de se preocupar em contar a história que temos no livro, o diretor teve que se preocupar também em não entregar três filmes com menos de uma hora de duração. O que se vê na tela são diversas cenas que não estão no livro e que não funcionam nada além de transformar o filme em mais um possível parque temático como Piratas do Caribe. Depois de mais de duas horas de duração, cheguei a duvidar se Bilbo encontraria o anel, mas pelo menos temos o direito de ver a cena em que ganha o objeto feito da maneira correta. É a melhor parte do filme, e é uma pena que o resto das cenas não acompanhe nem de perto essa magia. Não deixa de parecer em nenhum momento que um filme poderia ter sido suficiente.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A NEGOCIAÇÃO - ARBITRAGE


NOTA: 9.
- Você não é minha sócia, você trabalha para mim. Todos trabalham para mim.

Diversas vezes eu escrevi sobre a importância de um personagem em um filme. Sobre o quanto ter um bom personagem pode salvar um filme assim como ter um personagem ruim pode matar completamente uma produção. Isso é porque tendemos a nos identificar com quem estamos acompanhando na tela, mesmo que quem acompanhamos seja um canalha sem coração. E é nessa categoria que cai Robert Miller, interpretado com maestria por Richard Gere.
Robert é um milionário empresário que está envolvido em uma fraude multi-milionária. Além disso, ele trai a mulher com uma amante bem mais nova que ele, com quem decide sair pra viajar. Na viagem ele bate com o carro e causa a morte da mulher, e para não se envolver em um escândalo foge do local deixando o corpo dela sozinha dentro do carro. Nós vemos isso tudo acontecendo, e mesmo assim fica a tensão de acompanhá-lo fazendo isso e ainda escapar impune de tudo.
Ele é um homem muito acostumado a ouvir "sim" na vida dele, pois vive em um mundo acessível apenas para poucos (quase todos com jatos particulares) e assina cheques com sete dígitos para suas instituições de caridade favoritas. Essa parte é muito bem retratada desde o começo do filme, onde o vemos em uma entrevista sorrindo e falando de forma convincente. Ele sai da entrevista e pega um jato, e depois o vemos em casa comemorando seu aniversário ao lado da Mulher, Ellen (Susan Sarandon) e a filha, Brooke (Brit Marling). Esse é o mundo onde ele vive e ele parece muito acostumado com isso tudo.
É a filha dele que nos revela o homem que está atrás de todo aquele sorriso e charme. Primeiro ela pergunta pro pai porque ele está disposto a vender a empresa, depois ela descobre a fraude com uma cifra de 400 milhões de dólares sem sequer desconfiar que seu próprio pai é quem está por trás de toda a trama. Ela chega a despedir um funcionário o tomando por culpado e acredito que ela nunca desconfiaria que Robert fosse capaz de fazer algo parecido com isso, enquanto ele provavelmente a entregaria se isso significasse se manter fora da cadeia.
Em relação ao crime, temos ainda dois envolvidos. Um é Grant, o filho de um ex-motorista de Robert pra quem ele fez alguns favores. Como Grant viu o estado de Robert, ainda que não tenha participado do crime, vira cúmplice. O outro é o policial cínico Bryer (Tim Roth), que até mesmo é capaz de criar evidências para conseguir enquadrar o homem rico que ele odeia sem motivo. Começa a batalha pra vermos se o homem rico consegue se safar até mesmo de uma acusação de assassinato. E se Robert parece ser capaz de entregar a filha, que chance terá Grant?
Um dos grandes motivos pra ver o filme, é a presença de Richard Gere no papel principal. Parte de sua beleza pode ter sumido com o tempo, mas seus talentos agora se encontram no auge. Apesar de sabermos tudo de errado que está sendo feito, Gere nos faz acreditar que é obra de um ser humano normal (ou tão dentro dessa definição quanto ele pode ser), e não algum tipo de sociopata. Atuação que já levou uma indicação ao Globo de Ouro e não será nenhuma surpresa se valer uma indicação ao Oscar.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA - THE AMAZING SPIDER-MAN


NOTA: 7,5.
- Todos temos segredos. Aqueles que guardamos, e aqueles que são guardados de nós.

O mundo hoje se move numa velocidade assustadora, e aparentemente isso se reflete nos cinemas. Só assim consigo imaginar porque já temos um reboot do personagem aracnídeo mais famoso da Marvel. Afinal, fazem apenas cinco anos desde a última vez que o vimos nos cinemas interpretado por Tobey Maguire, e dez desde que o primeiro chegou aos cinemas. Está certo que a terceira parte estava muito aquém do que deveríamos esperar, mas ainda assim faz pouco tempo.
Então, em teoria, o que temos é uma refilmagem do longa de 2002 dirigido por Sam Raimi, exceto que não é exatamente uma refilmagem. Explicando: como a imensa maioria assistiu o primeiro filme, pra justificar um novo começo de franquia foi necessário contar uma origem totalmente diferente da contada anteriormente. A verdade é que não precisávamos ter essa história contada novamente, mas pelo menos em alguns detalhes ela é feita de forma a justificar melhor a transformação dele em um super-herói.
Peter Parker agora passa a ser interpretado por Andrew Garfield. Um dos problemas que foram ressaltados por produtores, é que Maguire estava muito velho para o papel. Então temos agora o jovem Garfield que tem 28 anos e realmente parece velho demais para estar na escola, mas isso é um problema que acontece com quase todos os filmes que mostram escolas, então não deve ser nada demais. Pelo menos, ele tem um jeito mais nerd que Maguire. Já Dunst não chega a ser substituída, porque Emma Stone interpreta Gwen Stacy, a primeira namorada de Parker nos quadrinhos.
Um dos problemas deste filme, é que qualquer pessoa com mais de dez anos vai assistir e achar que já conhece a história, e isso é porque provavelmente já assistiu realmente. Ainda que seja admirável a preocupação de contar com detalhes e com calma, sem apressar a aparição do herói, parece meio "redundante" ter que assistir, de novo, como ele se transforma de nerd que sofre de bullying à herói. De novo. E por mais de duas horas de duração.
Um dos acertos de Marc Webb ((500) dias com ela), é não depender de um Homem-Aranha completamente digitalizado. Claro que hoje parece impossível realizar um filme sem recorrer ao já famoso CGI, mas pelo menos há inúmeras cenas realizadas por dublês, o que dá "peso" aos movimentos dos personagens. E melhor ainda, o filme funciona porque está todo apoiado em cima dos pesonagens de Garfield e Stone, e não nos efeitos.
O melhor filme do personagem pra mim, e acredito que todos vão concordar, é Homem-Aranha 2, mas este consegue ser melhor que o primeiro filme do herói, mas realmente me incomodou o fato de que em nenhum momento eu consegui parar de pensar que se tratava de uma refilmagem desnecessária. Nem o diretor pareceu se mostrar bem escolhido para mostrar um Aranha para novos tempos, em um mundo mais cruel ou coisa do gênero, como os realizadores (incluindo roteiristas e etc) não tiveram a coragem (ou mesmo foram impedidos) de contar uma história realmente nova. É a tentativa de ressuscitar a franquia fazendo a mesma coisa que foi feita antes. É interessante e divertida, mas realmente parece desnecessária.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

DETETIVE D E O IMPÉRIO CELESTIAL - DI RENJIE ZHI TONGTIAN DIGUO


NOTA: 8,5.
- Há muita gente que não quer que uma mulher se torne imperadora.

Fosse um filme falado em inglês, estaria concorrendo nas bilheterias com todos os blockbusters lançados no mesmo período. Sejam eles produzidos por Jerry Bruckheimer ou dirigidos por Michael Bay. Claro que o fato de não ter feito uma grande bilheteria mundial não influencia em um fato: o que temos aqui é um filme que não deixa a desejar em nenhum quesito, não importando qual país de produção estejamos considerando.
O rosto familiar de Andy Lau (O clã das adagas voadoras) é quem dá aparece nas telas como o Detetive D. A história se passa por volta de 690, durante a dinastia Tang. D ficou famoso em uma série de livros (17 no total), e em alguns sentidos lembra um Sherlock Holmes, pois baseia grande parte dos seus poderes dedutivos da observação.
Nessa história, acompanhamos Wu Zetian, que está próxima de ser coroada imperadora. A primeira mulher a ascender ao trono em toda a história do império. Claro que isso pode incomodar muitos homens, por isso uma força poderosa surge para impedir que isso aconteça. A obra de um imenso Buda está sendo concluída apressadamente para o dia da coroação, mas algumas mortes acontecem na construção e a construção é paralisada, afinal não é todo dia que pessoas vivas entram em combustão sem que ninguém as toquem. Pode ser obra de bruxaria ou pode ser crime, e alguém deve tentar solucionar o caso
Esse alguém em D, que é convocado pela futura imperadora. Ele estava numa prisão, onde ela mesmo o colocou, mas agora, como é necessário, seus crimes foram perdoados e ele volta à ativa com novos truques que aprendeu durante o tempo em que esteve na cadeia. E é quando ele aparece nas telas que também o filme é "invadido" por grandes cenas de luta muito bem coreografadas que acontecem em cenários criados pela última tecnologia de computação gráfica.
Seguindo a tendência do cinema atual, o filme tem muitas cenas com saltos impossíveis, personagens que quase voam e grande parte das lutas que são travadas mais na edição do que nas filmagens. Ainda que não tenha a mesma graça de assistir a filmes onde pareça que o ator está  realmente realizando as cenas de ação, devo destacar que o filme flui de uma maneira muito divertida. E ainda assim, devo também ressaltar que apesar de todas as trucagens, a câmera passeia pelo filme com muita mais fluidez do que quando assistimos um filme de Bay e seus milhões de cortes por segundo.
O mais importante é que o caso não é construído para que apenas tenhamos ação e efeitos especiais. Tem muita emoção e muito mistério para prender a atenção das plateias. E ainda uma boa caracterização de uma época que não é comum de se ver no cinema. Claro que é um filme que vive muito para as cenas de grande adrenalina também, mas isso só faz que a mistura fique mais interessante ainda.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

DRAGNET - DESAFIANDO O PERIGO


NOTA: 7.
- Você tem muitos sentimentos reprimidos, não é? Deve ser isso que mantém seu cabelo de pé.

Dragnet era uma clássica série policial que passava na TV nos anos 1960. Em L.A. cidade proibida, havia uma homenagem a série e seu bordão: "Somente os fatos". O filme pega alguns dos ingredientes básicos da série, mas utiliza um caso bem bizarro a ser resolvido pelos policiais. É sobre um grupo quase terrorista chamado P.A.G.A.N., que realizam assassinatos, ritos satânicos, sequestram animais e tentam sacrificar uma virgem utilizando uma cobra gigante.
O filme é estrelado por Dan Akroyd como Joe Friday, sobrinho do personagem original da série. Um policial totalmente correto e que segue todas as normas do livro, e ainda obriga todo o resto a seguir também. Seu companheiro é um Streetbek, interpretado por um Tom Hanks que ainda estava em ascensão na carreira mas já era um rosto bastante conhecido do público por uma série de filmes que já havia estrelado. Seguindo os conceitos básicos de filmes, Streetbek é o oposto de Friday que vai se chocar com o modo certinho demais dele.
Os dois são designados a cuidar do caso, o primeiro deles juntos. Se juntam a eles depois, quando a salvam do sacríficio, a virgem Connie Swail. E eu escrevo assim, porque ela é chamada com esse adjetivo na frente de seu nome por quase todo o filme. É ela, doce e pura, que acaba conquistando o coração de Friday, ainda que ele não saiba exatamente o que é esse sentimento que está começando a ter. Como ele diz, quase se sentiu assim, porque já teve um gato.
Apesar de Akroyd estar presente quase que exclusivamente como coadjuvante hoje em dia, sua interpretação e personagem são a principal força do filme. Ele fala de uma maneira extremamente rápida e ainda assim fluente, o que é um dos grandes prazeres do filme. Ou ele deve ter levado horas pra aperfeiçoar sua fala, ou realmente nasceu pra viver esse personagem. Mas é claro que não dá pra deixar de ressaltar a química entre ele e Hanks, que apesar de um pouco ofuscado é eficiente como sempre.
Não é um desses filme que te fazem rir do começo ao fim, mas ele apresenta algumas boas cenas que são muito engraçadas. Envelheceu um pouco com o passar dos anos, mas ainda mantém a maior parte da sua comédia intacta. E pra mim, isso rendeu umas boas risadas.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR- SNOW WHITE AND THE HUNSTMAN


NOTA: 8.
- Você era a única pura o suficiente para quebrar o espelho e me destruir, e também a única pura o suficiente para me salvar.

Houveram duas refilmagens da Branca de neve, e todas as duas se distanciando da inocência da história que conhecemos. Quer eu esteja falando do desenho animado da Disney ou mesmo do conto original dos irmãos Grimm, mas o outro filme ainda tentava manter um pouco da mágica e doçura do conto original. Não há nada doce nesse filme aqui. Apesar de termos praticamente todos os personagens da história original e sabermos como vai terminar (ou pelo menos como deve terminar), a viagem é quase totalmente original e muito boa de acompanhar.
E boa parte dessa jornada ser tão boa de acompanhar, é que há algo muito interessante na forma que o filme pega o tema e o trata de uma forma tão séria. A maioria desses contos, estão enraizadas no subconsciente de qualquer pessoa, e de repente aparece uma nova versão violenta e obscura para mudar os conceitos. Apesar de inocentes, esses contos tem um lado sombrio, então aqui se aproveita mais esse lado do que o lado mágico.
Um pouco mais velha do que de repente imaginaríamos uma Branca de Neve, temos Kristen Stewart interpretando a personagem título pela maior parte do filme. Depois da morte de seu pai, a malvada Rainha assassina (Chalize Theron) a deixa anos presa em uma cela no alto de uma torre, até que ela finalmente consegue sua fuga e tentar apagar os erros que vem acontecendo no reino desde a morte de seu pai.
O Caçador (Chris Hemsworth), é o herói convocado pela Rainha para caçar a Branca de Neve em uma floresta onde somente ele parece ter fugido com vida. Ele deve levar a menina de volta pro castelo, mas depois de encontrá-la ele fica tão impressionado que resolve mudar de lado, e começa a ajudar ao lado do príncipe William. Este conhece Branca desde a infância e parece muito apaixonado por ela, mas para seu azar não é seu nome que aparece no título.
Enquanto isso, a Rainha mantém seu governo de terror no reino. Com medo de perder sua beleza, o que ela considera sua maior fonte de poder, ela se "alimenta" da beleza de virgens para continuar jovem e bela. E claro que ela toma conselhos de um espelho na parede que, quando ouve o famoso provérbio, aparece em forma quase humana, lembrando um pouco o T1000 de O exterminador do futuro 2 quando está em transição de uma forma para a outra.
Outra coisa que não se esperaria em um filme como esse, é uma quantidade absurda de efeitos especiais, que dão vida vida à seres como trolls, corvos que se transformam em demônios para atacar, e até mesmo transforma atores conhecidos (Ian McShane, Bob Hoskins, Ray Winstone, Nick Frost, Eddie Marsan, Toby Jones e outros) em anões. Mais um pouco e eu acreditaria que a história se passa na Terra Média de Peter Jackson, lugar onde a trilogia do O Senhor dos Anéis tomou lugar.
Apesar de cair no óbvio de hoje e ter que mostrar inúmeras cenas de batalha e efeitos especiais de última linha, há uma história interessante aqui. Inclusive, um filme que permite que os personagens tenham mais profundidade que jamais tiveram antes. E mesmo para os interessados em efeitos especiais,  não há o que reclamar aqui. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O SENHOR DOS ANÉIS: O RETORNO DO REI - THE LORD OF THE RINGS: THE RETURN OF THE KING


NOTA: 9,5.
- Filhos de Gondor, de Rohan, meus irmãos. Eu vejo em seus olhos o mesmo medo que poderia tirar o meu coração. Pode chegar o dia em que a coragem dos homens falhará, quando esqueceremos nossos amigos e quebraremos todas as alianças. Mas esse dia não é hoje. Hoje, nós lutamos.

Geralmente, a terceira parte de uma trilogia é a mais fraca de todas. Aconteceu com O poderoso chefão, Matrix (os dois últimos deste nem parecem terem sido feitos pelos mesmos diretores) e mais recentemente com Batman. Talvez aconteça que os diretores vão ficando com menos imaginação depois de dois filmes, mas este não é o caso do diretor Peter Jackson. E isso quase sempre acontece quando se tem um uso enorme de computação gráfica.
Ainda que o terceiro filme tenha mirado mais em agradar as plateias ávidas por ação, é quase impossível negar a grande façanha alcançada por Jackson. Este filme é a coroação de seu trabalho que foi realizado com maestria. Quase sempre os efeitos especiais ficam extremamente visíveis, e com estes filmes temos cerca de nove horas de filme em que os efeitos ajudam a contar uma história e nada além disso. É um espetáculo visual tão bom que mesmo os que não assistiram os dois primeiros são capazes de assistir a esse último e ainda curtir um bom filme.
Tudo o que foi feito é para nos levar à batalha em Minas Tirith, "onde o destino será decidido". Minas Tirith é o ponto alto das realizações que os efeitos especiais realizaram para os três filmes. É claro que sabemos um cenário daquele tamanho não pode ser construído para um filme, mas fica bem difícil de distinguir o que foi filmado em tamanho real e como exatamente foi inserido no meio de tantas imagens geradas por computador.
Ao mesmo tempo, Jackson corrige o problema de ter deixado tanto os hobbits ficarem em segundo plano, principalmente no segundo filme. Acho que era inevitável que isso acontecesse. Ainda que o diretor esticasse as cenas de ação para que Aragorn e seus companheiros tivessem mais tempo nas telas, ainda assim todos os seus atos eram secundários. O importante da história inteira não é uma guerra contra orcs, é destruir o anel e livrar a Terra Média de todo o mal.
Uma coisa que não foi corrigida ao longo dos três filmes é uma falta de aprofundamento nos personagens. Cada personagem tem suas personalidades e motivações, mas tudo o que acompanhamos é o que está na superfície. Mesmo quando Arwen toma uma decisão de abandonar sua imortalidade para ficar com Aragorn, não sentimos nenhum peso em sua decisão. Todas as decisões são tomadas levemente.
Infelizmente isso não acontece apenas nesse filme, mas em todos eles. Acompanhamos os personagens por muito tempo sem realmente conhecê-los em qualquer nível psicológico. Eles existem apenas como arquétipos de personagens e parecem funcionar apenas para o espetáculo visual. Tudo funciona bem, porque realmente tudo é maravilhoso, mas em momento nenhum parece que há um perigo real, porque não sabemos nenhuma real motivação ou preocupações pelas quais eles passam. O conjunto dos três filmes formam um excelentemente entretenimento como raros filmes conseguem ser, pena que não vai muito além de ser um entretenimento.

O SENHOR DOS ANÉIS: AS DUAS TORRES - THE LORD OF THE RINGS: THE TWO TOWERS



NOTA: 8,5.
- É como nas grandes histórias. Aquelas que realmente importam. As vezes você não sabe como vai terminar, porque como poderia ter um final feliz. Mas no final, as trevas passam. As pessoas nessas histórias tinham chances de voltar, mas eles continuaram sempre em frente. Porque eles tinham certeza de que ainda há bondade no mundo. E que vale lutar por isso.

No segundo filme da trilogia, fica mais claro que a intenção de Peter Jackson é entregar ação, que pode ser o que a maior parte da plateia quer ver. Por isso, o filme já começa sem se preocupar em mostrar os pontos importantes do filme anterior e já começa agitado. Com isso, fica claro também que Frodo (Elijah Wood) é mesmo um personagem secundário da sua própria história. A estrela do filme é Aragorn (Viggo Mortensen), e os hobbits passam a maior parte do filme longe do centro das atenções e da ação. A última parte do filme é praticamente inteira dedicada a uma incrível batalha.
O filme já abre usando a cena de Gandalf (Ian McKellen) nas minas de Moria, o que acontece ainda na primeira metade do primeiro filme. Os que não assistiram o filme anterior, não tinham nenhum preparo para assistir a esse nos cinemas. 
Claro que isso é uma reclamação totalmente pessoal. Levando em consideração apenas o filme, nada do que foi mencionado acima interfere (ou mesmo prejudica) a história que está sendo contada nas telas. O segundo filme é menos fiel ao livro, faz com que se perca grande parte do charme da história e falha em contar o mais importante, que é a jornada. Mas desde o primeiro filme, já tinha ficado claro o interesse do diretor, então devo aceitar o que é o filme e admirar como é um dos espetáculos visuais mais impressionantes que o cinema já nos proporcionou.
Grande parte desse espetáculo é gerado pelo uso muito habilidoso de efeitos especiais e animação digital. E assim, o personagem Gollum, que apenas aparecia em curtas cenas no filme anterior, aparece aqui durante uma boa duração do filme. Na época, era com certeza a criatura gerada por computador mais impressionante que já se havia visto nos cinemas. E o que é mais importante para fazer o filme funcionar: funciona quase tão bem quanto um personagem de carne e osso. Um pouco menos impressionante, mas ainda assim muito bem feitos, temos também os Ents, uma espécie de entidades que protegem as florestas.
Não estou criticando o uso da computação gráfica no filme. Algumas vezes critico o seu uso, mas é quando ela se sobrepõe a história, o que não é o caso aqui neste filme. Há inúmeras cenas em que percebemos que se tratam quase tão somente de computação gráfica, mas ainda assim as cenas são impressionantes e seguram a atenção. Fazendo como poucos diretores fazem, Jackson usa praticamente toda a tela pra preencher suas imagens com complexidade. É possível assistir o filme inúmeras vezes e ainda encontrar algo que não tenha visto antes. Jackson usa os efeitos especiais para "pintar" cada parte do que estamos vendo.
Talvez o filme agrade mais as plateias do que o primeiro. Há cenas mais espetaculares de ação e as batalhas são de tirar o fôlego, mas o filme sozinho carece de um início e está longe de ter um final. É uma ponte de três horas de duração que leva o primeiro filme para o último. Claro que é uma ponte extremamente bem feita que vai segurar as plateias e que nos faz ficar esperando o próximo filme ansiosamente. Mesmo os que já assistiram anteriormente.
Ainda corro o risco de ser chato, mas comparando com os livros, fica estranho perceber como o propósito da história original se perdeu. Se o escritor J. R. R. Tolkien quisesse contar uma história com muita testosterona e batalhas de espada, ele não teria escolhidos pequenos e frágeis hobbits como seus protagonistas. O filme quase deixa de ser uma adaptação para se transformar numa nova história moldada nos filmes de ação de hoje em dia, o que faz perder muito do charme do livro. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O SENHOR DOS ANÉIS: A SOCIEDADE DO ANEL - THE LORD OF THE RINGS: THE FELLOWSHIP OF THE RING


NOTA: 9.
- Eu vou levar o anel para Mordor. Apesar que... Eu não sei o caminho.

Basicamente, existem dois tipos de pessoas que assistiram a esse filme. Uma parte, é formada por ávidos leitores de livros. Essa parte é a mais apaixonada pelo material por motivos óbvios. A segunda é formada pelas pessoas que não leem os livros e preferem assistir o filme porque leva menos tempo. Quando o diretor Peter Jackson tomou o comando da trilogia de filmes adaptando a maior obra nerd (esses livros só não foram mais vendidos que a bíblia), ele tinha o dever de agradar aos dois grupos. Eu li o livro antes de assistir cada filme, e fiquei bem satisfeito com o resultado. Assim como acredito que a maioria dos leitores deva ter ficado. Com ressalvas.
Devido a grande proporção que uma história como essa possui, Jackson compactou a saga de modo a deixá-la com a maior parte de ação possível, sem deixar de lado a mitologia que apaixonou milhões de de fãs pelo mundo inteiro. Certas partes terem ficado de fora, pois ele sabia que a maior parte da plateia iria procurar uma batalha entre o bem e o mal.
Mais impressionante ainda, é que esta é uma história feita à moda antiga. A mesma Hollywood que décadas atrás fazia filmes inocentes e mágicos como O mágico de Oz, hoje realiza filmes como Gladiador. Ainda que tenha se mantido fiel ao material original, a verdade é que não é possível realizar um filme hoje em dia que não siga os novos padrões. É um filme repleto de efeitos especiais, muita ação de tirar o fôlego e aventura. A adaptação segue a história a alterando para dar mais emergência ao filme, assim como cenas de ação foram extendidas. Consequentemente, mais correria e batalhas.
Uma coisa permanece inalterada. Os heróis da história são hobbits. Eles possuem características que fazem com que pareçam as mais improváveis criaturas para viverem ma aventura. Parecem seres humanos, mas são bem menores, fazem cerca de oito refeições diárias, tiram sonecas durante o dia e nunca se afastam do lugar onde vivem. Por outro lado, são perfeitos para esse caso, pois tem um bom coração. O único porém, é que a forma com que foi filmado para que eles pareçam pequenos, interfere um pouco nas cenas.
Se é possível que alguém ainda não conheça a história: se trata de um jovem hobbit chamado Frodo (Elijah Wood) que recebe de herança do seu tio um anel que é na verdade de grande poder e pode jogar o mundo inteiro (nesse caso, a Terra-Média inteira) nas trevas sob o julgo do maligno Sauron. Frodo irá porque é um dos poucos que consegue se mantar alheio ao poder que o anel exerce, e para acompanhá-lo, se juntam magos, humanos, elfos e anões.
No livro, a história era menos sobre batalhas e mais sobre as aventuras do nosso pequeno herói fora de  lugar. Seu cotidiano inteiro é modificado. Ele não só sai da sua zona de conforto, como conhece diferentes e mágicos lugares, pessoas e diferentes "entidades". Quando necessário, havia uma pausa para poemas e músicas, coisas que o filme infelizmente não tem tempo para mostrar. 
É uma produção fantástica que Jackson abraçou com paixão. Deve ter agradado muitos fãs e não fãs, foi indicado a Oscars e levou 4 estatuetas para casa (fotografia, efeitos, maquiagem e trilha sonora). Uma pena que: 1. a saga de Frodo fique reduzida para agradar as plateias que possa se interessar mais por outros personagens, afinal vale lembrar que são protagonistas e em determinados parecem muito mais coadjuvantes. Não estivesse Frodo carregando o anel, talvez fosse cortado do filme.; 2. toda a Terra-Média e a jornada sejam muito mais interessantes na minha imaginação. Que queira dar ênfase aos perigos da jornada é uma coisa, mas será que não há uma maneira de escapar que não seja por um triz? Que não seja no último segundo?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ENTRE O AMOR E A PAIXÃO - TAKE THIS WALTZ

NOTA: 7.
- Eu tenho medo de ficar entre dois lugares.

Margot (Michelle Williams) conhece Daniel (Luke Kirby) durante uma viagem que está fazendo à trabalho. Ela é uma escritora freelancer de Toronto. No voo de volta pra casa, numa coincidência, eles viajam de volta um do lado do outro no avião. Não apenas eles moram na mesma cidade, mas como descobrem, depois de dividirem um taxi, que são vizinhos. Daniel mora do outro lado da rua de onde Margot vive com seu marido, Lou (Seth Rogen).
Em alguns momentos, o filme parece que vai tomar parte em alguma realidade mágica, tal qual Wes Anderson realiza tão brilhantemente em seus filmes, mas este filme nunca tira o pé da realidade e eu começo a me perguntar como Margot e Lou podem manter uma casa numa vizinhança de casas tão agradáveis, principalmente se considerarmos que Lou está há anos preparando um livro de culinária e aparentemente sem ganhar um tostão sequer. Pior ainda, como Daniel mantém sozinho sua casa se seu trabalho é empurrar um carrinho pelos pontos turísticos de Toronto.
Coincidências e improbabilidades à parte, Margot fica indecisa entre os dois. Lou é simpático e agradável, e parece a amar muito, apesar de não ser uma pessoa muito passional. Daniel por outro lado parece mais apaixonado e é mais sensível também, e o mais importante é que é novidade, enquanto ela já sabe tudo o que precisa saber sobre Lou. Ela não quer trair, e ao mesmo tempo não quer desistir da novidade que Daniel pode lhe oferecer.
Daniel, por sua vez, trabalha furtivamente e de maneira eficiente. Em nenhum momento ele realmente investe em Margot. Ele fica à espreita, mostrando a ela que está interessado e disponível, enquanto espera que ela venha ao seu encontro. Por outro lado, Lou é extremamente ingênuo de acreditar que nada pode atrapalhar seu casamento, que parece mais e mais fadado ao fracasso. Se eles continuam juntos, é porque deve haver amor ali, mas infelizmente nem sempre amor é suficiente.
Não há como termos um final feliz aqui. Alguém, ou talvez todos, vão se machucar. E um grande acerto da diretora Sarah Polley, é que o filme em momento nenhum se torna depressivo ou melodramático. Polley conduz seu filme com muita música e um visual muito colorido. Acrescenta também personagens coadjuvantes interessantes, em especial Geraldine (Sarah Silverman), como a irmã alcoólatra de Lou.
Ainda que tenha os dois pés na realidade, o filme ainda consegue encantar por conta de seus intérpretes. Williams ganha nossa empatia desde o primeiro frame por simplesmente ser adorável do jeito que é ainda que o filme tente a deixar feia. E ganha também por apresentar relações que podem fazer muitas pessoas na plateia se identificarem com alguma relação que já tiveram. Em um momento, o filme parece ter acabado, e teria sido melhor se tivesse acontecido naquele momento. Mas talvez Polley queira mostrar que, assim como a relação mostrada no filme, nem sempre as coisas terminam quando deveriam.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

NA TERRA DE AMOR E ÓDIO - IN THE LAND OF BLOOD AND HONEY


NOTA: 6.
- Você não é uma prisioneira se quiser permanecer aqui.

Não sei o quanto as pessoas sabem sobre a Guerra da Bósnia. Eu confesso que não sou nenhum expert no assunto. É uma guerra étnica? Religiosa? Questão territorial? O grande interesse do filme é, na verdade, mostrar um casal de vizinhos que se conhecem, tem um encontro agradável, flertam uns nos braços dos outros até que uma bomba explode. Em 1992, eles dormem e acordam no dia seguinte em lados opostos da guerra.
Nem sempre filmes de uma guerra pouco conhecida do público atingem o público. Guerra ao terror, foi lançado aqui direto em vídeo, e somente depois de ser indicado ao Oscar foi lançado nos cinemas. Por isso sinto que devo dar os parabéns a Angelina Jolie pela coragem de escrever e dirigir este filme, sua estreia na direção. Para começar atrás das câmeras, escolheu uma questão que a preocupa. Talvez muitos pudessem escolher filmes que trouxessem notoriedade, mas ela escolheu uma "causa".
Depois do incidente com a bomba, a guerra começa rápida e Jolie a mostra impiedosamente. O casal é mostrado em outra realidade. Ele é Danijel (Goran Kostic), um policial que se transforma num dos líderes do exército sérvio-bósnio. Ela, Ajla (Zana Marjanovic), uma muçulmana que pinta quadros. Ela é posta junto de muitas outras mulheres dentro de um ônibus onde chegam numa espécie de campo de concentração. As apresentações terminam com o estupro de uma mulher por um soldado na frente de todos.
Tecnicamente, Ajla nasceu no mesmo lugar que os soldados, mas como é muçulmana passa a ser odiada. Ao mesmo tempo, durante todo o filme vemos estupros sistemáticos realizados pelos soldados. De alguma forma, o estupro é uma ferramenta de guerra. É uma violenta dominação das mulheres e não apenas questões étnicas, religiosas ou territoriais. Danijel salva Ajla de ter o mesmo destino das outras mulheres e ambos começam um romance.
A questão é se Danijel a salvou por ser uma pessoa boa, ou por simplesmente querer exclusividade, principalmente tendo em vista o que acontece depois. Assim como não sabemos se ela realmente gosta dela ou apenas considera ser mais seguro trocar sua segurança por sexo.O pai de Danijel é o general, e explica o quanto seu povo sofreu nas mãos dos muçulmanos. Apesar de vermos seu exército cometendo as piores atrocidades, o que me parece é que cada lado tem as vítimas e do outro lado ficam os algozes cruéis. E no meio disso tudo, o problema é que o filme centra todo o filme nesse melodrama entre o casal.
É um filme que me comoveu e prendeu minha atenção por quase todo o tempo, mas mais por mostrar a crueldade que se acontece em guerras do que pela história em si. Há toda uma guerra acontecendo, e pouco a vemos por estarmos acompanhando um doentio romance de pessoas que não deveriam estar se relacionando. E este romance pouco serve como metáfora para a guerra. O filme se torna mais interessante quando acompanhamos alguns poucos momentos da irmã de Ajla, que é quando acompanhamos a verdadeira loucura do que acontece. Pena que parece pouco em relação ao todo.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

UM TIRA ACIMA DA LEI - RAMPART


NOTA: 9.
- Tenha em mente que eu não sou racista. Eu odeio todas as pessoas igualmente.

Woody Harrelson interpreta um policial em uma delegacia que ficou conhecida em 1999 por ter uma quantidade absurda de policiais corruptos. Pode-se pensar que ele aprendeu com isso, mas o fato é que ele é um policial tão corrupto quanto os de 99. Talvez até mais. Co-escrito por James Ellroy, cujas obras já renderam diversos filmes policiais, o interessante é observar que ele não é um policial que se junta a outros para ser corrupto. Estar em Rampart ou em outro lugar não faria diferença. Ele é uma força de corrupção autossuficiente. 
Talvez haja um motivo para ele ser corrupto do jeito que é, mas o mais interessante é observar que o filme não produz respostas para isso. Diferente dos demais filmes, nosso "herói" não está precisando de dinheiro, não está correndo atrás de luxo e não está atrás de qualquer tipo de vingança, seja contra um grupo de pessoas ou mesmo "contra o sistema". Ele faz o que faz porque simplesmente é uma pessoa sem nenhum instinto moral dentro de si.
Ele é racista ao extremo e procura ter relações com mulheres apenas para fins sexuais. Tanto é que casou com duas mulheres que são irmãs e as colocou morando em casas vizinhas, onde fica com as filhas que tem, uma de cada casamento (as meninas são irmãs e primas ao mesmo tempo). Aparentemente, a única relação de afeto seriam com as filhas, tanto que se diz que ele matou um estuprador por conta desses sentimentos com as filhas. Mas vendo o filme, fica difícil de acreditar que isso seja verdade. É mais provável que ele tenha matado o homem porque simplesmente ele queria matar alguém. Ou talvez porque o estuprador fosse negro.
De qualquer forma, Brown (Harrelson) faz a última coisa que a delegacia precisa: ele é filmado espancando um negro no meio da rua. Ele até tem motivo para se defender, mas em nenhum momento ele parece querer acabar com o ato de agressão. Pelo contrário, parece mesmo é que ele sente prazer de estar realizando aquele "trabalho". Não parece haver escapatória para ele. É o bode espiatório ideal para  a assistente da promotoria (interpretada por Siourney Weaver), tem um caso frustrado com a defensora (Robin Wright) e insulta racialmente o policial negro que o está investigando (Ice Cube). Mesmo outras pessoas corruptas se afastam dele.
Harrelson é ideal para este tipo de papel. Ele é capaz de fazer seu personagem parecer de um jeito e levar a plateia a descobrir que é de outro totalmente diferente. Esse é a segunda vez que trabalha com o diretor e roteirista Oren Moverman. Em O mensageiro, ele treinava um jovem no ofício de dar notícia à famílias de soldados mortos. Seus ensinamentos diziam para manter afastamento emocional, mas acabamos descobrindo que ele tinha sentimentos no final das contas. Ter um ator como ele em um papel como esse, apenas enriquece os filmes. Afinal, aqui ele pode ser realmente amoral e sem sentimentos? Talvez ele possa. Talvez ele simplesmente seja assim e pronto.
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