sexta-feira, 31 de agosto de 2012

INTOCÁVEIS - INTOUCHABLES


NOTA: 6.
- É porque é a única coisa que o homem deixa de legado.

Grande sucesso do cinema francês em 2011, este filme parece na verdade uma refilmagem de um filme americano. À primeira vista, me lembrou Conduzindo Miss Daisy, exceto que ao invés de dirigir um carro, o ajudante, negro, empurra uma cadeira de rodas. Com a convivência, o "branco rico" aprende com seu ajudante mais humilde lições valiosas sobre a vida e a maconha. Tirando a parte da erva, o resto é uma história que vem sendo contada de tempos em tempos.
Seu sucesso não é por acaso. É um filme fácil de ser apreciado. O milionário Philippe (François Cluzet) somente consegue mover a cabeça depois de um acidente de para-quedas. Driss (Omar Sy) está em condicional e se candidata ao cargo para tomar conta de Philippe apenas para poder comprovar que está procurando um emprego e ficar recebendo seus benefícios. Depois de acompanharmos inúmeras entrevistas maçantes, percebemos que o que o homem quer não é apenas alguém capaz de cuidar de seu corpo, mas também de animá-lo em espírito.
Driss é uma companhia revigorante e diferente do que Philippe está acostumado. Segue-se então a história que mostra o surgimento de uma grande amizade entre os dois. Driss parece ter confiança que Philippe irá melhorar se ele o tirar daquela vidinha monótona que ele leva. Se faz bem ou não fisicamente eu não sei dizer, mas com certeza acompanhar o estilo de vida de Driss faz com que ele fique mais feliz. Ainda será milionário e cercado de uma equipe que cuidará dele, mas mais feliz.
Como acompanhante, Driss tem uma rotina a seguir, dando banho, vestindo, medicando entre outras coisas. Mas há uma outra questão. O paciente está diante de uma realidade difícil de aceitar. Ele está privado de levar sua vida como está acostumado. Até mesmo pequenos gestos como abotoar uma blusa está em uma outra realidade. A mulher de Philippe morreu e sua filha está distante, enquanto sua equipe parece mais preocupada com seus salários. Driss se encaixa em uma categoria totalmente diferente.
Se há uma coisa que não falha no filme, é seu elenco. François Cluzet faz um ótimo trabalho utilizando somente sua voz e sua expressão facial. Me lembrou um pouco o trabalho maravilhoso do também francês Mathieu Amalric em O escafandro e a borboleta, onde ele utilizava apenas um olho. Ambos conseguem passar grande emoção utilizando muito pouco e com resultados impressionantes. Já Sy consegue contrastar bem sendo expansivo e muito adorável.
O que funciona neste tipo de filme, é a elevação dos personagens. Geralmente, enquanto eles vão ficando bem, a plateia também vai se sentindo bem. E neste sentido, os diretores e roteiristas fazem um trabalho muito bem feito, mas o problema é que no final das contas o filme todo é baseado em estereótipos raciais. Está certo que em Miss Daisy acontece a mesma coisa, mas é um filme que se passa em outra época e com personagens mais velhos que viveram tempos diferentes. Aqui temos uma história moderna que poderia ter seguido novos rumos.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O VINGADOR DO FUTURO - TOTAL RECALL


NOTA: 7.
- Se eu não sou eu, então quem diabo sou eu?

Refilmagem de um filme de 1990 estrelado por Arnold Schwarzenegger, o filme original contava com cenas em Marte. A diferença aqui é que ninguém vai para Marte e sai o eterno Exterminador para entrar Colin Farrell em seu lugar. Apesar de eu gostar das cenas de Marte onde os atores ficam com falta de ar, este filme tem suas razões para certas alterações.
Não há dúvida que Colin Farrel é melhor ator que Arnold Schwarzenegger, mas para este tipo de filme eu acho que não seja uma boa substituição. Arnold pode não ser capaz de grandes nuances, mas parece ser melhor para estrelar filmes assim. Em ambos os filmes, o personagem Quaid acorda todas as noites depois de um pesadelo. Acorda para uma vida de insatisfação ao lado da sua mulher (Sharon Stone no original e Kate Beckinsale aqui), até descobrir que toda sua vida é uma farsa, e que ele teve memórias implantadas e que na verdade é um agente secreto.
Inspirado em um conto de Philip K. Dick (Blade Runner), a história (um tanto quanto ingênua) é bem realizada nas duas versões, cada uma em sua época. Quaid fica perdido e confuso durante quase todo o filme, sem saber em quem acreditar ou até mesmo de que lado está ou quem realmente é. Em ambos os casos, há cenas de ação constantes, a diferença é que neste novo eu fiquei um pouco incomodado com uma falta de tempo para poder descansar entre uma cena e outra e, acreditem ou não, me importei menos com o novo personagem.
Nesta Terra, somente duas áreas no mundo podem ser povoadas, o restante do planeta está inabitável por conta de alguma ameaça química. Basicamente, a humanidade só pode viver em Londres e na Austrália. Aqui, ambos continuam como colonizados e colonizadores. Quem mora em Londres tem melhores condições enquanto quem mora na colônia parece fadado a trabalhos mais braçais. Somente há um transporte entre os dois lugares, que passa pelo centro da Terra. Quaid vai andar por estes lugares numa trama envolvendo um rebelde e uma mulher que pode ser o amor da sua vida (ou não), interpretada por Jessica Biel.
O filme tem um visual muito interessante, com cidades criadas de modo a serem tanto funcionais quanto esteticamente espetaculares. Tanto a organizada Londres quanto a superpovoada Austrália. Em ambos os lugares, Quaid corre de um lado para o outro pulando e se jogando sem quebrar um osso do seu corpo em inventivas perseguições, que cansam um pouco depois de um tempo. Nada que estrague muito o filme. É um filme com energia e ideias interessantes (como geralmente acontece nos filmes inspirados em obras de Philip K. Dick). Emocionalmente, o filme não prende muito, mas não acredito que esta tenha sido a intenção dos realizadores.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O DITADOR - THE DICTATOR


NOTA: 8.
- Por que são contra ditadores? Se América fosse assim, 1% das pessoas deteriam as riquezas do país. Vocês poderiam ignorar as necessidades dos pobres em relação a saúde e educação. Sua mídia só pareceria ser livre. 

Sacha Baron Cohen já havia "assustado" a América ao lançar seu Borat, e vendo os trailers deste filme fiquei com um certo receio de que o filme fosse apenas mais do mesmo, mas felizmente este não é o caso. O que Cohen está fazendo é se estabelecer como melhor ator cômico da atualidade, enquanto ao mesmo tempo critica duramente a política americana. Parte deste discurso está acima, mas há muito mais nesta comparação entre o país com ditadura e a democracia deles.
Tendo dito isso, é bom dizer que o filme é cruel, obsceno, escatológico, de mau gosto e vulgar, mas também muito engraçado. Comparando este filme com Borat e Bruno, nos vemos diante de um filme mais tradicional do ator. Tem uma história tradicional a ser seguida e até mesmo romance. Isso não quer dizer que seja aconselhável para o grande público, mas pelo menos realiza bem sua função. Por sua curta duração, ele começa, nos faz rir e termina.
Cohen é General Aladeen, um ditador de uma nação na África chamada Wadyia. Ele tem dezenas de carros esporte guardados na sua enorme e luxuosa mansão vigiada por um pelotão formado de maravilhosas mulheres que lhe "ajudam" a dormir. Além disso, ele é capaz de pagar pela companhia de mulheres como Megan Fox e, segundo as fotos que são mostradas depois, de Kate Perry, Kim Kardashian, Arnold Schwarzengger, Oprah entre muitos outros.
Um de seus conselheiros é Tahir (Ben Kingsley), seu tio e o verdadeiro herdeiro do trono. Tahir tem um plano de tomar o poder assassinando Aladeen. Quando o plano dá errado, ele convence o ditador a fazer um discurso para as Nações Unidas onde seu esquema pode dar certo. Ele contrata um segurança (John C. Reilly) que raspa a barba de Aladeen mas acaba não terminando a tarefa. Enquanto é substituído por um dublê, vaga pelas ruas de Manhattan tentando descobrir como fazer para voltar ao trono.
Ele acaba encontrando um possível caminho através de uma dona de restaurante natural, Zoey (Anna Faris), que acredita que seja um refugiado político de Wadyia. Como ela é feminista, isso dá pano para manga para piadas contra o próprio feminismo, vegetarianos e imigrantes por conta dos empregados que ela tem na loja. Embora o filme acabe seguindo para o assassinato e romance, sobra bastante espaço para um humor anárquico que algumas vezes lembra os filmes dos irmão Marx. 
É um filme com mais bom humor que os anteriores. Não acredito que a intenção de Cohen seja se tornar popular e amado pelas plateias. Este é o mais ofensivo dos três filmes. Ao mesmo tempo espero que ele continue exatamente assim: anárquico, crítico, ofensivo e muito engraçado.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A PELE QUE HABITO - LA PIEL QUE HABITO


NOTA: 8.
- As coisas que o amor de um louco pode realizar.

O que se pode esperar de um filme do diretor (e roteirista) espanhol Pedro Almodóvar? Perversão sexual, viradas no plot da história que mistura indas e vindas entre o passado e o presente. Tudo com uma fotografia linda que ressalta as cores brilhantes que o cineasta usa. Neste filme, todos os ingredientes estão no seu lugar, o que não chega a ser um desapontamento, mas também o filme não chega a empolgar muito.
Alguns filmes de terror antigos costumavam mostrar um cientista louco, pedaços de corpo, pessoas capturadas e uma vingança oculta. Acontece que, geralmente, esses filmes costumavam ter um pé fora da nossa realidade e um certo senso de humor. Quando vemos esses tipos de filmes, nunca consideramos que isso possa acontecer no "nosso mundo". Já Almodóvar faz o seu filme tão intenso que nos leva a crer que essa história bizarra deve ser levada a sério. 
O cientista louco nessa história, é Robert Ledgard, interpretado por Antonio Bandeiras em um momento de rara inspiração e intensidade. Uma tragédia aconteceu com ele, e sua loucura vem, na verdade, da sua dor. Seu coração está despedaçado, e ele acaba usando outras pessoas para reparar o mal que lhe aconteceu. É como se ele tivesse o direito de fazer isso. E como se as pessoas tivessem que se sacrificar para seu próprio bem.
Desde a abertura do filme, o vemos observando a bela Vera (Elena Anaya), que é uma prisioneira dentro da casa. Casa não, uma mansão em Toledo. De maneira geral, ela tem todos os luxos que uma pessoa pode ter, o que inclui livros, TV e sessões diárias de pilates (ou algo do gênero), com exceção da sua liberdade. Já que sequer ela possui os meios de se suicidar, é difícil pensar em muitas opções para sair desta situação.
Não falarei mais nada da história do filme, para não estragar surpresas que vão acontecer. Almodóvar usa as cores com tanta intensidade e de forma tão bela, que não chega a combinar muito com a história a ser contada no filme. Assim como o filme carece um pouco de química entre seus personagens. Sabemos que Vera quer seduzir Robert (talvez a única escapatória que ela consiga pensar), mas não sentimos que isso vai realmente acontecer.
A nota é mais pela habilidade de conduzir as cenas de maneira magistral como só o diretor é capaz de fazer do que pelo filme como um todo. Provavelmente, a história  expressa exatamente o que Almodóvar gostaria de ter contado, só me resta perguntar se os trailers me prepararam para decidir se queria ver ou não. E não acho que se tivesse tido a escolha, teria aceitado a assistir.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

OS BRUTOS TAMBÉM AMAM - SHANE


NOTA: 10.
- Uma arma é uma ferramenta. Ela não é melhor nem pior que o homem que a usa.

A grosso modo, a história desse filme é sobre um herói com boa índole vivendo no duro mundo quase sem lei do velho oeste. É nesse mundo que ele ajuda um fazendeiro e se manter nas suas terras, onde um homem rico contrata mercenários para tirar todos os moradores da região. Mais profundamente, a história vai além disso. Não resta muitas dúvidas que o herói, Shane, e a mulher do fazendeiro nutrem uma espécie de atração um pelo outro, fora isso o filho do casal tem grande admiração por ele.
Isso não quer dizer que uma grande verdade está escondida na história do filme. Apenas significa que o filme trabalha em diferente níveis de complexidade, com alguns pontos deixariam até mesmo Freud intrigado. Mas também, é um filme sobre um pistoleiro que pretende deixar seu passado para trás. Assim como também é um filme onde alguém tem que se levantar contra o vilão, e esse homem tem que ser ele. Assim como, assim que ele se levantar, terá que abandonar a cidade pelo que fez. Ainda que o que tenha feito não esteja errado. Por essa história "simples", o filme teve 6 indicações pro Oscar (incluindo melhor filme), mas se o filme fosse apenas isso ele teria envelhecido mal e não mereceria grande destaque. 
Alan Ladd é uma escolha curiosa para estrelar o filme. Ele era muito bem apessoado e de baixa estatura, e na maioria dos seus filmes era filmado de modo que parecesse muito maior do que realmente é com um jeito sempre durão. Aqui, a coisa muda. Ele realmente parece pequeno diante dos outros, com atores que fazem até mesmo que ele pareça menor do que realmente era. E seu visual contrasta tanto que chega-se a pensar que ele era efeminado neste filme. Olhando assim, não parece que ele é páreo para cuidar dos capangas.
Como em muitos filmes de faroeste anteriores e posteriores a esse, aqui terminamos com um grande tiroteio dentro do bar. Isso não é surpresa alguma. A surpresa é que há muitos diálogos de grande profundidade até chegarmos na grande cena. Os moradores do lugar, não são homens de ação, como pode-se achar. Eles são pessoas comuns que tentam resolver seus problemas de maneira civilizada, ainda que não estejam num lugar civilizado.
Talvez eles até pudessem encontrar uma maneira civilizada de resolver a situação, mas um pistoleiro chega por lá e mata um dos homens. O pistoleiro, Wilson (Jack Palance), é muito habilidoso e pouquíssimos homens parecem ser páreos a ele. O filme, assim, é construído pelo fato que Shane terá que enfrentar o pistoleiro e o resto dos capangas. E assim, ele terá que partir por ter matado pessoas (um fato que ele diz que marca alguém para sempre) e também por não encontrar uma solução para sua situação com a mulher do fazendeiro. Talvez ele pudesse deixar que o homem fosse pra cidade pra ser morto, mas tanto ele quanto a mulher tem muita consideração por ele para deixar isso acontecer.
Isso tinha que acontecer dessa forma, e além disso talvez ele quisesse que acontecesse dessa forma. No início do filme, Shane chega na fazenda para tomar água. Talvez ele fosse somente passar pelo lugar, mas o homem rico e seus capangas chegam para arrumar problema e Shane vai ficando na casa, mesmo sabendo que eventualmente tudo vá terminar da maneira que terminou. É possível que ele já tenha passado por isso tudo antes. Talvez ele faça porque aguenta enquanto outros não. Talvez ele goste da violência, ou talvez sejam as mulheres. A resposta é incerta e intrigante, o que ajuda o filme a ser um dos melhores do gênero.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE - THE DARK KNIGHT RISES


NOTA: 9.
- Nós estávamos nisso juntos, e então você sumiu. Agora com essa maldade, Batman deve retornar.

Os dias dos filmes dos super-heróis convencionais ficaram para trás. Christopher Nolan elevou o gênero a um novo patamar com um filme que poderia se passar em um futuro apocalíptico ainda que não pareça muito diferente de algumas notícias que temos nos jornais dos dias de hoje. É nesta Gotham City ameaçada por um terrorismo que praticamente destrói a cidade inteira que Bruce Wayne deve sair da sua aposentaria e reclusão para retornar ao uniforme de Batman, que é provavelmente a única chance de derrotar esse terrível mal.
O resultado é um filme muito ambicioso para concluir a trilogia mas que infelizmente acaba não superando o filme anterior. Pra minha surpresa, este novo filme peca na falta de duas coisas que fizeram grande diferença antes: um pouco mais de humor e mais Batman. No segundo filme, o vilão Coringa, brilhantemente interpretado por Ledger, ainda que fosse um psicopata apresentava humor à trama, ao contrário do sempre sisudo Bane interpretado por Tom Hardy. Fora que a máscara que cobre sua boca tira grande parte de sua personalidade. E Batman parece um coadjuvante em seu próprio filme. Ainda que vejamos bastante Bruce Wayne durante a trama, o herói faz apenas algumas participações antes do clímax do filme.
Bane evoca um homicida que segundo nos é dito, é "mal puro". O problema é que é tão misterioso que fica difícil de saber o que realmente o motiva. O que tem de comum com o Coringa, são os planos meticulosamente planejados e que parecem à prova de falhas, mas que nunca parecem visar algum lucro. Apesar de ser o menos carismático dos novos vilões de Batman, ele deve igualar em tempo de aparição nas telas com Batman e Bruce Wayne juntos.
Ainda bem que o filme é grande o suficiente para introduzir um novo policial chamado Blake (Joseph Gordon-Levitt), dois interesses românticos para Wayne e bastante tempo para os ótimos regulares da série, como Lucius Fox (Morgan Freeman), Gordon (Gary Oldman) e em especial o mordomo Alfred (Michael Caine), extremamente eficaz nas cenas de maior emoção do filme e roubando a cena. Dos interesses românticos, temos a sempre enigmática Mulher Gato (Anne Hathaway) e Miranda Tate (Marion Cotillard), como uma milionário que tenta reerguer as empresas Wayne depois de um golpe de Bane.
A introdução de tantos personagens, porém, faz com que o filme acabe se alongando um pouco na primeira metade do filme, e me fez perguntar em certo momento o que cada personagem estava fazendo. Mas apesar de começar um pouco "lento", na verdade tudo é apenas uma preparação para o espetacular segundo ato do filme, que inclui a prisão onde Bane foi criado e uma guerra urbana para decidir o futuro de toda a cidade.
Apesar disso, é preciso enaltecer o trabalho feito pra essa trilogia. Não me lembro de outro caso em um super-herói tenha alcançado três ótimos filmes, já que geralmente no terceiro as coisas parecem dar errado por alguma razão. Aqui temos um filme sombrio e pesado que vai ao limite do que um herói parece ser capaz de suportar. Como disse, pode não ser tão bom quanto o filme anterior (que é, para mim, o melhor filme de super-herói já realizado), mas com certeza é um final maravilhoso e bastante tenso para uma trilogia fantástica.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

TRANSFORMERS: O LADO OCULTO DA LUA - TRANSFORMERS: DARK OF THE MOON



NOTA: 1.
- Afinal, nós não estamos sozinhos. Estamos?

Há um motivo para estar postando uma resenha sobre este filme depois de tanto tempo da sua estreia. Eu não sou fã dessa série e nada que vi antes de seu lançamento me impulsionou a ir assisti-lo em um cinema. Este terceiro filme é visualmente feio, tem uma história que não faz sentido algum e personagens pobres que não conseguem produzir um diálogo que chegue a ser levemente interessante. Com certeza é uma das piores experiências, se não a pior, que tive ao assistir um filme esse ano.
A série continua existindo para mostrar um monte de robôs se arrebentando e é exatamente isso que é entregue. A cena final é sobre uma enorme batalha que envolve o universo inteiro mas que inexplicavelmente acontece nos EUA, em Chicago para ser mais preciso. É uma cena longa, barulhenta além do limite, e incompreensível como estes filmes costumam produzir. Novamente Autobots e Decepticons entram em combate e sequer conseguimos distinguir quem está vencendo a batalha.
Há mais história que havia no filme anterior, mas este também (produzido durante a greve de roteirista de Hollywood) não levantou um padrão alto. Aqui aprendemos que a primeira missão à lua teve um motivo oculto: a verdadeira missão era procurar uma nave que caiu no lado escuro. Ao que parece, a nave estava tripulada por um robô que estava vindo para nosso sistema solar para que os outros robôs bons pudessem lutar contra os maus.
Claro que o assunto acaba envolvendo os humanos, entre eles Sam Witwicky (Shia LaBeouf), que apesar de ter salvo o mundo duas vezes trabalha como mensageiro de uma empresa. E abre espaço para outros personagens, como uma nova namorada sexy, que nada acrescenta ao filme e somente existe porque este tipo de filme parece exigir que ela seja sexy. Mearing (Frances McDormand), uma oficial do governo; Brazos (John Malkovich, o único a dar graça ao filme) como o chefe de Sam; Dylan (Patrick Dempsey) como o chefe da namorada; Simmons (John Turuturro) que aperece por ter atuado nos filmes anteriores e dois soldados (Josh Duhamel e Tyrese Gibson). Agora vem a melhor parte: NENHUM desses personagens é necessário para a trama. Então fica a pergunta: por que ter tantos? 
O filme é sobre uma guerra entre robôs enormes e com armas muito mais avançadas que as nossas. E principalmente, com vozes que parecem totalmente deslocadas de seus personagens. Eu vejo suas bocas se mexendo, mas é como assistir a um filme com uma dublagem ruim. A coisa somente piora quando observamos o conteúdo do que eles falam. 
Nada, porém, é pior que um filme sem nenhum senso de narrativa. A edição é um desastre. O principal objetivo da edição é deixar claro porque um plano segue o anterior, e ao mesmo tempo fazer com que os cortes não sejam percebidos pelo espectador comum. E aqui, a missão do editor falha absurdamente. O único objetivo da montagem é juntar efeitos especiais em sequência, e se for apenas isso parece que o espectador deve agradecer por ter tantos efeitos especiais.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O SÉTIMO SELO - DET SJUNDE INSEGLET


NOTA: 100.
- Eu devo lembrar desse momento.

Ingmar Bergman é um desses diretores que coleciona obras primas, e esta pode ser a maior delas. Ou pelo menos é uma das mais conhecidas. A história chegou a ser parodiada e é muito reverenciada. Com todos os motivos para isso, claro. É a história de um cavaleiro retornando das cruzadas em um barco onde quase todos morreram pela praga. A Morte vem ao seu encontro para buscá-lo, mas ele a convence a jogar xadrez. Se ele vencer, não morrerá, se perder, pelo menos permanecerá enquanto o jogo ainda estiver acontecendo.
Em uma cena, o cavaleiro chega a uma igreja e vai se confessar. Ele faz sua confissão abrindo sua alma. De certa forma, ele parece querer entender porque certas coisas acontecem. Ele queria poder falar com Deus, ou pelo menos gostaria de entender porque as coisas estão tomando um caminho tão sombrio. De repente, a figura para quem está se confessando se vira e revela ser a Morte, ouvindo a tudo, inclusive as estratégias do jogo de xadrez que estão jogando. Infelizmente, imagens como essa não tem mais lugar no cinema moderno. Como ele sabe que a Morte gosta de xadrez? Ele faz parecer como se isso fosse de conhecimento geral, e em nenhum momento chegamos até a estranhar.
Não. O cinema de hoje em dia tem grande comprometimento com o "real". O filme de Bergman tem muito mais a ver com os filmes mudos do que com os outros filmes de sua época, e menos ainda com os filmes que vieram depois. E eu incluo os filmes do próprio diretor a essa lista. Um filme que "fala" do silêncio e da ausência de Deus.
Muitos filmes falaram sobre Deus, mas poucos tiveram a coragem de falar de maneira tão direta sobre o assunto. Em quantos filmes vemos um homem jogando xadrez contra a própria morte? A imagem é tão perfeita, tão emblemática, que consegue sobreviver a inúmeras paródias. A coragem do diretor vai além quando ele não termina o filme com um clímax, como é de se esperar. Ao invés disso, somos agraciados com uma imagem tão ou mais poderoso que o jogo de xadrez, e que provavelmente vai ficar na mente de qualquer pessoa que assistir.
O filme ainda usa a praga como forma de mostrar comportamentos extremos. Ninguém age de maneira comum. As pessoas são más com quem podem ser. O cavaleiro passa por uma mulher que está acorrentada esperando para morrer queimada na fogueira, Aparentemente, ela teria dormido com o demônio, o que teria atraído a peste para o mundo. O cavaleiro aproveita para conversar com ela, afinal se ela teve contato com o diabo, isso pode significar que ela tenha conhecimento de Deus. Mas ele não consegue ver nada além do vazio dos olhos da mulher. Não há resposta para esse homem.
A praga parece representar todos os medos dos homens, talvez por isso acabe fazendo surgir o que de pior há na humanidade. Os únicos que demonstram amor é o casal de atores e seu filho ainda pequeno. Todos interpretados com uma maestria impressionante, liderados pelo não menos brilhante Max Von Sydow. O elenco forte só serve para engradecer ainda mais este filme maravilhoso e fascinante.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...