terça-feira, 24 de julho de 2012

UMA VIDA MELHOR - A BETTER LIFE



NOTA: 9.
- Essa é a terra dos sonhos. Pode ser um lugar duro e cruel, mas é onde eu trabalho e onde eu sonho com um lugar melhor pro meu filho.

O filme é sobre um mexicano que está ilegalmente nos EUA e que trabalha como jardineiro nas casas ricas de Los Angeles. Depois de passar o dia inteiro trabalhando, ele volta para sua pequena e humilde casa com um quintal que ele usa para plantar algumas coisas que vai oferecer para a sua clientela. Como vamos descobrir, sua mulher o deixou alguns anos atrás e ele ficou sozinho para criar seu filho adolescente Luis. Ele tenta ser o melhor pai que pode, dando o quarto para o filho dormir enquanto desconfortavelmente passa suas noites no sofá da pequena sala.
A história nesse filme é como pai e filho estão sendo afastados um do outro pela vida nos EUA. O pai Carlos tenta levar sua vida da forma mais discreta possível, trabalhando muito e duro e sempre sem esquecer os velhos valores. Seu filho Luis não parece apreciar o estilo de vida do pai, e está muito próximo de se juntar a uma gangue. Falta a aulas, é suspenso outras vezes e considera o pai um perdedor, talvez por isso irrita o homem sempre que pode.
Carlos trabalha com Blasco que tem uma caminhonete com os objetos necessários para poder cuidar dos jardins. Acontece que Blasco agora tem dinheiro suficiente para voltar pro México e ficar na sua pequena fazenda tranquilamente. Ele oferece a caminhonete para Carlos com as ferramentas e lista de clientes, tudo para que ele continue o trabalho. O problema é que ser parado pode significar a deportação dele. Sua irmã, mesmo temerosa, lhe empresta o dinheiro e ele compra o veículo que acaba roubado no dia seguinte.
A partir desse momento, o filme segue a mesma linha que Ladrões de bicicleta, onde pai e filho vão à procura do que é o sustento da família. Ele acha que pode encontrar se procurar nos lugares certos. A trama chega a ser um pouco óbvia, assim como o filme italiano também era. Mas ambos acertam em cheio com um elenco praticamente perfeito. Principalmente Gabriel Chavarria que interpreta o ladrão do carro. Aqui atingimos uma importante parte do filme onde vemos não um homem ruim, mas sim um homem desesperado tentando ajudar a sua filha.
O filme é dirigido por Chris Weitz, cuja filmografia inclui American Pie e Um grande garoto, mas que dirigiu por último Lua nova, da saga Crepúsculo. Só posso imaginar o quão feliz ele possa estar de realizar um filme como este. Posso estar errado, mas acredito que deva ser um alívio. E talvez por isso ele tenha caprichado tanto e realizado um trabalho com tanto esmero.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS - TINKER TAILOR SOLDIER SPY


NOTA: 8.
- Não somos tão diferentes um do outro. Nós dois passamos a vida procurando fraquezas um no outro.

É assim que acredito que deva acontecer no ramo da espionagem internacional. Nada de grandes cenas de luta, perseguições de carros e grandes explosões. O que temos aqui são homens cansados, fumando e bebendo enquanto conversam incansavelmente sobre um determinado enigma. O enigma aqui é um espião soviético infiltrado dentro do MI6, a inteligência britânica. E, simples como é o filme, o espião não está em algum lugar exótico ou coisa do gênero, mas dentro da sala onde os homens debatem.
O filme é baseado no livro de John Le Carre de 1974, e ao que parece o filme tem um tom autobiográfico. Seu nome real seria David Cornwall, um ex-agente britânico do MI6 que foi um dos traídos por Kim Philby, um espião soviético infiltrado. Nessa versão, os homens são liderados por Control (John Hurt), que estudando uma série de vazamentos de informações conclui que existe um espião e chega a uma lista de 5 suspeitos muito próximos a ele. 
Cuidadosamente, o filme nos apresenta os suspeitos, todos interpretados por conhecidos atores britânicos. Do nome original do filme (Tinker tailor soldier spy), o "andarilho" é Percy Alleline (Toby Jones), o "alfaiate" é Bill Haydon (Colin Firth) e o "soldado" é Roy Bland (Ciarán Hinds). Além disso, temos o "pobre" Toby Esterhase (David Dencik) e o "mendigo" George Smiley (Gary Oldman), o homem de confiança do Control. "Espião", obviamente, é o informante a ser descoberto.
Sem atualizar a história, temos um filme que se passa em londres durante a década de 1970. Descobrimos logo de cara sobre um general húngaro que parece conhecer a identidade do informante. Numa conversa muda entre Control e o tal general, que dá o tom do filme, ele designa Jim Prideaux (Mark Strong) para ir conversar com esse homem. A missão não dá certo e isso serve apenas para alertar os soviéticos. O fracasso causa também o afastamento de Control e Smiley, mas depois que o primeiro morre, Smiley é convocado para encontrar o informante.
O que se segue são inúmeras reuniões em lugares fechados e todas com um nível de paranóia altíssimo, assim como alguns flashbacks que podem ajudar nas investigações de Smiley, apesar de não termos absoluta certeza de que realmente ajudam. Isso tudo filmado através de uma certa névoa (as vezes pode ser fumaça de cigarro) que permeia toda a ação do filme. A câmera segue implacável os personagens se movendo de forma sinistra. Tudo muito eficaz.
O filme é dirigido por Tomas Alfredson, que realizou Deixa ela entrar, o melhor filme de vampiro que temos recentemente, e ele parece acertar em tudo. O único problema do filme, para mim, é o roteiro, que não parece ter conseguido acertar uma forma de resumir a história de forma que ficasse clara. Para total esclarecimento, o filme exige o conhecimento de inúmeros personagens, alguns com nomes complicados, um número ainda maior de acontecimentos e isso sem contar com possibilidades quase infinitas de possíveis acontecimentos. Tudo parece em ordem e no lugar, mas a confusão do roteiro não fez com que o filme funcionasse plenamente para mim.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

13 ASSASSINOS - JÛSAN-NIN NO SHIKAKU


NOTA: 9.
- Sem piedade. Não tem código samurai ou luta limpa em batalha. Sem espada? Use um pau. Sem pau? Use uma pedra. Sem pedra? Use os punhos. Perca sua vida, mas faça o inimigo pagar.

Muitos filmes de ação atualmente pecam pela falta de um vilão que cause interesse. Temos que querer ver o vilão cair para que ele funcione bem, e não temos muitos filmes que causem esse efeito. Aqui nós temos. Um descendente da realeza que cai numa loucura e maldade inacreditáveis. Contra esse monstro, se juntam um bando de samurais para tentar uma missão quase impossível e em uma época em que os verdadeiros samurais se tornavam cada vez mais raros.
O que temos aqui é um ótimo entretenimento. Um ambicioso épico de primeira com grande orçamento e visualmente muito interessante. A parte final do filme é uma batalha impressionante com mais de meia hora e muito inventiva, e ainda melhor porque não é confusa como os filmes de ação costumam fazer hoje em dia. Muitos profissionais podem aprender com isso. Também podem aprender como antes de uma batalha começar, o diretor passa dois terços do filme estabelecendo seus personagens. Nós sabemos quem são e porque agem de determinada forma.
O monstro é Naritsugu, meio irmão do Shogun e cuja crueldade é mostrada em detalhes. Ele se sente no direito de estuprar qualquer mulher que esteja em seu alcance, amputa vítimas e chuta cabeças de vítimas inocentes que decepou. Em protesto, um homem pára em sua frente comete suicídio em frente de todos cometendo. Um protesto contra esse homem, e ainda assim o Shogun pretende promovê-lo para o conselho de guerra. Mas quem se levantaria contra um parente da realeza?
Para corrigir o erro, Doi procura o samurai Shimada e lhe explica a situação. O samurai entende o que deve fazer e então procura 12 outros guerreiros para se juntarem a ele nesta cruzada. O processo é familiar a muitos filmes do gênero, com os homens sendo escolhidos um a um e mostrando cada um deles com suas personalidades e passados únicos, sem contar ainda que um deles deve ser o alívio cômico.
A missão é quase impossível por conta dos números. São apenas 13 guerreiros ao lado se Shimada enquanto o Naritsugu está viajando com pelo menos 200 homens. Claro que a batalha se trata de um ambiente preparado para se transformar em uma emboscada. Esta seria a única maneira com que eles poderiam dar conta de números tão grandes, e como eles tiveram tempo de preparar uma armadilha tão elaborada acaba se tornando uma questão que não deve ser feita. Para assistir um filme como esse, você deve acreditar que é possível e em nada mais.
Os filmes de samurai costumavam ter uma rica história, e aqui os valores são elegantemente resgatados. Os samurais estão se levantando uma última vez pelo seu código tradicional. Uma batalha que termina em muito sangue e, eu acho, poucos efeitos especiais. E tão interessante como todo o resto do filme. Uma aula para os diretores modernos de filmes de ação.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A OUTRA TERRA - ANOTHER EARTH


NOTA: 9.
- Eu vi essa imagem quando era criança. Uma foto de Júpiter tirada pela NASA. Lindo, mas com nada de especial até ser mostrada em uma sucessão rápida. De repente, Júpiter estava vivo. Eu estava hipnotizada.

Este filme tem uma imagem impressionante. Os personagens na Terra, olham para o céu e avistam um novo planeta, muito maior que a Lua e muito parecido com o nosso próprio planeta. A aparição do planeta dá um novo significado para tudo na história, especialmente quando descobrimos que realmente se trata de uma nova Terra, igual a nossa. Ou talvez, uma Terra igual de um universo alternativo ao nosso.
Isso poderia explicar, talvez, a falta de problemas que poderíamos ter com um outro planeta tão próximo ao nosso. Fisicamente falando. Talvez, este planeta não esteja na nossa realidade e apenas podemos vê-lo, mas ele não interfere com o nosso. Mas de certa forma, o outro planeta está lá, e alguma corporação faz um concurso que vai levar uma pessoa da nossa Terra para a outra. A única coisa que precisam fazer é escrever porque deveriam ir.
Claro que um concurso para isso é tão estranho quanto o surgimento da Terra 2 (ou seríamos nós a Terra 2?), mas o filme não precisa se preocupar em ser plausível. Ele se preocupa em explorar outras questões. Temos Rhoda Williams (Brit Marling), uma jovem que está comemorando por ter sido aceita em uma universidade no mesmo dia que a nova Terra começa a poder ser vista a olhos nus. Bêbada, ele se envolve em um acidente de carro que mata uma mãe e filho e manda um pai para o hospital em coma.
Alguns anos depois, ela sai da prisão e tenta reconstruir uma nova vida, longe da realidade de uma faculdade ou coisa do gênero. Ela descobre que o pai, John Burroughs (William Mapother), saiu do coma. Ela sempre ficou devastada pelo acidente, e agora ela procura uma forma de tentar acertar as coisas. Ela vai até a casa dele mas na hora trava e a única coisa que consegue pensar é que foi enviada para limpar a casa dele gratuitamente.
Ele não se recuperou do acidente, vive em uma casa numa zona rural onde vive como um recluso sem cuidar da casa ou de si mesmo. Como acontece em outros filmes, temos aquela relação onde duas pessoas começam a criar uma ligação forte entre eles e apenas um deles sabe que há uma outra relação mais profunda. A diferença é que neste filme podemos começar a pensar nas variações que isso pode ter. E se ela não tivesse bebido? E se não tivesse ouvido no rádio sobre a Terra 2? O acidente é uma série de "se", e se na Terra 2 esses "se" não tenham acontecido?
A forma como o filme junta todas as partes é impressionante. A outra Terra não tem explicações científicas e o filme não perde muito tempo tentando explicar. O mais importante é a relação entre Rhoda e John, que são interpretados de forma tão fantástica que eles fazem com que nos importemos muito com eles, e com essa relação que pode se romper a qualquer momento. Enquanto isso, uma outra Terra nos faz perceber como tudo poderia ser diferente.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O GUARDA - THE GUARD


NOTA: 9.
- Eu sou irlandês. Racismo é parte da minha cultura.

Geralmente, filmes policiais começam colocando dois personagens opostos para trabalharem juntos e este filme não foge muito da regra, mas é muito engraçado perceber como colocam "opostos" em um novo patamar que nunca havia visto antes. Devo admitir que a maior parte disso é pela presença de Brendan Gleeson, que consegue fazer com que pareça que diálogos e histórias não sejam necessários para se fazer um filme. A outra parte é completada pelo eficiente Don Cheadle.
Gleesson é o sargento Gerry Boyle, que começa o filme testemunhando um acidente de carro. Ele vai até as vítimas e procura no bolso deles procurando por drogas, quando acha, guarda em seu próprio bolso. Isso não quer dizer que ele seja uma pessoa ruim, apenas que é um policial ruim. O principal fato que confirma isso é a sua relação com sua mãe que está morrendo em uma espécie de casa de repouso. Percebemos como se amam apesar de xingarem constantemente em suas conversas.
Apesar de ser um policial, isso não o impede de beber em serviço, se encontrar com prostitutas e procurar não fazer muito esforço. Seu trabalho muda quando chega um novo parceiro de Dublin para trabalhar com ele. Boyle não quer um parceiro e certamente a coisa piora pelo fato de o rapaz ser de Dublin. A chegada de um policial "certinho" para trabalhar com ele pode acabar com o estilo de vida de Boyle. 
Ainda pior: há um carregamento de drogas chegando na cidade, no valor de 500 milhões, e o FBI manda o agente Everett (Don Cheadle) para ajudar no caso. Não acho que Boyle seja racista, ele parece mais ingênuo sobre negros e não parece saber a melhor forma de falar com eles. Ou sobre eles. Associando isso ao fato de ele não saber como lidar socialmente com quaquer pessoa de maneira geral, vemos o problema se formando desde o primeiro instante em que os dois se encontram.
Boyle tem uma forma de falar com tanta franqueza que não sabemos exatamente se ele sabe o que está falando e fala por maldade, ou se está apenas dizendo o que aprende assistindo na TV e não tem ideia de que o que está falando é completamente inapropriado. E digo isso porque ele não é apenas assim com pessoas de cor, ele é assim com qualquer pessoa que fuja um pouco do que ele está acostumado a lidar.
O filme não foge do resto dos clichês policiais. Além da "dupla oposta" que se estranha, temos também as fórmulas que costumam funcionar, como "o peixe fora d'água" e "o policial bom e o policial ruim". Não há nada de original na estrutura do filme além das fórmulas, a única diferença é que vemos todas elas com um novo frescor irlandês. E como esse povo é diferente dos americanos que estamos acostumados a ver em filmes.
E como de costume, o filme acaba em um tiroteio no meio de um cais quando os bandidos (entre eles, Liam Cunningham e Mark Strong) estão recebendo o carregamento de drogas. Porém, ao contrário do que estamos acostumados a assistir nos filme atuais, a ação é rapida e eficiente e sem grandes usos de efeitos especiais. Mesmo a cena final é construída em cima dos personagens, e por isso ela funciona melhor que a maioria. É um filme muito melhor do que esperava que fosse ser.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O VAMPIRO - VAMPYR


NOTA: 100.

Carl Theodor Dreyer, que também dirigiu O martírio de Joana D'Arc, se aventura pela primeira a realizar um filme falado. Sua escolha foi fazer um filme de vampiro, e ao fazê-lo ele acabou definindo algumas "regras" que até hoje são usadas em filmes do gênero: sexualidade, erotismo e um efeito de "sonho" que permeia o filme. Mas o que torna o filme mais interessante ainda, é que ele rompeu com a gramática cinematográfica. Ele cria uma narrativa própria para o filme.
Um dos maiores exemplos disso foi o uso das sombras, que de tão espetaculares foram usadas novamente na produção de Copolla Drácula de Bram Stocker. Dreyer nos cofunde com as regras que estabelecem os pontos de vista e continuidade dos planos. O resultado é um filme hipnótico, que mesmo envelhecido continua impressionando muito. Imaginem o efeito que deve ter causado na época? Se leram minha resenha de Joana D'Arc e agora estão lendo essa e não sabem porque Dreyer é um dos cieneastas mais venerados do cinema, esse filme é um bom começo para tentarem entender o porquê dessa veneração.
Precursor de cineastas como Ingmar Bergman, Luis Buñuel ou Andrei Tarkovsky, Dreyer nos entrega um filme corajoso como poucos fariam e, na época, muitos não foram assistir, mas que o transformou num rei dos cineclubes. Ele era um artista original e descompromissado. 
Filmado na França, ele rodava somente durante o amanhecer e somente através de uma forte névoa que permeia todo o filme. O som é obscuro e parece desmaterializado do filme, o que aumenta o efeito de perturbação. Fugindo do que havia feito em D'Arc, Dreyer se valeu de atores ruins ou mesmo de não-atores para o elenco desse filme. Assim como seu protegonista é interpretado pelo próprio produtor do filme. Não importa o que você acha dos filmes de Dreyer, o fato é que gostando ou não você jamais vai esquecer seus filmes uma vez que tenha assistido. Ele é diferente e fazia coisas que até hoje as pessoas comentam.
Temos o protagonista que viaja para uma pequena cidade européia atrás de uma conspiração de vampiros que existe por lá. Ele havia recebido um livro que conta as experiências de um homem com esses seres, e tenta acabar com a praga que existe e ameaça pessoas próximas a ele. 
Falar mais sobre o filme pode dar a falsa impressão que a história é relevante. Tudo é muito instável e nada é realmente explicado. Através do que conhecemos da história, podemos extrapolar muita coisa, mas nada além disso. E não precisamos disso, pois o filme se vale da ilusão. O poder da sugestão é muito mais forte que mil palavras (sim, poderia ser mudo e ainda teria o mesmo impacto). É um filme único não por causa de seu tema, mas pela estranheza que proporciona.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

KARATE KID - A HORA DA VERDADE


NOTA: 10.
- Não existe aluno ruim, somente mal professor. Professor ensina e aluno aprende.

Este é um dos filmes que assisti repetidamente durante a minha infância. Algumas vezes eu assisto um filme dessa época e me arrependo por acabar não gostando do filme hoje em dia. Outras vezes sou surpreendido por grandes filmes como esse, e ainda mais irritado com sua refilmagem. O original mostra uma história doce, bem humorada e que mostra uma das melhores amizades que o cinema produziu. 
A amizade é entre Daniel (Ralph Macchio), um adolescente de Nova Jersey que é obrigado a mudar com sua mãe para Los Angeles, e Miyagi (Pat Morita), um japonês que trabalha como zelador do prédio onde ele mora. Daniel não gosta de ter mudado, e as coisas pioram quando ele começa a se encontrar com Ali (Elisabeth Shue), a ex-namorada do pior valentão do colégio e faixa preta em karate, que em represália começa espancar Daniel sempre que pode.
De início, olhamos para Miyagi e vemos apenas um japonês que parece ser inofensivo com seu jeito calmo e sua baixa estatura. Em uma cena, ele fica sentado tentando pegar uma mosca com um hashi, pois quem conseguir fazer isso pode ser capaz de realizar qualquer coisa. Acontece que ele é um mestre do karate, e diferente do mestre dos bullies, ele também estuda toda a filosofia por trás das artes marciais.
Para acabar com o tormento do menino, ele aceita Daniel como seu aluno e combina com o outro mestre que os dois alunos agora só podem lutar novamente em um campeonato que acontecerá em alguns meses. Usando um método pouco usual de treinamento que envolve lixar o assoalho e encerar dezenas de carros, ele começa a preparar Daniel. Ainda que este ache que está sendo usado para trabalho escravo, há um sistema nos ensinamentos do mestre.
O filme não tem lutas com coreografias espetaculares e eu só posso agradecer por isso. A nova versão me desapontou bastante com seus chutes impossíveis realizados por crianças. Claro que o filme termina com o campeonato e Daniel enfrentando seu algoz, mas o filme é sobre a relação de seus personagens. Da amizade entre o aluno e seu mestre e ainda como bônus a relação dele com Ali. 
Macchio é uma opção interessante como protagonista de um filme como esse. Ele não é bonito, alto ou forte, mas é capaz de dizer suas falas com uma naturalidade impressionante. Nada do que ele diz parece ser decorado. Mas ainda melhor é que o filme tem a presença de Pat Morita, que domina completamente as cenas. Ele é o exemplo de serenidade. Quando ele conversa com o outro mestre, em nenhum momento dá abertura para conflito. Cada palavra parece ser escolhida a dedo. É um personagem tão interessante que sozinho poderia fazer o filme valer a pena. Para a nossa sorte, o filme vai além.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O MARTÍRIO DE JOANA D'ARC - LA PASSION DE JEANNE D'ARC



NOTA: 100.

É impossível fazer qualquer retrospectiva da história do cinema e não mostrar o rosto acima. O rosto pertencia a Maria Falconetti, e este é o único filme que protagonizou. Felizmente para ela, o suficiente para gravar seu nome na história do cinema. Em um tempo em que o cinema não tinha palavras, o lendário diretor Carl Theodor Dreyer usou o rosto da atriz para capturar a essência da personagem e conseguiu com um poder impressionante. É assistir o filme e olhar nos olhos da atriz para perceber que está diante de uma imagem que não vai te abandonar.
A renomada crítica de cinema Pauline Kael escreveu que essa pode ser a melhor performance já realizada em frente de uma câmera. Falconetti tinha uma expressão tão impressionante, que Dreyer a convidou para fazer o filme depois de assistir uma comédia que ela estava fazendo no teatro. Apesar de se tratar de uma comédia, havia algo no rosto da atriz que hipnotizou o diretor. "Havia uma alma atrás daquela fachada", como ele disse.
Diz-se que Dreyer jogou fora o roteiro e filmou a partir das transcrições do julgamento de Joana D'Arc. Essas "simples" transcrições contam a história de uma mulher que se transformou em uma lenda. A história de como uma mulher simplória do campo, se vestiu como um homem e liderou as tropas francesas contra os ingleses. Ela acabou sendo capturada por franceses leais à Inglaterra e julgada pela inquisição pois suas alegações que tinha inspirações divinas foram consideradas heresia e queimada na fogueira em 1431.
Outro fato que se conta deste filme, é que Dreyer descobriu que a montagem que fez foi acidentalmente destruída, e que ele teve que remontar o filme a partir de material que rejeitou na primeira montagem. Talvez por isso, tenhamos um filme sem uma única cena aberta e que mostre o grandioso cenário construído para o filme. Seja qual for a intenção, os closes funcionam tão bem estabelecendo uma relação entre os acusadores que temem a coragem da mulher.
E a montagem vai além. pouquíssimos planos tem elementos de continuidade entre um plano e outro, e fica muito difícil determinarmos geograficamente o lugar que estamos vendo e onde estão as pessoas neste espaço. O que podemos ver é como ele diferencia a filmagem de Joana D'Arc em tons claros, contrastando com a forte iluminação dos acusadores que mostra as imperfeições de todos os rostos sem maquiagem, prática incomum mesmo na época. 
Não temos nenhum outro filme com Falconetti para podermos comparar sua atuação, mas não posso deixar de ressaltar novamente a força que ela traz para o filme. Hoje em dia, estamos acostumados com emoções que vem através de diálogos. Assistir um filme como esse é perturbador por se tratar de uma experiência tão íntima que assusta. Ela passa tudo que precisamos saber apenas com sua expressão. Este é um filme que fala sobre os momentos finais de Joana D'Arc e nada além disso, e Dreyer contou como nenhum outro diretor conseguiu contar até o momento.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

FOOTLOOSE



NOTA: 3.
- Volta um pouco. Está brincando? Dançar é contra a lei?

Estou inclinado a escrever que essa é uma refilmagem do filme lançado em 1984 e que tinha Kevin Bacon no papel principal. A minha dúvida é se posso considerar uma refilmagem quando se usa o mesmo roteiro do filme original, usando em boa parte as mesmas falas e músicas. Para não dizer que nada mudou, o personagem agora muda de cidade, mas chego a duvidar se a maior parte das pessoas que assistiram chegaram a perceber a mudança. Se eu tivesse escrito uma resenha do filme original, estaria copiando a resenha para este aqui.
Houve um tempo em que esse tipo de história poderia funcionar, e talvez aqui entrasse a habilidade de um bom roteirista que reescrevesse a história de forma a ficar funcional para os dias atuais. Querer que a plateia acredite que existe hoje uma cidade que criou uma lei contra dançar em público é tão improvável quanto ridículo.
A justificativa para tal ato, é o fato que no passado uma festa de escola regada a cerveja acabou em um trágico acidente que resultou na morte de cinco adolescentes (como se fosse o único lugar onde isso tivesse acontecido), incluindo o filho do reverendo da cidade, Shaw Moore (Dennis Quaid), que usou sua influência para banir a música da cidade. Aparentemente, ele é o único reverendo em toda a cidade e uma espécie de líder da moral do lugar, além de ser paranóico em relação à sua sua filha, Ariel (Julianne Hough), que namora com o bad boy da cidade.
É nessa cidade muito estranha que chega Ren McCormack (Kenny Wormald), um garoto de Boston que acabou de perder a mãe e tem que se mudar para morar com seus tios. Um dos primeiros erros do filme, é que Wormald tem o mesmo papel que foi de Bacon, mas não tem um décimo do seu carisma. Logo de cara, Ren é preso por escutar música alta dentro do carro e logo virará o arqui-inimigo do reverendo.
Ficarão em lados opostos porque, obviamente, ele vai se interessar pela filha do reverendo. Para piorar a situação, ele vai começar a criar um movimento entre os adolescentes para acabar com essa lei contra a dança. Essa atitude faz com que tenhamos muitas coreografias no filme. Coreografias muito bem elaboradas se estamos considerando que são adolescentes que não estão acostumados a dançar. Também cria inimizade contra o bad boy que ressente por ele atrair a atenção da "sua garota".
Não tem muito tempo que assisti o filme original, que lembro de ter gostado quando era criança. Mas a verdade é que sequer cheguei a escrever porque não queria escrever uma resenha falando que o filme é ruim, e infelizmente, contrariando minhas memórias, ele é um filme ruim. E quando um filme ruim é "refilmado" de forma fiel, só pode gerar um filme ruim como este.

terça-feira, 10 de julho de 2012

JOHN CARTER


NOTA: 5.
- Quando eu te vi, acreditei que era um sinal... Que alguma coisa nova estava vindo para esse mundo.

É difícil de acreditar que a Disney tenha gasto um total de 250 milhões de dólares para realizar este filme. Claro que muitos podem dizer não há como se colocar um valor em uma obra de arte, mas com certeza não estamos falando de uma obra de arte. Não há muita coisa para se ver, sentir, pensar ou se importar neste filme que parece não se importar em ser vazio. O pior? É um vazio que se prolonga por mais de duas horas.
Mesmo que tenhamos em mente que a história do filme possa acontecer, é difícil se envolver em um filme cheio de espécies evoluídas com tecnologias que vão de armas de destruição em massa, naves espaciais do tamanho de cidades inteiras em que as grandes batalhas são resolvidas em combates mano a mano. E ainda, ver uma espécie mais avançada se sentir ameaçada por um personagem desarmado apenas porque ele salta muito alto.
Baseado em uma série do escritor Edgar Rice Burroughs, criador de Tarzan, chamado Barsoom, o filme conta as histórias de John Carter (Taylor Kitsch), um humano que é transportado do meio do faroeste para Marte, que é conhecido pelos habitantes de lá como Barsoom. Tarzan está com números no cinema que se aproximam de uma centena de adaptações para o cinema, enquanto John Carter chega pela primeira vez mas já com uma campanha que faz parecer ser o início de uma franquia. Com o mal resultado nos cinemas, fica a dúvida se teremos outros filme ou não.
Carter é um veterano da Guerra Civil que está sendo procurado pelo exército. Depois de capturado, ele consegue escapar e acaba em uma caverna onde encontra com uma raça, possivelmente humana, que possui um artefato que o leva para o planeta vermelho. Claro que não estamos falando do planeta que a NASA nos mostra em imagens e fatos, mas sim um planeta com 3 espécies diferentes (duas muito similares com a raça humana e uma com os tradicionais homens verdes) onde a atmosfera permite que respire e que nosso herói dê saltos altíssimos.
Essa habilidade de Carter chama a atenção de todos os habitantes que estão em guerra entre si. Ele sente um pouco de afinidade pelos tais seres verdes de quatro braços, chamados de Tharks, e uma das raças parecidas com os humanos que tem uma linda princesa que obviamente se transformará no interesse romântico do humano, chamada Dejah Thoris (Lynn Collins, a personagem mais interessante do filme).
O filme é dirigido por Andrew Stanton, cujo créditos incluem Procurando Nemo e WALL-E, parecia ser um diretor capaz de construir histórias muito bem estruturadas, mas algo aqui não funciona tão bem como os desenhos animados que dirigiu. Apesar das cenas de ação serem bem executadas, não chegam a nos prender. Voltamos à velha questão dos efeitos especiais que faz tudo parecer fácil demais e nem um pouco emocionante.
Acredito que o filme deva ser bem feito o suficiente para atrair seu público, apesar de o fracasso na bilheteria sugerir o contrário. Ação bem realizada, efeitos especiais de primeira (as cidades chamam atenção) e a personagem da princesa que é interessante fazem com que John Carter não afunde totalmente. Não temos notícias de um novo filme da série, mas não ficaria chocado se uma nova produção começasse em breve.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O MÁGICO - L'ILLUSIONNISTE


NOTA: 10.

A França produziu um dos personagens mais agradáveis da história do cinema, que ficou conhecido como Sr. Hulot e foi imortalizado pelo grande ator Jacques Tati. Se você nunca assistiu um filme com o personagem Hulot, sugiro que o faça (Playtime, As férias do Sr. Hulot, entre outros). E se você o conhece, deve assistir a este filme que é melancolicamente parece traçar o ato final da carreira deste grande ator.
O ator morreu em 1982, mas antes de partir deixou esse roteiro que a princípio era para ser um filme estrelado por ele que infelizmente acabou nunca conseguindo realizar. O roteiro estava na posse da filha dele que entregou para o diretor Sylvain Chomet, que realizou o também ótimo As bicicletas de Belleville, que em 2004 perdeu o Oscar para Procurando Nemo. Chomet realizou como desenho animado o que cai muito bem no filme, até mesmo porque dificilmente algum ator poderia substituir Tati.
O filme não é com Hulot, mas sim com Tatischeff, um mágico que anda de cidade em cidade fazendo apresentações em pequenos lugares e até mesmo em festas onde ninguém presta muita atenção nele. Até chegar no interior da Escócia onde finalmente encontra uma pequena fã. A menina trabalha numa estalagem onde ele faz uma apresentação e ela acaba se mudando para ficar com ele, onde faz as tarefas de casa. Eles não criam uma relação sexual, é apenas uma menina que idealiza um mágico, e este parece se afeiçoar com ela e dorme no sofá lhe cedendo o quarto.
O tempo vai passando e vai ficando cada mais difícil de conseguir trabalhar como mágico, já que as pessoas parecem mais interessadas em bandas pop que lotam estabelecimentos com adolescentes. Adolescente que não se interessam por mágicas. Ele atinge seu nível mais baixo, se apresentando em uma vitrine de uma loja como forma de atrair fregueses. É a partir desse ponto que ele começa a procurar outros empregos longe dos palcos ao mesmo tempo que seus amigos artistas também passam por momentos difíceis.
A verdade é que o mundo não parece mais ter utilidade para Tatischeff. Ele é um mágico bem competente e tirando seus problemas com o coelho não costuma errar um truque sequer. É realmente uma pena para ele que o mundo tenha mudado de forma que não o favoreça. Não sei em que época Tati escreveu essa história, mas deve ser interessante comparar com que época da sua vida estamos falando. Será que foi antes de se transformar em um sucesso?
Digo isso, porque o personagem, apesar de fisicamente parecer um pouco diferente, é o próprio Tati, cujo nome original era Tatischeff como o mágico do filme. E o filme funciona por causa dele, da graça com que foi desenhado e construído. É um desenho animado, porque realmente ninguém poderia imitar a linguagem corporal de Tati. Esse é o canto dos cisnes de um dos personagens mais encantadores do cinema. E uma bela homenagem.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O PREÇO DO AMANHÃ - IN TIME


NOTA: 7.
- Para que alguns sejam imortais, muitos devem morrer.

De uma forma ou de outra, estamos todos preocupados com o tempo, e não digo isso apenas em termos de "hora pra chegar no trabalho" ou coisas do gênero. Eu digo da forma como as pessoas tentam barganhar o tempo de vida que tem, quando como param de fumar e se alimentam melhor para conseguir viver mais alguns anos. De certa forma, é uma barganha que os seres humanos tendem a fazer para viver um pouco mais.
O diretor Andrew Niccol levou essa ideia ao extremo. Anteriormente, em Gatacca, ele criou um mundo onde as pessoas estavam presos à genética, as crianças tinham seus genes selecionados para serem superiores e qualquer criança nascida do método "tradicional" era praticamente excluída. Aqui, a separação acontece entre as pessoas com muito tempo e as que não tem pouco. Tempo é uma moeda de troca, é com ele que as pessoas compram qualquer coisa que precisem.
As pessoas vivem normalmente até seus 25 anos, que é quando o anomarcado em contadores nos antebraços começa a contar. A partir de então, o mercado se expande para qualquer coisa, enquanto contam o tempo que lhes resta, e pior ainda, o tempo não é gasto apenas comprando coisas, a ida pro trabalho também gasta tempo normalmente de cada segundo que se passa. A vantagem é que ninguém envelhece fisicamente depois dos 25 anos, o que faz todos no filme parecerem ter a mesma ideia.
É nesse mundo que se passa em um futuro em que não podemos determinar quando será, que vive Will Salas (Justin Timberlake), um operário que salva a vida de um homem com muito tempo para gastar. Aparentemente, este homem está cansado de viver. Apesar de aparentar 25 anos, ele já viveu muito mais do que isso, por isso ele dá a Salas todo o tempo que tem. Cerca de um século. Isso ocasiona em um problema para ele, já que aparentemente tempo é uma coisa que não possa ir para as mãos de qualquer pessoa. Por isso apenas uma elite pode viver para sempre enquanto os pobres vão morrendo quando seus tempos se esgotam no meio da rua.
Salas se muda para junto da elite, onde conhece Sylvia Weis (Amanda Seyfried), a filha do homem mais rico do mundo. Se a imortalidade pode ser alcançada, esse homem é a personificação disso. Salas joga poker com ele em uma cena muito interessante do filme. Quando eles apostam, eles apostam tempo de suas vidas. Perder o jogo não leva à falência, leva à morte. É entrando nesse novo mundo que ele vai tentar mudar um pouco a ordem das coisas.
Timberlake continua provando que é um ator de verdade com presença nas telas e futuro na indústria. Mas ele é apenas uma das peças do filme. Todo herói deve ter um vilão, e ele é educado, elegante e um tanto quanto cruel, interpretado muito bem por Cillian Murphy. A fotografia é ótima e dá um tom noir muito interessante.
Há alguns bons elementos bem interessantes para se apreciar neste filme. Uma pena que os diálogos não são tão inspirados quanto as cenas onde o diretor conta sua história apenas através de imagens, mas ainda assim o filme funciona até certo ponto.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

OS MUPPETS - THE MUPPETS


NOTA: 8.
- Você sempre acreditou em outras pessoas, mas isso é fácil. Cedo ou tarde, você deve acreditar em você mesmo também, porque isso é amadurecimento. É se transformar no que você quer ser. Você deve tentar.

Durante boa parte da minha infância eu assisti os Muppets na TV, mas infelizmente em algum momento os personagens sumiram das telinhas. Como fazer para "ressuscitar" esses personagens que desapareceram antes mesmo de boa parte de sua audiência atual ter nascido? Acho que a ideia dos produtores era torcer para que seus personagens se mantivessem irresistíveis ao longo dos anos. Que eles continuassem irresistíveis para a nova Geração X.
Claro que os produtores não apostaram apenas na força dos personagens, fizeram também uma ótima campanha de marketing que incluía diversos trailers falsos que parodiavam filmes (Os homens que não amavam as mulheresOs vingadores, entre outros) que estavam para estrear. Mas o mais importante é que chegou às telas um filme bobo, terno e muito divertido. E ainda melhor, feito da maneira certa. Poderia ser fácil se render à novas tecnologias e fazer uns Muppets digitais, mas os velhos fantoches estão de volta do jeito que eram.
O último filme dos Muppets foi lançado em 1999 e não teve muito sucesso, o que fez com que não houvesse um clamor para mais um filme. E o próprio filme toma proveito da situação deles, de estarem esquecidos pelo público. Todos estão separados e os shows deles são coisa do passado. É um novo Muppet, que vive com um humano, que sente falta deles, e numa visita aos antigos estúdios ele descobre que estes serão destruídos por Tex Richman (Chris Cooper) a menos que consigam juntar 10 milhões. É este novo Muppet, Walter, que une o velho grupo novamente para levantar o dinheiro.
A tarefa não vai ser fácil, como uma executiva de TV os diz numa sinceridade absurda: "Eu sou fã de vocês. Assistia quando era criança, mas vocês não são mais famosos". Uma feliz coincidência faz com que eles consigam um espaço na programação para se apresentarem novamente. 
Walter é um personagem deslocado até encontrar os Muppets. Seu melhor amigo é Gary (Jason Segel), e os dois cresceram juntos e agora moram na mesma coisa. Gary namora Mary (Amy Adams), mas apesar da diferença entre os amigos eles continuam juntos. É óbvio, porém, que ele vá se sentir deslocado, ele é um Muppet vivendo entre humanos.
O filme não chega a provocar grandes gargalhadas, mas é muito divertido na maior parte do tempo, mas ainda há uma coisa que não mudou no passar dos anos: os Muppets tem personalidades distintas e grande presença nas telas (claro que isso é subjetivo). Hoje em dia, personagens digitais são capazes de realizar qualquer façanha, mas ainda é difícil criar personagens tão afetuosos quando esses fantoches.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

UM PROFETA - UN PROPHET


NOTA: 10.
- A ideia é sair daqui um pouco mais esperto.

Filmes de prisão geram alguns bons filmes, entre eles o espetacular Um sonho de liberdade, mas já havia algum tempo que não ficava tão impressionado com um filme do gênero em muitos anos. Não apenas um dos melhores filmes do gênero na França, mas em qualquer outro país que se faça filmes. Além disso, o filme faz uma conexão entre a prisão e a forma radical do Islã que deixa muitos dos europeus preocupados com a violência.
Um dos concorrentes do Oscar de 2010, perdeu para o também ótimo O segredo dos seus olhos, o filme conta a história do jovem francês de origem árabe chamado Malik. Ele entra na cadeia muito ingênuo, sem aparentar nenhum tipo de maldade. Um típico perdedor, tímido que vai parar lá por algum motivo que não fica muito claro, apesar de ele se declarar inocente. Isso pouco importa, a prisão acaba o moldando em um perigoso criminoso.
Tudo isso acontece quando ele se aproxima de uma gangue que controla tudo dentro das grades. O encontro não é por acaso, eles querem eliminar um prisioneiro que vai testemunhar contra alguns de seus comparsas, e Malik tem acesso a esse prisioneiro. Depois do serviço, o rapaz acaba virando uma espécie de empregado do chefe Cesar Luciani, uma espécie de Poderoso Chefão mas muito mais frio e sempre cercado de guarda-costas que o acompanham até por visitas privadas na prisão.
O assassinato não é limpo ou acontece como planejado. Malik nunca matou ninguém na sua vida, mas ele está diante de uma questão darwiana: ou ele mata o homem, ou morre. Ele tenta procurar ajuda, mas somente percebe que Luciani tinha razão quando lhe disse que não havia escapatória a não ser matar ou morrer. A luta é confusa e sangrenta. Tudo vira um tulmuto só e começa a surgir um homem diferente daquele rapaz. Um homem capaz de fazer o necessário para sobreviver.
Os anos vão se passando e Malik vai se transformando nessa pessoa totalmente diferente de quando chegou. Provavelmente, ele nunca teve nenhuma chance de sucesso fora das grades, mas ali ele observa e aprende rapidamente o que precisa para sobreviver e para crescer dentro da prisão. Ele começa a receber alguns dias livres para sair da prisão, que o faz realizar trabalhos para a gangue e alguns pessoais para crescer mais ainda. Rapidamente, se transforma no homem de confiança de Luciani.
É importante frisar o personagem Malik porque ele é a chave do sucesso do filme. Muitos atores parecem dispostos a mostrar as motivações de seus personagens. Este é um completo enigma. Difícil saber o que está pensando ou o que planeja. Talvez você possa esperar o que vai acontecer da vida dele, que as ações dele façam algum sentido em termos de o levar para o bem ou para mal, mas a verdade é que não sabemos o que ele pode fazer. Ele não nos mostra. E um personagem como esse é aterrador.

terça-feira, 3 de julho de 2012

BOOGIE NIGHTS - PRAZER SEM LIMITES


NOTA: 9.
- Você não sabe o que eu posso fazer ou o que eu vou fazer. Eu sou bom. Eu tenho boas coisas que você não conhece. Eu vou ser algo e não diga que não.

Este filme tem uma característica rara: tudo nele é surpreendente. Até mesmo a forma como o nome do filme surge inesperadamente em neon surpreende. O filme de Paul Thomas Anderson é um épico que contém todos os ingredientes de Hollywood: fama, inveja, cobiça, sexo, talento e dinheiro. A diferença é que acompanhamos as transformações da indústria pornográfica a partir do surgimento de uma nova estrela: Dirk Diggler.
O filme abre em 1977, em uma época que os filmes eram rodados em filme e exibidos em cinemas, tal qual acontecia na grande indústria dos filme "convencionais". É nessa época que o produtor Jack Horner (Burt Reynolds) sonha em fazer um filme tão bom que faça que as pessoas queiram ficar nos cinemas mesmo depois de alcançarem o que buscam  assistindo um filme como esse. E ele termina em 1983 quando a indústria se rende ao videotape e a esperança que filmes como esse ainda sejam feitos morrem.
E acompanhamos pelos olhos de Diggler (Mark Whalberg), que trabalha em uma casa noturna como lavador de pratos até ser descoberto por Jack Horner. Horner tem um pressentimento em relação a esse garoto, que ele mesmo diz acreditar que debaixo dos jeans tem algo maravilhoso querendo sair. A própria história do filme soa um pouco como se fosse um filme pornô, e Anderson não deve ter feito isso por acaso, mas é importante lembrar que não estamos diante de um filme pornô com uma história que as pessoas queiram assistir depois de chegarem ao clímax.
É importante ressaltar, porque ao contrário do que se vê nesses tipos de filmes, nada aqui parece amador. Estamos falando de uma indústria e todos agem com o máximo de profissionalismo. Não é um passatempo para nenhum dos envolvidos e nós acompanhamos os bastidores de um filme adulto. Ou pelo menos como eu acredito que os bastidores sejam. E acompanhamos Horner, que é provavelmente o maior produtor (não vemos outros para comparar). Reynolds dá uma atuação muito interessante de um homem que vive de sexo mas ao mesmo tempo parece fora dele. Nunca o vemos tendo relações com ninguém, apesar de viver com Amber (Julianne Moore), que serve como uma mentora e ajuda Diggler em sua primeira cena.
Apesar de lidar com o assunto, Anderson limita o que vemos da indústria realmente trabalhando, por assim dizer. Até mesmo a nudez é limitada no filme, e somente por uma breve cena vemos porque todos se impressionam com o "talento" de Diggler. Como quando o Coronel, que financia os filmes de Horner, pede para ver. Acompanhamos apenas o rosto dele enquanto ele observa, para e fica observando o que o rapaz está lhe mostrando. Somente pelo seu olhar e tempo com que admira sabemos que se trata de algo impressionante, mas fica mais interessante que realmente ver.
O elenco é muito maior, e o diretor sabe mesclar com habilidade seu material humano e seu material cômico. Ele consegue frazer o que muitos filmes não conseguem. Consegue fazer com que mergulhemos na história, que é uma qualidade que somente os grandes filmes conseguem. Como escritor e roteirista, Anderson consegue diálogos espetaculares e detalhes da época que são muito interessantes. Parece um pouco como um documentário nos mostrando a vida de cada um dos realizadores desses filmes. E é uma sensação ótima.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

SHERLOCK HOLMES: UM JOGO DE SOMBRAS - SHERLOCK HOLMES: A GAME OF SHADOWS


NOTA: 5.
- Tem certeza que quer jogar esse jogo?

Eu procurei em diversos posteres deste filme, e em nenhum deles encontrei o personagem Sherlock Holmes sem uma arma na mão. O objetivo parece ser claro: é ingenuidade minha ou de qualquer outra pessoa esperar que nessa época tenhamos um filme fiel às histórias do famoso detetive. Não importa que se passe há mais de um século atrás, Holmes vive num lugar com tiroteios e explosões a cada esquina, além de lutas que nada lembram o antigo boxe inglês.
Há sim a possibilidade de vermos a Inglaterra vitoriana, e até mesmo Suiça e Paris, mas para isso o espectador tem que olhar atentamente, pois o filme se movimenta tão bruscamente de um lado para o outro que se piscar perde. Esse é um filme de ação moderno igual a todos os outros, a única diferença é que os personagens estão fantasiados. Quando se segue um filme que fez mais de meio bilhão nas bilheterias, não parece haver chances para mudar alguma coisa, somente aumentar o que já foi feito.
Quando digo somente aumentar, digo que todos os efeitos do primeiro se repetem nesse segundo. Além de Holmes (novamente, Robert Downey Jr.) conseguir proferir ainda mais insultos, temos novamente a "Visão Holmes" (ou seja lá como ele as chamam), onde a luta se passa toda em câmera lenta na mente do detetive para somente depois assistirmos em velocidade normal, exceto que há um detalhe de mostrar que outras pessoas podem quebrar a "clarividência" de Holmes.
Como foi insinuado no primeiro filme, aqui temos a presença do Professor James Moriarty (Jared Harris), gênio do crime e nêmesis de Holmes, que, disfarçado de professor em uma universidade, planeja uma espécie de guerra mundial que o faria lucrar muito. Ao que parece, ele é dono da maioria das fábricas de armas e munições e faturaria muio dinheiro vendendo para os dois lados mesmo que colocasse grande parte da Europa em risco. Holmes se transforma numa espécie de James Bond, a única salvação do mundo.
Holmes é um personagem adaptado das mais diversas maneiras ao longo das décadas, tanto que o próprio criador, Sir Arthur Conan Doyle, foi capaz de algumas. Então é realmente difícil exigir que Guy Ritchie não tome certas "liberdades criativas", mas acredito que seria decente esperar que o embate entre os lendários antagonistas pudesse nos oferecer um pouco mais de inteligência, intrigas, suspense e reviravoltas na trama. Por isso a deficiência desses elementos, e até mesmo a falta de alguns deles, me deixa um tanto quanto frustrado.
Não que inteligência seja necessária em um filme como esse, ainda estamos falando de um filme de Guy Ritchie, onde todos tem que ser cool, e não lá muito espertos. Por isso temos muitos personagens para chamarem atenção, incluindo uma participação de Rachel McAdams novamente interpretando Irene Adler, a um pouco maior de Noomi Rapace como uma cigana e um Jude Law como Watson agindo de forma mais acertada que no primeiro filme, mas ainda é um filme sobre Holmes, e Downey Jr. não está tão bem quanto de costume cuspindo suas falas como se quiser logo acabar com tudo e receber seu cachê.
Um pouco decepcionante se ainda levarmos em consideração (alguém ainda leva?) o material à disposição dos realizadores, mas na média se considerarmos que estamos diante de mais um filme de ação. Para azar deles, competiram com filmes de ação muito mais interessantes como Missão Impossível e Tintin, mas deve ter feito o suficiente para garantir que esse novo Holmes permaneça vivo nas telas. Ainda tenho a esperança que o personagem envelheça com sua plateia assim como Harry Potter fez um dia.
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