quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

AS AVENTURAS DE PI - LIFE OF PI


NOTA: 10.
- Mamaji me disse que você tem uma história que me faria acreditar em Deus.

O novo filme do diretor Ang Lee exige que você dê um salto de fé e embarque de cabeça na viagem do jovem indiano Pi Patel, o único sobrevivente de um naufrágio que fica em um barco junto com um tigre de bengala chamado Richard Parker. Nessa adaptação de um livro que muitos consideravam que não podia ser adaptado, o oceano nunca me pareceu antes tão furioso e cheio de ironias quanto agora, o que transforma a jornada dos dois num filme tão corajoso cinematograficamente falando, que se a vida deles não tivesse em risco eu desejaria que a viagem não terminasse nunca. 
Depois de um breve prólogo que mostra a família de Pi, que tem um um hotel com um zoológico, a história foca principalmente nos 227 dias que Pi Patel fica à deriva no oceano. O jovem de apenas 17 anos, faz a transição para a vida adulta passando por provações e adaptações para se manter vivo. É uma viagem que acontece muito dentro da cabeça do rapaz, e Lee foi capaz de intensificar seu poder através de efeitos especiais e 3D com originalidade. O 3D não está lá apenas para parecer bonito, ele tem uma função. No oceano, a água parece estar em nossa volta, e quando o tigre ruge parece estar rugindo para nós. Nunca é usado para dar sustos ou coisas do tipo, apenas para imersão do espectador no filme.
O nome do personagem veio de uma visita que seus pais fizeram a uma piscina francesa. Eles ficaram tão impressionados que resolveram colocar o nome do filho de Piscine. Claro que esse tipo de nome o traria problema na maior parte do mundo, o que o faz tentar mudar sua sina adotando o nome de Pi, que em matemática é uma constante que começa com 3,14 e é seguida de tantos outros números que parece não acabar nunca. Se Pi não parece ter limites, talvez seja o nome apropriado para um rapaz que não quer aceitar os seus próprios limites.
Há duas cenas do prólogo que merecem atenção. Uma é o garoto escrevendo TODOS os números de Pi no quadro (na verdade, ele usa uns 4 ou 5 quadros diferentes), mostrando sua obstinação. A segunda é seu encontro com Richard Parker ainda no zoológico, que mostra que este é de fato um animal e que de fato está preso aos seus instintos naturais. Nem a plateia nem ninguém do filme pode pensar que se trata de um tigre versão Disney.
E é esse detalhe do tigre que faz toda a diferença no decorrer do filme. Em nenhum momento o filme fica maçante pelo fatos de estarem dentro de um barco. Animais selvagens são imprevisíveis, as rações para sobreviverem em alto mar não irá durar pra sempre e somente os fortes sobrevivem. Essa é a lei entre os animais, seja na selva ou dentro de um barco.
Há uma parte do filme que se passa em uma ilha e que pode levar o espectador a se perguntar a veracidade da história contada. Minha sugestão: não façam essa pergunta. Abracem o filme como ele é. Cada cena, cada fotograma, é real. Como foi dito uma vez, um frame é uma verdade. Cinema é 24 verdades por segundo. E a verdade de Ange Lee nos rende uma obra prima e um dos melhores filmes do ano.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

COSMOPOLIS


NOTA: 5.
- Você sabe das coisas. Eu acho que é isso que você faz. Eu acho que você adquire informação e a transforma em uma coisa horrível.

Este é o segundo filme que eu vejo que dedica boa parte do tempo dentro de uma limousine. O outro foi o estranho Holy motors e agora este filme de David Cronenberg. Apesar de ter gostado bastante do outro filme, realmente falhei em entender o que realmente aquele homem fazia para viver. Aqui eu também não entendo, mas o problema é que eles tentam me explicar e eu não consigo acreditar que nenhum deles realmente saiba do que está falando. E ainda pior, não fazem sequer os diálogos soarem interessantes.
O filme é estrelado por Robert Pattinson, que estamos mais acostumados a ver arrebatando corações de adolescente na saga Crepúsculo. Ele interpreta um personagem que é da nova geração de milionários que mal parecem ter atingido a fase adulta. Uma grande figura de Wall Street que neste dia que o acompanhamos está vendo sua fortuna de desfazer. Não que pareça preocupado com isso, seja porque provavelmente ainda terá o suficiente para se refazer ou porque está casado com uma mulher que apesar de não lhe dar afeto está disposta a lhe ajudar financeiramente. Ou ainda porque parece tão afastado de qualquer sentimento que perder todo esse dinheiro possa lhe fazer sentir algo. Para as fãs do ator, há várias cenas de sexo, apesar de ele demonstrar mais interesse no seu exame de próstata do que nas relações.
Assim como vários heróis do cinema, Eric Packer (Pattinson) resolve fazer uma jornada. Durante o dia mais crítico que pode haver, onde há confusão e violência por quase todas as ruas por onde passa (por conta do enterro de um rapper e revoltas anarquistas) ele resolve cruzar a cidade com um objetivo específico e pouco interessante: ir a uma barbearia para ter seu cabelo cortado. Não é um barbeiro especial nem nada do tipo, é um barbeiro comum, do tipo que ele poderia fazer ir ao seu escritório sem problema algum.
Ele passa tanto tempo dentro de sua enorme limousine que encontra tempo para diversos encontros: o médico que lhe aplica o exame de próstata e ainda outros exames com ajuda da tecnologia que o veículo tem, almoça e janta com sua esposa (ainda que seja um mistério como ele a encontra), sua amante interpretada por Juliette Binoche e tem uma conversa com teorias diversas com Vija (Samantha Morton). Ainda encontra tempo de pedir ao seu segurança que lhe aplique um choque com uma dessas armas tasers que despejam cem mil volts. Ele realmente parece desesperado para sentir alguma coisa.
A cena final envolve um tiroteio entre Pattinson e Paul Giamatti. Como eles se encontram é um grande mistério pra mim, o fato é que se encontram para terem uma conversa extremamente filosófica. Nesse ponto do filme, eu já imaginava que o melhor é não imaginar como as coisas acontecem, e simplesmente pensar que se trata de uma adaptação de um livro e que certas coisas acontecem porque devem colocar o filme em movimento, já que o carro em si não parece fazer isso.
Nem sempre eu consigo me envolver com os filmes de David Cronenberg. Claro que quando isso acontece é uma experiência única, mas infelizmente, como nesse caso, não acontece. Dificil é não falar que mesmo assim o diretor não perde a mão e consegue mostrar seu talento. Principalmente se considerarmos o espaço apertado de um carro em que faz a maior parte de suas cenas. Ele faz a gente manter o interesse no filme mesmo quando os atores e a história não parecem fazer o mesmo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O RESGATE - STOLEN


NOTA: 3.
- Sem cigarros, sem dormir, sem luz, sem som, nada para comer, nada para beber. Algumas vezes tudo que preciso é o ar que respiro.

Nicolas Cage foi capaz de estabelecer uma reputação quase infalível. Tirando algumas poucas oportunidades em que faz bons filmes, em geral é sempre certo de saber o que se esperar de um filme estrelado por ele. Ao contrário de quando começou sua carreira, quando fazia bons filmes e era capaz de interpretar personagens interessantes, hoje parece que sua única preocupação é assinar contratos e ganhar dinheiro. Digo isso porque não acredito que ele leia os roteiros e ache que realmente o resultado será um bom filme.
Nessa nova empreitada, ele realiza um filme que é totalmente diferente de Busca implacável, protagonizado por Liam Neeson. Fora que os atores são diferentes, no original, este filme se chama STOLEN, que tem seis letras, enquanto o de Neeson se chama TAKEN, que possui apenas cinco letras. Um se passa na Europa e outro em Nova Orleans. Então o resto, de ser uma história sobre um pai com habilidades especiais que faz de tudo para salvar a filha, é apenas mera coincidência.
A principal diferença, porém, entre eles é que um é divertido e outro não. Claro que havia a vantagem de vermos Neeson interpretando um papel diferente do que estamos acostumado a ver em um filme que geralmente ele não faria parte (apesar de hoje ser cada vez mais comum vê-lo nesse tipo de produção), enquanto Cage parece ser incapaz de sair desse personagem. 
O filme é tudo que se pode esperar nesse gênero, sem nada a mais ou menos que o resto. O diretor Simon West (que dirigiu Cage em Con air, e mais recentemente Os mercenários 2 com Stallone) parece muito preocupado em seguir a cartilha dos filmes de ação para não esquecer de nada do que tentar fazer alguma coisa (qualquer coisa) original. Nem nas cenas de ação, nem na quantidade exata de violência (nenhum produtor quer uma classificação alta) ou nos diálogos que tentam ter frases de efeito e sem muitos palavrões (lembrem-se da classificação).
Na história "original", Cage é Will, um assaltante que começa o filme em um golpe para um grande assalto. Algo dá errado e ele vai preso por oito anos. Quando sai descobre que um dos seus antigos parceiros sequestrou sua filha e exige sua parte do dinheiro, que Will não tem, do golpe que aplicaram. Will estava disposto a viver uma vida honesta depois de passar tempo na cadeia, mas agora se vê obrigado a aplicar um golpe em doze horas para poder salvar sua filha.
Um dos problemas do filme é o próprio Cage. Diferente de Neeson, ele não consegue passar o sofrimento do pai desesperado para resgatar sua filha. Não é um problema de capacidade, pois já está provado que ele é mais que capacitado para esse tipo de personagem, mas ele parece estar mais disposto a engatar o piloto automático do que tentar criar um personagem. E ainda, quanto mais velho fica, mais estranho fica seu cabelo. Será que nunca reparou que Bruce Willis abraçou a calvície e continua fazendo sucesso? E pior ainda, esse tipo de cabelo não o faz ficar nada parecido com um herói em filme de ação.
Contra Cage, temos um Danny Huston que tenta equiparar Cage na canastrice enquanto Josh Lucas tenta ter o pior cabelo do filme (e pior ainda: ainda assim ele perde). Mas não há elenco que seja capaz de salvar esse filme do desastre. O diretor parece incapaz de achar um tom pro filme, o roteiro é um melodrama com as piores partes de filmes que vimos antes e sequer as cenas de ação são capazes de prender nossa atenção. Apenas mais um filme na longa lista de filmes ruins de Nicolas Cage.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

JEFF E AS ARMAÇÕES DO DESTINO - JEFF WHO LIVES AT HOME


NOTA: 8.
- Todos e tudo está conectado nesse universo. Mantenha-se puro em seu coração e você verá os sinais. Siga os sinais e você vai desvendar seu destino.

Há um tema que está ficando cada vez mais comum no cinema moderno: a incapacidade de certos homens em conseguirem agir como se fossem adultos. Geralmente são retratados como caucasianos, aparentemente heterossexuais e da classe média (em alguns casos, milionários). As variações de imaturidade desses homens parecem infinitas, mas geralmente eles cativam porque tem bom coração, são gentis, adoráveis e carregam uma inocência que não conseguimos mais ter.
Aqui é um pouco melhor, porque essa inocência é personalizado por Jason Segel, que consegue dar uma dimensão diferente a esse tipo de personagem. Jeff é um homem na casa dos trinta anos, solteiro, desempregado e que vive no porão da casa de sua mãe, onde assiste o filme Sinais diversas vezes crente que o filme possui a chave pra entender o universo ou coisa do gênero. E ele ainda acredita que, basicamente, o universo é cheio de pequenas coincidências que liga todas as pessoas e todos os atos que fazemos, e que basta ficar prestando atenção para descobrir seu destino. É o tipo de raciocínio que parece lógico se considerarmos que vem de uma mente que passa trancada no porão fumando maconha.
Pelo seu tamanho, ele é chamado por seu irmão de Sasquatch (para quem não conhece, é como se fosse uma espécie de Pé-Grande). Pat (Ed Helms) provavelmente o chama assim por causa da diferença entre os dois. Bem menor e muito mais agitado, Pat vive numa relação fadada ao fracasso com Linda (Judy Greer). Algum dia eles parecem ter se amado, mas agora não parecem sequer conseguem se comunicar. Ela quer juntar dinheiro para comprar uma casa, e Pat aparece com um Porsche que acabou de comprar sem a consultar. Talvez mulheres sejam difíceis de entender, mas ele realmente não parece fazer qualquer esforço e ainda consegue se ver como se tivesse uma vida de sucesso.
Ambos são filhos de Sharon (Susan Sarandon), uma mulher entediada com o trabalho e a própria vida que espera que alguma coisa diferente aconteça. De seu trabalho, ela liga para Jeff para lembrá-lo de UMA única tarefa que deu a ele: sair do porão, ir comprar uma cola numa loja para poder consertar a porta de um armário da cozinha. Para quem deseja entender o universo através de sinais, essa deve ser uma tarefa que ele deveria poder executar sem problemas.
O filme é dirigido pelos irmãos que dirigiram Cyrus, filme que também mostra um homem com problemas em agir como se fosse um adulto e que também vive com a mãe. O resultado com o novo filme é bem mais interessante e com uma história bem mais perto de parecer realidade ainda que não pareça totalmente plausível. 
A atenção do filme é dividida entre todos os personagens, então fica claro que algum momento suas vidas vão se cruzar, e é o que acontece nos instantes finais do filme. E acontece numa coincidência que somente Jeff parece ser capaz de entender. Mas não dá para culpar ninguém, apenas temos um final feliz para personagens que acompanhamos e nos importamos. É o final feliz que todos esperam. Talvez os diretores queiram fazer com que acreditamos em algo, ou talvez só esteja nos enganando.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

007 CONTRA O SATÂNICO DR. NO - DR. NO


NOTA: 9.
- Dominação mundial. O mesmo e velho sonho. Nossos hospícios estão cheios de pessoas que pensam ser Napoleão. Ou Deus.

Quem não conhece a série desde o início, deveria assistir pelo menos o primeiro filme, que é este com o estranho vilão Dr. No. Quando era criança, James Bond era sempre interpretado por Roger Moore e na minha adolescência Pierce Brosnan, mas foi Sean Connery quem primeiro deu vida ao personagem e o interpretou mais 6 vezes, sendo que uma é uma versão não oficial do agente britânico mais famoso criado por Ian Fleming.
Ao contrário do que temos hoje em dia, os filmes de James Bond não eram pra serem levados a sério nem vistos como uma representação da realidade, e muito menos eram pra ser vistos como obras de arte. O interesse do filme é plenamente atendido: a primeira obra com Bond é um filme de aventura muito divertido com suspense e até mesmo um pouco de ficção científica, e não é por acaso que se transformou em um ícone e que o personagem até hoje continue gerando filmes de qualidade e continuações constantes.
Não só a história não é pra ser levada a sério como seu personagem também não. Bond é extremamente exagerado. Tão exagerado que algumas vezes chega a ser bobo. Tanto é que ele chega a travar uma batalha contra uma aranha. Isso tudo em uma ilha na Jamaica, onde ele deve descobrir qual é a fonte de um aparelho que está impedindo o lançamento de mísseis no Cabo Canaveral.
Se você acha que a trama é boba, o serviço está bem feito. O filme certamente foi feito para ser assim. Escapismo puro onde o herói chega a ser torturado e sequer sangra apropriadamente. Tudo que precisa fazer é jogar seus cabelos pra trás e novamente está pronto para continuar em sua missão como se nada tivesse acontecido. Ele se mantém praticamente impecável, petulante, sedutor e charmoso do início até o fim do filme. E faz parecer fácil.
Também pode pensar que o mistério não é o suficiente pra entreter você, mas o grande lance é que não é isso que vai entreter. Você pode saber exatamente o que vai acontecer, mas a forma como acontece é que é o grande charme do filme. É o caminho. É a tarântula colocada em seu quarto (óbvio que há maneiras mais fáceis de se matar alguém), é uma tentativa de sequestro no aeroporto e o estranho romance entre ele e uma bela oriental. Isso tudo é que faz desse filme um dos melhores com o agente. E é por isso que ele ainda merece ser visto. Mesmo o final, que se passa num esconderijo subterrâneo, é uma bobeira que combina com todo o resto. 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

CORIOLANO - CORIOLANUS


NOTA: 9.
- Um beijo longo como meu exílio, e doce como a minha vingança.

Um dos principais motivos pelo qual as peças de Shakespeare fazem sucesso por tanto tempo, é a linguagem que o dramaturgo usou. Histórias parecidas temos aos montes, mas personagens que falam como Romeu ou Hamlet só encontramos em suas obras. Sabendo disso, Ralph Fiennes interpreta e dirige o filme sobre o personagem título sem mudar esse aspecto que é, na minha opinião, um dos pontos fontes da peça, e portanto do filme.
O lugar é "conhecido como Roma", e Fiennes é uma fera de guerra, o líder brutal de um exército. As espadas são trocadas por rifles e lança-granadas, em um lugar onde as paredes são todas pichadas e grafitadas. Observando as locações e figurinos, poderia-se pensar que se trata de um moderno filme de guerra, e não uma peça de teatro de séculos atrás. De antes de existirem os equipamentos que os homens usam para travar as batalhas.
Fiennes é sempre capaz de surpreender como ator. Não é fácil imaginá-lo como um grande soldado, e ainda assim ele se reinventa aparecendo forte, com a cabeça raspada e um dragão tatuado no pescoço. Pode não ser a idealização do que Shakespeare escreveu, mas como o cenário é bem diferente, eis aqui um homem capaz de liderar qualquer exército em qualquer filme de ação e aventura, e mais preocupado com batalhas que qualquer outra coisa. E melhor ainda, ele é capaz de liderar seu batalhão inteiro apenas com um olhar e entonando cada fala como esta deve ser falada. O que é ainda melhor saboreado quando ele dialoga com grandes atores como Brian Cox e Vanessa Redgrave.
Sua principal batalha é travada contra os exércitos Volscos liderados por Aufidius (Gerald Butler), a quem admira mais que odeia seus compatriotas romanos, mas ele supera as forças inimigas e consegue a vitória. Na verdade, parece algumas vezes que ele sozinho é capaz de vencer a guerra, e para muitos ele realmente venceu. Tanta é a glória que recebe, que não mais ele pode ser "apenas" um soldado, e encara uma desastrada carreira política que acaba resultando em seu banimento de Roma.
Para seu azar, ele não é talhado para qualquer cargo político. Chego a duvidar se ele é capaz de manter uma relação com qualquer ser humano e me surpreende que ele tenha uma mulher e um filho. A única pessoa capaz de conversar com ele é sua mãe, Volumnia (Redgrave), a quem parece mais afeiçoado que sua própria esposa, Virgilia (Jessica Chastain). Mas tudo isso fica pra trás e ele se une a Aufidius para lutar junto com os Volscos em um ataque contra Roma. Somente preocupado com guerra, ele prepara sua vingança com sangue, mesmo que para isso ele derrame o de sua própria família.
É um filme muito interessante, ainda que pareça ter muito mais ação do que realmente haveria em uma peça de Shakespeare. E olha que algumas peças dele tem até bastante ação. Esse provavelmente foi o preço que Fiennes deve ter tido que pagar para produzir um filme caro como esse. Mas o que importa é que as ações dos personagens, e o que é falado, continua atual. As palavras podem ter mudado, mas o conteúdo permanece. Para mim, fica a maravilha de ver que a linguagem de Shakespeare continua viva e podendo ser usada para adaptar mais peças além de que costumamos ver.  As obras do autor vão muito além disso, e é Fiennes que nos mostra isso.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

JACK REACHER: O ÚLTIMO TIRO


NOTA: 4.
- Você acha que eu sou um herói? Não sou um herói. Eu sou um andarilho sem nada a perder. 

A pergunta mais recorrente durante o filme é: "Quem é Jack Reacher?". No cartaz, como podemos perceber acima, Tom Cruise é Jack Reacher. Resumindo para você, durante o filme não vai descobrir muito mais do que isso sobre o personagem. É um arquétipo de herói, com um passado conhecido mas que não diz nada sobre ele, andando por lugares onde resolve problemas. O conceito me lembra um pouco o "Homem Sem Nome" interpretado por Clint Eastwood nos antigos filmes de Sergio Leone.
O filme é dirigido e roteirizado por Christopher McQuarrie, que em 1995 impressionou o cinema com o roteiro de Os suspeitos, dirigido por Bryan Singer. Cinco anos depois ele dirigiu seu primeiro filme, A sangue frio, com Benício Del Toro e e Ryan Phillippe e o resultado foi um filme decepcionante que tentava ter muito estilo, mas não conseguia, e tinha pouco conteúdo. Mais de dez anos depois ele volta à cadeira de direção e mostra um resultado que não é muito diferente do anterior.
Um homem abre fogo matando pessoas ao acaso e foge da cena do crime. Vemos quem disparou os tiros e depois vemos uma outra pessoa sendo presa pelos crimes. No interrogatório, ele escreve em um papel "Procurem Jack Reacher", e somente o que a polícia consegue encontrar é seu registro militar. Como dizem nos velhos clichês de filmes de ação, "é um homem que só vai ser encontrado se quiser ser encontrado". Para a sorte deles, o próprio Jack Reacher aparece para encontrá-los antes mesmo que possam esboçar alguma reação a respeito.
Acontece que Reacher não é amigo do homem acusado. Eles se conheceram no exército e ele veio para onde os crimes aconteceram apenas para ter certeza que ele ia ser punido adequadamente, pois no passado conseguiu escapar de outro crime impune. Ele é convencido pela advogada de defesa, Helen (Rosamund Pike), a investigar o caso para ela. E o que ele descobre é o que cada espectador sabe desde o momento em que um homem diferente daquele que atirou foi preso: 1. ele não é realmente o atirador; e 2. há algo mais por trás dos crimes.
O problema é que tudo volta para o primeiro parágrafo. A principal pergunta do filme não é o crime, é "quem é Jack Reacher?", e o resultado é bem menos interessante do que qualquer um poderia imaginar. O personagem é bem menos enigmático do que deveria (ou pelo menos do que aparenta) ser, e consequentemente bem menos interessante. Pra piorar, ele é interpretado por um Cruise em piloto automático. Ele pode não ser um dos melhores atores que temos nos cinemas, mas com certeza é capaz de fazer bem mais do que apresenta aqui. Sem uma interpretação convincente  Reacher se torna uma casca vazia que parece apenas agir e nada mais.
O mais interessante do filme é assistir não o personagem título, o que é um conceito meio estranho. Werner Herzog, diretor alemão de grandes filmes, interpreta o misterioso prisioneiro russo Zec e consegue ser o melhor do filme (além de ser o único realmente assustador). Robert Duvall chamado a participar de um tiroteiro gratuito oferece certa graça. E Rosamund Pike, que ainda consegue dar alguma identidade à sua personagem que nada mais é que uma colagem de emoções que mudam de acordo com a necessidade do filme. Isso porque de resto, o filme se presta apenas a mostrar perseguições, tiros e muitas lutas (uma em especial se dá ao luxo de ser um pastelão com pouca graça). E o mais estranho é termos um diretor cuja principal função é ser roteirista apresentar um filmes com diálogos tão sofríveis.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

DJANGO LIVRE - DJANGO UNCHAINED


NOTA: 9.
- O que você acha do negócio de caçador de recompensas?
- Matar homens brancos e ser pago por isso? O que tem para não gostar?

Enquanto vários diretores procuram fazer filmes maiores e mais ambiciosos, Quentin Tarantino continua "reescrevendo a história" e subvertendo gêneros. Reverencia filmes B do passado e os coloca sob uma nova perspectiva mais atual. No caso, os faroestes spaghettis que alcançaram seu ápice com Sergio Leone (pra mim, em especial com Três homens em conflito) misturado com blacksploitation (da onde surgiu Shaft). Ao mesmo tempo que coloca muita ironia, não foge do importante tema sobre racismo.
O diretor já conquista as plateias com a abertura do filme. Dois homens brancos lideram uma fila de escravos no meio de uma floresta totalmente escura. Ao longe, observamos uma luz fraca se aproximar do grupo. É uma carroça com um ornamento em forma de um dente conduzida por King Schultz (Christoph Waltz), que começa a negociar com uma formalidade e educação, que o acompanhará por todo o filme, um escravo que já trabalhou uma fazenda com três homens que ele está caçando.
Digo caçando e não procurando. A carroça de dentista é apenas um disfarce, e Schultz é um caçador de recompensas atrás do dinheiro oferecido pelos homens da tal fazenda. E o escravo, claro, é Django (Jamie Foxx), com o "D" mudo. Os dois partem juntos à caça e atrás do dinheiro. A diferença é que agora ele é um ex-escravo, já que não é de interesse de Schultz ser dono de ninguém.
Claro que se poderia perguntar como Schultz andava no meio da noite em uma floresta escura procurando por escravos. Não só ele dificilmente saberia onde exatamente procurar os escravos como não encontraria  o escravo que está procurando, mas isso pouco importa. A cena é maravilhosa e é apenas a primeira de muitas outras que Tarantino nos presenteia. A verdade é que Schultz é um personagem de contos de fada. Não somente ele sabe como encontrar Django, como ele sabe como encontrar todo e qualquer homem com rostos em pôsteres de "Procurado vivo ou morto". Depois de encontrarem os primeiros alvos, os dois se tornam parceiros durante o inverno, depois disso eles vão tentar encontrar a esposa, também escrava.
A busca os leva até Candyland, que é regida por Candie, interpretado por um Leonardo DiCaprio extremamente sedutor. Para Django não podia ser pior, pois Candyland fica no Mississipi, um dos estados mais racistas nos EUA. E aqui entra o personagem mais surpreendente do filme, que é Stephen (Samuel L. Jackson), um negro que consegue ser pior com os escravos que qualquer outro branco em todo o filme.
Ao contrário de seu filme anterior, Bastardos Inglórios, o filme segue de forma muito mais agradável sem personagens secundários que ganham muito espaço na tela e praticamente sem flaskbacks. Estes, mesmo quando aparecem, são curtos, e em um dos casos é extremamente bobo e serve apenas como uma piada no meio do filme.
Como é um filme de Tarantino, não está longe de polêmicas. Alguns reclamam da violência extrema e outros do uso excessivo da palavra que começa com "N" quando se referem a uma pessoa de cor. Bem, a violência sempre está presente em seus filmes e acredito que a palavra provavelmente era muito usada mesmo. Provavelmente tudo parte de um plano. Os filmes dele não se baseiam no nosso mundo. As histórias ocorrem em seus filmes com uma liberdade que não existe. E para quem gosta, é um prato cheio.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

MADAGASCAR 3: OS PROCURADOS - MADAGASCAR 3: EUROPE'S MOST WANTED


NOTA: 7.
- Pobres animais. Deveriam ter ficado na selva, mas agora vão ter que lidar comigo.

Os produtores deste filme seguem a fórmula que vem dando certo. O novo tem um humor similar aos seus anteriores, mas esta terceira parte é ainda maior, mais ambiciosa, colorida e ágil que seus predecessores. Ainda que não considere uma grande obra de arte, os filmes da série são uma diversão para crianças e os adultos não vão ter muito do que reclamar. 
Voltamos a assistir as quatro feras totalmente domesticadas que ainda tentam voltar para o zoológico: o leão Alex (Ben Stiller), a zebra Marty (Chris Rock), a hipopótamo Gloria (Jadda Pinckett Smith) e Melman a girafa (David Schimmer), que no caminho continuam seguindo suas estranhas aventuras. Apesar de parecerem ter uma vida boa agora que estão na África, Alex ainda sente saudades da época que vivia no zoológico. Então eles vão parar na Europa para tentar chegar ao seu destino, ainda acompanhados do lêmur que acha que é um rei, os pinguins e o macaco.
A escolha da Europa é fácil. EUA é seu objetivo final além de ser o lugar com o qual eles já estão acostumados, Madagascar já foi usado assim como a África, e cada filme parece ter a necessidade de se passar em uma nova locação. E também, talvez, porque no continente é muito fácil juntar um grupo de diferentes nacionalidades e que falam diferentes línguas, exceto que aqui estamos falando de animais de diferentes nacionalidades.
Os quatro, tentando fugir desde Monte Carlo (onde os pinguins tentaram aplicar um golpe em um cassino) de uma perseguidora implacável e quase psicopata chamada duBois (Frances McDormand), se escondem fingindo serem animais de circo dentro de um vagão junto com os outros animais. Para a sorte deles, o circo é composto somente de animais, e "animais de circo devem sempre ficar junto". Aí entram a adição de novos personagens (quase sempre também obrigatória) como a jaguar Gia (Jessica Chastain), o covarde leão-marinho Stefano (Martin Short), e o tigre siberiano Vitaly (Bryan Cranston).
O filme continua atraindo mesmo por causa do seu visual. Monte Carlo aparece belíssima e em detalhes, e quando eles decidem se juntar ao circo e se apresentar, o filme mostra o espetáculo com um show de fogos de artifício e tons exuberantes.
Não vai pertencer a uma lista de grande animações de todos os tempos nem nada do gênero. É apenas uma diversão bem feita e ligeira, mas ao mesmo tempo não tenta mirar além disso então entrega exatamente o que promete. Por isso que apesar de ser um filme bobo, não chega nunca a ser ruim porque é bem engraçado.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

TUDO PELO PODER - THE IDES OF MARCH


NOTA: 8.
- Todos os repórteres te amam. Até mesmo os que te odeiam te amam.

O candidato Morris, interpretado por George Clooney, realmente só pode ser fictício. Quando lhe perguntam de religião, ele diz que sua crença é na Constituição dos EUA. Ele é a favor de criar mais empregos e é contra a guerra. É um político liberal que permanece com sua aura tranquila enquanto inflama as multidões com seus discursos. O fato de ser interpretado pelo astro somente o deixa mais interessante. Na teoria poderia conseguir muitos votos. 
Ao mesmo tempo, independente se o candidato é republicano ou democrata, me encontrei em dificuldades de conectar os discursos do político, sempre vagos e abertos a discussões, com o mundo que ele supostamente tenta retratar. Morris baseia toda a sua campanha em ideais que vão depois se esvaindo conforme a história vai sendo contada. A luta comente parece ser desigual porque praticamente não vemos seu adversário quase nunca.
Por trás da campanha de Morris, temos o personagem principal da nossa história, Stephen Meyers (Ryan Gosling). Ele trabalha diretamente para Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), gerente da campanha. Contra eles está o outro gerente, Tom Duffy (Paul Giamatti). Talvez por ser baseado em uma peça de teatro, Clooney (que também dirige o filme) deve ter feito questão de se cercar de um elenco capaz de passar credibilidade em qualquer circunstâncias e diálogos.
Meyers tenta ser um idealista de verdade no meio de um universo extremamente cínico. Todas essas pessoas escolheram a mentira como meio de sobrevivência. Não sei o quanto ele acredita em seu candidato ou se ele simplesmente acredita em si mesmo o suficiente para fazer de Morris ideal para o cargo, ainda que na sua cabeça. É durante o momento de maior tensão da campanha que ele acaba se envolvendo com uma estagiária, Molly (Evan Rachel Wood) e mantém uma estranha relação profissional com uma jornalista interpretada por Marisa Tomei.
Apesar de um grande melodrama sobre quem vai conseguir o apoio de um senador, o filme não consegue transmitir a gravidade necessária que a história necessita. E ainda, não acrescenta em nada ao já conhecido mundo da política. Sim, os políticos mentem, os repórteres nem sempre tem acesso à verdadeira história e as mulheres não são tratadas com respeito por homens poderosos. Se isso parece novidade, talvez vá achar um filme mais interessante do que eu.
Claro que isso também não quer dizer que se trata de um filme sem atrativos. Clooney consegue extrair ótimas interpretações e já está acostumado a tratar de filmes que falam de homens sob pressão. Ele também dá informações em quantidade suficiente para manter o interesse, mas infelizmente eu acabei esperando por um pouco mais. É como quando ouve um político. Você ouve e espera que ele cumpra, mas infelizmente isso quase nunca acontece.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A VIAGEM - CLOUD ATLAS


NOTA: 9.
- Ontem, eu acredito que não teria feito as coisas que fiz hoje. Eu sinto como se alguma coisa importante tivesse acontecido comigo. Isso é possível?

Li um crítico usando uma descrição de Churchill sobre a Rússia bem adequada à este filme, e na falta de capacidade de descrever de forma melhor, repito as palavras: "É uma charada, embrulhada em um mistério e dentro de um enigma". Assisti a este filme e neste momento em que escrevo já tenho vontade de assistir novamente, mas duvido que ao fazê-lo, serei capaz de solucionar algum mistério que não vi antes. O filme fascina a cada momento, e a cada salto na história.
Desde Matrix, os irmãos Wachowski procuram realizar filmes cada vez mais ambiciosos. Dessa vez eles se juntaram a Tom Tykwer (Corra Lola corra) e realizaram seu mais ambicioso projeto, e provavelmente um dos filmes mais ambiciosos de todos os tempos.
Em 1849, um advogado viaja em um barco combatendo uma estranha doença que lhe assola e abriga um escravo em seu quarto. Em 1936, um jovem compositor começa a trabalhar com uma lenda viva da música. Nos anos 1970, uma jornalista arrisca a vida para investigar problemas em uma usina nuclear. Nos dias atuais, um editor de livros se vê aprisionado em um asilo. Em um futuro distante, uma clone desenvolvida para trabalhar em rede de fast food se apaixona e acaba sendo arrastada para uma rebelião e num futuro ainda mais distante e pós-apocalíptico um homem tenta manter sua família viva em meio a uma guerra entre tribos.
Além disso, o filme é sempre interpretado, pelo menos em sua maioria, pelos mesmos atores (Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Doona Bae, Susan Sarandon, Ben Whishaw, Hugh Grant e alguns outros), mas isso não ajudará muito quando assistir o filme. Conhecimento não vai te ajudar. Muitos tentarão explicá-lo, e talvez nomes de grandes filósofos e psicanalistas vão surgir nas conversas, mas não acredito que nada disso vá acrescentar muita coisa ao que assistir.
Será que se trata de almas que migram pra lugares e tempos diferentes? Será que as marcas idênticas que as pessoas exibem em diferentes tempos se trata de uma conexão entre as tais almas? Depois de pensar sobre o filme, eu cheguei a uma conclusão, que é que nenhuma dessas perguntas ou quaisquer respostas que me apresentem vão me fazer apreciar melhor ou pior este filme. A minha resposta nesse momento, e que realmente me interessa, é que nada disso é realmente importante.
Para mim, o importante é se desvencilhar de qualquer tentativa de tentar entender as conexões entre as histórias. O que me fascinou aqui, é como minha mente pôde percorrer solta pela imaginação, extremamente fértil, de seus realizadores. Eu acho, que tentar compreender o filme como um todo, é um exercício que, talvez, não valha a pena, porque nenhuma resposta vai ser completa ou plenamente aceita.
O filme mistura ainda vários filmes dentro dele. É a chance de assistir diferentes histórias com o preço de um único ingresso. Temos farsa, pastiche, melodrama, ficção científica e suspense, além de histórias que podem levar sua mente a divagar sobre diferentes assuntos sem conseguir chegar à conclusão nenhuma.
Para os atores é uma chance única de interpretar uma série de papéis com complexidade, profundidade e totalmente diferentes uns dos outros. Para os diretores, uma liberdade criativa e da própria narrativa cinematográfica. Para nós, espectadores, uma demonstração esplendorosa de quão mágico um filme pode ser.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

BATTLESHIP - A BATALHA NAVAL

NOTA: 5.
- Vocês deram tanto para o seu país, que ninguém mais tem o direito de pedir qualquer outra coisa. Mas eu estou pedindo.

Certas coisas não mudam em filmes de invasão alienígenas. Uma é que quando eles vem para o nosso planeta, interceptam todos os tipos de transmissão. Só esquecem de assistir a nossa programação de filmes para descobrir que o primeiro passo deles deveria ser acabar com os nerds primeiros. Preocupados com o poder militar que temos, se preocupam primeiro em acabar com as forças armadas e esquecem o perigo maior que reside por trás dos computadores.
Outra coisa que não muda é a capacidade de serem menos inteligentes que os humanos. Eles conseguem produzir naves que os transportam do planeta deles até o nosso. E estamos falando de uma produção em massa, que traz muitos deles. Tem armas tão avançadas que não temos defesa contra eles, e defesas tão sólidas que nossas armas não surtem efeito, mas em algum ponto eles ficam incapazes de ter um pensamento superior aos dos gênios humanos que nunca conseguiram ir mais longe que a Lua.
Seguindo a cartilha à risca, este filme é o mais novo exemplar do gênero. De alguma forma inspirado no jogo Batalha Naval (que quando eu era garoto era jogado com um bloco de papel e lápis). Segue tão à risca, que todo mundo sabe o que vai acontecer tão logo o filme começa. Infelizmente, ele não existe para produzir um único pensamento original. E nem os efeitos especiais escapam, pois apesar de serem muito bem feitos, são uma mistura do que já vimos em Transformers e outros filmes do gênero.
Um sinal é mandado da Terra para um tal Planeta G parecido com nosso planeta mas que está em outra galáxia. Apenas algumas semanas depois, o que comprova a diferença de tecnologia que eles tem em chegar tão rápido percorrendo tantos anos-luz, chegam os alienígenas. As forças chegam no Hawaii, com exceção de alguns fragmentos que destroem parte de Hong Kong seguindo a citada cartilha que exige que esses filmes tenham arranha-céus caindo. 
Um treinamento naval está sendo realizado entre uma frota americana e uma japonesa. A resposta do porquê ser japonesa é fácil, é uma desculpa para um capitão japonês controlar um navio americano.Tão logo os alienígenas chegam, os humanos começam os ataques. Nunca há uma tentativa de conversar com eles, que nunca são vistos como visitantes e sempre como invasores. Nós humanos mandamos o convite, eles respondem e vem até aqui e abrimos fogo contra eles. Devemos ser reconhecidos por inúmeras galáxias como péssimos anfitriões.
Claro que eventualmente alguém (Rihanna e Taylor Kitsch) vai descobrir uma forma de passar pelas defesas deles. O que leva o filme a um monte de cenas de destruição que são bem interessantes. Apesar de seguir a tradição de Transformers, o filme vai além e se mostra uma diversão bem mais interessante. E simplesmente porque temos personagens humanos que interessam à trama, uma história que tenta contar alguma coisa e um mínimo de estratégia militar. 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

SETE PSICOPATAS E UM SHIH TZU - SEVEN PSYCHOPATHS


NOTA: 9.
- Você é escritor e é irlandês. É um alcoólatra duplamente amaldiçoado.

Não é a primeira vez que um roteirista cria uma história a partir de um bloqueio criativo. Já tinha acontecido com Kauffman e acontece agora com o roteirista e diretor Martin McDonagh. Ele acerta em cheio no nome do filme. Não sei como essas pessoas acabaram se encontrando de alguma maneira, mas o mais importante é que todos tem seus lugares na mesma lista. E todos vão parar no roteiro que está sendo escrito pelo seu alter ego no filme.
O roteirista no filme é Marty (Colin Farrel), e o "está sendo escrito" quer dizer que ele tem o título e nada além disso. Ele sequer tem ideia de quem serão os sete psicopatas do título. Em boa parte do tempo o filme é uma comédia, em outras o diretor não economiza no banho de sangue. O mais divertido mesmo é observar que se trata de uns desses filmes que não disfarçam que é um filme. Algumas coisas acontecem de verdade, outras são frutos de imaginação, há ainda as histórias que acontecem dentro do filme e não posso esquecer das coisas que acontecem dentro do roteiro.
Quando Marty é chutado pra fora de casa por Maya (Abbie Cornish), sua namorada, ele vai morar com seu melhor amigo, Billy Bickle (Sam Rockwell com um personagem quem tem o mesmo sobrenome do personagem de De Niro em Taxi Driver), que está ansioso para ajudar seu amigo a fugir de sua crise criativa. Billy é ator mas não consegue muitos trabalhos por acabar agredindo os diretores e ganha a vida com Hans "sequestrando" (ele diz que pega emprestado) cachorros e depois devolvendo pelo dinheiro que seus donos oferecem como recompensa.
É Billy que para ajudar Marty escreve um anúncio convocando psicopatas para aparecerem na sua casa para contar suas histórias, o que acaba levando um serial killer de serial killers que não se separa de um coelho até a sua porta. Não sei o quão perigoso isso pode ser, mas aparentemente é mais perigoso ainda sequestrar o cão Shih Tzu de um perigoso mafioso da cidade. O psicopata Charlie (Woody Harrelson) é frio e impiedoso, e essa cachorro é a única coisa no filme inteiro que o faz demonstrar algum tipo de sentimento.
O elenco é todo afinado e dá conta do recado. Farrel segura bem como o protagonista do filme, Harrelson mescla com habilidade o lado sádico e o lado cômico e Rockwell vive sua loucura já conhecida. Cada psicopata tem sua maneira peculiar de ser que enriquece os personagens do filme. O mais especial deles, porém, é Walker. Apesar de se "auto-plagiar" em cena, ele é capaz de entregar cenas de alta carga emocional, ainda que algumas vezes não diga uma palavra sequer. E mesmo quando tem um diálogo que não parece prometer muita coisa, ele faz com que seja especial.
Em alguns momentos lembra filmes de Tarantino e em menor escala um Guy Ritchie, mas é um filme que mostra uma personalidade única que acaba o diferenciado dos demais. De alguma forma, o diretor McDonagh consegue juntar personagens tão diferentes e sem ligação de forma criativa, incomum e sem desperdiçar uma gota dos litros de sangue que jorram na tela. Um dos melhores entretenimentos que tive nos cinemas em um bom tempo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

MÁFIA NO DIVÃ - ANALYZE THIS


NOTA: 8.
- Qual é a minha meta aqui? Te transformar num mafioso feliz e bem ajustado?

Quando eu penso em um mafioso, não o imagino chorando sentado na frente de uma televisão por causa de um comercial sentimental. Por isso que Paul Vitti (Robert De Niro), um chefe de uma família de Nova York, se encontra em uma posição muito complicada em sua vida. Seus rivais, e talvez até mesmo seus aliados, não podem saber que ele está vulnerável. Se alguém descobrir, ele provavelmente vai se transformar num homem morto.
É por isso que Vitti bate à porta de Ben Sobel (Billy Crystal), um psiquiatra que basicamente só cuida de casos conjugais. "Você me conhece?", pergunta Vitti. "Sim", diz Sobel. "Não, não me conhece", responde Vitti. Este primeiro encontro define a relação entre os dois pela maior parte do filme. Sobel não pretende ajudar Vitti, já que se trata de um bandido, mas se não fizer pode ser apenas mais um na lista das pessoas que ele matou. E Vitti geralmente consegue o que quer. Conforme ele diz, só costuma ouvir "não" quando alguém lhe implora para não morrer.
Uma história cômica com esse teor, depende muito do seu elenco, e aqui os dois funcionam perfeitamente. De Niro brinca com habilidade da sua imagem de anos construída fazendo mafiosos em filme de Copolla, Scorcese entre outros, para fazer Vitti, um homem cujo elogios não se podem ser negados (com perdão do trocadilho) pelo psiquiatra de Crystal, que não parece ser muito competente mas que eventualmente vai acabar dizendo a coisa certa. 
O mais importante é a riqueza que os dois trazem a seus papéis. Fossem atores normais, talvez não fôssemos dar muita atençao à eles, mas o que acontece é que tomam dimensões além do que esperamos, e acabamos nos importando com eles. Talvez não muito, mas o suficiente para o filme se tornar mais interessante. Considerando que se trata de uma comédia e não um drama, talvez nos importemos tanto quanto devemos nos importar e continuar rindo.
Tratar Vitti não é uma tarefa das mais fáceis. Ele tem que ter cuidado porque se Vitti sentir que está ficando efeminado mandará matá-lo, é sequestrado no meio da noite quando está tentando se casar e até mesmo é atirado num tanque com tubarões quando diz a coisa errada. Para manter sua integridade física (a moral parece ter se perdido antes mesmo de ter conhecido Vitti), ele deve tentar curar o mafioso em horários estranhos e esperar que seu capanga Jelly o sequestre em qualquer momento de qualquer lugar para resolver uma emergência.
A grande graça do filme é a subversão dos filmes sobre a máfia. Eu nunca esperaria o "poderoso chefão" indo se consultar porque está com stress ou deprimido. Talvez o filme pudesse se perder por fazer tudo muito exagerado, mas ele mantém sua comédia na estranha relação entre os dois homens de mundo opostos. É uma boa comédia que nos apresenta mais do que possamos esperar. E um ótimo trabalho de um elenco bem escolhido.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

VALENTE - BRAVE


NOTA: 8.
- Se você tivesse a chance de mudar seu destino, você o faria?

Desenhos animados costumam levar muitas crianças para os cinemas e também seus pais, que os acompanham. Como se trata de um filme da Pixar, geralmente ambos ficam satisfeitos, mas infelizmente esse não é o caso aqui. Apesar de ser um bom desenho animado, está longe de ser uma unanimidade como Procurando Nemo, Toy Story ou Wall-e. A boa notícia é que em termos de animação está melhor do que nunca, e o ruivo cabelo encaracolado de nossa jovem heroína está aí para provar.
Eu mencionei o cabelo, porque poucas vezes se vê como ele pode representar tão bem a personalidade de uma personagem. Rapunzel tinha um cabelo muito interessante, mas era um penteado certinho assim como ela era extremamente submissa. Aqui, Merida é dona de uma vasta cabeleira esvoaçante. Ao contrário da outra heroína citada, Merida é livre e ativa. Ela faz acontecer ao invés de esperar que algum príncipe encantado venha em seu resgate. E isso já a faz ser diferente de qualquer outra princesa que a Disney já teve, e a primeira protagonista feminina da Pixar.
Assim como a Katniss, de Jogos vorazes, Merida é perita em arco e flecha, sendo que ela pratica por esporte e não pra se alimentar. Ela anda feliz pela floresta com seu cavalo para o desgosto da rainha, sua mãe, que iria gostar mais se ela se comportasse como a princesa que é. "Uma princesa não coloca sua ara na mesa", ela diz. Quando finalmente atinge a idade de se casar, a rainha arruma tudo para que o marido de Merida seja escolhido entre os pretendente, que são os demais herdeiros dos outros clãs da Escócia.
Furiosa por não ter nenhuma escolha no assunto que vai definir seu futuro, Merida consegue a ajuda de uma bruxa que vive na floresta. A velha, que finge vender apenas artigos de madeira que ela mesmo entalhou, lhe dá uma poção que poderia deixar a menina livre, mas em consequência sua mãe acaba ficando em perigo. Percebendo que pode perder sua mãe para sempre, Merida parte em seu resgate para tentar reparar seu erro, e durante a jornada mãe e filha finalmente se conhecem de verdade e começam a tentar entender melhor uma à outra.
As cavalgadas que Merida dá servem para duas coisas: 1. Para apreciarmos o mundo em que ele vive. Vemos o que ela gosta e percebemos o que ela tem a perder se casar; e 2. Nos fazendo apreciar o mundo da princesa, a Pixar nos delicia com uma Escócia espetacular, colorida e com detalhes tão realistas que são de tirar o fôlego. Não sei dizer se a realidade é tão bonita assim, mas realmente é muito bonito de se ver mesmo aqui no desenho.
Merida está longe de ser uma princesa tradicional dos contos de fada. Pra mim, é interessante vê-la como uma feminista que luta para mudar seu destino. Ainda que isso aconteça com um pouco de mágica, é seu esforço que altera "a ordem natural das coisas". É a Pixar entrando no "mercado das meninas", mas entrando de forma totalmente diferente do que já tínhamos visto até agora. Ainda que não seja uma obra-prima como ficamos acostumados de ver, é um desenho muito interessante.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO - THE BIRTH OF A NATION


NOTA: 10.

É o filme que definiu a "gramática cinematográfica" que ainda é usada. Simples assim. D. W. Griffith fez o que nenhum outro cineasta fez antes dele. Olhar para esse filme é quase como observar o nascimento de uma obra de arte. De uma forma de arte. Que hoje a música é feita de diversas formas e facilmente é uma coisa, mas não é mais impressionante quem inventou os primeiros acordes? Os primeiros acordes do cinema estão presentes neste filme.
Tendo dito isso, vocês podem me perguntar porque este filme não recebeu nota 100, como alguns outros poucos conseguiram, e a resposta é simples. Ao mesmo tempo, o filme é um capítulo vergonhoso da história do cinema. Clássico ou não, não se pode ignorar que se trata de uma história com conteúdo altamente racista e tão ofensivo que foi duramente criticado mesmo em uma época onde as pessoas podiam se declarar racistas abertamente.
Com quase cem anos desde seu lançamento, este filme é um desafio para as plateias atuais. Plateias desacostumadas com filmes mudos, mas que não podem esquecer a história do cinema. Ainda que tenha seu conteúdo controverso, é um filme que influenciou milhares de cineastas ao longo dos anos e um dos filmes históricos que temos. Na primeira metade do filme, o que temos são cenas de batalhas que impressionam pela forma com que foram filmadas. Griffith mostrou a todo o mundo o que um filme era, e tudo o que ele podia ser. Por isso, independente do que possamos dizer sobre sua história, o diretor jamais perderá seu lugar de destaque.
Devemos ainda pensar que Griffith realizou este filme em 1915. Não acredito que o diretor era abertamente racista ou mesmo membro da KKK, o que eu realmente acredito era que o seu principal interesse era contar uma história através de um filme, independente do que estivesse mostrando nas telas. Para seu azar, o filme mostrou o quão racista um homem branco naquela época podia ser sem sequer se dar conta de que era realmente racista. Ele mesmo só deve ter percebido isso depois.
Ou talvez eu esteja errado. Durante o filme, temos que todos os personagens negros importantes são brancos com a cara pintada. O efeito aparece ainda mais estranho, quando temos esses homens de cara pintadas no primeiro plano enquanto homens realmente negros estão fazendo figuração ao fundo. Ele tinha acesso a negros para realizar seus filmes, mas por algum motivo não os usava para nada além de figuração.
Agora gostaria de discutir sobre o que viram as pessoas na época do lançamento do filme e o que assistimos agora. Naquela época, as pessoas viram um filme escrever a "gramática cinematográfica" pela primeira vez durante três horas enquanto estavam acostumadas apenas a assistir filmes curtos. Hoje olhamos o filme e tudo parece natural para nós, porque estamos tão acostumados com essa gramática que parece que ela sempre existiu. E justamente o que enxergamos agora é o racismo nas telas, o que provavelmente deve ter passado despercebido pela maioria das pessoas que assistiram em seu lançamento.
Na primeira metade do filme, os negros são relegados a um segundo plano. O mais interessante nesta parte é a guerra entre o sul e o norte, e os homens que vão para a batalha em lados opostos e morrem. Ne segunda parte, vemos o sul que deve aceitar os negros mas claramente não conseguem, e o que o filme nos mostra são "as pobres mulheres brancas" que começam a virar alvos de negros. O terceiro ato é o mais ofensivo de todos, e culmina no "resgate dos brancos ameaçados" que serão salvos pela Ku Klux Klan, retratada como a última esperança branca.
Não sei dizer se ele era realmente racista ou se simplesmente era um "produto da época". Seja como for, Griffith passou muito tempo depois do lançamento deste filme tentando se eximir da culpa. Seja lançando uma nova versão editada onde cortava todas as cenas com a KKK, ou seja lançando um novo filme, Intolerância, que mostrava uma visão contrária deste. O que realmente importa para nós, cineastas, estudantes ou amantes do cinema, é que o filme tem seu lugar merecido na história do cinema. Ainda que a história incomode, a gramática permanece até hoje. 
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