segunda-feira, 31 de outubro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 25: UM CASAL DO BARULHO - MR. & MRS. SMITH (1941)

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NOTA: 4.
- Se você pudesse fazer tudo de novo, ainda assim casaria comigo?

O próximo filme da lista do diretor é totalmente atípico se comparado com o resto da sua filmografia. Pela primeira vez, e única, Hitchcock faz uma comédia. Isso aconteceu por conta da sua amizade com Carole Lombard, que lhe pediu para dirigir um filme com ela. Ele diz que não conseguiu entender como os personagens agiam, então simplesmente filmou as cenas como eram descritas no roteiro. Em defesa do diretor, posso dizer que não faço ideia do porque qualquer pessoa agiria do modo que eles agem.
Ao contrário do filme dirigido por Doug Liman e estrelado por Brad Pitt e Angelina Jolie (nos títulos originais, ambos os filmes se chamam Mr. & Mrs. Smith, apesar do filme de Hitchcock já mostrar que os péssimos títulos nacionais vem de muito tempo), não há assassinos, espiões ou qualquer profissão do gênero no filme de Hitchcock, apesar de ambos tratarem de um casal em crise. Aqui, o casal é interpretado por Carole Lombard, a amiga de Hitchcock, e Robert Montegomery.
Ann e David são casados e moram juntos há 3 anos. Mas por conta de uma tecnicalidade jurídica, o casamento dos dois deixa de ser válido. Ao invés de tentarem resolver esse problema, eles acabam tendo uma discussão e acabam se separando. Ele, que dizia que se pudesse fazer tudo de novo permaneceria solteiro, quer casar novamente com ela. Ela, que parecia irremediavelmente apaixonada, decide procurar outra pessoa para casar, incluindo o sócio e melhor amigo de David.
O diretor ainda tenta tirar alguma coisa de um roteiro óbvio, pouco inspirado e que só apresenta personagens desinteressantes. Um homem obcecado a passar o filme inteiro se humilhando para ter sua mulher de volta. A mulher que faz de tudo para arrumar um marido que não seja o anterior mesmo que não tenha motivos aparentes para reatar com ele. Um amigo e sócio que não tem pudores de tentar roubar a mulher alheia. Não há alguém por quem se torcer neste filme.
Para piorar a situação, se trata de uma comédia que irá tirar no máximo algumas risadas amarelas. Me impressiona que apesar de parecer estar amadurecendo como diretor, ele ainda era capaz de escolher mal alguns de seu filmes. Pouca coisa interessante de se falar sobre este.
Nessa parte há um detalhe interessante em que ele explica uma de suas frases que foi mal interpretada. Certa vez, ainda no cinema mudo, ele comparou atores com gado. Uma frase que lhe perseguiu durante toda a sua vida e que lhe valeu a fama de não gostar de atores. Ele sequer lembra qual o contexto em que disse a frase, mas explica que queria apenas falar mal dos atores que se dedicavam muito ao teatro e não dava atenção nenhuma ao cinema. Eram esses atores que o incomodavam. Como brincadeira, Carole colocou 3 bois com placas onde escreveu os nomes do elenco principal pendurado no pescoço. E ele achou genial a tirada.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A LENDA DOS GUARDIÕES - LEGEND OF THE GUARDIANS: THE OWLS OF GA'HOOLE


NOTA: 4.
- A lenda conta sobre um bando de guerreiros nobres, conhecidos como os Guardiões de Ha'hoole. Sempre que houver problemas, procure por eles. Porque eles prometeram prometer os inocentes e acabar com o mal.

Na última vez que escrevi sobre um filme de Zach Snyder, discorri sobre a capacidade do diretor de esquecer de contar uma boa história para mostrar um visual exuberante. Que sequer costuma ser tão exuberante assim. Mas devo reconhecer que seus resultados são melhores quando ele está adaptando algo de outra mídia, já que não existe a possibilidade dele simplesmente ignorar que existe uma história por trás da obra que está realizando.
Aqui, ele tenta mirar o público infantil (sem muito sucesso) contando a história de poderosas e estranhas corujas. Temos as corujas más, que se autoproclamam as puras e as corujas boas, as tais guardiãs do título. Dois irmãos são capturados pelas puras e levadas para o esconderijo onde descobrem um terrível plano que quebrará a trégua entre elas. Soren (Jim Sturgess) consegue fugir de lá e começa sua jornada para encontrar os guardiões e avisá-los do que está acontecendo, enquanto vê seu irmão indo pro lado negro.
Depois de mostrar um início até promissor, onde as jovens corujas ouvem do pai as antigas histórias dos guardiões, o diretor não demora a mostrar o que realmente sabe fazer. Basta as pequenas corujas colocarem os pés fora do ninho que o filme começa a ficar extremamente violento para crianças. Seguem-se as cenas típicas do diretor de batalhas (inúmeras delas) que para valorizar ainda mais a violência são recheadas de câmeras lentas.
Aí o filme começa a se perder não somente pelo conteúdo que não condiz com a história contada.. Ao não conseguir se decidir se quer contar uma história para crianças ou partir para buscar o público um pouco mais adulto que pode ficar vidrado nas batalhas, Snyder não consegue alcançar profundidade na sua história. Uma densidade que a Pixar parece conseguir fazer com tanta facilidade mas que praticamente nenhum outro estúdio parece ser capaz de repetir.
O filme tem duas coisas feitas com excelência. Uma é a animação feita que é nada menos que espetacular. É realmente uma beleza olhar o voo das poderosas corujas. E apesar das batalhas exageradas, as cenas de voo são realmente espetaculares, apesar de serem um pouco longas demais. A outra coisa é o elenco de peso que parece ter sido escolhido a dedo. Temos australianos (Sam Neill, Hugo Weaving, Abbie Cornish - que ainda está merecendo sorte melhor em Hollywood) acompanhados de nomes como Helen Mirren e Jim Sturgess. Todos muito bem escalados em seus papéis.
Talvez não tivesse uma história pela qual qualquer espectador possa identificar tão facilmente de tantos outros filmes, pudesse ter até sorte melhor. Infelizmente, acaba não conseguindo levantar voo (com perdão do trocadilho).

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O MENTIROSO - LIAR LIAR


NOTA: 7.
- Eu desejo que só por um dia, meu pai não possa contar uma mentira.

Certos filmes não pedem por grandes explicações. Eles não são feitos para isso. Alguns filmes são apenas "ingênuos" e não pedem muito de seus espectadores. Por isso não é tão difícil de acreditar que o simples pedido de um garoto no seu aniversário para que seu pai não possa mentir por um dia não possa se tornar realidade.
É claro, porém, que tudo não passa de uma mera desculpa para explorar a veia cômica de Jim Carrey, que já estava estabelecido como grande astro depois de sucessos como dois Ace Ventura, Debi & Lóide e até mesmo fracassos como Batman eternamente e O pentelho. E ele trabalha incansavelmente com uma energia cômica que impressiona. Como se fosse o bobo da corte atrás das risadas, ele busca a risada atrás de cada cena do filme, e dificilmente ele não consegue alcançar seu intento.
Engraçado é que esse parece justamente o filme certo para sua carreira naquele momento. Seus dois fracassos vieram quase em sequência e tinham uma coisa em comum: mostrava um Carrey em personagens detestáveis. Aqui, apesar de seu personagem não fazer muitas coisas corretas durante o filme, é com certeza adorável.
Ele é um advogado carreirista que quer se tornar sócio na empresa de qualquer forma, mesmo que para isso ele tenha que mentir em qualquer caso que lhe apareça objetivando a vitória mesmo que saiba que seu cliente esteja totalmente errado. Assim como, nesse excesso de trabalho, ele já tenha se afastado de sua ex-mulher e esteja se afastando cada vez mais de seu filho pequeno, que cansado das desculpas esfarrapadas do pai para não parecer faz o tal pedido quando vai apagar as velas do seu bolo de aniversário.
O pedido se realiza e Fletcher (Carrey) não consegue mais contar uma mentira sequer, por menor e mais inocente que pareça. E logo ele que está tão acostumado a viver contando uma mentira após a outra. E nem é preciso ir muito longe para ser solidário com ele, qualquer ser humano que não esteja preparado para contar uma única mentira pode acabar passando por problemas. Imagine ele que tem que defender o caso de uma mulher que quer metade da fortuna do marido mesmo depois que ele descobriu pelo menos 7 casos extra-conjugais dela.
Talvez se o filme tivesse escalado outro ator, a ideia poderia ter se esgotado rapidamente, mas Carrey literalmente mergulha na história do filme para que não possamos nos preocupar com qualquer outra coisa que não seja a diversão. Seja brigando com uma caneta ou mesmo se espancando em um banheiro, mesmo quem não o ache engraçado se vê pelo menos solidário com esse "pobre homem".
A graça é realmente ver Carrey tentando escapar de situações em que não pode escapar falando apenas a verdade. Tom Shadyac, que já havia trabalhado com Carrey em Ace Venture, parece já conhecer o ator que tem em mãos e dá bastante espaço para que ele brilhe. Parece mais confortável em colocar a câmera na posição e assistir o show de camarote. O que não é um negócio ruim para eles ou para nós.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 24: CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO -FOREIGN CORRESPONDENT (1940)

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NOTA: 9.
- Correspondentes estrangeiros. Eu podia ter mais notícias da Europa olhando uma bola de cristal.

É muito fácil em Hollywood, observar a "categoria" dos filmes. Basicamente, há os diretores de filmes das séries A, B e C. No sentido da evolução, parece ser difícil um diretor conseguir subir de uma série para outra, a menos que consiga um sucesso estrondoso. Por isso parece meio estranho, mas Hitchcock depois de realizar um filme A, faz de seu filme seguinte um filme B. 
Ele explica o porquê. Ao contrário do que acontece na Europa, os thrillers eram mal vistos nos EUA. Até mesmo os livros são considerados de segunda classe. A ideia do diretor, era fazer o filme com Gary Cooper, mas por ser um filme de aventura o ator recusou o papel. Hitchcock ficava então obrigado a trabalhar com atores de segunda grandeza. Ele diz que anos mais tarde encontrou com Copper que lhe disse: "Eu me enganei, não foi?"
Depois de trabalhar com Selznick, ele se junta ao produtor Walter Wanger que tinha os direitos de um  livro chamada "Personal history", que deveria ter inspirado a história do filme. Como o diretor gosta de modificar a história dos livros até que lhe sirvam para fazer seus filmes, o que acontece é que nada sobrou da história original, e o roteiro acabou saindo uma história original.
A história é do correspondente internacional de um jornal, John Jones (Joel McCrea) que é enviado para a Europa pré-segunda guerra para investigar a possibilidade do início do conflito. Na Inglaterra, ele se encontra com um político que lhe diz saber segredos de uma certa aliança. Dias depois, ele assiste a suposta  morte do político que era na verdade apenas um plano para sequestrá-lo.
Ao contrário de outros filmes, o herói dessa vez não é falsamente acusado de crime algum, mas para cobrir a história ele se encontra bem no meio de toda a aventura. Seguindo atrás do político, ele é ajudado por uma jovem cujo pai é presidente de uma associação pacifista, mas que depois descobriremos que é na verdade uma autoridade nazista. Apaixonado, ele fica indeciso entre desvendar a verdade e não se indispor com a moça. Apesar de não ter os frandes nomes que gostaria, até que ele consegue atores que dão conta do recado, apesar de chamar McCrea de mole para o papel.
Só é realmente uma pena que seja um filme B, pois com um acabamento, e atuações, de primeira, poderia ser um filme muito melhor. Talvez um dos grandes do diretor, que ainda assim conseguiu fazer um filme muito interessante. Só é uma pena que seja difícil de encontrar uma cópia que esteja em ótimas condições.
O mais importante desta parte da entrevista é destacar a importância do MacGuffin nos filmes do diretor. Nas suas palavras:
"É um expediente, um truque, um recurso para uma situação problemática, é o que se chama gimmick... Todas as histórias de espionagem escritas nesse ambiente eram invariavelmente sobre roubo dos planos... MacGuffin é o nome que se dá a esse tipo de ação. Na prática, isso não tem a menor importância, e os lógicos estão errados em procurar a verdade no MacGuffin."

domingo, 16 de outubro de 2011

ROBOCOP


NOTA:8,5.
- Vivo ou morto, você vem comigo.

O futuro da cidade de Detroit é assustador. A violência impera e os policiais estão morrendo a cada semana. A situação parece tão desesperadora que a solução parece ser construir uma nova cidade, futurística e um tanto quanto feia. Um robô surge para tentar dar uma solução ao crime: ED 209. Cem por cento robotizado, ele mata um inocente executivo na sua apresentação. Falta alguma coisa para esse plano dar certo.
Enquanto isso, um novo policial chega na cidade. Ele é Murphy (Peter Weller), que se junta a uma parceira Lewis (Nancy Allen) e patrulha a cidade tentando fazer sua parte para ajudar a acabar com o crime. Eles começam a perseguir uma gangue que assaltou um banco e pedem reforços. Reforços que não podem chegar antes de 20 minutos. Essa falta de organização da polícia leva a morte brutal de Murphy.
A polícia é controlada por uma empresa privada chamada OCP, a mesma que quer empurrar a venda dos tais ED 209 que não estão funcionando perfeitamente. Como um robô totalmente automatizado parece não funcionar, eles usam o corpo de Murphy para construir um policial que seja parte máquina e parte humano para policiar as ruas. Esse é o projeto Robocop. A vantagem é o cérebro humano, capaz de discernimento que as máquinas não são capazes.
O projeto parece dar certo e o policial começa a resolver crimes com uma certa facilidade. Ninguém sabe nada a respeito dele, com exceção de sua antiga parceira Lewis. Ela consegue observar alguns detalhes  que não se apagaram do cérebro de Murphy e sabe que debaixo de toda aquela armadura de metal está o seu parceiro. Seguindo uma lógica parecida com a do Batman, os cientistas cobrem apenas a parte de cima da cabeça até os olhos. A diferença é que aqui ele é reconhecido por ela.
O filme se desenrola como um filme policial padrão, mas não se trata de um filme comum. A provável causa é que é dirigido por Paul Verhoeven, que teve aqui sua primeira grande chance em Hollywood e fez um bom trabalho. Tanto que depois ficaria mais em evidência com filmes como O vingador do futuro e Instinto selvagem. Ele mistura comédia, romance além da filosófica busca do personagem pela sua identidade, o que funciona muito bem.
Outra parte que faz o filme funcionar é a atuação de Peter Weller no papel principal. Sua voz meio robotizada funciona muito bem. Como uma voz que não pode ser contestada. Ele também consegue criar uma empatia com a platéia que é vital para o filme. Consegue fazer um Robocop mais humano do que quando realmente é humano.
Muitos filmes se concentram apenas em efeitos especiais e esquecem de tecer a história. Verhoeven não cai nesse erro. Aqui, temos um bom filme policial que usa os efeitos para fazer diferença. Ainda que certo efeitos estejam ultrapassados, o filme não está. Por isso ainda vale a pena assistir.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

NÃO TENHA MEDO DO ESCURO - DON'T BE AFRAID OF THE DARK


NOTA: 8,5.
- Nós só queremos ser seus amigos, Sally.

Frequentemente, filmes de terror usam casas mal assombradas, crianças ou o escuro para assustar as plateias. Por isso, esse filme não chega a ter nenhuma novidade. Uma certa novidade é o uso dos três fatores ao mesmo tempo. Mesmo que a casa do filme não fosse assombrada, ela deveria ser. Não que não seja uma casa bonita. Ela é lindíssima, mas também não é o tipo de casa que eu gostaria de morar depois de assistir a tantos filmes de terror.
É para este tipo de casa que um pai leva sua filha de 10 anos de idade. Olhem o cartaz acima e vejam que são os pés da criança que estão prestes a descer os degraus. Talvez um adulto descendo pudesse criar um efeito parecido, mas não seria a mesma coisa. Crianças são mais frágeis e criam uma empatia instantânea com elas. Todos temem pelo bem-estar delas. Por isso, nada pior que ver uma criança descendo no escuro rumo ao desconhecido.
Claro que para funcionar, a atriz deve ser muito bem escolhida. Como foi escolhida aqui. A jovem Bailee Madison faz de Sally uma menina introspectiva e inteligente, uma escolha extremamente eficiente. Seu pai é interpretado por Guy Pearce, um homem que ama sua filha de uma maneira um tanto distante. A namorada dele é interpretada por Katie Holmes, e consegue se aproximar mais da menina por parecer entendê-la melhor. Para completar, só falta o personagem que sabe de tudo que está acontecendo mas permanece em silêncio, que é Harris (Jack Thompson). Ele é quem dará as dicas para que se descubra o que está acontecendo de verdade. Não é necessário para o entendimento do filme, mas muita gente na plateia poderia reclamar se não houvesse uma explicação.
Adaptando um filme para a TV dos anos 1970, o produtor Guillermo del Toro deixa a direção a cargo nas mãos do estreante da direção de longas Troy Nixey. Para a estreia do diretor, a atmosfera do filme impressiona pelo ótimo controle que ele apresenta.
O início do filme mostra o que aconteceu com os moradores da casa antes de eles se mudarem. E mesmo depois nós vemos o que acontece com a menina, mas nenhum dos adultos vê coisa alguma. Por isso, é fácil culpar a criatividade da menina ao invés de realmente acreditar nela. Quem acreditaria no final das contas? Principalmente não o pai que investiu todo o seu dinheiro para reformar o lugar.
E entra ainda um outro elemento para dar o toque especial em um filme de terror: o porão. Aqui no Brasil, não é comum as pessoas terem porão ou sótão, mas é impressionante como eles funcionam bem para fazer um filme de terror. Uma pena que a causa de tanto pânico apareça rapidamente e muito claramente, diluindo um pouco do terror que poderiam causar se não pudéssemos vê-las. Terror substituído por CGI, infelizmente.
Apesar disso, o filme funciona muito bem como um filme de terror. É cada vez mais difícil de encontrar filmes que possam atingir esse potencial de realmente causar medo na plateia, e este consegue. Pode não ser memorável, mas com certeza é muito eficiente.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

POSSUÍDOS - FALLEN


NOTA: 7.
- Existem momentos que marcam sua vida. Momentos em que percebe que nada vai ser a mesma coisa de novo e sua vida se divide em duas partes: antes e depois daquele momento. Algumas vezes, você pode sentir esse momento chegando. Esse é o teste. Em tempos como esse, pessoas fortes continuam avançando não importa o que vão encontrar.

Em certa parte do filme, o personagem interpretado por Denzel Washington discursa sobre a força policial. John Hobbes (talvez inspirado em Thomas Hobbes, que dizia que todos os homens eram maus) diz que 99,5% do tempo, os policiais, mesmo os corruptos, estão fazendo boas ações. Por isso, eles são os escolhidos. Porque fazem mais coisas boas que qualquer outra pessoa em qualquer outra profissão. Talvez essa seja a razão pela qual acredita que deva combater o mal. Literalmente.
Na noite da execução de um serial killer que foi capturado por ele, Edgar Reese (Elias Koteas, em uma pequena mas ótima participação) conversa com ele em uma estranha língua e segue para a câmara de gás cantando "Time is on my side", dos Rolling Stones. Pouco depois da sua execução, vemos um estranho efeito que mostra o que vamos descobrir depois ser o ser maligno abandonando o corpo do assassino. Somente em Hollywood um demônio pode andar tão livremente entre nós. E só em Hollywood sua música preferida é dos Rolling Stones.
Assim o filme abre a possibilidade do sobrenatural enquanto finca a vida de Hobbes todo dentro do mundo real. Seja em casa onde mora com seu irmão e sobrinho pequeno, ou no trabalho onde divide seu tempo com seu parceiro Jonesy (John Goodman) e seu superior Stanton (Donald Sutherland), um desses personagens enigmáticos que parecem saber mais do que deveriam.
Então esse mundo real estabelecido na vida do detetive começa a ser invadido por acontecimentos estranhos. Um homem que lhe chamou a atenção no dia anterior aparece morto em uma banheira. Outros crimes cometidos pelo mesmo método de Reese começam a aparecer novamente e o laudo de um linguístico diz que a estranha língua que Reese disse para Hobbes era Aramaico, uma linguagem morta que não tem como ele ter aprendido.
Uma estranha trama começa a se formar contra Hobbes. As tais coincidências vão se acumulando até que suas investigações o levam a filha de um policial que se suicidou tempos atrás e um nome: Azazel, o tal demônio que nós descobrimos antes dele (temos a vantagem de saber que ele está em um filme de terror enquanto ele próprio não sabe). O que Hobbes espera não é limpar seu nome ou sair ileso. Ele sabe que cabe a ele derrotar o tal demônio.
O filme apresenta uma história muito interessante, mas que não é conduzida pelo diretor Gregory Hoblit com brilhantismo suficiente para ser um filme melhor do que realmente é. Na verdade, a ideia é melhor que a sua execução, e depois de desenvolver uma trama interessante, o filme vai caindo de produção até chegar a sua definição mecânica e um pouco previsível. Um filme até interessante, mas muito burocrático para o meu gosto.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 23: REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL (1940)

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NOTA: 8.
- Felicidade é um assunto do qual eu não sei nada.

Finalmente Hitchcock chega a Hollywood para filmar Titanic com a produção do lendário produtor David O. Selznick (que no ano anterior havia produzido ...E o vento levou). Depois de uma despedida um pouco melancólica da sua fase inglesa, o diretor volta com força total para receber sua primeira indicação ao Oscar e tendo sob a sua batuta o grande Laurence Olivier. Dois ingleses que só trabalharam juntos em Hollywood.
Trata-se de um belo filme e uma produção primorosa, mas "não é um filme de Hitchcock". Mesmo para a época em que foi feito, a história do filme é bem antiquada e sem senso de humor. Ele diz que não se sentiu com seu primeiro filme nos EUA, porque apesar de tudo ainda se tratava de um filme inglês, já que a história, os atores e o diretor do filme são todos da Inglaterra. Ainda assim somente os americanos venceram Oscar por este filme (Melhor filme e fotografia). A boa notícia é que mesmo indo para a terra do Tio Sam, o diretor muda muito pouco no seu estilo de direção. Esse filme, apesar de mudar a essência do que o diretor costumava apresentar, é um filme muito similar a anteriores dele como A dama oculta ou Os 39 degraus.
A história é sobre uma moça sem nome (Joan Fontaine) que está acompanhando uma senhora rica em uma viagem. Durante essa viagem, ela conhece o rico Maxim de Winter (Laurence Olivier). Depois de um mal começo, os dois se aproximam até que Maxim a pede em casamento. Os dois vão para a misteriosa mansão dele em Manderley onde a moça terá grandes problemas em se adaptar a uma vida de luxo e riqueza. 
Dois fatos fazem com que a moça tenha dificuldade em se adaptar à sua nova: a constante "presença" da falecida primeira de Winter, a quem todos parecem ter grande admiração; e a estranha governanta da casa que parece saída de um filme de terror. Ela nunca parece andando, parece simplesmente surgir no lugar de uma hora para outra.
Apesar da grande qualidade técnica que o filme alcança, superior a todos da sua fase inglesa, o filme não chega realmente a empolgar. É muito antiquado em mostrar constantemente uma mulher que se deixa ser humilhada pelas contantes mudanças de humor do marido porque o ama tanto. Apesar de ainda chamar muita atenção, já que é realmente uma obra bela com produção caprichadíssima e ótima fotografia em preto e branco, não se trata de um dos grandes filmes do diretor. O que é bom observar, é que apesar de não ser uma das melhores obras do diretor, percebe-se que ele agora tem todos os meios técnicos para fazer seus filmes. 

domingo, 9 de outubro de 2011

EU QUERIA TER A SUA VIDA - THE CHANGE-UP


NOTA: 3.
- Quando estávamos crescendo, Dave e eu tínhamos planos. Ele queria ser astronauta. E eu queria vender golfinhos no mercado negro.

Uma vez escrevi que as melhores comédias costumam ser politicamente incorretas. Não consigo me lembrar agora de uma boa comédia que não fosse ao menos um pouco transgressora. O problema, porém, é que há uma diferença entre o politicamente incorreto engraçado para qualquer coisa incorreta feita para ser engraçada. Claro que esse conceito é extremamente subjetivo e varia de pessoa para pessoa. Para mim ver dois bebês quase se cortando com facas e depois serem punidos em uma pia levando um banho de leite não é engraçado. É gratuito. Tendo dito isso, digo também que este não é um filme engraçado. É gratuito.
Alguns filmes são acusados de serem extremamente machistas e pintarem uma péssima imagem das mulheres. Aqui, o filme tem uma péssima imagem dos homens e uma pior ainda das mulheres. Por isso não se pode sequer ser acusado de sexista, apenas de ser um filme que não sabe retratar qualquer ser humano decente durante todo sua duração. Tanto é que transgrede todas as regras de civilidade e boa conduta. Não me entendam mal, não sou puritano. Assisti Se beber não case e adorei o filme. Mas este não é o mesmo tipo de filme ou mesmo tem o mesmo tipo de humor.
O tema do filme é um dos mais batidos que o cinema pode gerar: a troca de corpos entre dois personagens. Por algum passe de mágica, dois personagens acordam no corpo de outra pessoa. Aqui a saída é muito original... NOT. Dois amigos de infância estão mijando em uma fonte quando dizem ao mesmo tempo "Eu queria ter a sua vida". E logo depois de estarem no corpo novo eles descobrem o motivo da troca. Claro que eles acreditam nisso, é uma coisa que acontece sempre com qualquer pessoa.
Assim como deveria considerar muito engraçado homens levando um jato de cocô no meio da cara, mijando em público no meio de um shopping em frente de crianças, tatuadores se aglomerando na frente de uma vagina para "observar" uma tatuagem que acabou de ser feita, uma mulher grávida em busca de sexo e outra mulher tendo uma crise de diarreia.
Pra piorar, temos dois personagens principais pela qual eu não podia me importar menos. Um é um ator maconheiro que não faz nada o dia inteiro e o outro um obcecado pelo trabalho. O trabalhador, Dave (Jason Bateman) aparece no início tendo que levantar de madrugada para cuidar das crianças que estão chorando. De Dave (Ryan Reinolds), não vemos praticamente nada sobre sua vida. E logo no início, antes que possa me interessar por qualquer personagem, a troca acontece.
E pior ainda, ambos são tão estúpidos e ridículos, que somos obrigados constantemente a ficar nos lembrando quem é quem. Não há nada na troca que indique quem é quem. São péssimos seres humanos sem nenhum respeito ou decência. Existe pouquíssima coisa pra se acompanhar no filme. Nem personagens, nem história e nem graça. Para quem gosta de escatologia e piadas de péssimo gosto pode ser um prato cheio.

sábado, 8 de outubro de 2011

A HORA DO ESPANTO - FRIGHT NIGHT


NOTA: 7,5.
- Você tem me observado e eu tenho observado você. Sua mãe se sente negligenciada. Dá pra sentir no cheiro. Sua namorada é bem madura. É o seu dever cuidar das duas, porque tem muita gente ruim nesse mundo, Charlie.

O filme se vale de uma ótima locação para passar esse tipo de filme: Las Vegas. Além de ser perfeita pra filmes de comédia e despedidas de solteiro, a cidade também se mostra perfeita para que um vampiro possa passar incógnito por lá. Afinal, estamos falando de uma cidade em que muitas pessoas dormem de dia para trabalhar durante a noite. Tanto é que o personagem principal do filme acha completamente normal seu vizinho pintar as janelas de preto e somente sair a noite. "É Las Vegas. Muita gente faz isso."
O garoto é Charley Brewster (Anton Yelchin), um adolescente que está no último ano do colégio e mora com sua mãe (Toni Collette) e tem uma namorada Amy (Imogen Poots). Um novo vizinho se muda para a casa ao lado da sua. Ele é Jerry (Colin Farrel), um homem solteiro e boa pinta que trabalha com construções na parte da noite. Para garantir o descanso, todas as janelas são pintadas de preto, como observou-se no início do filme.
É um amigo de Charley, Ed (Christopher Mintz-Plasse), que começa a perceber coisas estranhas. Vários garotos do colégio começam a sumir das aulas. Eles foram grande amigos antes de Charley ficar mais popular e abandonar o amigo. Ele apela para a antiga amizade para fazer com que Charley o ajude a decifrar o enigma dos desaparecimentos. É ele quem avisa a Charley que o novo vizinho Jerry é na verdade um vampiro.
Inspirado em um filme de 1985 (veja a resenha aqui), o filme contava com um personagem interpretado por um inspirado Roddy McDowall chamado Peter Vincent (uma mistura de nomes homenageando Peter Cushing e Vincent Price). Era um ator que apresentava um programa de vampiros onde passavam filmes que ele atuava como um grande caçador. Aqui, infelizmente, o personagem não é tão interessante como no original. Peter Vincent (David Tennant) aqui, é dono de um show bizarro em Vegas envolvendo vampiros e efeitos especiais de palco.
É claro que Charley eventualmente vai perceber que Jerry é realmente um vampiro. Assim como é claro que ninguém vai acreditar nas acusações dele de que o vizinho é um vampiro. Muito menos a polícia, que quando vai à casa de Jerry pra investigar a denúncia de Charley, bate um papo animado com o vampiro como se fossem velhos amigos. Em um filme desse tipo, o herói sempre deve lidar com a situação por conta própria.
Não é um filme tão bom quanto o original de 1985, mas teve uma "repaginação" justa ao material original com algumas boa surpresas no enredo. Além disso, conta com um elenco inspirado e é tecnicamente muito bem feito. Uma bela supresa do diretor, Craig Gillespie, que já tinha me gradado bastante com A garota ideal. Quanto a ser um filme de vampiro? Bem. Se trata de um muito bom. Nessa escassez do gênero nos novos tempos, isso conta pra muita coisa.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PERDIDOS NA NOITE - MIDNIGHT COWBOY


NOTA: 8.
- Eu gosto da minha aparência. E as mulheres gostam de mim. A única coisa que eu sei fazer é amor. As mulheres enlouquecem por mim. 

Apesar de gostar muito de John Wayne, tenho que reconhecer que o Oscar que ganhou por Bravura indômita em 1970 foi uma das grandes injustiças do cinema. Ainda que tenha tido uma grande atuação, a performance de Dustin Hoffman é nada menos que monstruosa. Não é por acaso que depois foi eleita a sétima melhor atuação de todos os tempos por uma revista.
Uma grande qualidade do filme é permanecer na memória do espectador muito tempo depois de acabar de assistir. A estranha história romântica entre o ingênuo cowboy e o malandro de rua serve até hoje de referência para muitos filmes.
Para ser justo também, devo dar méritos a quem merece. Apesar de ter cenas ótima (a cena em que Hoffman quase é atropelado por um carro e diz "Estou andando por aqui" é antológica e ainda é constantemente copiada por inúmeros filmes), o filme como um todo não é tão bom. O que impede que caia no lugar comum são as inspiradas atuações da dupla protagonista formada por Hoffman e Jon Voight, ambos indicados pela academia pelo filme.
Voight é um cowboy simplório do Texas que resolve pegar seu último pagamento e partir para Nova York. Sua ideia é fazer a única coisa que sabe fazer bem: amor com as mulheres. Como ele logo descobre, ser um garoto de programa não é uma tarefa tão fácil assim. Ele não sabe como abordar as mulheres, e mesmo quando consegue a proeza ele não tem ideia de como cobrar pelo "serviço realizado". Por isso ele acaba se aproximando de Rizzo (Hoffman), que promete cuidar dessas "questões burocráticas" para ele. Só que Rizzo é um malandro que pega um dinheiro e some. Depois eles vão se reencontrar e acabar ficando muito unidos.
O filme esbarra em um problema ou outro. Um é a atração do diretor pelo estilo de filmes da época. A história do filme não combina com a moda. Tivesse sido filmado com maior simplicidade, poderia ser um filme inesquecível. Em determinado momento, eles entram em uma festa ao estilo Andy Warhol com muitas loucuras acontecendo, mas o lance é que nenhum dos dois personagens foi talhado para aquele ambiente. Eles não pertencem aquele mundo e parecem apenas perdidos, assim como a história se perde.
Apesar de tudo isso, eu pareço fazer uma certa edição mental e lembrar como as cenas boas realmente funcionam apesar de ter cenas que não funcionam. Provavelmente, a grande força vem dos atores e seus personagens. Não importa o que aconteça, com atuações desse porte, quase qualquer erro do filme é passível de ser perdoado.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

SUCKER PUNCH - MUNDO SURREAL


NOTA: 2.
- Se vocês não se unirem por alguma coisa, vocês vão se partir por qualquer coisa.

O diretor Zack Snyder está se tornando um mestre de filmes com visual exuberante mas sem conteúdo algum. Mesmo quando tinha um ótimo conteúdo, em Watchmen, ele preferiu abandonar a história para ficar com a forma. Sem se preocupar com a adoração dos muitos fãs dos quadrinhos com o material original, ele simplesmente ignora a necessidade de um plot para realizar seu último filme antes de revitalizar a franquia do homem de aço (sabe-se lá o que vai sair disso).
A imaginação do diretor com certeza é bem agitada com muitas explosões e lutas, é apenas de se lamentar que ela não seja muito fértil. Geralmente, seu estilo visual é suficiente para disfarçar a falta de uma boa história, como em 300 e A madrugada dos mortos, mas num filme onde a maior parte da história é contado com extensivo uso de CGI (os efeitos especiais) a coisa não funciona exatamente desse jeito. Por isso, provavelmente não é coincidência o fato desse ser seu pior filme e o primeiro a não ter base em um material preexistente.
Com personagens de mangá, acompanhamos uma abertura onde Baby Doll (Emily Browning) e sua irmã recebem a notícia da morte da mãe delas, o que deixa as duas sob os cuidados do terrível padrasto. A tragédia que se sucede é contada da maneira mais pop possível, o que dilui toda sua força dramática. O fato é que Baby Doll acaba internada num hospício onde, graças a um maligno acordo com o responsável pelo lugar, ela será lobotomizada em cinco dias.
A mente da menina começa a tentar fugir da realidade. Ela entra em uma fantasia onde o hospício é um bordel e as internas são obrigadas a dançar para clientes. Baby Doll se mostra um dançarina excepcional, tão boa que nunca a vemos dançando mas que todos ficam hipnotizados. Tão hipnotizados que abre espaço para que armem um plano para escapar. Todas as vezes que ela dança, um objeto que pode ajudar na fuga é roubado. E cada vez que ela começa a dançar, sua mente que está fugindo da realidade foge da fantasia para uma outra fantasia onde ela é uma guerreira que luta contra guerreiros samurais, vilões da primeira guerra transformados em zumbis e até mesmo dragões.
Talvez o filme pudesse ser mais interessante se as cenas de ação realmente tivessem o poder de segurar a platéia, o que infelizmente não acontece. As cenas, que quase em sua totalidade parecem intermináveis, até são bem coreografadas, mas esquecem de oferecer o principal: tensão. Acompanhada de Sweet Pea (Abbie Cornish), Blondie (Vanessa Hudgens), Amber (Jamie Chung) e Rocket (Jena Malone), Baby Doll atira, pula e esgrima como se fosse um personagem de vide game. E como tal, parece que se algo acontecer com ela é suficiente usar "outra vida". Em nenhum momento parece que algo vai realmente acontecer com elas, mesmo quando alguma coisa realmente acontece.
Pior ainda é a insistência de Snyder de levantar questões polêmicas e ficar suavizando a história inteira. Até mesmo em Hollywwod, nenhuma punição é cruel em demasia quando se trata de crimes hediondos, que é o caso das coisas que acontecem com essas meninas. Mesmo assim, ele vai contra a corrente do bom senso e decepciona em solucionar as questões que ele levanta.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 22: A ESTALAGEM MALDITA - JAMAICA INN (1939)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.


NOTA: 5.
- Esse lugar, Jamaica Inn, tem uma péssima reputação. Tem coisas estranhas acontecendo por lá.

Talvez Hitchcock estivesse com a cabeça em Hollywood e seus próximos trabalhos na terra do Tio Sam quando realizou sua despedida inglesa, que foi produzida pela produtora do ator Charles Laughton. Talvez por isso esse filme tenha sido apenas um passatempo até começar sua nova fase. Um filme muito aquém do que o diretor vinha fazendo. Tanto é que o diretor se arrependeu de tê-lo feito, apesar do sucesso comercial inesperado.
O filme conta a história de uma órfã, interpretada por Maureen O'Hara, que vai morar com a tia cujo marido tem uma estalagem perto do porto. Trata-se de uma estalagem em que ocorrem todo o tipo de horrores, sendo o maior negócios deles fazerem que navios batam nas rochas para que eles possam saqueá-los. Nada acontece contra ele porque por trás de toda a organização está o juiz de paz da cidade.
Fosse outro diretor, o filme poderia não parecer tão discrepante. Mas como se trata do mestre, seus filmes devem ser julgados pelos padrões que ele próprio estabeleceu. Apesar de conter alguns elementos hitchcocktianos de suspense, esse filme não é lembrado (pelo menos por mim) como um filme com a marca característica do diretor. Pela primeira vez, o diretor se depara com um nome (Laughton) tão grande, ou maior, que o seu. E infelizmente sai perdendo.
Como Hitchcock bem observa: "Por isso que esse filme era uma empreitada insensata; normalmente, o juiz de paz só deveria aparecer no fim da aventura... era absurdo fazer esse filme com Charles Laughton no papel do juiz...".
Nessa parte, truffaut faz uma observação muito interessante, ainda que seja um pouco exagerada. Ele observa que toda essa fase inglesa do diretor, é como se fosse uma preparação para trabalhar nos EUA, e oferece uma explicação. Diz que "cinema" e "Inglaterra" são duas palavras que parecem não combinar uma com a outra. As pessoas são muito educadas e calmas para os filmes de Hitchcock. por isso os filmes de maior expressão do diretor são todos posteriores a esse. Por isso destaca que apenas dois diretores até àquela época tinham obras que resistiam ao tempo: Charlie Chaplin e Alfred Hitchcock. Apesar de hoje termos muitos filmes interessantes de diretores ingleses, não deixa de ser verdade ainda que são os dois diretores que mais continuam se destacando hoje e realmente resistindo ao tempo. Por isso são tão geniais.

domingo, 2 de outubro de 2011

AMIZADE COLORIDA - FRIENDS WITH BENEFITS


NOTA: 8.
- Já falamos sobre isso, não gosto de você desse jeito.
- Eu também não gosto de você desse jeito, por isso vai ser perfeito.

Não há nada de muito original nesse filme. Ele recorre a todas as fórmulas do gênero como qualquer filme que parece estar sendo dirigido no piloto automático. A única diferença deste para a maioria dos filmes é que são dois amigos, aparentemente não atraídos um pelo outro, que estabelecem uma relação apenas de sexo, sem se apaixonarem um pelo outro. Será que isso é possível? Eu acho que sim, mas talvez a resposta seja não se o casal for Mila Kunis e Justin Timberlake.
Ela é Jamie, uma mulher contratada por empresas para conseguir novos executivos. Ele é Dylan, um diretor de arte promissor que trabalha em um blog em Los Angeles que uma grande revista está interessada em contratar. Para quem trabalha em um blog, esse é um emprego dos sonhos, mas ainda assim fica receoso. Ele aceita o convite de ir para Nova York e ela decide que a melhor maneira de convencê-lo é vender a cidade, não o emprego. A estratégia funciona e ele aceita o emprego, e eles acabam ficando amigos.
Um jantar leva a outro e a intimidade dos dois cresce. Não é preciso ser um gênio para descobrir o que vem em seguida. Uma noite, um confidencia ao outro como eles tem azar em relacionamentos e como estão cansados de procurar uma nova pessoa. Por isso resolvem criar uma relação puramente baseada em sexo. Um não pode se apaixonar pelo outro.
Essa parte do filme é muito divertida, especialmente com o casal protagonista mostrando que tem muita competência para se manterem em evidência. Afinal, ambos mostraram que podem realizar bons trabalhos em dramas e voltam agora para a comédia com grande naturalidade.
O problema é que o filme parece exigir que os dois se apaixonem. Provavelmente o público reclamaria se isso não acontecesse. E é essa busca forçada que faz com que o filme perca um pouco de ritmo em sua segunda parte. Por sorte, ele conta com bons coadjuvantes que levantam o filme quando ele parece que vai terminar mal. Em especial dois veteranos: Patricia Clarkson como a mãe dela, uma ex-hippie cujos efeitos das drogas não parecem ter a abandonado, e Richard Jenkins como o pai dele que sofre de Alzheimer. Não aquele horrível, mas o tipo mais divertido típico dos filmes que ainda permite lucidez nos momentos necessários do filme. Para completar o elenco, temos bons nomes como Woody Harrelson como o editor de esportes que é gay e a irmã de Dylan interpretada por Jenna Elfman.
Uma das grandes sacadas do filme, é brincar com os clichês do gênero enquanto os usa. Eles assistem a um filme romãntico e ficam brincando com as situações que aparecem. A cena pós crédito do filme é uma das melhores em muito tempo. Se não ajuda a desenvolver melhor o filme, com certeza faz com que tenhamos uma grande diversão.

sábado, 1 de outubro de 2011

CONTRA O TEMPO - SOURCE CODE


NOTA: 9.
- O programa não foi desenvolvido par alterar o passado. Foi designado pra alterar o futuro.

Eu poderia dizer que este filme é uma ficção científica, mas é uma parte estranha no gênero porque não parece se basear em qualquer elemento da "vida real". O que realmente interessa aqui é que se trata de um interessante e surpreendente suspense.
Logo de cara, vemos Colter acordando em um trem como quem acorda de um pesadelo. Ele parece extremamente perdido e desorientado. Ele não sabe porque está naquele trem ou mesmo porque aquela estranha mulher, Christina (Michelle Monaghan), está ao seu lado conversando com ele e o chamando por outro nome. Quando ele se olha no espelho, sequer o seu reflexo aparece lá.  Depois de 8 minutos nessa situação, uma bomba explode no trem matando todos em seu vagão, inclusive ele.
Ele não realmente morre. Ele acorda em um outro ambiente que parece uma espécie de cockpit de um avião ou coisa do gênero. Se dirigem a ele duas pessoas: a oficial Colleen (Vera Farmiga) e o cientista Rutledge (Jeffrey Wright), que lhe informam que esse é um experimento que pode salvar vidas. Ele está voltando no tempo para dentro de um vagão que explodiu para descobrir o culpado. Para isso ele tem 8 minutos a cada vez que volta.
Tudo o que disse, não será surpresa para qualquer pessoa que assistiu o trailer do filmes. Mais que isso seria estragar as boas surpresas que ele guarda para os espectadores.
O que interessa é que Colter tem a chance de fazer uma coisa boa, e tem uma vantagem: assim como em O feitiço do tempo, seu personagem é o único que se lembra do que aconteceu nas outras vezes que reviveu aquele momento, enquanto para o resto parece continuar acontecendo pela primeira vez. Além de lhe dar essa vantagem tática, ele começa a se aproximar cada vez mais de Cristina, a única com quem ele tem realmente contato todas as vezes que volta. Como volta como "outra pessoa", talvez isso lhe ajude a se importar cada vez mais com aquela mulher. Ou talvez simplesmente seja como deveria ser.
O filme não se atém as reais questões da ciência por trás da tal experiência, mas o filme não te deixa muito tempo para se importar com isso. Inda cada vez mais rápido para o desastre, o trem parece rumar sempre para destruir a cidade, Cristina parece cada vez mais interessante (o que nos faz querer que ela seja salva) enquanto as cabeças por trás do projeto parecem cada vez mais desesperados para o sucesso da missão. Para nós, parece que isso é só o que importa.
Essa intimidade que acabamos criando, faz o filme parecer mais pessoal do que realmente um produto de Hollywood. O casal se encaixa perfeitamente um com o outro. E o mais importante: o que pode ser melhor que um personagem dentro de um trem apenas interessado em fazer a coisa certa? Nesses novos tempos do cinema cínico, isso conta muito. Melhor ainda: que tal ver um filme com uma trama totalmente implausível mas que se torna incrivelmente interessante justamente pelo modo como é feito. Se qualquer desses motivos te interessa, esse é o seu filme.
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