terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET - HUGO


NOTA: 10.
- O mundo é como uma grande máquina. Máquinas não vem com partes extras, sabe? Eles vem com a quantidade de peças necessárias. Então eu imaginei que se o mundo fosse uma grande máquina, eu não podia ser uma parte extra. Que deve haver um motivo para eu estar aqui.

Este filme tem uma temática infantil, sim. Mas não se enganem. O filme é uma mera desculpa (com o perdão da palavra) para que o diretor Martin Scorcese, conhecido como um dos grandes cinéfilos do cinema, escrevesse uma carta de amor à sétima arte. É um filme como nenhum outro que o diretor tenha feito, mas ainda assim é o que parece mais próximo ao coração dele. À sua paixão.
Vou além disso. Scorcese, que sempre apareceu um pouco avesso à novas tecnologias no cinema fez o filme com o melhor uso do 3D que vi até agora. Por mais estranho que parece, Hugo parece apresentar o futuro da tecnologia, e ela pertence à Scorcese. E logo num filme sobre um homem que inventou os efeitos especiais.
Ao contrário de filmes que costumamos ver dele, aqui acompanhamos a história de um órfão (Hugo, interpretado por Asa Butterfield) que vive em uma estação de trem parisiense. Seu pai, que trabalhava em um museu e morreu num acidente, consertava relógios e outros objetos mecânicos. Talento que o garoto aprendeu e usa para manter os relógios da estação funcionando, trabalho que é do seu tio que quase nunca vemos. Ele diz que enquanto os relógios estiverem funcionando, ninguém notará que está ali sozinho.
Antes de morrer, seu pai (Jude Law) estava tentando consertar um autômato que encontrou no museu em que trabalhava. Pai e filho trabalhavam nas horas vagas procurando peças que servissem, mas o acidente aconteceu antes que completassem o serviço. Além disso, há uma chave em formato de coração essencial para fazer com que funcione. O menino continua tentando encontrar as peças necessárias na esperança que o autômato tenha uma mensagem do seu pai enquanto foge do inspetor da estação (Sacha Baron Cohen), se escondendo por passagens estranhas e roubando alimentos para viver (ele prefere isso a ser tratado como um órfão).
Sua vida na estação fica mais complicada depois que um velho (Ben Kingsley) dono de uma loja de artigos de mágica na estação. O velho é na verdade George Melies, um dos pioneiros do cinema de ficção e inventor do autômato, mas Hugo não sabe disso.
O filme tem duas partes distintas. A primeira é sobre Hugo e sua vida na estação. Dessa mesma forma, conhecemos quase todos os personagens que precisamos conhecer no filme, pois praticamente estão todos lá. É a segunda parte parte que deve encantar qualquer amante do cinema, através de flashbacks que traçam a carreira de Melies (que qualquer pessoa deve reconhecer seu filme mais famoso, A viagem para a Lua). Scorcese já havia feito documentários sobre a história do cinema (que também virou um livro), e agora usa todo o seu conhecimento para fazer este filme. Em especial para recriar os filmes de Melies.
Assim como O artista contava uma parte do cinema, a transição do cinema mudo para o falado, Scorcese celebra o nascimento do cinema ao mesmo tempo que praticamente pede uma preservação dos filmes antigos (uma causa do diretor). Há muitas cenas emocionantes no filme, especialmente pela busca de Hugo e sua amiga (uma menina criada por Melies interpretada por Chloe Grace Moretz) em fazer com que o velho não se esqueça de seu passado. Uma obra prima apaixonada pelo cinema em todos os sentidos.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

A MULHER DE PRETO - THE WOMAN IN BLACK


NOTA: 8.
- Eu acredito que mesmo a mente mais racional possa pregar truques no escuro.

Desde 1922 quando um jovem entrou no castelo de Orlok em Nosferatu, o cinema tem criado climas amedrontadores em estranhas casas. Começa sempre com um o herói adentrando em uma cidade onde a tal casa fica e todo o povoado aterrorizado com aquele lugar. Aqui, o jovem é Arthur Kipps (Daniel Radcliffe, o próprio Harry Potter), que deve fazer um inventário em uma casa sombria onde somente se chega por uma estreita estrada que fica coberta pelo mar quando a maré sobe. E ninguém naquele povoado quer que ele faça o seu trabalho.
Para azar das pessoas, Kipps está com problemas financeiros e esse trabalho é sua última chance de se manter na firma. Viúvo e com um filho pequeno para criar, ele só vai voltar para Londres quando tiver terminado o seu trabalho. Mesmo que ele fique nessa casa onde se diz que o espírito de uma mulher usando preto fique rondando por lá lamentando seu filho morto cujo corpo nunca foi encontrado. Não só isso, eles dizem que a mulher é culpada pela morte das crianças do local, como se fosse algum tipo de vingança. Não é por acaso que o hotel lhe recusa um quarto e todos lhe dizem para pegar o próximo trem de volta.
Assim como acontece nos filmes de Drácula (lembrando ainda que Nosferatu é uma versão dele), até mesmo o motorista da carruagem se recusa a levar o jovem para a casa da mulher, somente depois de o rapaz lhe oferecer uma quantia alta é que ele o leva. "Ninguém o levaria lá", ele diz. Ninguém com exceção de Sam Daily (Ciarán Hinds), que gosta do rapaz e não consegue acreditar nos mitos que as pessoas criam em cima da tal mulher de preto.
A casa em si é um personagem à parte da produção. Muito bem produzida com objetos, quadros e muitas outras coisas que a deixam com um aspecto ameaçador. Os brinquedos parecem mais antigos objetos amaldiçoados de vidas passadas e que ninguém teve coragem de jogar fora. Tudo acompanhado por um ótimo trabalho de som e uma iluminação eficaz que faz com que a casa fique muito mais perturbadora do que parece normalmente.
Daniel Radcliffe fez pouca coisa fora a série de Harry Potter, que o ocupou por cerca de uma década. Agora aos 22 anos, ele parece pronto para alçar novos voos em outros personagens. O problema é que que ele ainda não aparenta a idade que tem, e sim ainda parece um garoto de colégio ao invés de alguém formado na faculdade e com um filho de 4 anos. Talvez o filme tivesse ganho um pouco mais com um ator que parecesse um pouco mais velho ou mesmo que tivesse mais presença na tela, coisa que ainda lhe falta.
Para a sorte dele, o filme não se trata de seu personagem. O filme funciona porque o diretor (James Watkins) não estuda os personagens, eles só servem para mostrar a verdadeira estrela do filme: a casa assombrada. Todo o resto existe apenas para criar o clima, sejam as crianças sombrias, a mulher louca ou mesmo a mulher de preto. E tudo serve ao seu propósito muito bem. Este filme cria um clima assustador em cima de uma casa como eu não sentia há um bom tempo.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

TÃO FORTE E TÃO PERTO - EXTREMELY LOUD & INCREDIBLY CLOSE



NOTA: 6.
- Eu não sabia o que estava esperando por mim. Embora meu estômago estivesse revirando e meus olhos lacrimejando, eu pus na minha cabeça que nada ia me deter. Nem mesmo eu.

Há algum tempo, Hollywood vem revisitando a tragédia de 11 de setembro. Seja através de referências um pouco tímidas com medo de ofender os espectadores, seja de forma escancarada e disfarçada de documentário como Fahrenheit 9/11. Talvez o motivo seja porque não importa o quanto se tente, nenhum filme vai conseguir um momento catártico falando de uma tragédia como essa. Aqui a tragédia não mostra sacrifício, reflexão ou pesar, reflete apenas um mal gosto ao se referir ao tema.
É a história de um menino de 11 anos de idade chamado Oskar Schell (Thomas Horn), cujo pai Thomas Schell (Tom Hanks) morreu em uma das torres gêmeas atingidas pelos aviões. Sua mãe (Sandra Bullock)  chora pelo marido, já Oskar lamenta a morte de seu pai procurando vídeos na internet de pessoas que se jogaram do prédio e imaginando se é seu pai, mantendo um santuário secreto em sua homenagem ou relembrando dele em flashbacks.
Até que um dia ele encontra uma chave escondida em um envelope com o nome Black escrito. Acostumado com jogos que seu pai sempre o preparou para desvendar, Oskar acredita que seja uma pista que deve seguir para descobrir algo que seu pai lhe deixou. Cheio de manias, ele se arma de máscara de gás, alguns outros objetos e um pandeiro que toca para não ter um ataque de ansiedade. Talvez o menino sofra de síndrome de Asperger, o que o faz ser um gênio mas sem traquejos sociais. Talvez esses jogos fossem uma maneira de seu pai fazer com que ele saísse de casa e se relacionasse com pessoas. Ou talvez seja simplesmente que não haja jogo nenhum.
Sem se importar com o que seja, Oskar não se detém de jeito nenhum em sua busca. Seja correndo de um lado para o outro (ele não usa transporte público) ou enfrentando seus medos da forma que pode. Ele ressente de sua mãe por ter sobrevivido e não seu pai. Ele não faz ideia do quanto machuca sua mãe com isso, mas só parece se importar em seguir de forma que seu pai ainda possa ter lhe deixado algo.
Não acompanhamos todas as visitas que Oskar faz a todos os Blacks (são 472) que encontra na lista telefônica, mas alguns encontros interessantes. Logo na sua primeira visita, ele bate na porta de Abby Black (Viola Davis), que é gentil o suficiente para deixar que o garoto entre em sua casa e ouvir a história dele, mas o menino não consegue compreender que ela está passando por um crise em seu casamento naquele momento. É uma cena tocante em especial pela atuação de Davis, e é uma pena que o filme não tenha outras cenas poderosas como essa.
O fato de o menino seguir sozinho pela cidade é um tanto quanto surreal. No prédio ele é superficialmente vigiado por um porteiro (John Goodman) e faz um amigo. Um velho senhor que se mudou para o apartamento de sua avó e que se diz ser o locatário. Ele não pode falar, ou simplesmente não irá dizer nada. Ele segue ajudando o menino em sua busca pelo Black correto ou o lugar que sua chave possa abrir se comunicando apenas através de palavras escritas em um bloco.
A verdade é que esse filme não é sobre o atentado. É apenas uma desculpa para tentar levar as platéias para emoções genéricas como solidão, tristeza ou mesmo felicidade. Você vai descobrir sobre a chave ou mesmo sobre a pessoa procurada, e eu descobri que falta uma história sobre um menino que perdeu seu pai no atentado que realmente mereça ser contada. Mesmo para mim, brasileiro, o filme sobre uma tragédia como essa parece sem sentido, e como disse: de mal gosto.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O HOMEM QUE MUDOU O JOGO - MONEYBALL


NOTA: 10.
- Eu odeio perder. Eu odeio perder ainda mais do que eu quero ganhar.

Temos aqui um ótimo filme sobre um esporte, baseball, que eu não acompanho ou sequer entendo as regras. O que aprendi agora é que um time com a lista salarial mais baixa entre todos os outros times, conseguiu uma sequência de 20 vitórias seguidas na liga profissional. O mesmo time que antes havia perdido 11 partidas seguidas. Os resultados não vieram do treinador ou de discursos inspirados dentro de um vestiário, mas sim de um executivo responsável pela compra e venda de jogadores.
E esse homem é Billy Beane (Brad Pitt), o executivo de um dos menores times da liga. Ele conseguiu montar um time que perdeu na final para um outro com uma folha salarial muito maior que a que ele tem. Assim como acontece com quase todos os esportes, a competição é uma coisa injusta. Tanto é que ele perde não apenas o jogo, mas perde também seus melhores jogadores para times com orçamentos mais altos.Basicamente: tem os melhores jogadores os times mais ricos. E ele acba de ser informado que mesmo com seu bom resultado no ano anterior, ele não vai ter mais dinheiro para investir.
Ele é um homem inteligente, e sabe que se continuar assim ele não vai conseguir nenhum resultado melhor. Ele odeia tanto perder, que resolve investir nas teorias de Peter Brand (Jonah Hill), um nerd recém formado em Yale que trabalha com números e não com a habilidade dos jogadores. Cada jogador produz números, e ao invés de procurarem um único jogador que possa produzir os números que eles precisam para vencerem, eles procuram 2 ou 3 jogadores pra mesma função que possam realizar os mesmos números e com salários muito menores.
A dupla protagonista está ótima. Jonah Hill tem uma atuação fascinante sobre o menino tímido que nunca jogou baseball na vida mas analisou 20 anos de estatísticas dos jogos para montar a base de um time vencedor. Não vencendo com uma grande estrela, mas vencendo com um conjunto. Um bom contraponto em relação ao pesonagem de Pitt. 
Já o personagem de Pitt é tão enérgico e tão focado nas vitórias que pretende alcançar que sequer consegue assistir o jogo. Seja ao vivo, pela TV ou pelo rádio. Ele se isola em algum lugar onde liga algo que possa lhe dizer o resultado e assim que descobre desliga em seguida. Ele sabe que se tiver uma temporada fracassada, somente ele será despedido. Ele ouve os especialistas no assunto o culpando quando o time está perdendo e exaltando o treinador quando o time consegue a sequência de vitórias, mesmo que a sequência tenha vindo por causa das atitudes que ele toma. E mesmo assim ele vai contra todos (incluindo o treinador Art Howe  - Philip Seymour Hoffman - que queria um contrato mais longo e melhores jogadores). O que ele realmente acredita é que só vai ter valido a pena se ele tiver conseguido mudar as regras do jogo.
E além de ser um filme sobre personagens, esse é também um filme sobre negócios. Não importa como os jogadores se comportam ou como os jogos transcorrem, o que importa são os números traçados pelo empresário e seu assistente que mexe com números. Mas o que isso tudo importa? Para Pitt, vencer as 20 partidas não importa nada a menos que você vença a última. E é essa última que ele busca. Eu sabia do que o filme se tratava, mas não esperava que ele pudesse ser tão profundo e inteligente como ele é. E esperava menos ainda que ele fosse me emocionar tanto sobre um esporte desinteressante pra mim. Acho que devo isso ao trabalho brilhante do diretor Benett Miller (De Capote). Muito bem jogado, Sr. Miller.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O ARTISTA - THE ARTIST


NOTA: 10.
- Eu não vou falar. Eu não direi uma palavra.

Fora as muitas referências que o filme usa, eu não deixei de pensar em Chaplin. Por um simples motivo: Luzes da cidade. Já fazia três anos que o cinema tinha começado a falar e todos buscavam os filmes falados. Chaplin foi contra a corrente e lançou um filme mudo quando as pessoas pediam mais e mais filmes falados. Ele o fez porque acreditava que o cinema mudo era a verdadeira arte. Depois ele acabaria se rendendo à novidade, mas foi este filme mudo a sua maior expressão cinematográfica.
George Valentin (Jean Dujardin) me lembra muito Chaplin. Ele é uma grande estrela do cinema mudo que não se adapta ao novo modelo de cinema. Mais pelo orgulho da sua arte, que ele acredita não precisar de voz, do que por qualquer outro motivo. É esse orgulho que faz com que ele invista seu dinheiro para realizar um filme mudo também seguindo contra a corrente. A diferença é que o filme de Chaplin foi um sucesso e o dele não. E ele acaba sozinho num apartamento furreca com seu cachorro. Não sem antes passarmos por uma montagem de café da manhã com uma clara homenagem a Cidadão Kane.
O Artista é quase todo mudo, como Valentin (e Chaplin) acredita que o cinema deveria ser. Talvez isso acabe fazendo com que o filme não tenha o público que merece, já que poucos hoje se interessam por filmes mudos. Isso é uma pena para o filme que pode sair de cartaz antes do tempo por causa disso, mas é pior ainda para o público que pode ficar sem ver um dos melhores filmes do ano passado. Se posso dar um conselho aqui, seria: não deixem de ver esse filme por ele ser mudo.
Uma das inspirações que citei, deve ser Cantando na chuva, onde uma grande atriz dos filmes mudos estava estragando os novos filmes falados filmes por ter uma voz horrível. O herói do filme era interpretado por Gene Kelly, e quase parece ser o mesmo personagem interpretado agora por Dujardin. Os dois tem uma linguagem corporal muito boa. Tão boa que ambos conseguem passar sem qualquer problema por grandes atores da época muda.
Valentin recebe ajuda de apenas duas pessoas no filme: o primeiro é seu leal motorista e faz tudo Clifton (James Cromwell), que permanece ao seu lado mesmo quando ele está sem dinheiro e sem pagá-lo há um ano. A outra é Peppy Miller (Berenice Bejo), uma grande estrela do cinema que ele conheceu quando ela não era ninguém. Na verdade, foi que ele lutou para que ela fizesse o primeiro filme que participou e a aconselhou a usar um sinal perto da boca (Marilyn Monroe?) que os fãs adoram.
Uma outra coisa que me veio em mente é uma frase dita no filme Crepúsculo dos deuses, um filme que também falava de uma grande atriz da era muda que vivia isolada em um velho casarão. Norma Desmond (interpretada divinamente por Gloria Swanson) virava pro roteirista e dizia: "Não precisávamos de diálogos. Nós tínhamos rostos." Dujardin é um desses atores com uma grande expressão facial.
O filme também é em preto e branco, mas não acredito que isso desagrade muitas pessoas como o fato de ser mudo. A falta de cores ajuda um pouco a assumirmos o tom não-realista do filme. Sem abraçar as formas mais modernas de se filmar (não lembro de uma cena sequer com zoom, por exemplo), ele faz uma coisa quase impossível: ele cria um equilíbrio fantástico entre as tradições do passado e as exigências do presente. Tem o espírito de um filme antigo quando na verdade é um ótimo entretenimento moderno. Ver o filme é olha pra Hollywood de outrora e de agora ao mesmo tempo. Literalmente: o tipo de filme que não se faz mais nos dias de hoje.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

UM SONHO DE AMOR - IO SONO L'AMORE


NOTA: 9.
- Você não me conhece mais.

Tilda Swinton é uma atriz fantástica que pode fazer praticamente todo o tipo de papel. Se fosse mais bonita, teria muito mais oportunidade de bons papéis e, provavelmente, mais fama. Talvez seja por isso que a atriz inglesa foi para a Itália para fazer o papel de uma russa casada com um rico homem de negócios de Milão, na Itália. Será que ela sabia o que significava ser parte daquela família? Que tipo de família era aquela em que estava se metendo? Eu duvido.
No início do filme, a vemos preparando a sua casa para servir um grande jantar de família. O aniversário é do patriarca da família, Edoardo (Gabriele Ferzetti). Entre os convidados estão seu marido, filho de Edoardo, e seus dois filhos além dos convidados. Alguns deles que ela sequer parece ter afinidade. Emma (Swinton) não parece tanto uma convidada, mas mais uma empregada responsável de organizar aquele evento. Ao final do jantar o velho Edoardo diz que está se aposentando e que vai deixar o filho no seu lugar tomando conta da empresa, o que não é nenhuma surpresa. A surpresa é que ele também deixa seu neto, Edo (Flavio Parenti) com a mesma responsabilidade.
Se ela está satisfeita com a decisão do velho é difícil saber. Swinton não expressa as emoções da sua personagem com palavras ou mesmo expressões faciais. Sua personagem se expressa através de seus atos. E um ato sempre se repete, em todos os eventos em sua casa, ela se retira de fininho e fica dentro do seu quarto longe da festa e agitação que está acontecendo. Se ela sabia ou não em que tipo de família ela estava se metendo nós não sabemos, mas sabemos que não se sente confortável naquele meio.
A família Recchi parece viver de um certo modo durante um bom tempo. Talvez até mesmo durante algumas gerações. Cada um deles parece ocupar seu lugar na aristocracia. Eles parecem pertencer aquele lugar. Estar entre aquelas pessoas não exige esforço. O mesmo não acontece com ela. Ela parece se esforçar para estar ali. Ela fala italiano com fluência, mas seu sotaque russo não a abandona. Uma lembrança que ela não pertence ali.
Algo muda nela quando descobre que sua filha é lésbica. Ela lê em uma carta não escrita para ela, e a princípio fica um pouco chocada. Mas depois esse choque dá lugar a outra coisa, e parece despertar novamente sua sexualidade. Quando sua filha lhe conta, ela não reage como mãe, mas sim como mulher. O que começa aqui acaba com Emma tendo um caso com um amigo do filho. É esse caso que vaio levar o filme até seu desenlace. 
Muito mais não cabe contar. O filme é de uma riqueza impressionante. Seja em detalhes, profundidade ou mesmo material humano. Swinton faz um trabalho brilhante como a mulher que fica dividida entre a tradição (que nem é sua) e seus desejos. Seus sentimentos. Um trabalho fantástico de uma atriz extraordinária. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

MISSÃO IMPOSSÍVEL 3 - MISSION IMPOSSIBLE III





NOTA: 6,5.
- Você me pendurou pelo lado de fora do avião. Você pode dizer muito do caráter da pessoa pelo jeito que ela trata alguém que não precisa tratar bem.

O terceiro filme da série é uma espécie de retrocesso para o herói Ethan Hunt interpretado por Tom Cruise. A série não estabeleceu nenhum padrão fixo para os filmes. O primeiro era um filme com toques de suspense, já o segundo era um filme de ação desenfreada. O terceiro segue uma linha diferente, mas que é muito mais sombria em seu tom e, principalmente, muito menos divertida. Em um determinado, ele quase joga o vilão pra fora de um avião. Esse não é o comportamento do herói que vimos nos filmes anteriores.
Uma coisa não muda nos três filmes: Ethan Hunt é uma espécie de operativo que não questiona ordens. Nas duas primeiras vezes, ele arriscou sua vida e dos seus comandado por motivos que sequer entendia. E nas duas vezes, quase que tudo deu muito errado por causa disso. Aqui ele tem que impedir que Owen Davian (Philip Seymour Hoffman) coloque as mãos num objeto chamado "pé de coelho", que nunca sabemos o que é exatamente. Afinal, essa é a função do MacGuffin.
Então podemos nos perguntar: por que é que Ethan arrisca a vida de tantas pessoas se sequer sabe o que está por trás da história toda? Porque assim como os filmes predecessores da série, o objetivo principal da série é mostrar cenas alucinantes de ação. Nada além disso. Qualquer explicação poderia atrasar o ritmo do filme. Funcionou antes e funciona um pouco aqui. Dirigido por J. J. Abrams, o filme parece impressionar pelas cenas, mas falha como diversão descompromissada que deveria ser.
Há ainda um outro componente que me incomodou neste filme. Nos filmes anteriores, Ethan não parecia um agente americano a serviço do governo dos EUA. Ele parecia de uma força tarefa internacional. Esse sentimento se esvai aqui. Como seu superior lhe informa, ele vai "sangrar na bandeira para que as listras continuem vermelhas". E assim ele vai pro Vaticano, Xangai e outros lugares mas sem parecer ter um motivo real para ir pra esses lugares. Parece apenas ser porque os anteriores tinham diferentes locações pelo mundo ou mesmo por causa das cenas que poderiam realizar nesses lugares.
Agora, esse tem uma vantagem em cima dos outros: a história realmente faz sentido. Ao invés de incoerência ou mesmo desculpas para cenas de ação, a terceira parte tem um roteiro coeso e fechado com início, meio e fim. Podemos nos questionar se ele não deveria contar para sua esposa (Michelle Monaghan) a natureza da sua profissão (ela não teria direito de saber onde estava se enfiando?) ou mesmo se era justo ele se casar com ela, mas tais respostas não influenciariam muito nos filmes.
Talvez se tivesse ainda um final mais empolgante eu poderia ter gostado mais do filme, mas uma luta mal coreografada que termina com atropelamento não é lá um ponto alte de nenhum filme que se preze. Abrams é realmente um mestre em cenas de ação como já provou em outros filmes, mas aqui o problema vai além das cenas de ação. É muita ação bem coreografada, mas pouco excitação pelo filme.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

MISSÃO IMPOSSÍVEL 2 - MISSION: IMPOSSIBLE II





NOTA: 7,5.
- Toda a busca por um herói deve começar com que todo herói requer: um vilão.

O segundo filme apresenta uma leve melhora em relação ao primeiro. Sai Brian De Palma e entra o mestre dos filmes de ação John Woo, que nos EUA já tinha feito O alvo, A última ameaça e A Outra face. Woo ajuda a consolidar uma coisa que já começava a se desenhar no primeiro filme: Ethan Hunt é o agente secreto da nova era. Ele foi o predecessor de Jason Bourne e até mesmo do novo James Bond interpretado por Daniel Craig. Os antigos 007 eram os espiões de antigamente, Hunt é o de agora.
Isso quer dizer que certas regras mudaram. Ele pode ser sexy, mas isso não é usado como se fosse uma arma. Eles não trabalham apenas para um país, mas para uma força internacional (pensamento global de hoje). Não bebem e não fumam, o que ajuda a manter a forma de atletas que eles tem. E é assim que conseguimos manter a impressão de que ele é uma pessoa que realmente pode realizar as coisas que acontecem nas telas. O novo espião não é escolhido por acaso, ele é um homem com habilidades muito acima da média.
Outra mudança drástica em relação ao primeiro é a trama. O primeiro tinha um roteiro que não conseguíamos entender muito bem. Agora, o que temos é uma história que não precisamos entender. Como o próprio Robert Towne (roteirista) declarou: "O roteiro foi escrito em cima de uma série de cenas de ação que John Woo queria dirigir para esse filme". Sendo assim, o roteiro aqui na verdade só serve para costurar os espaços entre as tais cenas.
Ou seja: Hunt (Cruise) recebe a missão de achar e recrutar uma ladra chamada Nyah (Thandie Newton) e levá-la para um lugar onde vão receber mais instruções. Eles acabam se apaixonando. A missão é que Nyah deve se envolver romanticamente com um ex-amante que planeja espalhar um terrível vírus que mata em 20 horas. Uma trama que lembra muito Interlúdio, de Hitchcock. Uma coisa bem colocada no roteiro é o timing. Nosso herói deve correr dentro do limite de tempo. Depois de 20 horas, será tudo tarde demais.
O filme usa como referência o próprio filme anterior da série, mas com um pouco mais de violência que o primeiro. A cena de Tom Cruise descendo por uma corda está no filme, apenas um pouco mais frenética do que na versão anterior. Assim como nosso herói pega em armas para atirar, um pouco o contrário do que ele fez no filme anterior.
Esse filme é uma evolução do anterior. Um pouco mais seguro do que querem dos personagens e do que querem mostrar nas telas. As cenas de ação são mais interessantes que o primeiro e tem também uma história melhor, apesar de fazer um uso um pouco irritante de tantas máscaras. É um filme de puro escapismo que nunca pretende ser mais do que isso. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MISSÃO IMPOSSÍVEL - MISSION IMPOSSIBLE





NOTA: 7.
- Como o pegamos? Botamos um oficial no aeroporto? Quantas identidades você acha que Hunt tem? Esses caras foram treinados para serem fantasmas. Nós os treinamos para serem assim.

Foi em 1996 que Tom Cruise decidiu ser o produtor de seus próprios filmes. Um dos maiores astros do cinema atual, decidiu que seu primeiro filme seria uma adaptação para os cinemas da série de sucesso de mesmo nome. Ainda que o filme tenha envelhecido um pouco, ainda é a referência que seus sucessores seguem. A cena mais famosa onde Hunt desce por uma corda dentro de um cofre é tão boa que foi adaptada para todos os outros três filmes. Gostando do filme ou não, ninguém pode deixar de admitir que ele é um sucesso.
Cruise é Ethan Hunt, um agente de uma força tarefa chamada IMF (Impossible Mission Force). Seu líder é Jim Phelps (Jon Voight) e a missão do grupo é impedir o roubo de uma lista que eles chamam de NOC (Non Official Covers, os agente não oficiais do governo). Não basta apenas impedir, eles devem filmar o roubo e seguir o meliante para descobrir a quem ele vai passar a lista. A missão dá errado, todos os membros da sua equipe morrem e ele é considerado um traidor.
O filme é dirigido por Brian De Palma, um mestre de filmes de suspense que é, provavelmente, o mais próximo que tínhamos de um Hitchcock moderno. Talvez por isso ele tenha aceitado fazer esse filme que pouco tem de suspense, mas conta a história do homem inocente que foge e tenta provar sua inocência por conta própria. Qualquer semelhança com muitos dos filmes de Hitchcock não deve ser mera coincidência.
Existem muitas voltas e reviravoltas na trama, e tudo acontece tão rapidamente que começamos a aceitar que nada do que aparece é real. Nenhum fato, nenhum pensamento ou mesmo um rosto, já que falsas máscaras de látex podem fazer com que qualquer pessoa se transforme em outra. Há tantas questões que podiam ser levantadas sobre o filme, que o melhor é não pensar em nenhuma delas. É um filme pra ser visto naquele instante e curtido naquele instante apenas.
De Palma gosta de realizar longas cenas sem falas ou onde as falas não interessam em nada ao que está acontecendo. Aqui ele tem a chance de brincar com três cenas assim: a perseguição final em um trem bala, uma recepção diplomática onde o roubo da lista vai acontecer e a famosa cena onde ele fica suspenso pela corda sem poder fazer barulho ou tocar o chão pois isso acionaria o alarme (apesar de o limite de ruído ser tolerante o suficiente para que ele possa inserir e retirar um disco).
Nada disso importa. O que importa é que Cruise parece "cool" e é realmente um astro que nos segura durante um filme inteiro. Mesmo que esteja fazendo coisas que não entendemos muito bem em uma trama confusa e um pouco complicada de se acompanhar. É a esperteza de De Palma que faz um filme num ritmo frenético para que realmente não possamos acompanhar nada com clareza. Para o diretor, o que importa aqui é o estilo do filme, não sua história. E isso ele faz muito bem.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

50% - 50/50



NOTA: 9,5.
- Tá vendo? Isso é besteira. Todo mundo fica me dizendo desde o início: "você vai ficar bem" ou "tudo vai ficar bem". Isso só piora tudo. Só piora que ninguém vire pra mim e diga: "Sinto muito mas você vai morrer".

É comum termos filmes com pessoas doentes, seja com câncer ou outro tipo de doença. O problema é que pessoas jovens não deveriam ficar doentes e morrerem. Claro que é triste para qualquer pessoa nessa condição, mas deve ser especialmente difícil quando você tem seus 20 e poucos anos com uma vida inteira pela frente e descobre que tem um tipo de câncer que tem 50% de chances de acabar com ela. Pior ainda se a notícia for dada por um médico sádico que trata o assunto como se fosse a coisa mais trivial do mundo. Ele pode tratar de muitas pessoas com câncer, mas nunca deve ter parado pra analisar como o paciente se sente recebendo uma notícia dessas? Até me pergunto se ele não podia dizer que seu paciente tem 60% de chances de viver. Será que esses 10% não fariam diferença?
É isso que acontece com Adam (Joseph Gordon-Levitt), um jovem que trabalha em uma estação de rádio com seu amigo Kyle (Seth Rogen). Ele se queixa de umas dores nas costas e vai no médico para descobrir qual é o seu problema. O médico vai balbuciando palavras em um gravador onde Adam capta apenas algumas palavras. O suficiente para obter uma resposta de forma seca: ele tem um raro tipo de câncer na coluna e suas chances são de 50%.
O filme tem uma mulher que pode ser o interesse romântico de Adam, mas o filme não é sobre isso. O filme é sobre como os amigos Adam e Kyle lidam com a doença juntos. O roteiro foi escrito por Will Reiser, um produtor que escreveu pela primeira vez um longa. Ele próprio foi diagnosticado com a doença e ajudado por seu amigo Seth Rogen. Foi Rogen quem o incentivou a escrever esse roteiro e talvez por isso o filme pareça tão honesto. Faz diferença quando é escrito com coração.
É com Kyle que Adam pode realmente contar. Ainda mais do que a própria namorada, Rachael (Bryce Dallas Howard), que mora com ele. E pior ainda, ele vai descobrir que ela nunca foi alguém com quem realmente pudesse contar mesmo antes da doença. Ela provavelmente gostaria de dizer que não quer passar por isso com ele, mas o que as pessoas iriam dizer? É provável que ela tenha ficado ao lado dele porque a sociedade diz que é a coisa certa a se fazer, mas essa não é uma situação pela qual alguém gostaria de passar.
É também com sua mãe, Diane (Anjelica Huston), que ele pode contar. Mas ele mesmo, que em certos momentos parece não ter paciência com ela, não parece querer envolvê-la muito nessa questão. Talvez seja porque ela é superprotetora, ou talvez seja porque ela já tenha que cuidar do pai dele que sofre de Alzheimer. O que parece importante é saber que nesses momentos a mãe é uma pessoa com quem você possa sempre contar não importa como a vida dela esteja.
Ainda tem outros dois personagens importantes. Um aparece quando Adam vai às sessões de quimioterapia e conhece outros pacientes, entre eles Alan (Philip Baker Hall). Alan dá a Adam verdades sobre a doença deles. Sem florear nada. Ele já aceita sua situação e sabe que deve morrer em breve. A outra é a (muito) jovem Katherine (Ann Kendrick), a terapeuta que tenta ajudá-lo, mas pouco sabe sobre a vida ou mesmo como lidar com a doença.
Talvez por sua experiência em seriados de TV, Reiser escreve o filme como se fosse um. Mas a grande vantagem dele é que não termina como se fosse. Ao invés de manter o tom de comédia até o fim do filme, Reiser assume a tragédia do que pode acontecer. Já conhecemos bem os personagens e estamos preparados para acompanhar o desfecho, mas ainda assim ele não vem de forma fácil. Como disse antes, é um filme feito com coração de quem já passou por uma situação como essa. Talvez fosse melhor que nos cinemas as coisas acontecessem de forma menos trágica, mas esse não é um filme como os outros.
Se esse filme caísse em outras mãos, eu poderia dizer que o personagem interpretado por Joseph Gordon-Levitt seria um tipo intragável. Mas conforme o tom de comédia vai diminuindo e o filme vai ficando mais emotivo, é Levitt quem nos impulsiona a continuar assistindo o filme. Ele é talvez o mais natural e menos afetado ator da sua geração, e num filme como esse, isso faz muita diferença. No final, o que temos é um ótimo filme feito com coração e honestidade.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ENTRE SEGREDOS E MENTIRAS - ALL GOOD THINGS



NOTA: 8,5.
- Ela nunca vai ser como nós.
- Eu sei. Isso não é ótimo?

Este filme é baseado em fatos de uma história que não sabemos se é real ou não. Parece mais uma história estranha que lemos em revistas de fofoca sobre gente famosa ou mesmo em programas sensacionalistas. Podemos especular se são realmente culpados ou não, mas nunca saberemos o que realmente aconteceu. Apenas saber se foram culpados ou inocentados.
David Marks (Ryan Gosling) é um herdeiro de uma rica família nova-iorquina, família proprietária de inúmeros imóveis em uma famosa rua da cidade nos anos 1970. Acontece, que as propriedades eram alugadas para casas de strip tease, lojas de pornografia, "casas de massagem" e por aí vai. Também eram proprietários de um prédio, e é quando David teve que visitar um dos apartamentos é que se apaixonou pela sua inquilina, Katie (Kirsten Dunst). Eles se apaixonam e vão morar fora de NY, onde montam uma pequena loja de produtos saudáveis onde vivem felizes.
O patriarca da família é Sanford Marks (Frank Langella), um homem severo e grosso que comanda a família com pulso de ferro. É ele que "convence" David a voltar para NY e ajudar nos negócios da família. David parece no início do filme como se fosse quase um hippie. Aparentemente, ele poderia viver o resto da sua vida morando no interior com sua mulher. Mas algo muda quando ele se muda para Manhattan. Katie gosta do luxo, mas vive infeliz, e o amável hippie por quem se apaixonou desaparece.
O filme começa com o julgamento de David em 2003 (ainda interpretado por Gosling debaixo de uma pesada maquiagem). Ele está respondendo pelo desaparecimento de sua esposa que aconteceu quase 20 anos antes. Ele é um provável suspeito, mas como tem um forte álibi nunca foi indiciado. Sabendo disso, pode-se imaginar milhões de possibilidades para a transformação de seu personagem, como o pai o pressionando até que ele não aguenta mais ou coisa do tipo. A verdade é que o que acontece com David é muito mais sinistro e bizarro. E nada mais sobre isso eu vou contar.
Um dos pontos mais interessantes do filme é o casal vivido por Gosling e Dunst. Ela convence muito bem como a mulher apaixonada que descobre não saber quem seu marido realmente é. Seu marido vai sumindo numa transformação que não deixaria nada a dever pra Jekyl e Hide e ela simplesmente não sabe como agir. E Gosling mostra ser um ator de mão cheia apresentando um personagem com muitas nuances e esquisitices. Ambos funcionam muito bem.
O diretor Andrew Jarecki oferece uma possibilidade de solução do caso do desaparecimento de Katie e o álibi de David. Já eu, não consigo entender a mente de David Marks e não sei se Jarecki conseguiu entender. Como disse, não sabemos o que realmente aconteceu ou como o crime foi cometido, se é que um crime foi cometido. E acho que esse é o grande barato do filme, principalmente quando forem assistir e perceberem personagens chaves que fiz questão de nem mencionar aqui.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

LEGIÃO PERDIDA - THE EAGLE


NOTA: 7,5.
- A águia não é um pedaço de metal. A águia é Roma.

Uma das grandes vantagens desse filme, é não tentar ser um épico. Mesmo Gladiador não conseguiu ser muito um épico como os que tínhamos antigamente e tinha uma história muito mais grandiosa do que essa. O diretor Kevin Macdonald (de bons filmes como O último rei da Escócia e Intrigas de estado) sabe para que  público está fazendo o filme e entrega um resultado plenamente satisfatório. Para um filme feito para adolescentes, temos mais do que costumamos encontrar.
A história é sobre um general de Roma chamado Marcus (Channing Tatum). Ele pede para servir perto de uma das fronteira de Roma. O lugar onde está servindo é alvo de constantes ataques dos bárbaros (que hoje chamamos de ingleses). Ninguém gostaria de servir lá, mas ele pediu. Foi perto daquela região que seu pai liderou uma companhia que sumiu misteriosamente junto com a águia, um dos símbolos de Roma. Esse fato traz desgraça à família de Marcus que tenta acabar com a má reputação.
Seu forte sofre um pesado ataque dos bárbaros. Marcus consegue proteger o forte e recuperar seus homens que estavam capturados, mas acaba gravemente ferido. Se recuperando na casa de um tio, Aquila (Donald Sutherland), ele descobre que recebeu um prêmio pela sua ação, assim como uma despensa honrosa por conta de seus ferimentos.Não bastasse isso, ele ainda é obrigado a ouvir os amigos de seu pai falando de seu pai como se fosse um traidor.
Para finalmente poder limpar o nome da família, ele resolve entrar Inglaterra adentro e fazer o que nenhum outro homem ou legião conseguiu: recuperar a águia. Para isso, ele conta apenas com a ajuda de Esca (Jamie Bell), um escravo que seu tio comprou para ele e que é descendente do líder que resistiu contra a invasão que o pai de Marcus participava. Aparentemente, a única coisa que impede Esca de matar Marcus é o fato que este salvou a sua vida.
Os dois encontram algumas respostas, por mais improvável que seja, mas não sem uma boa dose de derramamento de sangue. A grande vantagem é que não são lutas incessantes e intermináveis e que não deixam de fazer parte da história. Além disso, são lutas ensaiadas e com uma boa edição, o que faz com que a gente consiga acompanhar tudo que está acontecendo. Isso tem um efeito ainda maior, faz parecer que essas lutas pertençam ao mundo real.
O filme desperta interesses maiores. Ele se interessa no período retratado e age de acordo. A relação de Esca e Marcus é diferente do que se costuma ver em filmes. Em nenhum momento deixamos de perceber que eles são mestre e escravos. Em nenhum momento eles começam a agir como se fossem melhores amigos. São personagens com dimensão e não meras caricaturas, além de terem uma atuação bastante decente. Entrega mais do que promete.
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