terça-feira, 27 de dezembro de 2011

MISSÃO: IMPOSSÍVEL PROTOCOLO FANTASMA - MISSION: IMPOSSIBLE GHOST PROTOCOL


NOTA: 9,5.
- Uma bomba explodiu no Kremlin. O presidente deu início ao Protocolo Fantasma. Toda as unidades IMF foram renegadas.

Desde que adquiriu os direitos da série de TV para fazer seus filmes, Tom Cruise nunca se preocupou em dar uma identidade sólida a eles. O primeiro, dirigido por Brian De Palma, focava no tom de mistério. O mestre dos filmes de ação John Woo fez do segundo uma aventura cheia de adrenalina. Apesar de díspares, os dois primeiros filmes eram leves e divertidos. Por isso, talvez, o público não tenha gostado da terceira parte, dirigida por J. J. Abrams. Apesar de ser um bom filme, ele tem um tom muito mais pesado que seus anteriores, com cenas de tortura e tudo o mais.
Provavelmente esta é a razão por trazerem Brad Bird (diretor do desenho animado Os incríveis entre outros) para dirigir e tentar revitalizar a série. Em seu primeiro filme liveaction, ele não abandona o tom cartunesco e absurdo, e se mostra uma escolha inspirada. Isso porque por estar acostumado a fazer desenhos animados, Bird parece ter uma visão mais ampla do que é possível de se fazer em filmes. E, desculpem o trocadilho, do que é impossível de se fazer neles.
Ethan Hunt (Cruise) volta a comandar uma equipe IMF (a tal Força Missão Impossível) com o objetivo de roubar arquivos dentro do Kremlin. Algo dá muito errado e um terrorista chamado Hendricks (Michael Nyqvist) não apenas rouba antes dele como explode o Kremlin. A culpa cai em cima do IMF e o governo americano inicia o Protocolo Fantasma que dá o título ao filme. Sem qualquer tipo de apoio, Hunt e sua equipe tem que evitar que Hendricks comece uma guerra nuclear que pode devastar o mundo. Os motivos do vilão são pouco claros, mas parece que ele quer apenas iniciar uma nova etapa de vida na Terra, e para isso a antiga deve acabar.
O filme se beneficia de um grande elenco para contracenar com Cruise. Simon Pegg volta ao papel do Hacker que pode controlar qualquer coisa em qualquer lugar do mundo. Como parceira de campo, dessa vez ele está acompanhado de Jane (Paula Patton) e um misterioso analista interpretado por Jeremy Renner que esconde muito mais do que ele mostra. E Renner se mostra cada vez mais versátil e interessante de se ver nas telas.
O grande astro do filme, porém, é mesmo Cruise. Perto de completar 50 anos, ele mostra vigor atlético nas cenas de acão e mistura com uma maturidade que dá uma nova dimensão ao personagem. Como um crítico escreveu uma vez: "Se alguém te perguntar o que é uma estrela de Hollywood, pode apontar para Tom Cruise". E como já vinha acontecendo em outros filmes, sempre se publica como ele faz todas as suas cenas de ação. Parece que fôlego ele ainda tem de sobra.
E esse filme deve ter exigido dele. A cena filmada no maior prédio do mundo em Dubai impressiona e muito. É com certeza a melhor cena do filme. A forma com que ela foi filmada e editada, passa vertigem até para a plateia (destaco que o efeito foi ainda maior assistindo em IMAX). Se ele realmente se pendurou naquele prédio ou não pouco importa, o que importa é que a cena é simplesmente maravilhosa e dá nervoso de assistir.
Conclusão? O novo filme é um pipocão de primeira, com grandes e ótimas cenas de ação e de heroísmo também. Pra mim, é um dos melhores momentos de Cruise em anos e vale dar uma conferida no cinema. Especialmente para quem pode fazê-lo em uma tela IMAX. 

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

SE BEBER, NÃO CASE! PARTE II - THE HANGOVER PART II


NOTA: 5.
- Aconteceu de novo.

Se você é dessas pessoas que odeiam spoilers de filmes, aqui vai uma importante dica antes de assistir a esse filme: não veja o filme original. Simples assim. Isso pelo simples fato dos dois serem praticamente o mesmo filme rodados em países diferentes. Troque a perda de um dente por uma tatuagem facial, um tigre por um macaco, uma prostituta por uma striper e Las Vegas por Bankcok e teremos não uma continuação, mas sim uma refilmagem. 
Dessa vez, o casamento é de Stu que, depois de seu primeiro casamento em Las Vegas, dessa vez está se casando com uma jovem Tailandesa em uma cerimônia tradicional no país da moça junto com um sogro que o odeia. Depois do jantar, e um brinde do sogro que fere todos os códigos de civilidade, eles resolvem tomar UMA cerveja na beira da praia. Claro que as coisas não saem como planejado e eles acordam em uma pocilga de Bangkok e com o irmão da noiva desaparecido, com exceção do dedo dele que ficou dentro do quarto.
Aí o filme segue novamente o mesmo enredo do primeiro. Sem se lembrarem de nada do que aconteceu na noite anterior, eles seguem as poucas pistas que tem indo para lugares que somente os levam para novas pistas e que no final do filme se revelam totalmente inúteis. No final, eles poderiam ter resolvido totalmente a questão sem saírem do lugar. Não que esteja reclamando da estrutura, mas poderiam pelo menos ter mudado alguma coisa. Até a cena de Stu cantando as desgraças que passaram se repete, mas naquele esquema "sai piano entra violão".
O que eles seguem também, é o manual de sequências de Hollywood. E o manual diz que a continuação tem que ter "mais" que seu predecessor. Aqui, o que eles traduzem como "mais" é a escatologia. Tudo que tem de pervertido, fica ainda pior. E nas fotos que aparecem no final do filme (que original essa parte de colocar as fotos no final, não?) eles já não tem qualquer preocupação moral por menor que seja. 
Nunca visitei Bangkok, mas é difícil de acreditar que ela seja tão ruim quanto é mostrada no filme. Não tem nada que pareça perto de decente que faça com que qualquer pessoa tenha vontade de visitar. Parece ser um estranho "antiguia de viagem" que mostra os lugares para onde as pessoas conheçam os lugares onde não devem ir. Meu medo é que queiram fazer uma terceira parte no Rio de Janeiro. Vai saber o que será mostrado da cidade.
Para não dizer que só falei mal do filme, vale ressaltar que me fez rir em diversos momentos. Apesar de mesmo algumas piadas serem recicladas. Outra parte das risadas sai do fato dos realizadores acharem que ninguém vai ficar ofendido com nada mostrado no filme. Não que eu tenha ficado chocado, mas tem uma diferença entre não se preocupar com a censura e ofender a humanidade em geral. Ao contrário do que aconteceu no primeiro filme, não acho que essa continuação terá uma versão sem cortes. Quão pior o filme pode ficar afinal?

sábado, 24 de dezembro de 2011

ALIEN


NOTA: 10.
- Como a maioria já sabe, não estamos em casa ainda. Estamo no meio do caminho. "Mamãe" interrompeu nossa jornada porque alguma coisa udou. Parece que ela interceptou uma transmissão de origem desconhecida. Nós vamos checar essa transmissão.

Star wars já tinha nos mostrado um pouco antes que o espaço pode servir como ótimo cenário de filmes. Mas o filme de George Lucas era uma fábula para toda a família, por isso coube a Ridley Scott mostrar que o terror também poderia ser feito no mesmo cenário. Como eles estampavam nos cartazes: "No espaço ninguém pode ouvir você gritar".
Uma nave tem sua trajetória interrompida para verificar a recepção de uma transmissão cuja fonte não foi reconhecida. Eles descem naquele pedaço de espaço estranho para investigar e um dos tripulantes é atacado por um estranho ser que se prende em seu rosto. Para qualquer pessoa que já tenha visto um filme da série, ou  mesmo para os que nunca assistiram, fica óbvio que esse ser está colocando o que virá a se formar o aterrador alienígena dentro do pobre homem.
Um dos tripulantes, é Ripley (Sigourney Weaver), única que apareceu nas sequências da série. As ordens dos empregadores dela é clara: eles devem levar aquele ser com vida para que possam usar como alguma espécie de arma. Mas Ripley não tem o menor interesse em seguir essas ordens. Ela tem um ódio tão forte deles que arrasta para todos os outros filme. Ela não quer saber como aprisionar. Sua pergunta é sucinta: "Como matamos isso?".
Basicamente, o alien só parece existir para matar a tripulação da nave. Nem sequer parece muito preocupado com a reprodução de sua espécie, já que precisam dos humanos (ou provavelmente outro ser qualquer) para isso. Só que ao invés de aparecer logo com pessoas morrendo, o filme nos envolve em um ritmo muito bom. As coisas não acontecem do nada. Temos a interceptação do sinal, a decisão de sair e investigar, o retorno para a nave e assim sucessivamente. Cada coisa acontece com calma, ao contrário do que aconteceria em um filme hoje em dia. Se passa muito tempo de filme até que a primeira morte aconteça e mais ainda para que o alien adulto, na forma que conhecemos, seja mostrado.
Tem uma coisa que é muito interessante também na forma como a criatura é mostrada. Seja por uma questão técnica ou não, é muito bom ver como ela é sempre uma coisa meio misteriosa. Quando ela sai de dentro do seu hospedeiro, parece uma espécie de verme rastejante. Depois vemos que ela cresce mas nunca conseguimos saber ao certo como ela realmente é. É só no final do filme que é revelada a verdadeira forma dela. Esse mistério todo também nos mantém num suspense que ajuda no clima do filme.
Weaver interpreta muito bem sua personagem, que permanece como um ícone da heroína dos filmes de ação. Não consigo dizer se alguma outra mulher daquela época conseguiria interpretar um personagem desse tipo tão bem quanto ela. Mas boa parte dos créditos do filme também vai para o diretor Ridley Scott. Antes de Alien ele só havia o bom e cerebral Os duelistas, talvez por isso tenha se preocupado tanto com o clima do filme e a história. Depois disso, ele dirigiria o futurista Blade Runner. Apesar de ter alguns filmes estranhos em sua carreira, não há como negar que se trata de um diretor de enorme talento.
O engraçado é que este filme é considerado um dos mais influentes do cinema, mas apesar disso vejo pouca gente de hoje realmente se inspirando neles. Não há uma preparação para o suspense, o que acaba fazendo que não haja suspense. Só sucessões de sustos fáceis. Por isso o filme ainda se mantém tão forte e tão bom.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O NOME DA ROSA - THE NAME OF THE ROSE


NOTA: 7.
- A única evidência do trabalho do anticristo que eu vejo aqui, é o desejo de todos de vê-lo trabalhando.

Neste filme, conseguimos ver duas espécies diferentes de monges. Existe aqueles monges simples, que usam vestimentas simplórias e passam seus dias trabalhando duro, rezando e se divertindo com as pequenas coisas. Existe também os monges egoístas que vivem com grandes riquezas, falando mal uns dos outros e agindo como se isso fosse alguma forma de política. E é neste filme que vemos um embate entre esses dois tipos de monges.
E pertencente a primeira espécie de monge, temos William de Baskerville (Sean Connery) seguido do seu pupilo Adso (Christian Slater). William é, provavelmente, o primeiro homem moderno. Enquanto a igreja afundava em trevas e os religiosos acusavam os livros de corromper as pessoas, aqui temos um monge diferente dos demais. Ele é um estudioso que sabe compreender as coisas de maneira única. E gosta de ler livros. Um homem que preza a razão.
Os dois chegam em um monastério muito estranho onde na parte de baixo vivem pessoas miseráveis e sujas que se alimentam apenas dos restos de comida que os monges jogam ladeira abaixo. Eles ficam nesse lugar onde uma série de estranhas mortes que estão acontecendo entre os monges. William foi enviado para lá por ter a fama de ser um investigador, e tão rápido quanto ele chega uma nova morte acontece e ele começa a tentar identificar as causas das mortes.
Ele vai tentar achar um assassino entre os monges daquele lugar, mas a tarefa não é fácil. Qualquer pessoa é suspeita. Isso pode parecer cliché, mas a verdade é que todo mundo nesse filme parece ser realmente suspeito. Os monges são estranhos. Parece que todo o elenco foi escolhido para ser estranho ou mesmo beirando o grotesco, com exceção dos nossos dois heróis, claro.
Com uma grande história na mão, o diretor Jean-Jacques Annaud perde a chance de fazer um grande filme. O que ele acaba fazendo é um filme confuso filmado de maneira escura, que ás vezes até mesmo atrapalha a visão do que está acontecendo. William escuta e investiga tudo, e por várias vezes dá interessantes conselhos ao noviço que o acompanha. De alguma forma vemos que ele parece se aproximar da verdade, mas o filme dá poucas conexões para acompanharmos o que acontece para ele ligar os crimes com a resolução do caso. Parece que simplesmente acontece dele descobrir.
Muita coisa acontece sem que haja qualquer explicação para o espectador. Parece que este está simplesmente fadado a aceitar que certas coisas devem acontecer. Sem explicações. Se a história nos envolvesse mais, poderia ter gostado mais do filme. A reconstrução do período, as atuações e outros aspectos técnicos encantam por um tempo, mas falta algo. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 31: INTERLÚDIO - NOTORIOUS (1946)

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NOTA: 100.
- Um homem não diz uma mulher o que fazer. Ela diz a si mesma.

Como Truffaut ressalta, este filme é o que mais se aproxima de toda a essência do que é um filme hitchcockiano. A quintessência de Hitchcock. Pelo menos de todos os filmes preto e branco. E isso porque o filme basicamente se resume a um único MacGuffin: uma amostra de urânio escondido dentro de uma garrafa de vinho. Esse é um dos simples que o diretor já usou, e talvez por isso seja o mais eficaz. Com certeza o melhor até agora. Na verdade essa é a genialidade do filme: se aproximar da simplicidade, e o faz com tamanha competência que o filme se torna algo além do que se podia esperar. Se torna genial.
Para convencer os produtores de que o MacGuffin funcionaria, o diretor teve trabalho para vender a ideia do filme. Ideia essa que surgiu em 1944, um ano antes das bombas de Hiroshima e Nagasaki explodirem. Inclusive, ele relata que a pesquisa que fez pro filme sobre a bomba atômica o fez ser vigiado pelo FBI. Mesmo depois de explicar ao produtor o que era um MacGuffin e a pouca importância que se deve dar a ele, o produtor resolveu se livrar do filme e os atores envolvidos. Erro que provavelmente o fez se arrepender depois de ver o sucesso do filme.
Junto a Casablanca, esse filme é que garante imortalidade a Ingrid Bergman. Ela é Alicia Huberman, mulher com fama notória (o que dá o título original do filme) que é convidada pelo governo americano a espionar nazistas que estão radicados no Rio de Janeiro. Quem a convence a realizar o trabalho é Devlin (Cary Grant), agente por quem ela se apaixona e que acaba a jogando nos braços de outro homem para que ela possa se infiltrar. No final, se trata apenas de uma história de amor entre um homem e uma mulher que acabam não ficando juntos por desencontros e mal entendidos.
Aqui acontece uma coisa interessante. Ao passo que vemos que ela está realmente apaixonada por ele, nunca temos certeza se ele a ama. Ele ainda a joga nos braços de outro homem, Sebastian (Claude Rains, outro que apesar de coadjuvante também se tornou imortal no cinema). Ele é realmente apaixonado por ela e acabamos criando uma certa empatia por ele. E ainda marca ainda mais sua presença quando se mostra um vilão que não puxa uma arma, mas sim se mostra calculado para realizar seus atos. Esse é um personagem realmente mau.
E quanta ironia: Devlin é mais alto e bonito que o inseguro, ciumento e dominado pela mãe Sebastian. Ainda assim, apenas uma vez vemos Sebastian desafiar sua mãe, e ele faz isso em prol de sua amada. Devlin quase nada em favor dela.
E para terminar, um final sensacional. Mesmo o diretor, que anteriormente caiu na armadilha de terminar seus filmes com perseguições ou grandes de cenas. Aqui, tal qual o MacGuffin, ele extrai o suspense de algo simples. Não há brigas, nem perseguições, explosões ou qualquer coisa do gênero. A cena é simples e guarda todo o suspense do filme. Ela é calma e delicada. E talvez por isso seja o filme preferido de Truffaut. Realmente é genial e finalmente começamos a nos aproximar da genialidade que fez o diretor ser quem é.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 30: QUANDO FALA O CORAÇÃO - SPELLBOUND (1945)

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NOTA: 7.
- As mulheres são as melhores psicoanalistas até se apaixonarem. Então elas se tornam as melhores pacientes.

O problema de assistir os filmes dessa época do diretor em sequência, é que depois de um tempo eles começam a ficar repetitivos. Novamente, ele nos conta a mesma história com pequenas mudanças. É a história do homem que pode ser culpado ou não de um crime e que conhece uma mocinha que acredita em sua inocência e o ajuda a provar que não cometeu o crime.
Dessa vez a mocinha é uma psicóloga chamada Constance Petersen (Ingrid Bergman) que trabalha em um asilo onde chega o novo diretor interpretado por Gregory Peck. Ela descobre rapidamente que ele não é o diretor mas sim um homem com amnésia que pode ter estado com o verdadeiro diretor desaparecido, ou que até mesmo pode ter matado o homem. A diferença pros filmes anteriores, é que dessa vez a mocinha não desconfia em momento nenhum da inocência do herói, mas ele mesmo duvida. Cabem aos dois entrarem numa terapia profunda para descobrir a verdade.
Dentro do filme, existem algumas cenas de sonho. Para evitar cair no lugar comum, Hitchcock contou com a ajuda de Salvador Dalí para desenvolvê-las. As cenas são bem diferentes do resto do filme, e dá mais ou menos o efeito que ele esperava. O problema é que, geralmente, os filmes do diretor parecem sonhos filmados. Logo esse filme que conta com cenas de sonho parece muito preocupado em "muito real" fora do sonho.
Outro problema do filme é o ator. Não que ele atrapalhe o filme por ser uma estrela ou coisa do gênero. O que acontece é que como Truffaut ressalta, Peck não é um ator para um filme de Hitchcock. Ele não consegue alcançar as expressões que o personagem precisa para fazer o filme realmente dar certo. Por outro lado, Bergman sobra no papel da doutora. Se o jeito como ela age é realmente condizente com a profissão eu não sei dizer, mas que é bom vê-la lutando pela sanidade de seu paciente, e amado, isso é.
O filme rendeu a terceira indicação do diretor, mas me decepcionou um pouco. Principalmente se considerarmos a falta de suspense na maior parte do filme. Até mesmo a perseguição da polícia ao casal é pouco interessante. Não é um filme ruim, como romance até funciona bem e tem boas cenas, mas falha justamente na parte que fez o diretor tão famoso.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

OS ESPECIALISTAS - KILLER ELITE



NOTA: 8.
- A guerra não acaba até que ambos os lados digam que ela acabou.

Falar que este é um filme de ação pode ser um pouco perigoso se considerarmos que um dos protagonistas do filme é o ator Jason Statham, o qual estamos mais acostumados a ver em filmes como Adrenalina e Carga explosiva. O problema é que esses filmes estão mais inclinados a terem constantes cenas de ação e pouca história. E este não é o caso aqui. Estamos diante de um filme que preza a construção de seus personagens com calma, deixando cenas de testosterona para o segundo plano.
Statham é Danny, um ex-SAS (a força especial britânica) que ganha a vida como assassino ao lado de Hunter (Robert De Niro) até que decide sair daquela linha de trabalho. Ele não quer mais ganhar a vida matando pessoas. O tempo passa e um dia ele recebe uma carta com Hunter preso em cativeiro. Um sheik quer vingança pela morte de seus filhos, e Danny deve realizar esses trabalhos para ter seu amigo e mentor de volta.
Logo no primeiro trabalho, eles já chamam atenção de outro grupo de ex-SAS, personificados principalmente por Spike (Clive Owen), que começa a caçar Danny e seu grupo por estarem eliminando colegas seus. O filme engenhosamente começa a mostrar como esses dois grupos que não se conhecem e nem tem muitos motivos para se odiarem começam a se caçar mortalmente. Eles poderiam simplesmente não dar a mínima para os acontecidos. Mas o que está em jogo é o profissionalismo deles.
Mais interessante ainda é que, pelo menos aparentemente, esta é uma história real. O filme é baseado em um livro escrito por Ranulph Fiennes e que ele diz ter se inspirado em experiências que ele mesmo teve, apesar de nunca ter tido uma confirmação oficial. Inclusive, o autor é também um dos personagens do filme. Se esses fatos são verdades ou não eu não posso afirmar, o que posso dizer é que várias vezes na vida nos deparamos com histórias e dizemos que aquilo só aconteceria em filmes. Para nós espectadores, não faz diferença alguma.
Apesar de não ser um filme no estilo que Statham está acostumado a fazer, seu papel segue a mesma linha dos outros filmes. Machão, carrancudo e de poucas palavras. Do outro lado temos um Owen que pela cara normalmente tendemos a vê-lo como mocinho, mas que mostra que pode ser um homem de sangue-frio também. Para completar o trio, De Niro continua se entregando a personagens pouco inspirados (e olhe que esse é o melhor em um bom tempo). Ele ainda é o mesmo ator que fez papéis memoráveis e com certeza ainda tem seus "poderes"guardados. Esse é o tipo de coisa que não se perde. Mas ele não parece muito confortável em usá-los. Só nos resta torcer para que ele o faça antes de se aposentar.
Gary McKendry faz uma boa estreia nos cinemas mostrando que tem tino para contar uma boa história. Ele sabe que ação que não é baseada em bons personagens e em um plot, está fadada a ser mais um filme esquecível ou até mesmo desnecessário. Por isso ele trabalha bem esses dois pontos. Esse é um filme que antes de tudo conta uma história. E eu gostei dela.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

PAPAI NOEL ÀS AVESSAS - BAD SANTA


NOTA: 9.
- Você não vai conseguir ir no banheiro direito por uma semana.

Este filme tem roteiro da dupla que dirigiu e escreveu Amor a toda prova, onde mostraram maturidade para contar uma linda história sobre um casal há muito casados que estão se separando. Antes de realizarem isso, porém, eles mostraram um humor negro muito interessante em O golpista do ano (filme sobre os golpes dados por um vigarista para ter dinheiro para sustentar seu namorado) e aqui, onde pervertem a figura do Papai Noel.
Claro que não estamos falando de um Noel de verdade, mas sim de um homem, Willie (Billy Bob Thorton),  que se veste todo ano e fica em shoppings com crianças sentadas em seu colo escutando o que elas querem ganhar de presente no natal e tira fotos com elas. Ele é também um arrombador de cofres depressivo, alcoólatra e viciado em sexo (especialmente no tipo não convencional) que usa esse disfarce apenas para roubar os shoppings onde trabalha junto de um anão fantasiado de elfo.
Não é difícil de descobrir que alguém vai aparecer na vida dele para que ele comece a pensar numa vida diferente, mas mesmo isso não acontece da maneira convencional. Ele não é bonitinho e ele não é esperto. É um menino beirando a obesidade e que apresenta um QI claramente abaixo da média. Ele segue Willie como se fosse um estranho modelo para seguir, e se não fosse como é provavelmente não alcançaria nosso anti-herói.
Vale ainda ressaltar, que o nível de Willie é tão baixo, que qualquer melhora já é alguma coisa. Estamos falando de um homem que grita e xinga crianças, mija nas próprias calças com preguiça de ir no banheiro e transa com mulheres nas cabines de experimentar roupas das lojas. E não levem isso mal, são todos esses motivos que fazem o filme ser bom. É doentio, sem limites para o absurdo e ao mesmo tempo muito engraçado de assistir. E grande parte disso é a atuação de Thorton como esse Papai Noel doentio. 
Com tanto filme igual sendo lançado ano após ano, é bom olhar para trás e ver que algumas vezes algumas pessoas estão dispostas a fazer alguma coisa diferente. Eu não gosto do filme apenas por isso, realmente acho que é muito interessante, mas ter essa característica com certeza melhora um pouco as coisas. As regras morais de Hollywood vão caindo pouco a pouco, mas quase nunca você encontra um filme que esteja disposto a ir contra todas elas.
O filme é dirigido por Terry Zwigoff, cuja filmografia eu admito que desconheço. Talvez nas mãos de um diretor um pouco mais talentoso e, principalmente, mais audacioso, o filme poderia render risadas ainda maiores. Ele prepara muito cada piada com longas pausas, enquanto comédias tendem a depender mais de ritmo que qualquer outra coisa. Ainda assim se trata de um filme muito interessante e que não me arrependi nem um pouco de ter revisto. Assim como antes, novamente me rendeu boas risadas.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 29: LIFEBOAT - UM BARCO E NOVE DESTINOS (1944)

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NOTA: 8.
- Morrer juntos é ainda mais pessoal do que viver juntos.

Agora Hitchcock passa para um verdadeiro desafio. Saem tramas elaboradas e variados cenários para um filme todo passado dentro de um bote salva-vidas. Nove pessoas sobreviventes de um navio vítima de um  torpedo, logo na primeira cena, ficam dentro do bote tentando sobreviver até o resgate. Ele aproveita para testar uma teoria: analisando um filme psicológico, cerca de 80% era dedicado a planos fechados, o que era o que acontecia ao se filme dentro de um pequeno barco. A técnica usada seria uma espécie de precursora da TV.
Houve ainda um outro motivo para gravar o filme. O mundo ainda se encontrava em guerra, e havia duas forças presentes: democracia e nazismo. As democracias estavam em plena desordem enquanto os alemães, certos ou não, sabiam exatamente onde queriam chegar. A mensagem que ele queria passar é que as democracias deveriam se unir contra o inimigo comum.
Depois que o navio afunda, juntam-se os nove sobreviventes, sendo um deles um alemão que finge ser um mero marinheiro do submarino que lançou o torpedo e que depois vamos descobrir que é na verdade o capitão. Pela sua patente, ele acaba se mostrando o mais competente para liderar o barco em direção à Bermudas. Esse fato foi o que na época mais gerou críticas contra o filme, pois como poderia um nazista ser o melhor para liderar? Mas justamente essa ideia ia de encontro com o que ele queria passar. Aquele homem era o único que sabia o que fazer.
Como todos sabem, o diretor é famoso pelas pontas que faz em todos os seus filmes. Como descrevi anteriormente, começou pela necessidade de preencher espaço na tela e depois acabou virando uma gag da qual ele não conseguiu se livrar. Geralmente fazia isso como um transeunte, coisa que seria impossível num filme em alto mar. Para resolver esse problema, ele acabou imortalizando também uma dieta que estava fazendo e que o fez perder 50 quilos. Ele aparece em uma propaganda em um jornal como modelo de um produto para emagrecimento.
Não apenas pelo fato de se passar unicamente dentro de um barco, o próprio clima também difere este filme do resto de suas obras. Não tratamos de suspense aqui, mas sim de um drama como ele não havia feito antes. O barco acaba se tornando uma espécie de "microcosmos" do mundo naqueles tempos de guerra. Temos fascistas, comunistas e democratas e conflitos que acabam por resolver o destino de todo o barco. Era claramente uma propaganda à favor dos aliados e ele se orgulha disso. Se não tivesse feito nada, se recriminaria depois. Isso por si só já é de se elevar um pouco a obra. São grandes artistas que em tempos difíceis se levantam em prol da coisa certa. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

FEDERAL


NOTA: 2.
- A polícia federal reuniu um grupo seleto de agentes. São todos atiradores de ponta. Incorruptíveis.

Claro que as comparações entre este filme e Tropa de elite são inevitáveis. Para se defenderem, os produtores fazem questão de ressaltar que o roteiro deste filme começou a ser escrito em 1987. Chegou a ser selecionado para o laboratório de Sundance em 2001. Então não me assusta que este filme não seja um subproduto tentando aproveitar a onda de um "primo mais famoso". Me assusta que se leve tanto tempo para fazer um filme que não chega sequer a ser mediano.
A trama gira em torno de um grupo especial dentro da polícia federal que pretende prender o maior distribuidor de drogas em Brasília. Liderado por Vital (Carlos Alberto Riccelli) e seguido por Daniel (Selton Mello), este grupo de federais incorruptíveis segue um ritmo de violência que não fica devendo nada aos policiais do BOPE. O uso exagerado de palavrões e a violência exagerada parecem fazer parte do pacote básico de filmes desse tipo. A única coisa que tem a mais são as cenas de sexo.
Federal pode até mesmo ter começado a ser escrito antes, mas as coincidências com o roteiro de tropa chegam a ser assustadores. Oficial negro que acaba de se juntar a um grupo fechado, chefe com a esposa grávida, colocar a cabeça de um bandido no saco e até mesmo um final com a transformação final do personagem em contra-luz.
Para piorar, o filme tenta alcançar um patamar de qualidade que não consegue. Isso resulta em um filme tosco que poderia ganhar mais alguns pontos se simplesmente simplificasse as coisas. Cenas de luta mal coreografadas, tiroteios confusos e nada emocionantes e até mesmo a falta de um padrão nas atuações. Alguns diálogos ficam tão mal declamados que é difícil dizer se o roteiro é ruim ou se falta uma direção de atores decente. Mesmo Mello poco consegue fazer com um personagem inconstante que se declara contra violência e sai para comprar drogas. E que de uma hora para a outra simplesmente se torne adepto ferrenho da violência. Sem qualquer motivo forte para isso. Para completar as estranhezas do filme, há uma cena de sexo com uma mulher grávida e uma relação muito mal explicada entre Vital e um policial da DEA (polícia anti-drogas americana) que trabalha para os dois lados interpretado por um Michael Madsen mais canastrão do que de costume.
Tudo acontece de forma corrida e sem muita explicação. Tentando mirar em todos os possíveis aspectos da venda de drogas, o filme não consegue se explicar e fica muito confuso. Há uma policial federal que aparece para fazer importantes prisões que sequer tem nome, o que dirá diálogos.
Situações constrangedoras, história feita unicamente de (todos os ) clichês do gênero e caricaturas no lugar de personagens. Não sou fã de filmes como Tropa de elite, mas se a alternativa a eles são filmes como esse, devo apenas reconhecer  os méritos de um produto melhor acabado.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ABUTRES - CARANCHO


NOTA: 8,5.
- Era algo simples. Tinha que dar certo, mas deu errado.

A Argentina continua produzindo filmes muito interessantes, e pra variar com filmes estrelados por Ricardo Dárin. Ele tem uma capacidade especial de interpretar personagens meio "podres". Não sei se essa seria a palavra correta, mas a questão é que não importa o personagem, ele consegue passar um ar de nobreza a eles. O que é muito importante, porque não importa o que ele faça, acabamos sempre torcendo para ele. 
Aqui ele é um advogado, Sosa, que perdeu sua licença. Enquanto não consegue recuperar o direito para trabalhar novamente na profissão, ele serve como abutre para uma firma corrupta. O abutre, no caso, fica correndo em hospitais e atrás de ambulâncias pessoas acidentadas que possam processar alguém e render dinheiro de indenizações para a firma. Nesse processo ele acaba se envolvendo com uma médica chamada Luján. Os dois tragados nessa cidade campeã de acidentes.
Poucos personagens são tão adequados um para o outro quanto esses dois. Ela pode ter mais ética que Sosa, ela também não é isenta de ter seus defeitos. Querendo terminar rapidamente as horas que deve alcançar até que possa ser efetivada no cargo de médica, ela se mantém em seus plantões à base de remédios que a deixam acordada mas não totalmente alerta. Isso faz com que cometa erros que quase acabam por matar alguns de seus pacientes.
É a relação dos dois que mantém o filme em seu eixo. Especialmente para o personagem de Sosa. É quando ele finalmente consegue se envolver emocionalmente, que ele realmente percebe que sua vida não está como deveria ser. É por causa dela que ele resolve que deve fazer alguns reparos para acertar sua vida. Não é apenas uma licença para trabalhar que vai mudar isso. Mas ela também sabe que deve ajudá-lo nessa nova jornada.
O filme anterior de Dárin a aparecer por aqui, foi o maravilhoso O segredo de seus olhos, mas não devemos comparar os dois. Esse filme não é tão bom quanto o anterior. Na verdade, poucos conseguem essa proeza. Não por acaso, não conseguiu chegar a ser indicado ao Oscar. Ainda que mostre um submundo interessante, ele peca por não ter uma história coesa o suficiente. 
Para a sorte do filme, e para a nossa também, Dárin está acostumado a interpretar personagens que devem acertar as contas com o seu passado. Ele nos segura por entre ambulâncias, salas de emergência e muita violência. E ainda por cima ele se encontra em ótima companhia. Se não vale totalmente a pena pela história, com certeza esse filme merece ser visto pelas atuações.

HITCHCOCK TRUFFAUT 28: A SOMBRA DE UMA DÚVIDA - SHADOW OF DOUBT (1943)

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NOTA: 9.
- Pra quê olhar para trás? Ou para a frente? O que importa é o hoje. Essa é a minha filosofia. Hoje.

Este é o filme que ficou famoso como o predileto de Hitchcock por conta de certa declaração que ele fez uma vez. Truffaut ainda diz que se todos os outros filmes do diretor desaparecessem, este traria uma ideia errada do que ele chama de "Hitchcock Touch". A verdade, é que o que ele realmente quis dizer na declaração, é que este é o filme que agradaria a todos que reclamam que o diretor não é verossímil. Para essas pessoas, talvez essa seja realmente o seu melhor filme.
No filme, Tio Charlie (Joseph Cotten) está sendo perseguido por dois homens. Ele resolve então se refugiar em Santa Rosa na casa de sua irmã que é casada com um banqueiro e tem três filhos, sendo a filha mais velha Charlie (Teresa Wright). Todos gostam muito dele e ele parece ser uma ótima companhia para todos. Pouco a pouco, a coisa não se mostra um mar de rosas como ele faz parecer. Os dois homens o acham em Santa Rosa e ele parece estar mesmo escondendo um segredo.
Grande parte do poder do filme, vem mesmo da habilidade do diretor. Com muita maestria, ele planta a desconfiança em cima do personagem principal. E melhor ainda: dessa vez não tem uma grande estrela como protagonista. Não pensem que isso de alguma forma desqualifica o filme, na verdade apenas intensifica o suspense. Agora, realmente a platéia fica em dúvida se o personagem pode ser o culpado ou não.
Ele faz uma reclamação. Na Inglaterra, ele sempre conseguia se cercar dos melhores profissionais para realizar seus filmes. Em Hollywood a coisa muda um pouco e parece que ninguém leva o diretor muito à sério, e ele acaba tendo que se virar com as pessoas que aceitam trabalhar com ele, não com quem ele realmente chama. Apesar disso, ele conseguiu um roteirista que lhe agradou bastante e que na verdade fez um bom trabalho montando essa história.
Ainda não se trata de um dos filmes que mostram o quão especial era o diretor. Apesar de, como ele mesmo diz, agradar as pessoas que buscam o verossímil nas telas, não vai agradar plenamente os grandes fãs de um verdadeiro filme de Hitchcock. É um bom suspense, mas é justamente o toque do inverossímil que o deixa acima do resto, ou pelo menos de boa parte. A dúvida pode pairar em cima do protagonista tal qual acontece com Norman Bates, mas o resultado não é o mesmo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O CONCERTO - LE CONCERT


NOTA: 8.
- Você está louco? Quer que nos passemos pelo Bolshoi?

Nem toda comédia se trata de ser apenas engraçada, algumas conseguem passar grandes emoções. Como é este caso. Fazer rir e nos tocar ao mesmo tempo exige talento, e essa produção que se passa na Rússia e na França consegue nos manter grudados no desenrolar do que vai acontecer.
Começamos na Rússia, onde Andrei Filipov é um faxineiro do Bolshoi. Mas nem sempre foi assim. Como vamos descobrir posteriormente, ele era o maestro da orquestra, mas foi rebaixado depois que apoiou a permanência de judeus na orquestra nos anos 1980. Trinta anos depois, surge uma nova chance. Ele intercepta um e-mail para o diretor do teatro chamando a orquestra Bolshoi para uma apresentação em Paris. Ele se junta aos seus antigos músicos, todos também afastados e resolve fazer desta oportunidade o seu retorno.
O que atrapalha um pouco num filme que não se trata de uma comédia escrachada, é que, assim como em um drama, os personagens devem ser críveis. E isso não acontece. Quase todos os personagens são frutos de estereótipos tão fortes que fica difícil de nos identificarmos com eles. Russo bêbados, ciganos que dão golpes inacreditáveis, judeus que só pensam em fazer negócios e empresários safados são transformados em caricaturas neste filme que desenvolve muito mais tramas secundárias do que realmente deveria em tão pouco tempo de exibição.
A tarefa não é fácil. Junto com seu grande amigo Sasha, Filipov corre atrás de músicos que não tocam há muitos anos. Hoje eles trabalham fazendo trilhas sonoras de filmes pornográficos, dirigindo taxi, realizando entregas e até mesmo conduzindo ambulâncias. Fora isso, eles não tem dinheiro para viagem, tempo para ensaio ou mesmo um produtor. Para suprir essa última deficiência, eles são obrigados a contar com um ex-agente da KGB que eles odeiam.
Por motivos que só vamos descobrir no final do filme, a solista deve ser a bela e celebrada Anne-Marie Jacquet (Mélanie Laurent, de Bastardos inglórios). A peça escolhida para a apresentação é um concerto para violino de Tchaikovsky, que ela jamais tocou antes. Além de uma incrível beleza e presença na tela, ela é dona da melhor personagem do filme. E no fim, ele nos brinda com a emoção citada no início da resenha, com uma performance precisa.
Para curtir esse filme, você deve acreditar em tudo que o filme tem de nonsense, já que as soluções dos problemas que eles tem para montar o show em apenas duas semanas não são perfeitamente explicadas. Acreditar que eles são capazes de tocar bem juntos sem terem sequer um único ensaio beira a insanidade. Esse fato, por sorte, já está no final do filme e não chega a atrapalhar tanto. Um filme que diverte, alguma vezes emociona, mas que parece aspirar muito mais que isso. Sem sucesso.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 27: SABOTEUR - SABOTADOR (1942)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.


NOTA: 6.
- Em quem de nós você acha que a polícia vai acreditar?

A exemplo do que já havia feito na Inglaterra, Hitchcock realiza um filme que fala sobre terrorismo. E com esse filme, ele entra na mesma linha que 39 degraus, Trama internacional e Correspondente estrangeiro. A história é padrão de grande parte dos filmes de Hitchcok, homem que é acusado de um crime que não cometeu foge para provar sua inocência, encontra uma garota que não acredita nele mas depois acaba acreditando e acaba por ajudá-lo.
Acontece, porém, uma coisa que não acontece nos outros filme citados: ele não funciona como os outros. Ele mesmo identifica um dos grandes problemas de seu filme, que são os atores protagonistas. O diretor diz que foi emprestado por Selznick a um produtor independente, tanto que o filme foi distribuído pela Universal. A atriz, segundo suas próprias palavras: "Não era uma mulher para um filme de Hitchcock.", além disso, para filmes desse tipo, o ideal é ter um astro para que o público dê maior importância aos perigos que ele está correndo. Para completar, ele não conseguiu um vilão que pudesse fazer um contraponto ideal aos mocinhos, e acabou tendo que ficar com um "vilão tradicional", Otto Kruger.
Há uma coisa, porém, a ser destacada. O final do filme na estátua da liberdade é brilhante e leva a marca do diretor em cada frame. Ela conta com o mocinho e outro vilão interpretado por Norman Lloyd (muito bem em seu papel) e termina com o vilão pendurado prestes a cair. O diretor diz que a cena seria muito mais forte se ao invés de ser o vilão pendurado, o perigo estivesse em cima do herói. Mas o que é realmente interessante é que mesmo assim, a cena causa grande impacto. A única coisa que senti falta, foi uma coisa que Hitchcock dominaria algum tempo mais tarde: a importância da trilha sonora. Principalmente depois de formar a parceria com Bernard Herrmann. Fosse pontuada pela trilha, essa cena poderia ser inesquecível.
Qualquer semelhança com Intriga internacional, um filme mais conhecido do diretor, não é mera coincidência. Tanto que ele próprio classifica Intriga como uma refilmagem deste filme, e até mesmo as cenas finais são muito semelhantes. A diferença é apenas que a "refilmagem" é muito superior e não apresenta nenhum dos problemas citados aqui, principalmente em termos de elenco (que conta com Cary Grant e Eva Marie-Saint).
A verdade é que o diretor não consegue aparar as pontas do roteiro. Muita coisa acontece, e contrariando o que ele mesmo procurava pregar, nem tudo é interessante. Ou emocionante. Ele acredita que talvez tenha coberto um território vasto demais, Truffaut diz que o problema é a mocinha e saber quando colocá-la e em perigo ou não. Seja lá se o problema são todos esses ou não, o problema é que o filme nunca chega a decolar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

OS 3


NOTA: 8.
- Acho que a gente tinha que instituir uma regra. Tinha que ser proibido rolar alguma coisa entre nós 3.

O diretor Nando Olival codirigiu Domésticas em 2001 ao lado de Fernando Meireles. Desses 10 anos para cá, Meireles cresceu e se manteve na mídia, enquanto Olival esteve bem mais discreto. Especialmente por não ter participado do sucesso de  Cidade de Deus. Até esse ano. Primeiro foi com o curta Eduardo e Mônica, baseado na música homônima de Legião Urbana, e depois no Festival do Rio lançando seu segundo longa que conta a história de três estudantes universitários.
Todos se conhecem em uma festa da faculdade e nenhum deles é realmente de São Paulo. Decidem então irem morar juntos com uma regra de nunca deixarem acontecer nada entre eles. O filme começa falando de amizade, amor, paixão e tesão, e rapidamente vai trocando a ordem sem parecer definir exatamente quais são suas prioridades. Parecendo que os 3 jovens não sabem exatamente suas prioridades. E por não  saberem, Camila e Cazé começam a namorar. Deixado de lado, Rafael começa a planejar sua saída da casa.
Eles apresentam um trabalho de faculdade juntos. Um reality show onde os espectadores possam comprar qualquer coisa que vejam as pessoas usando na TV. Um jovem empresário vê uma oportunidade e decide contratar os 3 para serem as estrelas do projeto. Começar uma faculdade é difícil, mas o final também é e nem todos saem com emprego. Essa oportunidade, não se trata apenas de fazer com que ganhem dinheiro, é também uma forma de ganharem mais tempo juntos.
O reality show com os 3 se mostra extremamente maçante, mas é engraçado que é a partir desse ponto que o filme começa a ficar realmente interessante. Até então, tudo era muito certinho e os conflitos não pareciam bem desenvolvidos. É só quando eles ficam sob os olhares das câmeras que seus sentimentos começar a realmente transparecer. O reality show ganha uma história para as pessoas acompanharem, já a gente ganha conflito. De quase cancelados, eles passam a ser um fenômeno da internet.
Olival escreveu o roteiro com Thiago Dottori (VIPs), e eles conseguem entregar vários bons momentos, o problema é que em determinado ponto as coisas começam a ficar um pouco previsíveis demais. Em um certo ponto, o filme Três formas de amar não me saiu da cabeça de tão similar que algumas situações ficaram. Se acerta em alguma coisa, é não ser pró ou contra os reality shows. Eles focam em seus personagens principais e pronto. É essa a história que importa. Tudo isso com uma excelente fotografia de Ricardo Della Rosa (Casa de areia) e montado com a competência de Daniel Rezende (Cidade de Deus e Tropa de elite, entre outros).
E antes que o filme possa ficar cansativo, ele termina. Seus quase 80 minutos são suficientes para contar uma história que pode não terminar de forma brilhante, mas que com certeza mostra a marca de um trabalho muito bem feito. Em tempos onde nosso cinema parece se limitar cada vez mais para comédias praticamente televisivas (e sem graça) e filmes violentos, isso conta para muita coisa. Por isso recomendo para quem quiser ver um bom filme brasileiro.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

VELOZES & FURIOSOS 5: OPERAÇÃO RIO - FAST FIVE



NOTA: 6.
- Deixe-me dizer uma coisa sobre esses dois homens: um é um ex agente federal, foi agente infiltrado por cinco anos e sabe todos os lugares por onde você pode vir. O outro é um ex-prisioneiro que já fugiu de duas prisões e passou mais da metade da vida evitando caras como você.

Li muitas críticas negativas sobre este filme por ele se passar no Rio, apesar de a maior parte não ter sido filmada aqui. Alguns reclamaram por somente mostrar a polícia corrupta ou por mostrar como se todos por aqui andassem armados. Se nem nós brasileiros desmistificamos essa ideia, porque devemos esperar que eles façam isso? o produto mais recente que exportamos para lá foi Tropa de elite 2, o que não nos dá qualquer direito de reclamações.
Tendo dito isso, vale também dizer que não acho possível que dois carros turbinados possam se amarrar a um cofre enorme e pesado e ir dirigindo em altíssima velocidade pelas ruas da cidade maravilhosa. Especialmente se considerarmos o trânsito durante o dia que piora cada vez mais. Assim como roubar carros de um trem que não existe aqui (será que estão se antecipando ao trem bala entre RJ-SP) deve ser ainda mais difícil. Especialmente se considerarmos que esse trem está no meio do deserto.
Então é seguro dizer que o Rio de Janeiro do filme, não é o mesmo lugar onde eu moro. Se for assim, tudo me leva a acreditar que este é um filme sem nenhum pé na realidade. Então como sendo um exemplar de um filme fantástico, todas as mentiras e ações absurdas que tem no filme não atrapalham em nada. Sequer importam. O que interessa são muitas sequências de tirar o fôlego com os personagens que já conhecemos.
Apesar de ser o quinto filme da série, esse é o terceiro que une Vin Diesel e Paul Walker. Além da volta também de Jordana Brewster, se junta ao elenco Dwayne (The Rock) Johnson para reforçar o time dos astros anabolizados de ação. Tanto é que diálogo não são muito valorizados nesse filme. Se encontrar mais de 6 falas em sequência saindo da boca desses personagens, pode ser que seja apenas a introdução de algo que vai ser bem picotado logo mais na edição.
O que mais me impressiona, é que o diretor Justin Lin mostra cada vez mais talento, e que pode acabar fazendo bonito em filmes de primeira linha. Ao invés de gravar cenas desconexas e juntar tudo na edição com velocidade incrível, como a maioria dos filmes hoje em dia são feitos, ele realmente coreografa e faz storyboards de cada cena de ação do filme. O resultado é muito melhor do que eu estava esperando em um filme desse porte.
O que torna esse filme um belo exemplar de filme de ação durante sua pouco mais de duas horas de projeção. Atores que podem não brilhar, mas não fazem feio com suas caras sem muitas expressões, cenas de ação que te seguram na poltrona e que desafiam as leis da física. Não é muito meu tipo de filme, mas devo confessar que é tudo bem feitinho. Para quem gosta, é um prato cheio, mas mesmo para os não afccionados pode ser divertido.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O ÚLTIMO EXORCISMO - THE LAST EXORCISM


NOTA: 7,5.
- A bíblia está repleta de demônios. Se você acredita em Deus, você tem que acreditar no Diabo. O próprio Jesus era um exorcista. Então, se você é cristão, se acredita em Jesus, você tem que acreditar nos demônios.

Segundo somos informados pelo personagem principal, o exorcismo nunca deixou de existir. Ele diz que muitas pessoas podem pensar que está "fora de moda". Que não é mais necessário ou que até mesmo deixou de ser usado porque todas as curas são feitas agora com base na ciência, mas a verdade é que atualmente o exorcismo está sendo mais realizado do que já foi anteriormente.
Esse personagem que nos informa esse fato, é Cotton Marcus. Ele é um showman que ganha a vida como pastor de uma igreja. Seus sermões são recheados com truques de mágica e outros subterfúgios para distrair a platéia. Ele subestima tanto seu "público", que promete para a câmera que está o filmando que vai colocar uma receita de bolo no meio do seu sermão e realmente o faz. E todos ainda dizem amém. Ele prega, mas não acredita no que diz.
Sendo assim, ele não acredita em demônios ou mesmo nos rituais de exorcismo. Desde o início do filme, o vemos com o principal personagem de um falso documentário. O objetivo de Cotton é expor o ritual como uma fraude que pode prejudicar pessoas que realmente acreditam nisso. Que tem fé que essas coisas são reais.
Assim ele pega uma carta e segue para a fazenda de um viúvo que lhe escreve dizendo que sua filha está possuída. Seguido de um câmeraman que nunca aparece e uma mulher que faz o som do documentário, ele conhece Nell, uma doce menina que parece estar estripando inúmeros animais da fazenda, incluindo bois e alguma galinhas. Ela, segundo é dito, simplesmente acorda com suas roupas encharcadas de sangue sem saber o que aconteceu na noite anterior.
O filme é baseado em um documentário feito em 1972, vencedor do Oscar, que acompanhava uma espécie de turnê realizada por um pastor pentecostal pela América. Tendo essa base, o filme tem forte apoio emocional e dramático. O suficiente para automaticamente criar grande apoio da platéia. Melhor ainda, ao contrário do que o personagem faz com seus fiéis, o filme nunca subestima a inteligência do espectador. É assim que ele vai nos levando cada vez mais fundo dentro daquele universo um tato bizarro.
Filmando ao estilo que A bruxa de Blair tornou famoso, em que uma única câmera segue os personagens e é operada por eles, o diretor até consegue um efeito muito mais interessante que os outros filmes costumam empregar ao (já massacrado) gênero. Ele consegue contar a história de maneira limpa e eficiente, e somente no final é que o filme escorrega e cai na cilada que parece ter se tornado obrigatória em filmes rodados dessa maneira. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 26: SUSPEITA - SUSPICION (1941)


Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.



NOTA: 7.
- Eu sempre penso nos assassinos como meus heróis.

O diretor considera este seu segundo filme "inglês" em Hollywood: "atores ingleses, ambientação inglesa, romance inglês". No livro, a mocinha da história descobre que casou com um assassino e deixa que ele a mate. Pelo amor que tem por ele.
Na época do lançamento, Hitchcock foi amplamente criticado por ter modificado complemente a trama original do livro. Sendo assim, na verdade a mocinha descobre que é um gastador mentiroso que não possui dinheiro algum. Depois, acaba por confundi-lo por um assassino e imagina que ele pretende matá-la. Apesar de aparecer nos créditos que é uma adaptação, isso chega a ser um tanto quanto injusto, já que claramente se trata de uma história totalmente diferente.
Para os que não lembram, quando postei O inquilino sinistro, escrevi que Hitchcock reclamava de trabalhar com um ator famoso, já que eliminava a possibilidade de que ele pudesse ser um assassino. Aqui, com Cary Grant, acontece a mesma coisa. O final que ele queria, mostrava a mocinha escrevendo uma carta para a mãe dizendo que não queria viver e que ele iria acabar com sua vida. Ele lhe traz um copo de leite envenenado e ela lhe pede que ele envie a carta pelo correio O filme terminaria com Grant postando a carta em uma caixa de correio.
Apesar de não ser um dos seus melhores filmes, devemos reconhecer a genialidade do diretor para realizar este aqui. Ele é capaz de dar todas as pistas contrárias do que é realmente verdade para enganar a plateia. Apesar de sabermos que Grant não pode ser um verdadeiro assassino, é interessante vê-lo andando ameaçador como se ele fosse mesmo capaz de cometer qualquer crime. É somente no final que vamos descobrir do que ele é realmente capaz.
Grande parte deve também ser creditada à atuação de Grant. Ele, que assim como a governanta de Rebecca nunca aparece entrando em uma cena, simplesmente parece se materializar na tela, consegue entregar sutilmente dois personagens diferentes e contraditórios que são, na verdade, a mesma pessoa. Ele simplesmente interpreta com maestria e merecia um Oscar (se bem que aquele ano foi muito disputado), que acabou sendo vencido apenas por Joan Fontaine.
Um produtor foi ver a montagem do filme, e acabou pedindo para retirarem toas as cenas em que Grant aparecia com um jeito misterioso e suspeito. O corte ficou com 55 minutos e parecendo um tanto quanto ridículo. Por fim, acabaram colocando todas as cenas de volta. 
Deixa no ar um tom meio que de decepção. O próprio diretor acabou ficando decepcionado com o resultado final do filme. Não é nem o melhor, nem o pior.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

72 HORAS - THE NEXT THREE DAYS


NOTA: 6.
- Antes de fazer qualquer coisa, você deve se perguntar se pode realmente fazer isso. Se não puder, não comece. Porque você vai fazer alguém ser morto.

No filme, Russel Crowe interpreta John Brennan. O personagem é um professor da universidade, casado com Lara (Elizabeth Banks) com quem tem um filho pequeno. Logo no início do filme, sua esposa vai presa acusada de assassinato. Ele então começa uma batalha nos tribunais para conseguir soltar sua mulher, mas todos seus esforços acabam se mostrando em vão. Enquanto ele se mantém brigando na justiça, o filme é bem interessante. Mas esse não é um drama, é um suspense. E ele parte para um plano para soltar sua mulher. Com o plano, cai a credibilidade do filme. Se trata ainda de um interessante suspense, mas o filme poderia ser bem mais interessante.
O que impede que esse filme se torne ruim por conta disso, é a presença do diretor e roteirista Paul Haggis. Ele já havia roteirizado Menina de ouro, e dirigido e escrito Crash entre outros filmes. Adaptando um filme francês que eu não assisti, ele acaba entregando um filme com resultados inferiores ao que estamos acostumados a ver quando seu nome está atrelado ao projeto. Outro fator são as atuações de Crowe e Banks., mas a verdade é que o talento dos dois atores poderiam ter sido melhor aproveitados em um produto melhor.
Lara parece ter motivo e a oportunidade de ter cometido o assassinato contra a chefe contra quem teve uma briga no mesmo dia. Havia sangue da vítima em seu casaco e suas impressões estavam na arma do crime. Qualquer pessoa diria que ela é culpada, menos John. Ele sabe que ela não poderia ter cometido um assassinato. E Crowe faz com que qualquer evidência não tenha importância. É quase como que se ela fosse inocente somente por ele acreditar nisso.
Enquanto isso, ele tenta levar sua vida lecionando e educar seu filho. Ele tenta tudo que pode para tirar sua mulher da prisão. Falha. É só então que ele começa a planejar a fuga da prisão, mas como um professor de inglês pode conseguir isso? A preparação para o ato é interessante, contando com uma rápida aparição de Liam Neeson como um expresidiário que já escapou de diversas prisões e muita pesquisa na internet. O problema é que de uma hora para a outra, surge um novo John capaz de realizar todas as ações que o filme exige.
Essa mudança do personagem não é o único problema do filme. Ele é um pouco lento pela quantidade de detalhes que são inseridos para tentar dar credibilidade ao filme. Fato que não acontece. Apesar disso até que me manteve envolvido com a história. Mas nada parece esconder o fato de que esse parece um desperdício dos talentos envolvidos. Acredito que Haggis poderia fazer um filme muito mais interessante se não se preocupasse em envolver uma fuga da cadeia.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

PAUL


NOTA: 6.
- Você é um alienígena.
- Para você, sim.

Este é um daqueles filmes que parece ter tudo para você gostar dele, mas de alguma forma ele começa perder seu rumo. O que o impede de se tornar um filme muito bom. Não sei dizer exatamente o que acabou  dando errado, mas com o passar do tempo o filme vai perdendo suas graças aos poucos para se tornar mais um filme burocrático de comédia.
A premissa é bem interessante. Dois nerds ingleses, Graeme e Clive (Simon Pegg e Nick Frost, a dupla de Chumbo grosso), vão aos EUA para visitar a Comic-con (o maior evento nerd do país) onde tiram fotos com personalidades famosas do mundo geek e conversam com seus autores favoritos. Na saída da feira, decidem alugar um trailer para passear pelo país visitando lugares como a área 51 entre outras coisas. Numa dessas visitas, eles acabam cruzando com um alienígena chamado Paul (Seth Rogen).
O início do filme é com certeza a melhor parte. As cenas dos dois andando na feira são inestimáveis junto com o início da odisseia. As cenas são essenciais para estabelecer como ambos são doces e sensíveis. Tanto, que chegam a ser confundidos como um casal homossexual. Até a chegada de Paul que não consegue dirigir um carro. Se eu fosse um ET e tivesse que encontrar alguém para me ajudar, acho que esses dois seriam a dupla ideal para poderem ajudar uma pessoa em apuros. Mesmo que não seja uma pessoa.
Na jornada, eles ainda encontram Ruth (Kristen Wiig, de Missão madrinha de casamento), uma mulher que cresceu com fortes preceitos religiosos e usa uma camisa de Jesus atirando em Darwin (enquanto embaixo aparece a frase "evolucione isso"). A existência de Paul vai contra tudo que ela acredita. Se ele existe, ela pode até mesmo xingar sem ficar esperando que sua alma vá para o inferno. Se é que o tal inferno realmente existe.
Como se espera de um filme que começa numa comic-con, o filme é uma ode ao mundo nerd de filmes e seriados. Alguns sutis e outros explícitos. Uma música de Star Wars tocada ao fundo ao entrarem num bar ao passo que em outra cena vemos Paul inspirando Spielberg em um filme.
O que realmente incomoda é um alienígena que, tirando a aparência física, é Seth Rogen. Não apenas na voz, mas na maneira de falar e até mesmo no conteúdo de seus diálogos. Isso torna Paul um ser pouco interessante. Ele não é um alien de verdade. Ele é praticamente todo humano. A graça de um filme com um alien, é a imprevisibilidade que eles podem ter. Paul não tem nada de imprevisível, ele é tão comum como qualquer humano. O filme tem suas graças, mas poderia ter ido mais longe.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 25: UM CASAL DO BARULHO - MR. & MRS. SMITH (1941)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.


NOTA: 4.
- Se você pudesse fazer tudo de novo, ainda assim casaria comigo?

O próximo filme da lista do diretor é totalmente atípico se comparado com o resto da sua filmografia. Pela primeira vez, e única, Hitchcock faz uma comédia. Isso aconteceu por conta da sua amizade com Carole Lombard, que lhe pediu para dirigir um filme com ela. Ele diz que não conseguiu entender como os personagens agiam, então simplesmente filmou as cenas como eram descritas no roteiro. Em defesa do diretor, posso dizer que não faço ideia do porque qualquer pessoa agiria do modo que eles agem.
Ao contrário do filme dirigido por Doug Liman e estrelado por Brad Pitt e Angelina Jolie (nos títulos originais, ambos os filmes se chamam Mr. & Mrs. Smith, apesar do filme de Hitchcock já mostrar que os péssimos títulos nacionais vem de muito tempo), não há assassinos, espiões ou qualquer profissão do gênero no filme de Hitchcock, apesar de ambos tratarem de um casal em crise. Aqui, o casal é interpretado por Carole Lombard, a amiga de Hitchcock, e Robert Montegomery.
Ann e David são casados e moram juntos há 3 anos. Mas por conta de uma tecnicalidade jurídica, o casamento dos dois deixa de ser válido. Ao invés de tentarem resolver esse problema, eles acabam tendo uma discussão e acabam se separando. Ele, que dizia que se pudesse fazer tudo de novo permaneceria solteiro, quer casar novamente com ela. Ela, que parecia irremediavelmente apaixonada, decide procurar outra pessoa para casar, incluindo o sócio e melhor amigo de David.
O diretor ainda tenta tirar alguma coisa de um roteiro óbvio, pouco inspirado e que só apresenta personagens desinteressantes. Um homem obcecado a passar o filme inteiro se humilhando para ter sua mulher de volta. A mulher que faz de tudo para arrumar um marido que não seja o anterior mesmo que não tenha motivos aparentes para reatar com ele. Um amigo e sócio que não tem pudores de tentar roubar a mulher alheia. Não há alguém por quem se torcer neste filme.
Para piorar a situação, se trata de uma comédia que irá tirar no máximo algumas risadas amarelas. Me impressiona que apesar de parecer estar amadurecendo como diretor, ele ainda era capaz de escolher mal alguns de seu filmes. Pouca coisa interessante de se falar sobre este.
Nessa parte há um detalhe interessante em que ele explica uma de suas frases que foi mal interpretada. Certa vez, ainda no cinema mudo, ele comparou atores com gado. Uma frase que lhe perseguiu durante toda a sua vida e que lhe valeu a fama de não gostar de atores. Ele sequer lembra qual o contexto em que disse a frase, mas explica que queria apenas falar mal dos atores que se dedicavam muito ao teatro e não dava atenção nenhuma ao cinema. Eram esses atores que o incomodavam. Como brincadeira, Carole colocou 3 bois com placas onde escreveu os nomes do elenco principal pendurado no pescoço. E ele achou genial a tirada.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A LENDA DOS GUARDIÕES - LEGEND OF THE GUARDIANS: THE OWLS OF GA'HOOLE


NOTA: 4.
- A lenda conta sobre um bando de guerreiros nobres, conhecidos como os Guardiões de Ha'hoole. Sempre que houver problemas, procure por eles. Porque eles prometeram prometer os inocentes e acabar com o mal.

Na última vez que escrevi sobre um filme de Zach Snyder, discorri sobre a capacidade do diretor de esquecer de contar uma boa história para mostrar um visual exuberante. Que sequer costuma ser tão exuberante assim. Mas devo reconhecer que seus resultados são melhores quando ele está adaptando algo de outra mídia, já que não existe a possibilidade dele simplesmente ignorar que existe uma história por trás da obra que está realizando.
Aqui, ele tenta mirar o público infantil (sem muito sucesso) contando a história de poderosas e estranhas corujas. Temos as corujas más, que se autoproclamam as puras e as corujas boas, as tais guardiãs do título. Dois irmãos são capturados pelas puras e levadas para o esconderijo onde descobrem um terrível plano que quebrará a trégua entre elas. Soren (Jim Sturgess) consegue fugir de lá e começa sua jornada para encontrar os guardiões e avisá-los do que está acontecendo, enquanto vê seu irmão indo pro lado negro.
Depois de mostrar um início até promissor, onde as jovens corujas ouvem do pai as antigas histórias dos guardiões, o diretor não demora a mostrar o que realmente sabe fazer. Basta as pequenas corujas colocarem os pés fora do ninho que o filme começa a ficar extremamente violento para crianças. Seguem-se as cenas típicas do diretor de batalhas (inúmeras delas) que para valorizar ainda mais a violência são recheadas de câmeras lentas.
Aí o filme começa a se perder não somente pelo conteúdo que não condiz com a história contada.. Ao não conseguir se decidir se quer contar uma história para crianças ou partir para buscar o público um pouco mais adulto que pode ficar vidrado nas batalhas, Snyder não consegue alcançar profundidade na sua história. Uma densidade que a Pixar parece conseguir fazer com tanta facilidade mas que praticamente nenhum outro estúdio parece ser capaz de repetir.
O filme tem duas coisas feitas com excelência. Uma é a animação feita que é nada menos que espetacular. É realmente uma beleza olhar o voo das poderosas corujas. E apesar das batalhas exageradas, as cenas de voo são realmente espetaculares, apesar de serem um pouco longas demais. A outra coisa é o elenco de peso que parece ter sido escolhido a dedo. Temos australianos (Sam Neill, Hugo Weaving, Abbie Cornish - que ainda está merecendo sorte melhor em Hollywood) acompanhados de nomes como Helen Mirren e Jim Sturgess. Todos muito bem escalados em seus papéis.
Talvez não tivesse uma história pela qual qualquer espectador possa identificar tão facilmente de tantos outros filmes, pudesse ter até sorte melhor. Infelizmente, acaba não conseguindo levantar voo (com perdão do trocadilho).
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