sexta-feira, 29 de outubro de 2010

SENTIMENTO DE CULPA


NOTA: 8.
"Minha mãe quer salvar o mundo. Uma vez, ela deixou um mendigo tomar banho no nosso apartamento." Abby

Nessa sexta-feira, estreiam alguns filmes badalados, como o segundo filme dirigido por Ben Afleck e a adaptação de uma história em quadrinhos por Luc Besson. Sem contar com a estréia de dois filmes brasileiros: A suprema felicidade e Federal. Chamando menos atenção da mídia, corre por fora este filme que pode ser menor em orçamento e publicidade, mas não em qualidade.
Um casal, Kate (Catherine Keener) e Alex (Oliver Platt) compraram um apartamento ao lado de uma idosa, Andra, esperando sua morte para que possam comprar o apartamento da senhora e dobrar o tamanho do seu próprio.
Já a velha passou dos 90 anos e é insuportável. Ela vê falhas e defeitos em tudo e em todos, sempre dizendo em voz alta as maiores barbaridades e agindo como se estivesse sussurrando um segredo no ouvido de alguém. Ele nem sai mais do apartamento por conta de problemas no joelho, pés e por aí vai. Qual a vantagem de chegar nessa idade dessa maneira?
Andra tem ajuda de duas netas, irmãs, bem diferentes uma da outra: Rebecca (Rebecca Hall) é simples e boazinha, já Mary (Amanda Peet) é egoísta e quase alcoólatra que não tem a menor paciência com a avó. Talvez Andra seja o espelho do futuro que a aguarda.
O casal vive de comprar móveis de familiares de pessoas que falidas por preços irrisórios e vender a preços absurdos em sua loja. Ela compra todos os móveis de um apartamento por 4 mil dólares para vender uma única mesa por 5 mil.
Kate, porém, não convive bem com isso. NY exige um pouco da alma das pessoas e ela não está preparada para isso. Lucrar em cima da dor das pessoas e esperar uma mulher morrer para aumentar o seu apartamento não são coisas muito agradáveis de se fazer, e ela vive com o sentimento de culpa que deu o nome do filme em português. Ela quer ajudar o mundo. Quer salvar ao invés de acabar com ele, mas ela não sabe como. Sua filha, Abby (Sarah Steele) não entende isso e fica indignada ao ver a mãe ajudar todos os mendigos por quem passam e não comprar uma calça jeans que ela quer. Talvez ela só queira limpar sua consciência.
Também doce é Rebecca, que é gentil com todos onde trabalha e com sua avó, que especialmente não parece merecer bondade nenhuma. Ela tem bastante paciência com pessoas idosas em geral, na verdade, e até mesmo com sua irmã, que pode ser bem cruel quando quer, mas ainda assim busca as coisas boas. E o amor. As duas não parecem pertencer aquele lugar.
Apesar da dureza da cidade, o filme foca nessas pessoas doces e como elas convivem com as outras pessoas que não são tão doces assim. Rebecca e Kate são cercadas de gente que não as compreendem. E olha que essas pessoas são seus próprios familiares. Ainda assim elas não são definidas pelas suas relações, e sim por si mesmas. O ambiente onde elas se encontram não as mudam. Não a sua essência. E o mundo seria melhor com mais pessoas como elas. Um belo esforço da diretora Nicole Holofcener.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DUPLA IMPLACÁVEL


NOTA: 4.
"Não sou seu motorista, sou seu parceiro." James Reese

Se você gostou de Busca implacável e quer ver o filme de novo, pode assistir a esse Dupla implacável. Se assistiu e não tem a menor pretensão de assistir novamente, passe longe deste Dupla implacável, que tem até mesmo o nome quase igual. Assim como o desenrolar da história.
Sai Liam Neeson e entram John Travolta e Jonathan Rhys Meyers. Reese (Meyers) é uma espécie de agente duplo que trabalha para o embaixador americano na França ao mesmo tempo que trabalha para alguma agência secreta, seja lá qual agência for. Ele é um agente pé de chinelo que realiza trabalhos simples como trocar placas de um carro ou plantar uma escuta em um escritório. Até que é chamado para ser parceiro de Charlie Wax (Travolta).
Já Wax é um agente chamado para resolver grandes problemas. Porque alguém chama Wax para trabalhar é um grande mistério, já que tudo para ele se resolve atirando e explodindo coisas. Assim como é um mistério qual sua verdadeira missão, mas isso não faz grande diferença já que as únicas missões que importam é de Wax matando pessoas e as pessoas tentando matar Wax.
O diretor Pierre Morel, o mesmo do já citado Busca implacável, faz o mesmo trabalho que em seu filme anterior. Ele, que antes era diretor de fotografia, leva o filme em cima de uma premissa que beira a estupidez e resolve tudo da maneira mais fácil possível, torcendo para a platéia não pensar muito até a cena de ação seguinte. Não há surpresas no filme. Não há mistério. Ele explode um lugar que tem uma pista para outro lugar. Nesse lugar que ele vai explodir em seguida tem uma pista para outro lugar que também vai ser explodido e por aí vai. Tudo da maneira mais idiota possível. Não interessa história, interessa apenas tiros e explosões, que não são interessantes.
E todas as cenas de ação são entrecortadas com cenas ridículas que supostamente deveriam ser engraçadas. Pelo menos EU não acho engraçado ver Reese carregando um jarro com cocaína dentro para cima e para baixo, chegando a cheirá-la dentro da Torre Eiffel. Acho simplesmente ridículo.
Entra agora um detalhe curioso para quem quiser reparar em como os filmes de ação eram feitos antigamente e como são feitos hoje. Antes, e quando digo antes quero dizer desde antes da primeira versão de Robin Hood já feita, os atores treinavam o tipo de luta que iam realizar no filme para poderem fazer suas cenas de ação. O resultado valia a pena, já que víamos os astros realmente fazendo as cenas. Agora, repare que as cenas não são feitas por Travolta (nada contra ele, tanto que até já me declarei seu fã). Ou na cena vemos o rosto de Travolta ou vemos o corpo de alguém fazendo as cenas de ação. Nunca os dois ao mesmo tempo. 
O resultado é um filme de ação pobre, como a maioria que está saindo nesses últimos tempos. Por que fazer uma cena de ação bem feita se pode-se chegar na sala de edição e juntar um monte de movimentos desconexos e fazer um filme? Em Os mercenários as cenas de ação eram confusas mas pelo menos os atores estavam fazendo. Aqui são confusas e sem rosto algum. Outro filme de ação que não entrega o que deveria. Não indicaria nem para fãs do gênero.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

TORA! TORA! TORA!


NOTA: 2.
"Você queria a confirmação do ataque? Olhe pela janela. Aí está sua confirmação." Tenente Kaminsky

Este filme, do ano de 1970, é o predecessor dos atuais blockbusters que inundam nossas salas de cinema.  Filmes que custam uma fortuna e mal conseguem nos entreter por umas poucas duas horas. Caberia a Spielberg e Lucas ensinar como se faz um blockbuster posteriormente na mesma década.
Assim como o também desastroso Pearl Harbor, de Michael Bay, acompanhamos o famoso ataque dos japoneses que levaram os americanos a entrarem na Segunda Guerra Mundial. E depois das quase duas horas e vinte de filme, temos certeza que esse ataque deve ser deixado em paz no cinema. Se o ataque é desastroso pelo jeito como se deu, os filmes são desastres cinematográficos.
Diz-se que a parte japonesa ia ser dirigida por Akira Kurosawa, que foi convencido ao saber que David Lean seria responsável pela parte americana. Acontece que Lean nunca esteve envolvido com a produção e quando Kurosawa soube que o diretor seria na verdade Richard Fleischer, tratou de se demitir do filme. Felizmente para ele, infelizmente para nós.
Não que a parte japonesa seja ruim. Na verdade, ter uma parte filmada por japoneses e outra por americanos é o que salva o filme do fracasso completo. As cenas nipônicas são muito melhores que o resto do filme. Temos uma certa tensão no ar e personagens que levam o filme adiante. 
Já a parte dirigida por Fleischer é tão desprovida de interesse que contrasta com o resto do filme. São dezenas de personagens secundários que não contam com um único personagem principal que possa levar a história adiante. De fato, nada leva a história adiante. Nem sequer nos importamos se alguém vai escapar vivo daquele ataque.
Isso deixa o filme sem emoção alguma. Sem qualquer surpresa. Se ainda tivesse algum personagem importante, poderíamos torcer para que ele escapasse do ataque, ou que pelo menos derrotasse muitos inimigos. Como já sabemos que o ataque vai acontecer, não há surpresa alguma.
Há uma surpresa que é relacionada com a produção do filme. É saber como esse filme custou U$ 25 milhões (uma fortuna na época) se praticamente todo ele se passa dentro de escritórios? Esse é um dos piores defeitos do filme. É um blockbuster sem ação alguma. Uma história enorme (na realidade, não no filme), um dos maiores ataques em solo americano e tudo que vemos são papéis indo de um lado para o outro.
Pior de tudo é que o filme é uma grande preparação para uma batalha. Duas horas de preparação para uma batalha que vai durar cerca de 15 minutos, e quando achamos que finalmente vamos ser agraciados com cenas de ação espetaculares ficamos muito decepcionados. As cenas não são nada impressionantes nem agora e duvido que tenham sido na época, já que o filme nem se pagou na bilheteria. Uma produção que já deveria estar esquecida. Principalmente num ano que outros dois bons filmes falavam de guerra: M*A*S*H*  e Patton.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DIREITO DE AMAR


NOTA: 8,5.
"Pela primeira vez na minha vida eu não posso ver o futuro. Todo dia passa correndo, mas hoje eu decidi que o dia vai ser diferente." George

O filme conta o que pode ser o último dia na vida de George, no ano de 1962. Tinha tudo pra ser depressivo, como Sete vidas com Will Smith, mas não é. Isso porquê o último dia deste homem não é um dia choroso. É um dia comum com seus altos e baixos.
Colin Firth, mais conhecido por comédias românticas (Bridget Jones, Mamma Mia), interpreta George, um professor de uma universidade que é homossexual. Oito meses antes, seu amante morreu em um acidente de carro e a vida de George ficou vazia. Um luto interminável. As pessoas que convivem com ele sabem que algo está errado, mas ele se fecha e nada diz.
Isso porque os dias são construídos em cima de uma rotina: ele acorda e começa a se arrumar para ir pro trabalho, mas não tão simples assim. Cada passo de sua arrumação é um passo para se transformar no personagem que passará o dia interpretando. E o personagem que ele interpreta é ele mesmo. O George antes de seu amante ter falecido.
Sua única amiga é Charley (Julianne Moore, que ocupa uma décima parte do filme e quase metade do cartaz), uma divorciada que há muitos anos atrás teve um caso com George, antes dele perceber sua condição sexual. Ela é tão triste como ele e durante um jantar eles se dispõe a tentar alegrar um ao outro até que ela tenta o seduzir, mas ele não tem esse interesse. É muito triste que a amizade que essas duas pessoas tenham sejam apenas um ao outro.
Se sua vida pessoal não o anima muito, a profissional não é diferente. Há em suas aulas, apenas um aluno que mereça um pouco de atenção do professor, Kenny (um já crescido Nicholas Holt, que dividiu as telas com Hugh Grant em Um grande garoto). Nem mesmo em sua terra natal ele se encontra, já que é britânico.
Como disse, porém, é um dia com altos e baixos. A fotografia do filme é toda quase monocromática. Uma misturada meio azulada e acinzentada durante todo o filme, com exceção de alguns bons momentos do filme. Durante o filme, ele encontra algumas pessoas que o animam, e quando isso acontece as cores do filme mudam, ficam mais vivas e bonitas. Nós percebemos que houve a mudança de humor dele e quando o momento passa as cores perdem novamente seu tom. Um efeito muito bonito.
Firth interpreta o personagem com perfeição, o que lhe garantiu uma indicação ao Oscar desse ano. Infelizmente concorreu com Jeff Bridges em Coração Louco, que há muito tempo já deveria ter ganho uma estatueta e somente a conseguiu este ano. Mas ainda assim é uma performance memorável. George acorda triste e começa a tentar disfarçar sua tristeza. Ele só que passar pelo resto do dia. Apenas isso. E ele é a imagem disso.
O filme no original se chama "A single man", o que pode ter dois significados. No mais imediato, remete a ser um homem solteiro. Além disso, significa também que é um homem singular. Talvez por causa da sua opção sexual. Assim como este pode não ser um filme excepcional, mas é um filme singular que podia receber uma atenção mais das distribuidoras brasileiras.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

UMA NOITE FORA DE SÉRIE


NOTA: 7.
"Você pode, pelo amor de Deus, colocar uma porra de uma camisa?" Phil Foster

Para alguns, Tina Fey e Steve Carell podem não ser rostos muito conhecidos por aqui, mas eles são protagonistas de duas das melhores série de comédia americanas da atualidade. Fey criou e atua em 30 Rock, que também conta com Alec Baldwin em seu elenco e já conquistou alguns Globos de Ouro. Concorrendo com ela em outra série está Carell, que se destacou na versão americana da série The Office e também conquistou um Globo por sua atuação. E pela primeira vez eles atuam lado a lado em um longa metragem.
Eles interpretam os Foster, um casal com filhos pequenos e uma casa em Nova Jersey. Uma vida bem normal do subúrbio. Sua vida rotineira vai bem até que eles descobrem que um casal de amigos deles está se separando (um deles interpretado por um mal aproveitado Mark Ruffalo). Eles declaram que se tornaram os melhores colegas de quarto que já tiveram, apenas não são mais um casal apaixonado.
Dispostos a não deixar o mesmo acontecer com eles, eles partem para uma noite na cidade para jantar no mais badalado restaurante de NY. Eles querem reacender o romance que se perdeu com o passar dos anos. Como não fizeram reserva, eles só conseguem uma mesa se aproveitando da ausência do casal Triplehorn. Durante o jantar, dois homens os convidam a se retirar do restaurante, é quando eles descobrem que o casal Triplehorn são pessoas procuradas e que foram confundidos com eles.
Eles começam uma fuga desesperada pela cidade para escapar daquela situação e contam com uma ajuda de um agente de segurança interpretado por um hilário Mark Whalberg que nunca veste uma camisa por todo o filme, e uma policial que acredita que eles são boas pessoas com problemas.
O filme é engraçado, mas nem tanto assim. Na verdade ele só funciona por causa da dupla de atores, que pra começar, estão totalmente críveis em seus papéis. Os Foster são um casal em que podemos acreditar que realmente existam. Não são muito bonitos nem charmosos, são pessoas normais que se encontram em uma situação extraordinária. Nós queremos que eles se divirtam e torcemos por eles. E diferente da maioria dos filmes, não vão descobrir que tem talentos especiais que vão servir como uma luva em uma situação como essa. Nada disso. Eles terão que se virar como pessoas normais tentariam se virar.
E eles são muito engraçados mesmo. Grande parte dessa força cômica é porque eles não agem como se fossem comediantes. Eles dão veracidade as situações que passam. A graça do filme não vem porque eles tentam ser engraçados. O que é ótimo, porque senão o público não conseguiria se identificar com o filme o que poria tudo a perder.
O fato é que muita coisa podia por o filme a perder. Troque qualquer um dos dois e o filme não teria o mesmo efeito. Troque os dois por Hugh grant e Sarah Jessica Parker  e poderia ter uma bomba em potencial nas mãos, como já foi visto.
Uma pena que o filme não tira total proveito deles. Eles brilham, mas o filme não chega a decolar em momento algum. Shawn Levy não consegue fazer uma grande comédia, como não conseguiu fazer nenhumas das outras vezes que tentou (Uma noite no museu, 12 é demais). No final, fica a impressão que os seriados que eles protagonizam são melhores que esse filme.
Acabei de me perguntando porquê demoraram tanto para juntar esses dois se eles funcionam tão bem. E já que conseguiram juntar, por que não aproveitaram para fazer um filme melhor. Ficou um filme que faz rir mas que poderia ter ido mais longe, mas fica a dica pra boas risadas.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

QUANDO OS HOMENS SÃO HOMENS (1971)


NOTA:7.
"Tudo que você me custou até agora foi dinheiro e dor. Dor, dor, dor." McCabe

O diretor Robert Altman teve uma longa e próspera carreira na televisão antes de se aventurar no cinema. Foram inúmeros trabalhos em seriados de sucesso da época, que incluem Alfred Hitchcock apresenta entre outros. Além disso, dirigiu alguns episódios do seriado Combate, que falava sobre a Segunda Guerra Mundial. Não por acaso, o filme que o lançou para o estrelato foi M*A*S*H*, que também fala sobre a guerra. Também havia dirigido dois seriados sobre faroeste: Bonanza e Maverick (que rendeu o filme homônimo com Mel Gibson), então também não é coincidência ele ter voltado a fazer um faroeste.
McCabe, o personagem título é interpretado por Warren Beatty (que tem aparecido bastante ultimamente aqui nas postagens), que também era produtor filme e contratou Altman depois do sucesso que ele fez com seu filme anterior. Beatty procurava diretores de vanguarda,e não havia nada mais de vanguarda no momento que Altman. Seu M*A*S*H* tinha causado uma revolução na indústria, principalmente pelo seu uso com o som e sua narrativa, onde acontecem muitas coisas ao mesmo tempo. Duas coisas que ele repete aqui.
McCabe chega a uma pequena cidade. Ele não é um pistoleiro. Como ele mesmo se intitula, é um homem de negócios. E o negócio que ele pretende montar é o trabalho mais antigo que conhecemos. Sua idéia é montar um prostíbulo com um bar. Seus negócios tomam uma trajetória diferente com a chegada de Mrs. Miller.
Ela é uma prostituta que o convence a torná-la sócia. Não é o que ele tem em mente, já que segundo ele somente um tolo aceitaria se tornar sócio de uma mulher, principalmente porque ninguém o respeitaria. Mas quando ela o indaga sobre que atitudes tomar em certas situações que podem acontecer com as mulheres que trabalham na casa, ele vê que não tem muita escolha.
Os negócios começam a ir bem até que aparecem dois homens dispostos a comprar os negócios de McCabe por um preço que ele não considera justo. Ele acha que pode conseguir o preço que almeja mas os homens vão embora antes disso, e McCabe terá que lidar com as consequências de seus atos, o que pode ser pagar com a própria vida. Tanto que quando procura um advogado para defendê-lo, este lhe diz que "quando os homens pararem de morrer pela liberdade, a liberdade em si estará morta". Aparentemente não há defesa para ele se não a defesa que cada homem tem naquela região: sua própria arma.
Altman teve uma chance de realizar um faroeste memorável. Geralmente os filmes do gênero são sobre matar e morrer. Não que este não tenha o tiroteio obrigatório, afinal não há como fugir tanto assim, mas este filme fala mais sobre vida que a morte. É a vida de McCabe que acompanhamos e que nos interessa tanto. Um diferencial e tanto no filme.
Porém, Altman não consegue chegar lá. Ele usa os mesmos recursos que usou antes, mas o resultado não é o mesmo. Primeiro porque o som é muito ruim e em várias partes mal conseguimos ouvir o que os personagens estão falando. Além disso, há cenas em que a música entra sem objetivos muito definidos e alta demais. O próprio Altman admitiria os problemas de audio. Além disso, a direção "anárquica", com eventos paralelos acontecendo a todo momento, não funciona tão bem assim aqui. Em M*A*S*H*, haviam muitos personagens que tinham relevância para a história. O personagem era o centro médico, não os médicos em si.  
Neste filme há dois personagens principais, e os eventos que ficam ocorrendo paralelamente não servem a história. Apenas atrapalham. Não levam a história para frente porque não acontecem com personagens que tenham relevância. Mas ainda assim uma obra que vale a pena ser vista. Se não por ser perfeita, por pelo menos ter tentado ser o melhor faroeste da história.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A FITA BRANCA


NOTA: 7.
"Engraçado como os segredos viajam depressa." Narrador

Depois de ganhar a Palma de Ouro em Cannes ano passado e também o Globo de Ouro, este filme de Michael Haneke chegou ao Oscar como favorito na premiação. Saiu derrotado para o argentino (e ótimo) O segredo de seus olhos que eu considerei melhor.No mínimo mais interessante.
Para começar, o diretor Michael Haneke é um cineasta que não tem minha predileção. Me incomoda assistir um dos seus filmes e descobrir ao final que assisti um filme sobre nada. Um filme vazio que parece que vai entregar algo e não entrega.
Então aqui temos a história do povo de um pequeno vilarejo situado na Alemanha, alguns anos antes de começar a primeira grande guerra. Um sociedade regida de forma autoritária e patriarcal, principalmente quando algum adulto se dirige a alguma criança.
Somente as crianças tem nomes no filme, os adultos são apenas conhecidos por suas profissões: "o pastor", "o barão", "o professor" e por aí vai. São conhecidos pelo que eles fazem naquela sociedade, e não pelos seus nomes de batismo.
O porém, é que no meio das vidas dessas pessoas, coisas estranhas começam a acontecer. Duas crianças são mutiladas, um celeiro é incendiado e um fio é posto entre duas árvores para causar a queda do médico, que quebra o braço. Todos os atos são narrados com precisão pelo narrador, que é o professor das crianças mais velho. Ele não coloca suas opiniões na narração, apenas os fatos. Mas se estamos vendo os fatos, então por que o filme precisa de narração?
Acontece que é uma dessas cidades onde todo mundo conhece todo mundo. Então procurar por um culpado nos incidentes, é procurar um culpado entre pessoas que você conhece bem. Tão bem quanto sua família. Então, se ninguém consegue pensar em um culpado, quem pode ser? Será que essas coisas simplesmente tem que acontecer? Sem que alguém seja culpado? Se essa fosse a verdade, os incidentes não aconteceriam com a precisão com que acontecem.
Aí é que o filme se perde. Quem conhece os filmes de Haneke, sabe que ele não entrega um final. As respostas se afunilam no que deveria levar a uma conclusão, que nunca chega. Todos terão uma teoria sobre quem pode ter cometido os crimes, mas ninguém poderá afirmar com certeza. Então a melhor parte do filme são os crimes e a melhor parte do filme não se resolve.
Ah sim. O nome do filme se dá por conta do pastor. Quando seus filhos fazem alguma coisa de errado, ele manda prender uma fita branca em forma de um laço em cada um deles. A fita branca simboliza a pureza que ele pretende que as crianças alcancem. Esses jovens é que vão se tornar os nazistas posteriormente e também vão marcar todo um povo. Se o diretor quer dizer que a culpa desses futuros nazistas serem como são é por conta da educação que receberam, a escolha do diretor foi bem infeliz, mas isso eu deixo para a opinião pública.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

À ESPERA DE UM MILAGRE


NOTA: 7.
"Geralmente eles chamam o corredor da morte de "a última milha", mas nós chamávamos de "a milha verde", porque o chão era pintado dessa cor." Paul Edgecomb

Logo depois de fazer um filme perfeito, Um sonho de liberdade, o diretor Frank Darabont adapta outro livro de Stephen King (na verdade, Um sonho... é apenas uma das quatro histórias de um mesmo livro) apostando em uma fórmula que deu certo, mas o resultado não saiu o mesmo.
Paul Edgcomb (Tom Hanks) é o chefe da segurança do corredor da morte em 1935, ano da chegada do condenado John Coffey (Michael Clarke Duncan, parecendo muito maior do que já é graças a truques de câmera). Coffey foi condenado pela morte de duas crianças pequenas. Paul cuida do lugar como se fosse uma ala de hospital, ele criou um equilíbrio onde a ala tem uma ordem.
Três chegadas abalam o equilíbrio: um guarda muito cruel e com conexões importantes chamado Percy Wetmore que tem uma estranha obsessão pela morte, um criminoso problema apelidado de "Wild Bill" e a própria chegada de Coffey. Percy é cruel com todos os prisioneiros, Wild Bill é cruel com todos os guardas e Coffey? Ele tem medo do escuro. Apesar de todo o seu tamanho, Coffey é um sujeito simplório que não parece capaz de ferir uma mosca, apesar de estar lá por um crime cruel. Ele muda a rotina do lugar porque possui um dom: ele pode curar as pessoas.
Basicamente, a história é sobre a relação entre um homem negro e um branco, tal qual o filme anterior. Antes, o negro era um observador. Ele foi a testemunha da obstinação de um homem que não se entregou ao sistema. Aqui, o negro lembra Jesus Cristo. Um homem com um poder incrível que é incompreendido pela sociedade. E pelo lugar que está, condenado a ter o mesmo final.
Darabont é um cineasta que gosta de contar uma história com calma, muita calma. Ele não se apressa para estabelecer o local onde os personagens moram (neste caso, trabalham) ou mesmo o próprio desenvolvimento de cada um que aparece no filme. O que de certa forma é ótimo, por dar papéis sólidos aos seus atores, e de certa forma porque parece combinar com o tempo que as pessoas passam lá. 
Qual o problema? Certa hora percebemos que estamos levando muito tempo vendo o tempo que as pessoas passam lá. O diretor perde muito tempo com subplots que não acrescentam muita coisa interessante para a história. Como o aparecimento do ratinho, por exemplo. Está certo que o rato aparece bem durante o filme, mas a primeira vez é uma longa e desnecessária sequência.
Um dos grandes acertos do primeiro filme, era que Darabont não procurava a emoção, muito menos o choro. Não há um close naquele filme que possa dizer isso. Aqui ele faz o contrário, o que dilui parte da emoção que deveria vir naturalmente.
História interessante, com bom elenco de peso e atmosfera envolvente. Mas de certa forma fica sempre parecendo que o filme poderia ir além. Principalmente, com uma edição que deixasse o filme mais ágil. Infelizmente, Darabont não repetiu seu sucesso de estréia e só recentemente conseguiu se reciclar, adaptando novamente um roteiro de Stephen King e lançando o bom O nevoeiro, mas aqui a intenção ficou pelo caminho.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

SHAMPOO (1975)


NOTA: 6,5.
"A diferença é que não transo com ninguém por dinheiro. Eu faço pela diversão." George

Talvez muita gente da platéia mais nova não saiba quem é Warren Beatty, mas durante muito tempo ele foi um dos grandes nomes do cinema. Talvez por isso esse filme seja decepcionante, porque Beatty junta grandes nomes criativos e entrega um filme morno, que não se conecta plenamente com a platéia.
Ele interpreta George, um cabeleireiro que se aproveita da fama de que todo cabeleireiro é gay para dormir com toda sua clientela feminina. E mesmo quem não é cliente. Seu sonho é abrir seu próprio salão, o que deve ser para poder dormir com mais mulheres ou para ter mais liberdade para dormir com elas. Porque até mesmo para realizar seu sonho ele não se esforça tanto quanto para seduzir alguma mulher.
O mais prejudicado com essa sede de sexo é Lester, um rico empresário que pode vir a ser o financiador do salão de George. George dorme com a mulher, amante e filha dele. Na verdade, a amante, Jackie Shawn (Julie Christie), é quem George acredita que seja seu verdadeiro amor, mas com um homem como ele, é difícil dizer com certeza.
O roteiro foi escrito por Robert Towne, que alguns anos antes havia sido aclamado como um gênio pelo seu roteiro de Chinatown (que realmente é fantástico, mas que ao que as pessoas dizem, teve muita influencia de Polanski). A história foi encomendada por Beatty oito anos antes do seu lançamento, mas Towne sempre alegava problemas para a entrega. Isso reflete no filme, e não apenas porque a história se passa em 1968, ano em que Nixon foi eleito, mas também pela confusão que a história é. Nunca sabemos ao certo sobre o que o filme se trata e apesar de entregar bons momentos, nunca realmente engrena.
Ao final do filme, George tenta acertar sua vida, mas já é tarde demais para ele. Todas as suas relações estão fadadas ao fracasso, seja em qual nível for. Ele nunca foi sincero com ninguém até aquele ponto. Talvez a idéia de passar o filme durante a eleição de Nixon fosse uma forma de comparar todo clima de mentira que o governo dele gerou na população (Nixon renunciou por causa do escândalo de Watergate em 1974), mas as confusões do roteiro não permitem que a questão seja bem aproveitada.
Parece que vai ser um ótimo filme quando lê os créditos e acaba decepcionando um pouco. Tem seus momentos, em especial quando Julie Christie, que não gostava do personagem mas fez porque tinha um caso com Beatty, diz para um homem: "Pode fazer o que eu quiser? O que eu quero é chupar o pau dele." enquanto aponta para George, mas não sai disso. Não afetou a carreira de Beatty, que ainda faria outro grande sucesso de críticas na sua carreira com Reds, mas poderia ter ido além.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

THE RUNAWAYS - GAROTAS DO ROCK


NOTA: 6.
"Não ligue para elas. É você que os fãs querem. Você é a voz. É a sua cara nas camisetas." Scottie, para Cherie

Este é um desses filmes que deve tudo ao elenco que tem. No caso, principalmente aos talentos de Kristen Stewart, Dakota Fanning e Michael Shannon. Shannon, para quem não se recorda, foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante em Foi apenas um sonho, e aqui dá um novo show.
Na década de 1970, Kim Fowley, produtor musical, teve a sorte de reunir um grupo de meninas para formar uma banda de rock. Para sua sorte, as meninas eram muito talentosas e fizeram muito sucesso por poucos anos. Ele não tinha idéia se elas sabiam tocar, assim como Cherie Currie foi escolhida por sua aparência, não pela voz. Fowley não viu artistas, e sim produtos.
Apesar da banda ser composta por cinco meninas, a parte central do filme fica entre Joan Jett (Stewart), Cherie e o produtor. Segundo dizem, isso se deve pelo fato das outras integrantes não terem autorizado o uso de suas biografias para o filme.
Fowley, apesar de seu jeito andrógeno, é uma figura bem machista. Ele tem na cabeça que Rock pertence aos homens, então treina as meninas para se portarem de maneira masculinizada. Ele quer que a banda torne a platéia submissa, que tome conta do ambiente. Isso tudo com os ensaios acontecendo dentro de um trailer perdido no meio do nada.
Seja como for, sua idéia dá certo e rapidamente as meninas saem para fazer sua primeira turnê, e como uma boa história de rock (ou: como em TODAS as histórias de rock), essa é regada a muitos litros de bebidas e muitas drogas. Isso, ainda que esteja esclarecendo tarde, porque quando digo meninas, quero dizer que todas tem idades entre 15 e 16 anos. Claro que essa festa toda não pode dar muito certo e rapidamente elas se entregam muito ao vício. Em especial, Cherie. E tão rápido quanto elas fazem sucesso, começa a vir os problemas entre a banda.
O foco do filme fica praticamente todo dentro da turnê da banda. Apesar de parecer focar na vida pessoal de Jett e Cherie, apenas a vida pessoal desta última é usada, e mesmo assim muito mal. Talvez por o filme ser uma adaptação da biografia de Cherie. De qualquer forma, essa ausência de vida pessoal das outras integrantes deixa uma espécie de buraco no roteiro. Aí que entra a parte que digo que o talento salva o filme, porque os três atores entregam muito mais aos seus personagens que o roteiro tem a oferecer.
Podia ser um filme que mostrasse o rumo que a ausência dos pais deu a vida delas. Podia ser um filme sobre como a vida delas virou de cabeça pra baixo por causa da fama. Até mesmo sobre como o ego acabou esgotando a convivência entre elas. Acabou sendo sobre uma grande turnê com muito pouco de bastidores, o que faz o filme perder em profundidade. E depois de um tempo, o interesse. Pode ser uma boa pedida para quem goste de Rock ou da banda, mas não se pode esperar muito dele.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

IMENSIDÃO AZUL


NOTA: 9.
"Não olhe para Jacques como se ele fosse um ser humano. Ele é de outro planeta." Enzo

Este foi o primeiro filme do diretor Luc Besson falado em inglês. Ele tinha feito antes um filme que teve uma certa repercussão, chamado Subway, que não chegou por aqui. Aqui ele faz um filme que foi a maior bilheteria da década dos anos 1980, chegando a ficar cerca de um ano em cartaz. Ainda por cima ficando reconhecido internacionalmente.
Embora o filme seja uma obra de ficção, o diretor se baseou nas vidas dos mergulhadores Jacques Mayol e Enzo Maiorca, somente trocando o sobrenome de Enzo por Molinari.
O filme começa mostrando a infância de Jacques e Enzo, interpretados por Jean-Marc Barr e Jean Reno na fase adulta. Ambos são pequenos mergulhadores que moram numa ilha grega, apesar de um ser italiano e outro francês. Isso até a morte do pai de Jacques, que também era mergulhador.
Corta para o presente. Enzo é campeão mundial de mergulho livre enquanto Jacques é estudado por diferentes cientistas. De acordo com um desses cientistas, seu batimento cardíaco e a forma com que usa o oxigênio só foram encontrados em golfinhos e baleias. Jacques é um fenômeno e Enzo, muito competitivo, precisa derrotar Jacques, então o convida para o campeonato mundial de mergulho livre.
Eu poderia falar que a relação dos dois amigos é estranha, mas a realidade é que todas as relações de Jacques são muito estranhas. Ele guarda a foto da família na carteira. A foto é de um golfinho, o único ser com que ele consegue manter uma relação sem atritos. Enzo parece gostar de Jacques, mas sempre é movido pela competição, já Jacques parece somente interessado na amizade dele. Não é a competição que o motiva, tanto que quando Enzo não pode competir, ele não compete.
Ele ainda tem uma relação com um mulher americana, Johana Baker (Rosanna Arquette), mas a coitada não tem chance nenhuma. Não é que ele não goste dela, é que apenas ela não tem como competir com o mar. Sabe quando uma pessoa trabalha com alguma coisa e nos tempos vagos só quer descansar? Jacques nunca fica muito tempo fora da água. Quase todo o seu tempo livre é na água, e na maioria das vezes com golfinhos. Quando ela pergunta para ele como é mergulhar, ele diz que o único problema é achar um motivo realmente bom para voltar à superfície.
O filme tem seus defeitos mas não podemos negar que seja conduzido com habilidade por Besson. Em certas partes parece meio bobo, mas um filme de quase três horas que não pareça cansativo tem seus méritos. Sem contar na habilidade de fazer um filme interessante sobre um esporte que ninguém dá a mínima. Reparem no primeiro mergulho de Jacques, por exemplo, todos aparecem em velocidade normal enquanto ele sai da água em câmera lenta. Jacques não pertence ao nosso mundo, e Besson teve sensibilidade o suficiente para mostrar isso.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

ROBIN HOOD


NOTA: 4.
"Se está construindo para o futuro, você precisa de fundações fortes. Leis e terras escravizam o povo para um rei que exige lealdade mas não oferece nada em troca." Robin Longstride

O diretor Ridley Scott parece ter gostado de dirigir Gladiador. Tanto que houve um roteiro escrito para uma sequência do filme que nunca foi realizado, mas se engana aquele que pensa que a sequência não aconteceu. Primeiro Scott o fez com Cruzada e agora fecha a trilogia com este Robin Hood.
Claro que estou exagerando um pouco, mas parece que o diretor está se prendendo a estes filmes com grandes batalhas épicas e reconstrução histórica. O resultado está parecendo cada vez mais repetitivo e o diretor se sai muito melhor em filmes como O gangster, que ao contrário desse é um ótimo filme.
Novamente, Russel Crowe, estrela. Dessa vez com o nome de Robin Longstride. Ele está ao lado do Rei Ricardo Coração de Leão atacando a França. Com a morte do rei, ele resolve voltar para a casa, cansado de tantas guerras. Um desertor. No caminho, ele cruza com um ataque a uma companhia inglesa que está voltando para a Inglaterra para devolver a coroa do rei. Então ele toma o lugar do líder morto,  Robert Loxley, para retornar para casa e devolver a espada ao pai do homem, acompanhado de Will Scarlet e John Pequeno.
Chegando lá, o pai de Loxley o convence a fingir que é seu filho morto. Isso para que a viúva de seu filho, Marion (Cate Blanchett), não corra o risco de perder as terras da família. Isso, e pela promessa de contar a Longstride a história de sua família, numa coincidência enorme.
A tentativa de Scott, era de contar a história do homem antes de ele se tornar lenda, mas a grande graça de um personagem como Robin Hood é sua lenda. Principalmente se contarmos que é um personagem que nunca existiu. O Robin Hood não era um personagem para ser levado a sério. Então o diretor coloca um pé na fantasia e o outro, com mais força, na realidade, mas não se decide entre nenhum dos dois. O filme acaba não funcionando nem com um nem com o outro. Isso tudo com muitas cenas que resultam em um banho de sangue que não combina com a história. Pior ainda se considerar que as cenas de batalha parecem repetitivas. A cena final então, parece retirada do início de O resgaste do soldado Ryan.
Crowe está bem na pele do personagem e o interpreta com vigor e uma certa fúria, apesar de parecer um pouco velho para o personagem. Mas ainda assim é um grande ator. Blanchett também é ótima, mas a formação dos dois como casal ficou péssima. Eles não parecem um casal atraente em momento nenhum.
Ridley Scott chegou a declarar que o único filme que prestava sobre Robin Hood era A louca história de Robin Hood, comédia de Mel Brooks, e parece querer se afastar de seus antecessores, mas acabou por não justificar o porquê de fazer outro filme com o personagem, já que não acrescentou nada a história.
Nos cinco minutos finais, somos brindados com o Robin Hood de verdade (o fantasioso, claro), e as legendas na tela dizem que a lenda nasce. Infelizmente já é tarde demais para salvar o filme.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PSICOSE (1960)


NOTA: 100
"Ela só fica meio zangada ás vezes. Todos ficamos um pouco zangados de vez em quando, não ficamos?" Norman Bates

Essa é a frase que Bates usa para justificar a fúria com que a mãe fala para ele, mas eu me pergunto se não há algo além disso. Será que não se trata de Hitchcock falando para a platéia? Todos ficamos meio zangados de vez em quando, então será que não somos todos passíveis de comermos um crime?
Não vou discorrer muito sobre a história do filme, pois ela é conhecida de todos. Mesmo quem nunca assistiu o filme sobre sua história e principalmente sobre suas surpresas. Quantos filmes você conhece que tenham esse poder?
Hitchcock já era um diretor muito bem sucedido, por isso causou espanto quando decidiu fazer um filme de baixo orçamento. No caso, foram 800 mil dólares, baixo mesmo para a época e principalmente para um diretor de seu calibre. A idéia de Hitchcock era fazer um filme em preto e branco para que a platéia não se espantasse com a quantidade de sangue. Um orçamento tão baixo gerou mais de 40 milhões de bilheteria, um número assustador na época e ainda valeu ao diretor umas das suas cinco indicações ao Oscar.
Ele monta o filme com um tom de voyerismo. A câmera mostra a cidade para entrar pela janela. Não será a única vez que seremos convidados a acompanhar aquela mulher. Marion Crane está de soutien branco deitada em uma cama de um hotel com seu amante. Eles não podem ficar juntos porque ele tem dívidas. Então surge um homem arrogante e inconveniente com 40 mil dólares no lugar onde ela trabalha e ela pega o dinheiro e foge para a cidade de seu amante. Quem pode culpá-la? Ela quer apenas viver com o homem que ama, então sob essa ótica seu crime não chega a ser nada grave.Por isso ela parece tão angelical com sua lingerie branca.
Uma das minha cenas favoritas é uma pouco celebrada. Marion está dirigindo o carro quando começa a chover muito forte. Uma tempestade. A música tema, conhecida de todos, começa a tocar e a cena intercala seu rosto e a pista debaixo de uma forte chuva, apenas isso. Um diálogo em off mostra um possível diálogo de seu chefe com o dono do dinheiro que Marion roubou. Isso é tudo que ele precisou para construir uma cena tensa que não apenas prende o espectador como dá ciência à platéia do que está para acontecer  com ela pelo crime que ela cometeu. Um diálogo que não teria como ela ouvir.
Essa chuva a faz com que pare um um hotel na beira da estrada. O hotel Bates. Ela tem uma longa conversa com Norman e os dois se conectam. Não amorosamente ou mesmo sexualmente. Há uma cumplicidade na culpa que os dois carregam. Isso o assusta e por isso ele deve matá-la. E assim, Hitchcock mata a heroína faltando mais da metade do filme e troca a protagonista por Bates. Um dos mais ousados truques que ele usou em sua extensa carreira. E logo quando a moça repensou no que estava fazendo e se mostrava arrependida. De qualquer forma, ninguém em um filme dele cometeu um crime e escapou impune.
O que nos leva à famosa cena do chuveiro. A cena impressiona tanto e não é tão violenta quanto parece. A música dita o ritmo das facadas e o sangue jorra pelo corpo da mulher, mas apesar disso a faca nunca penetra em seu corpo. Nunca é mostrado seu corpo com qualquer ferimento. A cena termina com um close do olho imóvel dela e a música vai diminuindo o volume, como se fosse seu batimento cardíaco. Quando a música termina, a mulher está morta.
O filme se tornou imortal na história do cinema. Ele nos conecta com nosso medos. Se não o medo de cometer um crime, pelo menos o medo de sermos vítimas de um. Seja qual for. Nenhum filme de Hicthcock, nem antes nem depois, causou tamanho impacto. O cartaz dizia para não contar as surpresas para ninguém. Em sua entrevista para Truffaut, ele diria que não era por grandes atuações nem por uma mensagem que passe para o público, a platéia ficou apenas surpresa por um filme, no sentido puro da palavra.
Só não é perfeito pela longa explicação de um psquiatra sobre o comportamento de Norman. Uma mania do diretor de deixar tudo explicado para a platéia, mas ainda assim um suspense memorável. Um dos maiores que somente ele poderia criar. E é "apenas" um filme. No sentido realmente puro da palavra.

domingo, 3 de outubro de 2010

WALL STREET: O DINHEIRO NUNCA DORME


NOTA: 8.
"Alguém me lembrou uma vez que eu disse "Cobiça é bom". Agora parece que foi legalizado." Gordon Gekko

O novo Wall Street é um pouco da mesma história contada no anterior, mas para novos públicos. Não estamos mais no período da Guerra Fria, mas a ganância norte americana não mudou. Acredito que a parte mais fantasiosa do filme é justamente um homem como Gekko estar saindo da prisão, quando na verdade todos os grandes nomes nunca tiveram algum tipo de punição. Bem, como todo filme constrói uma fantasia isso não é nada que não tenhamos visto antes.
Gekko (novamente Michael Douglas) sai da prisão depois de cumprir sua punição pelos crimes cometidos no primeiro filme. Quando todos os outros presos soltos junto com ele tem pessoas para buscá-los, ele faz sua saída solitária fora daquele lugar. Para reconstruir sua vida, escreve um livro que parafraseando algo que usou no original, onde dizia que "cobiça é bom". Seu livro se chama "A cobiça é boa?", e é o que agora lhe garante seu sustento, junto com palestras para jovens empresários.
Numa dessas palestras ele conhece Jake Moore (Shia LaBeouf), que pretende casar com Winnie Gekko, sua filha. Jake é a figura central do filme. Ele trabalhava em uma empresa que foi praticamente destruída por Bretton James (Josh Brolin). O dono da empresa, acaba se jogando nos trilhos de um metrô. Então Jake quer reconciliar sua noiva com seu pai, se vingar de Bretton e quem sabe ganhar alguns trocados no processo. Ele diz que está interessado em dinheiro, mas insiste muito numa empresa que pode criar uma energia mais verde. Com certeza existem negócios que podem ser mais lucrativos. Seus motivos parecem serem mesmo honestos.
Mas não se engane. Os tempos mudaram e agora Gekko é o herói do filme. Jake serve apenas para ligar as pessoas no filme. Ele se aproveita da morte de Lou, o dono da empresa e mentor do garoto, para se aproximar do garoto e quase tomar o lugar de Lou, mas nem todos querem serem mentores. Ele chega a admirar o suicídio de Lou (lembrando que era comum na crise de 1929 as pessoas se jogarem das janelas de seus escritórios). Ele considera aquele ato um ato de coragem.
Diferente do filme anterior, este não é uma crítica como o outro era. Esse parece querer mais contar uma história mais leve. Tem um tom muito mais ameno. Talvez Stone queira dizer que os tempos estão mais pacíficos. Longe da Guerra Fria. Ou será que o cineasta é quem mudou? De qualquer forma podia ser um pouco mais agressivo. Principalmente, Gekko podia ser mais agressivo. De qualquer forma ainda assim é uma boa história inteligente e muito bem fotografado.
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