segunda-feira, 4 de outubro de 2010

PSICOSE (1960)


NOTA: 100
"Ela só fica meio zangada ás vezes. Todos ficamos um pouco zangados de vez em quando, não ficamos?" Norman Bates

Essa é a frase que Bates usa para justificar a fúria com que a mãe fala para ele, mas eu me pergunto se não há algo além disso. Será que não se trata de Hitchcock falando para a platéia? Todos ficamos meio zangados de vez em quando, então será que não somos todos passíveis de comermos um crime?
Não vou discorrer muito sobre a história do filme, pois ela é conhecida de todos. Mesmo quem nunca assistiu o filme sobre sua história e principalmente sobre suas surpresas. Quantos filmes você conhece que tenham esse poder?
Hitchcock já era um diretor muito bem sucedido, por isso causou espanto quando decidiu fazer um filme de baixo orçamento. No caso, foram 800 mil dólares, baixo mesmo para a época e principalmente para um diretor de seu calibre. A idéia de Hitchcock era fazer um filme em preto e branco para que a platéia não se espantasse com a quantidade de sangue. Um orçamento tão baixo gerou mais de 40 milhões de bilheteria, um número assustador na época e ainda valeu ao diretor umas das suas cinco indicações ao Oscar.
Ele monta o filme com um tom de voyerismo. A câmera mostra a cidade para entrar pela janela. Não será a única vez que seremos convidados a acompanhar aquela mulher. Marion Crane está de soutien branco deitada em uma cama de um hotel com seu amante. Eles não podem ficar juntos porque ele tem dívidas. Então surge um homem arrogante e inconveniente com 40 mil dólares no lugar onde ela trabalha e ela pega o dinheiro e foge para a cidade de seu amante. Quem pode culpá-la? Ela quer apenas viver com o homem que ama, então sob essa ótica seu crime não chega a ser nada grave.Por isso ela parece tão angelical com sua lingerie branca.
Uma das minha cenas favoritas é uma pouco celebrada. Marion está dirigindo o carro quando começa a chover muito forte. Uma tempestade. A música tema, conhecida de todos, começa a tocar e a cena intercala seu rosto e a pista debaixo de uma forte chuva, apenas isso. Um diálogo em off mostra um possível diálogo de seu chefe com o dono do dinheiro que Marion roubou. Isso é tudo que ele precisou para construir uma cena tensa que não apenas prende o espectador como dá ciência à platéia do que está para acontecer  com ela pelo crime que ela cometeu. Um diálogo que não teria como ela ouvir.
Essa chuva a faz com que pare um um hotel na beira da estrada. O hotel Bates. Ela tem uma longa conversa com Norman e os dois se conectam. Não amorosamente ou mesmo sexualmente. Há uma cumplicidade na culpa que os dois carregam. Isso o assusta e por isso ele deve matá-la. E assim, Hitchcock mata a heroína faltando mais da metade do filme e troca a protagonista por Bates. Um dos mais ousados truques que ele usou em sua extensa carreira. E logo quando a moça repensou no que estava fazendo e se mostrava arrependida. De qualquer forma, ninguém em um filme dele cometeu um crime e escapou impune.
O que nos leva à famosa cena do chuveiro. A cena impressiona tanto e não é tão violenta quanto parece. A música dita o ritmo das facadas e o sangue jorra pelo corpo da mulher, mas apesar disso a faca nunca penetra em seu corpo. Nunca é mostrado seu corpo com qualquer ferimento. A cena termina com um close do olho imóvel dela e a música vai diminuindo o volume, como se fosse seu batimento cardíaco. Quando a música termina, a mulher está morta.
O filme se tornou imortal na história do cinema. Ele nos conecta com nosso medos. Se não o medo de cometer um crime, pelo menos o medo de sermos vítimas de um. Seja qual for. Nenhum filme de Hicthcock, nem antes nem depois, causou tamanho impacto. O cartaz dizia para não contar as surpresas para ninguém. Em sua entrevista para Truffaut, ele diria que não era por grandes atuações nem por uma mensagem que passe para o público, a platéia ficou apenas surpresa por um filme, no sentido puro da palavra.
Só não é perfeito pela longa explicação de um psquiatra sobre o comportamento de Norman. Uma mania do diretor de deixar tudo explicado para a platéia, mas ainda assim um suspense memorável. Um dos maiores que somente ele poderia criar. E é "apenas" um filme. No sentido realmente puro da palavra.

11 comentários:

  1. Adorei a resenha.
    Eu não assisti o filme.
    mas tenho muitas expectativas.
    Ele eh raro...
    Obrigado por ter aceitado minha idéia.
    Assinado por Carol
    carol10.tm@hotmail.com

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  2. Bem.
    Primeira resenha sobre um filme do Hitchcock.
    Já estava mais do que na hora.
    Espero que goste.

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  3. Ótima a resenha, adorei ... mas alguém sabe me explicar o que acontece com a grana? xD

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  4. Respostas
    1. Não, pois quando mostra o Norman guardando as coisas dela na mala, a câmera foca no dinheiro e vemos que Norman nem mexe nele.

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  5. gostaria de saber o que realmente o norman tinha de que ele sofria ?que doença patologica ele tinha ?tenho um trabalho para fazer e tenho que explicar o comportamentpo dele e não sei por onde começo?voces podem me dar uma ideia por favor??

    obrigada!

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    Respostas
    1. Acredito que não deve encontrar melhor explicação do que o psicólogo dá ao final do filme.

      Além disso, não posso ajudar muito.
      Foge da minha área.

      Abraços.

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  6. A doença é transtorno de multipla personalidade. No caso de Norman é transtorno de dupla personalidade ( pois são apenas duas pessoas: ele e a mãe dele).

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  7. Clássico Absoluto e Imortal em todos os sentidos de um processo cinemático distinto e a alma hitchcockiana em aspectos técnicos clássicos e perfeitos.

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