"Agora a ficção toma conta da realidade. Agora há sangue e mistério.Agora eu me sinto presa em um filme de Walt Disney, só que com Humphrey Bogart, o que o faz um filme político." Paula Nelson
Este é mais um filme da fase mais produtiva de Godard. Está certo que desde sua estréia, em 1960, ele mantinha uma marca de um filme por ano. Em uns dois anos ele até mesmo dirigiu dois filmes em um ano, mas era um caso mais raro que uma regra. Entre 1963 até 1967, porém, ele conseguiu dirigir nada mais nada menos que 12 filmes, incluindo O desprezo, O pequeno soldado, Demônio das onze horas, Alphaville, este Made in USA, Weekend e A chinesa (estes dois últimos são os próximos a encerrar o "especial Godard". Nada como além de ser produtivo criar várias pérolas entre outros bons filmes.
Mais notável ainda se considerarmos que ele continuou, mesmo após tantos filmes, surpreender sempre a platéia com suas narrativas pouco usuais. Como neste filme, estrelado novamente por Anna Karina, que na época desse filme havia acabado de se tornar sua ex-esposa, mas não sua ex-colaboradora. Mais de uma vez ele declarou que para fazer um filme tudo que ele precisava era uma mulher e uma arma. E foi exatamente isso que usou para realizar esse filme.
Ela é Paula Nelson, uma mulher misteriosa que parece estar envolvida com uma vida criminosa apesar de nunca ficar claro exatamente de qual natureza. Ela começa em um hotel procurando pelo seu namorado. Um Richard que nunca sabemos o sobrenome porque toda vez que é dito há alguma espécie de barulho que impede que possamos ouvir. E acredite, há muitas cenas em que o nome é pronunciado. Ela é reconhecida por um antigo associado do tal Richard e acaba o assassinando.
É quando ela pronuncia a frase que abre a resenha e o filme toma contornos surreais. Ela joga o corpo do homem de volta para o seu quarto e descobre que seu sobrinho e namorada estão hospedados com ele no quarto. Mas ele não tem o menor interesse em entregar Paula, que ainda o ajuda a escrever poemas para o livro que está escrevendo, e que diz que nunca ficará pronto. Essa é só uma das cenas que Godard preenche o filme. Como também há uma cena onde uma mulher canta "As tears go by" em um bar onde há homens gritando e discutindo e até mesmo discussões políticas.
Esse é provavelmente o filme mais estranho de Godard postado aqui. Até mesmo mais estranho que O demônio das onze horas. O nome não é á tóa. Apesar de filmado na França, o filme é cheio de citações à cultura americana. Os nomes por exemplo são basicamente todos de lá, incluindo um Robert Mcnamara, que foi secretário de defesa entre 1961 e 1968. Dizer mais que isso pode estragar o prazer de assistir o filme. Como ela diz, a ficção é mais forte que a realidade. Então, quem se interessar pode apreciar essa ficção de Godard.
Nenhum comentário:
Postar um comentário