NOTA: 10.
"Ainda bem que eu não gosto de espinafre. Porque se eu gostasse, comeria, e eu não suporto aquilo." Ferdinand "Pierrot Le Fou" Griffon
Esse filme marca o início de uma nova fase na carreira de Godard. Na época de Alphaville, o tom político do filme era uma exceção até o momento entre seus filmes, aqui é o início de uma nova fase onde o diretor se mostrava mais preocupado politicamente. Assim como Godard também abandona o preto e branco de seus filmes, com algumas raras exceções anteriores como O desprezo, e passa a fazer filmes coloridos e em widescreen. Um novo Godard no visual mas não no conteúdo.
Ferdinand Griffon é casado com uma mulher italiana rica e tem dois filhos. Um dia, eles estão saindo para jantar quando chega a babá, Marianne Renoir, que parece conhecer Ferdinand. Depois da festa, Ferdinand a leva para casa e a dúvida se dissipa. Eles se conhecem e a partir desse momento eles não pretendem mais se separar. No apartamento dela onde estão, há um cadáver que ela parece ter matado. Eles devem fugir para escapar. É onde o filme ganha os contornos absurdos que dão seu tom.
Como dito nas vezes anteriores, Godard não abandona suas experiências no cinema, nem deixa de ser audacioso. Ele sabe como os filmes funcionam. Assim como ele sabe que em um filme, qualquer coisa pode acontecer.E acontece. Os dois fogem em um carro roubado que dirigem até mergulhar com ele no mar. Depois moram isolados em uma ilha deserta até ficarem entediados um com o outro, até que por fim são encontrados por gansgters que querem um dinheiro de volta.
Mas a história do filme não parece interessar tanto assim Godard. A relação entre o casal é que importa. Apesar dos protestos, Marianne frequentemente o chama de Pierrot Le fou, e todas as vezes ele a corrige dizendo que seu nome é Ferdinand. Eles se amam mas não apenas isso, a relação deles é quase real, assim como eles também se entediam como qualquer casal em um determinado ponto de um relacionamento. "Você deveria acreditar em mim. Eu te amo do meu jeito.", ela diz.
Novamente o casal é interpretado por Anna Karina e Jean-Paul Belmondo, seus atores preferidos, e os dois interpretam brilhantemente esse filme non sense do diretor. Há uma cena, quando eles estão pensando em fugir, que ela canta para ele. É uma cena linda até que a cena do corpo é revelada, mas mesmo com o corpo lá eles continuam conversando como se nada estivesse acontecendo de anormal. É como se fosse uma cena comum. Por isso não estranhamos quando ele abandona sua mulher e filhos para fugir com essa mulher.
Uma das poucas cenas "normais" do filme acontece durante a festa. Um diretor de cinema conta sobre como quer rodar um filme de ação na França. Os seus relatos sobre o filme são mais normais que qualquer coisa que aconteça na película. Do que qualquer coisa que até mesmo aconteça durante a festa ao redor deles. Talvez seja a forma de dizer que os filmes devem fugir da realidade. No caso, este filme foge da nossa realidade. O diretor contando uma história dentro do filme, foge daquela realidade e assim se aproximando da nossa.
De qualquer forma, esse é um dos últimos grandes marcos de Godard. O próprio diretor reconheceu que essa foi uma das últimas vezes que ele criou uma obra desse tipo. "Depois desse filme, ficou uma sensação de que não havia mais nada para fazer.", ele declarou em uma entrevista. Assim começou a nova fase de Godard. E sempre fazendo barulho.
bá cara, acho q por causa tua vou ter q conferir vários desses godard...
ResponderExcluirAbraço e parabéns pelo blog, cada vez melhor
Com certeza não é para o gosto de todos, mas se gosta de cinema acho que pode valer uma assistida.
ResponderExcluirObrigado pelos elogios e espero que continue acompanhando.
Filme òtimo. Na contramão, com um diálogo fantástico entre Marianne e Ferdinand
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