sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O LEITOR


NOTA: 8.

“Não importa o que eu sinta. Não importa o que eu pense. Os mortos continuam mortos.” Hanna Schmitz

O diretor Stephen Daldry tem uma filmografia curta, mas de uma sensibilidade inacreditável. Ele ficou mundialmente conhecido logo com seu primeiro longa, Billy Eliot, que lhe valeu uma indicação ao Oscar. Depois, chegou com mais força na premiação com As Horas, mas novamente ficou só na indicação. Na premiação desse ano, ele foi novamente ignorado com esse filme. Ainda que não tenha vencido, fica a marca impressionante de ter sido indicado por melhor direção em todos os seus filmes.

Aqui ele conta a história de Michael. Começa com ele adulto (Fiennes) e passa para contar a história da sua adolescência (Kross). Quando tinha 15 anos e conheceu Hanna (Winslet). Um dia, voltando para casa, Hanna percebe que ele está doente e cuida dele, o leva até em casa. Ele volta para agradecer e os dois acabam se envolvendo sexualmente.

Hanna é bem mais velha que ele. E essa não é a única diferença, as situações financeiras, culturais e tudo o mais são diferentes. Ele ganha a primeira experiência da sua vida. Ela ganha histórias. “Primeiro leia, depois sexo”, ela diz para ele. E ele traz todo tipo de livros para ler para ela. Até que um dia, ela some e despedaça o coração do garoto.

Pulamos 8 anos. Ele está agora na faculdade de direito, parte de uma aula bem restrita, com apenas 6 alunos. O professor (Ganz) os leva para um julgamento. Mulheres estão sendo julgadas por terem trabalhado em um campo de concentração. Entre elas, está Hanna.

Muitos podem pensar que o conflito está em Hanna. Por ela ter trabalhado no campo de concentração, mas eu não creio. Claro que há uma discussão sobre o fato de ela estar “apenas fazendo o seu trabalho”. Ela precisava de um emprego. Essa discussão eu deixo para cada um. Eu não consigo imaginar o que eu teria feito. Por sorte nem preciso, mas cada um pode dizer com certeza que não teria participado? Uma questão complicada de ser respondida.

Como eu disse, porém, não acredito que a questão do filme seja essa. Acredito que o problema maior do filme seja a vergonha. Michael sente vergonha da relação que teve com aquela mulher. Ele sabe um segredo sobre ela que pode livrá-la da condenação dela, mas ainda assim se cala. Talvez o sentimento de Michael, seja uma metáfora para o sentimento de todo o povo alemão. É mais fácil ignorar que aconteceu, do que realmente aceitar o fato. Que faz parte do seu passado.

Não apenas isso. Aquela mulher que o largou, acabou com sua vida. A pessoa que ele se tornou foi baseada em cima daquele rompimento. Ele mantém todos a um certo distanciamento de todo o mundo. Incluindo sua filha. Ele não quer passar por aquilo de novo.

Fato é que não podemos negar o que aconteceu em nossas vidas e Michael vai aprender isso. Da maneira mais dolorosa. Então que se aprenda com o passado. Essa é a função da história. E do filme.

16 comentários:

  1. é um filmaço, altamente meditativo!

    eu o assisti pq li sua resenha, tks

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  2. Que bom que influenciei positivamente a ver um bom filme e que bom que que gostou.

    Continue visitando.

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  3. Júnior Teles
    Gostei muito do filme parabéns pela resenha me faz pensar em outros pontos intrigantes do filme .Recomendo o Filme

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  4. Obrigado, Júnior.
    É bom saber que a resenha te ajudou na experiência do filme.
    Espero que continue acompanhando.

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  5. Gostei muito do filme...fiquei com aquela sensação..."e se fosse eu"...

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  6. Pois é.
    Deixa aquela incômoda pergunta "eu faria diferente?".
    Eu gosto de pensar que faria.
    rs

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  7. Junior, parabéns! Você foi o único comentarista que teve a sensibilidade de perceber que somos fruto de nossas experiências passadas. O rompimento repentino e inexplicável de Hanna é uma metáfora do LUTO que sofremos diariamente por nossas perdas. O PERDÃO é o único remédio que pode nos ajudar a seguir em frente. Michael aprendeu isso dolorosamente. Mas nunca é tarde demais para ser feliz!

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  8. Concordo totalmente.
    Nós somos o que vivemos. E o que fazemos com as nossas experiências é que nos define.

    Muito obrigado pelos elogios e espero que goste de outras resenhas do blog.

    Abraço.

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  9. Mto boa essa resenhaaa. Parabéénsss

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  10. Estou cursando Direito. Vi o filme hoje e é formidável. Temos que ter muita sensibilidade para procurar entender os fatos. Excelente resenha.

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  11. Obrigado pelos elogios.
    Com tanta xingando é bom receber elogios de vez em quando.
    rs

    Espero que continue acompanhando.

    Abraços.

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  12. Ótima resenha vi o filme esse mês é um filme maravilhoso! é para refletir mesmo! será que as pessoas que julgaram hanna fariam diferente?

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  13. eu gostei do filme só não estou conseguindo responder as questões que a professora pediu. o filme passa apenas uma ideia irreal ou existe uma possibilidade de realidade? como a sociedade pode ser analisada, a partir das ideias apresentadas? como a leitura é vista pelas personagens?

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  14. Acabei de assistir. Estou impactada. Vou refleti. Adorei a resenha; vai ajudar.

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  15. Fui capaz de sentir a dor de ser deixado ebo trauma daquele garoto. Infelismente, ela usou e depois o descartou, e isso acontece na vida real de várias formas. Fiquei na expectativa de que ele revelasse a verdade, mas algo o impedia de o fazer. É um filme que nos faz refletir e viver o personagem naquele momento. Será que nos responsabilizados pelo que cativamos?

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