quinta-feira, 31 de março de 2011

JANE EYRE (1943)


NOTA: 7.
- Nosso princípio não é mimar o corpo, mas fortalecer a alma.

Adaptado do livro de Charlotte Bronte, acompanhamos a heroína título desde a sua infância. Ela mora com uma tia de quem não gosta que lhe oferece a chance de ir estudar numa espécie de internato. Jane fica feliz de poder sair daquela casa e acha que aquela é a sua chance de felicidade. Tanto que quando põe os pés fora da casa diz coisas horríveis para a sua tia e diz que jamais tornará a vê-la novamente. Mal sabe ela que o pior ainda estava por vir.
O tratamento que tinha na casa da sua tia não era nada comparado ao que ele encontra em Lowood. Em seu primeiro dia, o diretor a obriga a ficar de pé um banco. Não só ela é tem que ouví-lo dizer que é uma das piores crianças do mundo, como não pode sair daquele banco e nem nenhum criança pode sequer falar com ela. A única que se arrisca a lhe dar um pouco de pão é Helen (interpretada por uma Elizabeth Taylor ainda criança que sequer tem seu nome creditado). As duas viram amigas rapidamente, mas uma punição imposta pelo diretor da escola acaba levando Helen a ficar muito doente, e eventualmente ela morre.
Dez se passam sem que a gente saiba o que aconteceu. Jane (Joan Fontaine) está para sair do colégio, mas o diretor insiste que ela permaneça para se tornar uma professora. Ela não tem intenção de permanecer. Talvez porque ela não possa ver outras crianças sendo tratadas como ela foi tratada. O filme não explica muito bem, já que a história parece ter sido mutilada para servir a história. E o principal na história é fazer com que rapidamente apareça em cena Orson Welles como Rochester, o novo empregador de Jane, que a contrata para cuidar de sua protegida, Adele.
Apesar de Rochester ser gorsso e mandão, como o diretor da escola que ela odeia, Jane acaba se afeiçoando por ele. Ela não tem interesse em dinheiro, ela realmente se apaixona por ele e está disposta a casar com ele, mesmo com todos os mistérios que tem na casa e que ele pede para ela não fazer perguntas sobre o assunto. Não direi mais para quem não conhece a história poder ter suas surpresas.
O filme é dirigido por Robert Stevenson, que ficou mais conhecido por filmes como Mary Poppins ou as aventuras do fusquinha Herbie. O diretor mostra uma mão muito pesada na direção e parece a todo momento transformar o filme em um filme de horror. Todas as cenas de noite tem uma espessa neblina e uma música horripilante. Toda uma atmosfera que não combina com a história do filme.
Além disso a escolha de Orson Welles não parece ser tão acertada assim. Nada contra sua atuação, ele realmente é um ator monstruoso (apesar de eu ter alguma dificuldade de ouvir algumas coisas que ele diz), mas é uma figura grandiosa demais para o papel. Jane Eyre é jogada para segundo plano, ficando sempre ás sombras de Welles. Por melhor que ele seja, o livro não se chama Edward Rochester.
Apesar de meio irregular (tanto que a cena do internato não parece ligada com o resto do filme, mas sim parece um filme à parte), vale a pena uma conferida. Seja pela história interessante ou mesmo pela presença de Welles. Há versões mais recentes do filme, eu fico com a antiga.

terça-feira, 29 de março de 2011

A OUTRA FACE


NOTA: 8,5.
- Não acha religioso? A eterna batalha entre o bem e o mal. Santos e pecadores. Mas ainda assim você não está se divertindo.

Muitos atores procuram papéis de vilões para interpretar. Seja pra mostrar versatilidade ou mesmo para procurar diversificar. Provavelmente, o sonho de todo ator seria poder interpretar o herói e o vilão do mesmo filme. Se é um sonho, aqui Travolta e Cage o realizaram. E talvez, também seja por isso que este é o único vilão da carreira de Cage.
Travolta é Sean Archer, chefe de uma divisão secreta que procura terroristas como os irmão Pollux e Castor Troy (Cage). Além de terrorista, Castor é também responsável pela morte do filho de Archer. O assunto entre os dois não é uma coisa estritamente profissional, a rixa entre eles é muito pessoal. Por isso os dois se conhecem profundamente.
É nesse universo que Woo leva o espectador a entrar nesse filme. A grande sensação é essa familiaridade entre esses dois inimigos. Archer deixa Castor em coma, mas ele descobre que há o plano de uma bomba que vai explodir na cidade e somente Pollux pode dizer onde ela está. Por isso, ele aceita trocar o seu rosto com o do bandido para poder arrancar a localização da bomba de seu irmão.
Para seu azar, a retirada do rosto faz com que Castor desperte de seu coma, e ele obriga o médico a colocar o rosto de Archer no lugar do seu e mata todos os que sabem da troca. A única chance de Archer é ir atrás de seu nêmesis.
A grande sensação do filme é esse troca. Cada ator passa a maior parte do filme fingindo ser outra pessoa. Aí entra os talentos da dupla de atores. Fosse feito com astros de ação, o filme perderia sua força, mas os dois dão mais profundidades que os espectadores esperam em um filme como esse. É Travolta fingindo ser Cage fingindo ser Travolta. Assim como temos Cage fingindo ser Travolta fingindo fingindo ser Cage. O filme é mais simples do que as últimas frases.
A verdade é que a história é suficiente para gerar uma série de filmes, e aqui fica comprimida e até mesmo um pouco omissa. Tivesse mais tempo para trabalhar os personagens antes da troca e até mesmo das relações pessoais de cada um, poderíamos curtir mais os atores com os papéis trocados. Além disso, o roteiro discute se a troca de rosto poderia afetar a personalidade de uma pessoa, mas essa teoria só é testada com o personagem de Archer fingindo ser Castor. Talvez fosse mais interessante vermos também se o bandido poderia ter alguma alteração em seu comportamento.
Este filme, porém, é de ação, e é esta que importa, certo? Então se o que importa é isso, este é um prato cheio para os fãs do gênero. Além das ótimas cenas de ação, vale a pena lembrar que Woo é um mestre em situações inusitadas, como um carro perseguindo um avião ou até mesmo uma outra perseguição de barcos. Quem não viu, vale a pena ver. Quem já viu, não custa rever.

sexta-feira, 25 de março de 2011

SEM LIMITES


NOTA: 4.
- Sabe como dizem que só conseguimos acessar 20% do nosso cérebro? Se você pudesse ter total acesso a ele, o que você faria?

Um dia eu li que apenas usamos uma pequena percentagem dos nosso cérebros. Muitos podem especular os benefícios de poder usar uma percentagem maior do cérebro. É o que faz o diretor Neil Burger neste filme interpretado por Bradley Cooper e com Robert De Niro.
Cooper interpreta Eddie Morra, um escritor de livros fracassado, desleixado e com poucas habilidades sociais, além de exagerar um pouco na bebida. Apesar de sua inaptidão, ele consegue um contrato para escrever um livro. A única coisa que não consegue fazer é realmente escrever o livro.
Até que ele cruza com o irmão de sua ex-mulher que lhe oferece uma coisa. Uma pílula que permite que ele use todo o seu cérebro. Ele fica inteligente o suficiente para saber que tem que limpar seu apartamento. Além disso, ele começa e termina de escrever seu livro, vence as partidas de poquer, fascina todas as pessoas que encontra e ainda por cima vira uma espécie de guru da nova era da bolsa de valores. Basicamente, de um fracassado ele passa a ser praticamente um rei.
Sua ascensão o leva até Carl Van Loon (Robert De Niro), um empreendedor e provavelmente um dos homens mais ricos do mundo. Ou pelo menos do filme. As coisas complicam um pouco por causa do problema do estoque das drogas estar acabando justo quando ele está para fechar um acordo com Van Loon. Além disso, ele deu um comprimido para um perigoso agiota que gostou de ficar inteligente e agora fica fazendo chantagem para conseguir mais comprimidos. Como seu fornecedor não tem condições de fornecer mais, ele tem que dar do seu próprio estoque.
O filme foca muito no fato de abrir novas áreas do cérebro fazendo que a pessoa, na verdade, lembre de tudo que viu, ouviu ou leu em sua vida. Desde sua infância. Não é sobre inteligência, é sobre memória. O que me confunde um pouco. Ele faz muito dinheiro na bolsa de valores, e se tudo que ele leu na bolsa estivesse errado? Ou ultrapassado? E se até mesmo fosse uma mentira? Ainda assim ele conseguiria ganhar dinheiro? E se for tudo sobre informação, uma pessoa tendo um acesso a um dos maiores banco de dados do mundo, o Google, não conseguiria o mesmo efeito?
Eddie fica viciado nos comprimidos. Ele até conta com a ajuda da namorada que o dispensou quando ele era um fracassado e que volta a ele agora que é um homem de sucesso. Ela deve ter seus motivos, mas fica um pouco estranho. Então basicamente fica focado nos vícios do personagem, coisa que já vimos milhares de vezes antes e esse não traz nada de novo. Se pelo menos focasse nas consequências na sociedade ao invés de apenas nele, talvez tivéssemos algo novo.
Ele também fica confuso por causa dos comprimidos, mas é tudo muito estranho no filme. Não sinto que ele fica realmente confuso, tudo que vejo na tela é uma sucessão de belos jogos de câmera e muitos efeitos especiais. Pra piorar, De Niro é extremamente mal aproveitado e a virada do seu personagem vem tarde demais para ter qualquer proveito. Acaba que o verdadeiro destaque é realmente Cooper, que consegue interpretar bem as duas fases do seu personagem.
Eu sou como Eddie Morra. Eu sei muita coisa sobre tudo, só esqueci a maior parte. O filme é como nosso cérebro, apenas aproveita uma percentagem muito pequena do seu potencial. Há até mesmo um subplot sobre assassinato que não leva o filme a lugar nenhum e que não tem sequer conclusão. Talvez um dia, o tema seja melhor aproveitado.

quinta-feira, 24 de março de 2011

A PRINCESA E O PEBLEU


NOTA: 9.
- O melhor que eu consigo pensar, é você fazer o que quiser por um tempo.

Para quem gosta de filmes românticos, esse filme pode ser um dos favoritos. Não importa a idade. Além disso, este filme é o nascimento de uma estrela: Audrey Hepburn. Poucas vezes o cinema conheceu uma atriz tão agradável. Ela não é uma femme fatale como outras grandes estrelas do cinema, mas era bonita o suficiente para ser notada e talentosa o suficiente para fazer praticamente qualquer papel e se tornar inesquecível. Diz-se que ela não ganhou o papel pelo seu teste. Segundo foi instruído, o câmera deixou a o filme rolando para que pudessem observar Hepburn agindo naturalmente depois do "corta". Segundo Wyler (também diretor de filmes como Ben-Hur), todos se apaixonaram imediatamente. Para comprovar o talento, já em sua estréia como protagonista ela venceu o Oscar. Ela ainda teria mais quatro indicações.
Como tinha dito em O discurso do rei, a vida de um monarca não parece ser nada fácil. A vida dessas pessoas é cercada por obrigações. É uma vida de privações. A Princesa Ann (Hepburn) está fazendo um tour pela Europa, neste momento em Roma, mas nada de prazeres. Há todo um calendário que ela deve seguir. Em um baile, seu rosto parece sereno como deve ser. Um close em seus pés mostra que ela está tirando seus sapatos que parecem estar em frangalhos. Ainda assim, ela junta suas forças para dançar no baile.
Depois de conseguir fugir de sua "prisão", ela é encontrada dormindo na rua por um repórter que não a reconhece de cara. Afinal, o que uma princesa estaria fazendo na rua. Como o médico aplicou um sedativo nela, a princesa não se aguenta de pé. O repórter Joe Bradley (Gregory Peck) acaba levando a jovem para a sua casa onde ela dorme. 
Quando descobre quem ela é, ele bola um plano: passará o dia com ela fazendo perguntas que o leve a escrever um artigo sobre ela sem que perceba. É um artigo que pode levá-lo a escrever novamente em um jornal nos EUA. Para a moça, o disfarce funciona também. Ela não sabe que Joe conhece sua identidade. Pensa que ele está apenas sendo altruísta em passar o dia passeando com ela. Se ele quer seu artigo, ela quer se divertir.
Não que a diversão dela exija algo extraordinário. Ela quer apenas ser espontânea um pouco. Tomar café na calçada. Um sorvete na praça. Um dia normal de uma pessoa comum, mas negada a ela por causa do seu nascimento.
Eles são acompanhados por Irving Radovich (Eddie Albert), um amigo de Joe que é um fotográfo. Peck e Albert fazem seus papéis com justiça, mas é Hepburn quem leva o filme adiante. Apesar de bons em seus papéis, eles são apenas escada para o talento dela. Ela se sai bem nas duas fases do filme. Tanto quando é uma monarca tendo que manter a pose, quanto quando ela parece uma criança descobrindo pequenos prazeres.
Toda a diversão, porém, eventualmente termina. Ela tem suas obrigações. A diversão deve acabar. Eles se despedem sem dizer nada um pro outro. Não há nada a ser dito. Eles tem vidas diferentes e devem seguir caminhos diferentes. Quando ela volta para o seu trono e novamente "veste a máscara" da realeza, é de cortar o coração.
Wyler teria dito que ela seria a maior estrela de seu tempo. Alguém pode discordar?

quarta-feira, 23 de março de 2011

CAMPO DOS SONHOS


NOTA: 10.
- Se você construir, ele virá.

Tem algo de mágico neste filme. É um filme sobre baseball, o que pode desencorajar muita gente no Brasil a assistir o filme. Mas ele vai muito além disso. É um filme sobre segundas chances. E também sobre ter um sonho e correr atrás dele. E depois de tudo isso, ser recompensado com muito mais do que poderia imaginar receber.
Ray Kinsella (Kevin Costner) é um fazendeiro em Iowa. Vive sem grandes luxos, mas mantém-se com seu milharal junto com sua mulher, Annie (Amy Madigan) e filha, Karin (Gabby Hoffmann). Mesmo uma vida bem estruturada com uma família feliz, pode deixar faltar alguma coisa. Quando está na sua plantação, ele ouve a voz: "Se você construir, ele virá". Claro que o primeiro pensamento dele é pensar que tem alguém escondido sussurrando para ele, ou até mesmo que ele pode estar louco, mas depois ele vê um campo de baseball no meio de sua plantação e sabe o que tem que fazer.
Por ele ouvir vozes, você pode pensar que se trata de um filme religioso. Tenho ressalvas quanto a isso. Apesar de muita gente nos EUA considerar o esporte uma religião. Mesmo sem saber exatamente porquê, Ray constrói sozinho o campo, enquanto explica para sua filha (e consequentemente para a gente), sobre como "Shoeless" Joe Jackson e mais outros 7 jogadores foram banidos da liga acusados de entregar o jogo. E sobre como ele declarou até o dia de sua morte que sempre jogou o melhor que podia.
E quando o campo fica pronto, Joe (Ray Lyotta) aparece para jogar. Primeiro sozinho, depois ele chama os outros 7. E ainda depois, cansados de treinar, ele chama outro time para jogar com eles. E quando Ray acha que seu trabalho terminou, vem novamente a voz para falar com ele. "Alivie a dor dele", ela diz. Como Annie mesmo ressalta, é uma voz bem vaga sobre o que quer. Mas Annie também já está envolvida com o fato de ter jogadores mortos jogando no seu quintal, por isso quando Ray descobre que tem que procurar o escritor Terrence Mann (James Earl Jones), ela apóia. Mesmo com o risco que eles tem de perder a fazenda por conta das despesas do campo.
Um dos grandes méritos do filme, é não procurar explicações. O diretor, Phil Alden Robinson, não procura explicar nada a platéia. A voz fala e pronto. E melhor ainda, Ray não procura explicações. Mesmo quando toda a cidade pensa que ele é louco. Mesmo quando o banco ameaça cobrar a hipoteca que está atrasada. Ele apenas continua seguindo seu caminho. Ele teve um sonho e correu atrás dele, como poderia entregar tudo agora?
Costner e Lyotta tem atuações acertadas dentro de seus papéis. Earl Jones é sempre magnífico quando lhe dão mais do que uma narração para fazer, e merece destaque. Mas o destaque mesmo vai para Burt Lancaster, no papel de um jogador aposentado que vira médico. Sua atuação é totalmente condizente com o momento do filme e dá um ar brilhante para as cenas que participa. Pena que é uma participação é tão curta. Esse é seu último grande filme e ele morreria apenas 5 anos depois.
O filme estabelece um mundo fantástico e nos arrasta para dentro dele. Como a voz que leva Ray a fazer as coisas que ele faz, o filme nos leva a tentar crer em tudo que está acontecendo. Não importa quão implausível ele pareça. Poucos filmes tem a coragem de voar alto assim na imaginação. Não é para quem gosta de filme "pé-no-chão", e sim para aqueles que se permitem cair no imaginário. Ray consegue voltar ao tempo que o jogo era inocente, um esporte, não um jogo milionário. E eu volto para um cinema da época que não era tão comercial, mas um filme.
E aqui não tem pessoas salvas ou salvadores. Apenas um bom filme.

PS: 1) O personagem Terrence Mann deveria ser na verdade J. D. Salinger, o escritor de O apanhador no campo de centeio, que morreu ano passado. Salinger era amigo de Kinsella, autor do livro que deu origem ao filme. 2) Os demais personagens mantiveram os nomes reais, como "Shoeless" Joe Jackson e Archie "Moonlight" Graham. 3) O filme deveria se chamar Shoeless, mas a audiência não gostou e trocaram para Field of dreams. Quando o diretor disse para Kinsella da troca do nome, ele disse que o livro só se chamava Shoeless por exigência da editora. O nome original era Dream field.

terça-feira, 22 de março de 2011

JOGO DE PODER


NOTA: 8,5.
- Bem, me desculpe, mas ele não vão me pegar sem lutar. Não sem uma baita de uma luta.

Alguns presidentes entram para a história de alguma forma ruim e viram tema para diversos assuntos. No passado, foi o governo Nixon que além de aparecer em filmes como Forrest Gump entre muitos outros, foi também o tema do ótimo Todos os homens do presidente e mais recentemente Frost/Nixon (também muito bom). Agora Nixon encontrou seu sucessor: Bush filho. O governo dele já rendeu alguns bons filmes, mas parece que não vai parar por aí. Tanto que chegou aos cinemas este filme, baseado na desastrosa invasão do Iraque.
O filme foca em duas histórias. Uma é o casamento entre Joe Wilson (Sean Penn) e Valerie Plame (Naomi Watts). Ele é um ex-embaixador do governo. Ela é uma agente secreta trabalhando para a CIA. Wilson escreve um relatório para a agência onde ela trabalha onde atesta ser impossível Niger ter importado urânio para o Iraque para poderem construir uma bomba nuclear. Mas como o governo fazia questão da invasão, seu relatório foi forjado para parecer que ele falou o contrário e a invasão aconteceu. Para expor a fraude, Wilson escreve um artigo para o jornal dizendo que o relatório apresentado é uma mentira. Em contra-partida, o governo vaza a informação que sua esposa é uma agente. O que transforma a vida dos dois em um inferno.
A outra história é sobre os bastidores do que aconteceu para que chegassem a decisão de invadir o Iraque. Não apenas por causa do relatório de Wilson, mas também por causa de vários outros fatos apresentado, fica claro que a CIA sabia que o Iraque não tinha armas de destruição em massa. Além disso, a Casa Branca também sabia e tudo foi ignorado para justificar a invasão.
O que mais impressiona é a coragem com que o filme foi feito. Não há nomes fictícios aqui. Plame, Wilson e vários outro agentes aparecem descritos com seus nomes reais. Acredito que nenhum deles deve ter ficado particularmente feliz de ser retratado como um falso ou mesmo traidor, mas está tudo lá. Inclusive há uma cena em que o próprio Cheney aparece pedindo para falsificar documentos.
Além disso, o casal protagonista está excelente. Watts faz de sua Plame uma operativa ideal. Ela não bate em ninguém ou dá tiros. Sua arma são as palavras. Ela é capaz de convencer uma pessoa de qualquer coisa. Diretamente proporcional é a sua discrição. Mesmo quando tudo parece ir contra ela, quando a agência lhe dá as costas e a situação praticamente acaba com seu casamento, ainda assim ela se recusa a falar. Wilson é o contrário. Sempre que fica indignado, põe a boca no mundo. Seja num jantar entre amigos ou mesmo em uma entrevista para a TV. Os dois atores fazem jus à personalidade de cada personagem.
Nenhum deles procurou pela briga. Eles até são patriotas e leais aos trabalhos que desempenham. Eles só agem depois que são empurrados para isso. Depois que tem seus nomes arrastados para a lama.
O assistente de Cheney, que aparece no filme, foi condenado e teve a pena comutada por Bush. Acho que isso diz muita coisa sobre o que podemos acreditar ou não no filme. É bom ver um pouco de autocrítica por parte dos próprios americanos. E essa é uma crítica audaciosa que vale a pena ser vista.

segunda-feira, 21 de março de 2011

ASSASSINO À PREÇO FIXO


NOTA: 7.
- Eu vou colocar um preço pela sua cabeça tão alto, que quando você se olhar no espelho vai ter vontade de atirar na sua cabeça.

Quando apareceu nos cinemas, Jason Statham era um ator "comum". Apesar dos dois filmes de Guy Ritchie que o lançou terem cenas de ação, o personagem de Statham é um homem comum metido em alguma encrenca, e ele não se livrava dela através de tiros e porradaria. Quis o destino que ele ficasse mais famoso por seus papéis de ação do que pelos dramáticos. Ruim ou não para sua carreira, seus filmes vão fazendo relativo sucesso.
Como este filme, refilmagem de um outro filme de mesmo nome (no original e no Brasil) estrelado por Charles Bronson, outro que também ficou muito mais conhecido pela violência de filmes como o original e a saga de Desejo de matar (ambos dirigidos por Michael Winner).
Statham é Arthur Bishop, um assassino profissional que trabalha para uma empresa um tanto quanto sinistra. Ele é especializado em trabalhos que não pareçam assassinatos, mas algum outro tipo de incidente ou acidente. Tudo vai bem até que ele é obrigado a executar o seu mentor, Harry McKenna (Donald Sutherland, dando mais humanidade que o personagem exige e a melhor coisa do filme). O contratante deles descobriu que Harry se vendeu e, mesmo numa profissão como a deles, a confiança não deve ser quebrada.
O filme engrena mesmo com a entrada do filho de Harry, Steve (Ben Foster). Sem saber que Arthur é responsável pela morte de seu pai, eles se juntam para que Steve tenha um trabalho, já que a morte de seu pai o deixou falido. Arthur quer que Steve se torne um assassino bom o suficiente para deixar seu pai orgulhoso. Um conceito estranho, mas eles devem viver num mundo com noções de ética diferente das nossas.
O diretor Simon West (de filmes como Con air e Tomb Rider), faz questão de mostrar que as pessoas assassinadas no filme não são pessoas boas. Que de certa forma, merecem morrer. Provavelmente para dar mais empatia com o personagem. A estratégia se mostra um tanto desnecessária e atrasa um pouco o andamento do filme.
Desnecessário porque na verdade o entrosamento entre Statham e Foster é excelente. São os dois que dão vida ao filme e deixa as coisas interessantes. Não importa a profissão desses caras ou a ética envolvida, eu torço por eles pelo que são, não pelo que fazem.
Não que seja um filme ruim. Ele tem um estilo meio retrô que é até legal, boas cenas de ação apesar das explosões e exageros de sangue jorrando na tela. Mas nada que estrague muito. O único problema do filme é que realmente não acrescenta nada ao gênero. Acertado, mas meio estéril. Mas um bom filme para quem gosta do gênero.

sexta-feira, 18 de março de 2011

NÃO ME ABANDONE JAMAIS


NOTA: 10.
- Nenhum de vocês vai para a América. Nenhum de vocês vai trabalhar em mercados. Nenhum de vocês vai fazer coisa alguma, exceto seguir a vida que foi escolhida para vocês. Vocês vão se tornar adultos, mas por pouco tempo. Antes de envelhecerem, vocês vão doar seus órgãos vitais. E depois da terceira ou quarta doação, a vida de vocês vai se completar.

Lembro de quando assisti A ilha, filme pessimamente dirigido por Michael Bay. Lembro de ter achado que o filme tinha uma premissa bem interessante mutilada pela necessidade de ter constantes cenas de ação. Pensei algo do tipo: "bem que podiam explorar melhor essa ideia". Até que alguém resolveu realmente explorar bem a mesma ideia.
Este filme é baseado em um livro homônimo escrito por Kazuo Ishiguro. Acompanhamos a vida de três crianças: Kathy, Ruth e Tommy. E mais tarde as acompanhamos em sua vida adulta interpretadas respectivamente por Carey Mulligan, Keira Knightley e Andrew Garfield. Os três cresceram em um orfanato, mas este não é um orfanato qualquer, é um orfanato muito especial. As crianças educadas aqui são clones de pessoas e tem um único objetivo: crescer para se transformarem em doadores de órgãos.
Eles não tem pais. Pelo menos no conceito que usamos a palavra. A existência de suas vidas é fazer crescer corações, fígados, rins e qualquer outro órgão que as pessoas "de verdade" possam usar. E depois de um tempo, suas vidas se completam. Eles não usam a palavra "morte", isso implicaria que são seres humanos. E se forem humanos, como poderiam tirar um coração deles? Ou qualquer outro órgão vital? Não, suas vidas se completam, porque ele alcançam os objetivos ao qual vieram ao mundo. Tal qual uma máquina qualquer.
Muitos podem se perguntar porque simplesmente não fogem. Não acredito que essa seja uma opção. Quando crianças somos ensinados de algumas coisas e levamos esses ensinamentos para o resto de nossas vidas. O caso dessas crianças é o mesmo. Elas foram ensinadas, por exemplo, que não podem passar por uma cerca e não passam porque senão podem morrer. Assim como passam todo a sua educação sendo ensinados que devem doar seus órgãos e pronto. A menos que a opção seja dada a eles, eles não tem opção. Eles tem conhecimento que são vistos apenas como uma espécie de produto para consumo. O filme é sobre como eles lidam com esse conhecimento.
Assim como o filme de Bay, este filme poderia cometer o erro de virar um espetáculo de ação ou mesmo um show de efeitos especiais típicos de filmes de ficção científica. A história não é sobre isso. É sobre essas três crianças. Como Kathy e Tommy são apaixonados um pelo outro e como Ruth os impede de ficar juntos. E depois, como Ruth, agora consciente de sua mortalidade, deseja reparar as coisas. Ela descobre onde eles devem ir para ficarem mais tempo juntos. Se eles provarem que realmente se amam, se conseguirem ver em suas almas que estão realmente apaixonados, eles terão alguns anos para ficarem juntos. Mas novamente, se eles se amam seriam humanos. Será que alguém vai considerar que eles realmente podem amar?
Este é um bom filme sobre pessoas que não sabem de toda a existência que podem ter. É um filme delicado que nos faz pensar. Talvez nos entristecer. Os personagens são tão inocentes. Eles nada sabem da vida, e não terão tempo de aprender. Nós sentimos por eles, porque nós sabemos.
Dizem que uma pessoa que doa um rim é especial. Imagina uma pessoa que doa os dois? Eles são especiais sim. Por isso gostei tanto de ver um filme sobre eles.

quarta-feira, 16 de março de 2011

O DISCURSO DO REI


NOTA: 10.
- No passado, tudo que tínhamos que fazer era parecer bem de uniforme e não cair do cavalo. Agora devemos invadir a casa das pessoas. Esta família ficou reduzida a pior espécie de criaturas: viramos atores.

Dizer que este filme se trata de um rei que tem dificuldades de falar com seu povo não seria exato. Sim, a história trata sobre isso também, mas mais do que isso, ele mostra como se formou a amizade entre dois homens que permaneceram amigos até suas mortes. Eles são o Rei George VI (Colin Firth) e Lionel Logue (Geoffrey Rush).
O filme abre com George tendo que fazer um discurso para um estádio lotado em 1925. Sua dificuldade de pronunciar as palavras parece ser dolorosa. Ele se esforça mas é em vão. Sentada próximo a ele, está sua esposa Elizabeth. Suas feições são de pura compaixão pela "humilhação pública" de seu marido.
É essa compaixão, provavelmente, que a faz procurar médicos que possam curar a gagueira do marido, mesmo que ele já esteja cheio de continuar tentando ser curado. Até chegar em alguém com métodos pouco ortodoxos, palavra que ela odeia, Lionel Logue (Geoffrey Rush), um fracassado ator australiano.
Dentro de seu consultório, Logue exige que os dois sejam iguais, por isso começa a chamar o futuro rei de Bertie. George não gosta disso. Não por se achar superior ou coisa do gênero, mas pelo simples fato de ninguém fazer isso. Apenas a família o chama assim, mas nada que impeça Logue de continuar o chamando de Bertie.
Elizabeth é quem impulsiona o filme em frente. Ela é educada e polida, e sempre afável com seu marido. Todo um lado que nunca tinha visto em nenhum outro filme de Hele Bonham Carter, principalmente estando atrelada agora a um personagem cruel de Harry Potter. Ao mesmo tempo, ela é firme quando deve ser. Em uma festa do irmão mais velho de George, Edward VIII (Guy Pearce), ela ignora a mulher que ele pretende desposar. Aquela mulher já foi divorciada 3 vezes, e o escândalo dele casar com ela pode fazer com que George vá para o trono.
Sempre vemos em filmes pessoas brigando para serem Reis. Não é o caso aqui. Ela não quer que George seja o rei, e ele próprio não quer ser rei. Mas não adianta, Edward renuncia para casar com a mulher que ama, e com muito pesar George assume. Não porque quer, mas porque sabe que é seu dever a ser cumprido.
Enquanto isso, Hitler vai colocando as mangas de fora e George sabe que chega a hora de dar o discurso mais importante da sua vida. Todos os outros discursos foram uma mera preparação onde ele deve falar para todos os seus súditos que o país está entrando em guerra. A caminhada para o microfone parece uma caminhada final de um condenado pelo corredor da morte. Todos os que estão em seu caminho olham com pesar para o monarca. Todos sabe da sua dificuldade e da importância do que tem a dizer. É um gago que deve falar com confiança e firmeza para tranquilizar uma nação. E mais que isso, é um homem provando que tem capacidade de ser rei e ganhando o respeito. Essa é a cena chave do filme, e ela funciona perfeitamente.
É um desses "Filmes-Oscar"? É, mas quem se importa. O filme é muito bem feito e divertido. Toda a época é extremamente bem retratada, seja nos figurinos quanto no próprio jeito que a sociedade é mostrada. Um homem que consegue vencer seu problema pessoal para ter sua importância na história. E é também um trabalho de um elenco formidável. Eu acredito que poucas vezes a academia foi tão justa quanto ao dar o prêmio para Firth, mas vou além, o filme não seria metade do que é sem o resto de seu elenco.

terça-feira, 15 de março de 2011

127 HORAS


NOTA: 7.
- O problema sou eu. Eu escolhi isso. Essa rocha estava me esperando minha vida inteira.

Grande parte do que li sobre o filme, é sobre como o material era considerado impossível de ser filmado. Geralmente quando isso acontece, aparece algum diretor talentoso para dar vida a um projeto que provavelmente estaria fadado ao fracasso.
O diretor talentoso (e bola da vez) é Danny Boyle, premiado recentemente pelo seu Quem quer ser milionário? e dono de um incrível apuro visual. Ele se junta a James Franco para fazer um filme altamente intimista. Franco é praticamente o único ator da produção assim como o lugar onde ele fica preso é praticamente a única locação. Neste lugar, vemos apenas o personagem, Aron, e a rocha.
Mesmo aqui no Brasil a história ficou bastante conhecida e muitos devem ter lembrado: Aron cai e fica com a mão direita presa por uma rocha que não consegue sequer mexer, o que dirá retirar. Depois das tais 127 horas do título, Aron corta o próprio braço para poder escapar com vida.
Logo que seu braço fica preso, Aron faz um rápido inventário das coisas que leva consigo na mochila. Uma câmera, uma máquina fotográfica e uma ferramenta multiuso com uma espécie de canivete na ponta. O canivete suíço, como acompanhamos nas primeiras cenas fica em casa. Se ele pelo menos tivesse lembrado de levar o celular. Bem, se ele provavelmente tivesse lembrado não teria um filme sobre ele.
Acho pouco material para um filme. Tão pouco material que uma lente de contato vira motivo para um flashback. Digam o que for, mas uma lente de contato não deveria merecer tanto em um filme. Apesar de tudo, é apenas uma lente e poucos segundos para retirá-la deveriam ser mais que suficientes.
Para preencher o resto dos buracos para o filme ter uma duração que justifique uma ida ao cinema, Boyle começa a trabalhar em cima da sanidade do personagem. Antigas namoradas, família e amigos aparecem para interagir com sua abalada mente. Tudo entre cortado pelo maior trunfo do filme: uma fotografia impecável. Desde  o início, Boyle não somente nos brinda com belas imagens do lugar, como aproveita para mostrar como ele é desolado. Esperar que alguém passe por ali seria ingenuidade. Depois, ele cuidadosamente coloca lindas tomadas do sol, uma águia e outras coisas. 
Tudo muito lindo. Tudo sem ter muito a ver com a história principal. Todos esses detalhes parecem nos afastar do que realmente deveríamos ver. Boyle faz um filme divertido, e a diversão nos afasta da aflição que aquele homem deveria estar passando. Eu não queria estar me divertindo, queria estar me perguntado: "será que eu consegueria cortar meu braço para escapar?". Queria estar aflito como aquele homem devia estar. Não me distraindo.
De destaque mesmo fica a interpretação de Franco, que convence bastante e mostra que pode ser muito competente e versátil. Não tão bom a ponto de tirar a glória de Colin Firth, mas bom o suficiente para nos manter atento durante todo o filme.
O problema, para mim, é que parece que o filme existe apenas para mostrar o talento do diretor. Apesar de bem talentoso, não acho que é assim que os grandes filmes surgem. Se me perguntarem se vale a pena assistir, eu teria que dizer que sim. Apesar de tudo é realmente divertido. Um dos melhores do ano? Não. Sequer chega a ser um dos melhores trabalhos de Boyle.

segunda-feira, 14 de março de 2011

MINHAS MÃES E MEU PAI


NOTA: 9.
- Já é difícil o suficiente de abrir o coração num mundo como este. Não torne tudo pior.

Se eu disser que este é um filme sobre um casamento lésbico, pode levar as pessoas a tomar conclusões precipitadas. Esse não é um filme sobre lésbicas. Sim, a família que aparece no filme é formada por duas mulheres casadas e seus filhos, mas o casamento e os problemas que eles enfrentam poderiam acontecer com qualquer casal.
Elas são Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening). Nic é uma médica, e Jules não sabe bem o que quer fazer da vida, apesar de estar em uma idade em que já deveria ter descoberto. Depois de tentar montar vários negócios que não deram certo, o planejamento agora é ser paisagista. Juntas elas tem dois filhos frutos de inseminação artificial, Joni (Mia Wasikowska, a Alice do filme de Burton) e Laser (Josh Hutcherson), ambos do mesmo doador, Paul (Mark Ruffalo).
Ao fazer 18, Joni tem o direito de pedir para conhecer seu pai biológico. A pedido de Laser, ela liga para clínica que verifica que Paul tem interesse em conhecê-los. As mães agora ficam numa encruzilhada, já que tentam ser mães liberais. Elas se dizem abertas e dispostas a conversar sobre qualquer coisa. Na prática a coisa não funciona exatamente assim e elas ficam incomodadas. Nic é mais racional e deixa transparecer isso, já Jules é mais emotiva e acaba levando a coisa de maneira mais tranquila. 
Então elas conhecem Paul. Ele parece um hippie que fala coisas como "Legal" e "Estudo é bom, mas não para mim, sabe?" e coisas do gênero. O fato de seus filhos terem duas mães é legal. O garoto se chama Laser? Legal. O jeito dele até parece interessante por um tempo, mas depois começa a cansar. Legal demais para mim.
Quando ele descobre o novo empreendimento de Jules, resolve a contratar para cuidar dos jardins da sua casa. O contato diário entre os dois e a provável crise de meia idade pela qual ela passa, acaba fazendo que os dois tenham um caso.
Essa não é a única fonte de problemas da família. Desde que as crianças conheceram o pai a relação dentro de casa ficou ruim. A família que antes era um exemplo de uma perfeita família feliz, começa a tomar novas cores. As mães brigam mais do que o normal e os filhos começam a responder e questionar as duas. É uma família que era muito melhor sem o pai. 
Apesar de tudo isso, o filme é uma comédia. E o grande acerto da diretora, e roteirista, Lisa Cholodenko é nunca deixar o filme cair no melodrama, o que deixa um clima sempre leve e gostoso de assistir. Mesmo quando enfrentam os piores problemas. Outra coisa importante é que mesmo com esses problemas, o filme não se prende a eles. Eles são apenas obstáculos pelos quais os personagens vão passar. São os personagens que importam, e como eles lidam com as situações.
É um filme com elenco fantástico, especialmente o casal. Moore e Bening estão perfeitas como mulher e mulher e realmente parecem que estão anos juntas. Passam muito mais verdade que muitos maridos e mulheres que já vimos nos cinemas. Ajuda muito o fato de terem um roteiro afiado com ótimos diálogos e livre de preconceitos que poderiam prejudicar o tema.

sexta-feira, 11 de março de 2011

PASSE LIVRE


NOTA: 4.
- Ela me deu um passe livre. Uma semana longe do casamento para eu fazer o que quiser sem consequências.

Já prestaram atenção nos trailers dos irmão Farrelly? Sempre aparece o nome deles seguido de "Os diretores de Quem quer ficar com Mary e Debi e Lóide". Um foi feito em 1994 e outro em 1998, mais de uma década atrás. Não seria justo colocar um filme mais recente? Talvez, mas o problema é que já faz mais de uma década que eles não fazem um filme que possa atrair a platéia.
Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis) são grandes amigos. Ambos tem bons empregos, lindas casas e carros e, no caso de Rick, filhos. Tudo que um homem deveria querer, certo? Só que homens tem problemas em crescer, e quando estão em um filme americano a coisa piora exponencialmente. O que faz com que nossos heróis tenham chegado aos seus 40 anos sem terem amadurecido ainda.
Por isso nenhum dos dois conseguem evitar de olhar para outras mulheres em volta. Não apenas uma, mas praticamente toda mulher que não seja a deles. Por isso eles são "diagnosticados" por suas esposas como "viciados em sexo", apesar de não terem nenhum sexo em casa ou fora dela. Na verdade, o mais perto que conseguem é Fred dentro do carro. Sozinho.
Como de costume, nessas horas em que a situação parece perdida, aparece algum guru místico ou coisa do gênero para dar uma solução para o problema, já que os personagens desses filmes nunca conseguem pensar numa solução por eles mesmos. A solução é dar o tal do passe livre. Os homens acham que são as mulheres que os atrasam, e o passe os farão se dar conta que não é o caso.
O filme não centra apenas nos homens. As mulheres saem das casas para dá-los liberdade mas não saem de cena. Elas vão para uma cidade vizinha onde acabam se envolvendo com um jogador e treinador de baseball, respectivamente mais novo e mais velho.
É uma jogada inteligente em deixar metade do filme para cada gênero, mas acredito que o problema é que os diretores não acertam em nenhuma das partes. Os homens são mostrados como dois imbecis que não conseguem fazer nada direito. Ao mesmo tempo são adoráveis demais. Eles parecem desesperados para conseguir a simpatia da platéia, o que os fazem não se meter em tantas situações que poderiam ser engraçadas. 
Já as mulheres, são vistas como frias com os maridos e capazes de curtir muito mais sem eles. E quando digo mais, quero dizer muito mais. Acho que a moral do filme é que não são as mulheres que atrasam os homens, e sim o contrário. Considerando que são as mulheres que dão os passes, e não o inverso, elas acabam saindo moralmente prejudicadas nesse filme.
É fato que os Farrelly tem uma tendência para a escatologia. Se alguém se espantou com Cameron Diaz passando sêmen no cabelo, é melhor não passar perto deste aqui. Com o passar dos anos, eles vão apenas piorando, e o resultado não fica mais engraçado. Só fica mais nojento. E ainda fico em dúvidas com uma coisa: só os escritores homens tem dificuldades de fazer personagens femininos engraçados ou é uma coisa geral? E antes que eu esqueça, há outra moral no filme: homens são altamente dependente das mulheres. E não parece ser um caso de amor, sim uma necessidade. Tudo muito esquisito pro meu gosto.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O ÚLTIMO MESTRE DO AR






NOTA: 1.
- Não é por acaso que as pessoas passaram gerações procurando por ele. E agora, você o encontrou.

Certos pensamentos de produtores eu não consigo entender. Darren Aronofsky fez O lutador com um orçamento de 6 milhões. Apesar de ter saído num circuito muito pequeno, o filme rendeu quase 30 milhões nas bilheterias além das ótimas críticas que recebeu. Ainda assim, ele teve apenas 13 milhões para realizar Cisne negro que já rendeu, e ainda está rendendo, mais de 100 milhões nas bilheterias e o prestígio de ser indicado para um Oscar. Agora M. Night Shyamalan teve um orçamento para Fim dos tempos de 40 milhões, consegue apenas 60 de bilheteria e uma indicação ao Framboesa de Ouro. Apesar do fracasso, ele teve para este filme 150 milhões, faturou 130 e desta vez a premiação do Framboesa. Se eles queriam apostar no fracasso, realmente fizeram um bom trabalho.
Pela primeira vez adaptando um material, Shyamalan consegue se sair pior do que quando cria seus próprios filmes. Aqui, no caso, é baseado em um anime chamado Avatar (menino interpretado por Noah Ringer), sobre uma criança que pode controlar os 4 elementos. Aqui, a criança estava congelada por um século ou mais e foi encontrada por dois adolescentes, Sokka (Jackson Rathbone) e Katara (Nicola Peltz), está última uma manipuladora de água.
O filme se passa no futuro, depois que o homem acabou de devastar a Terra. A única forma de sobreviverem, foi através da manipulação dos elementos. Quem mantinha o equilíbrio dos elementos era o Avatar. Como ficou muito tempo congelado, a Terra foi dominada pelos manipuladores do fogo. Zuko (Dev Patel), só pode voltar para sua nação se trouxer com ele o Avatar, por isso passa o filme tentando capturá-lo.
O resto da trama não vale muito a pena comentar. Ela é tão confusa que Katara tem que narrar o filme inteiro para os que não são fãs do desenho (considerando que pelo menos esses conseguiram entender) possam entender o filme. Por que as coisas acontecem? Eu diria que acontecem para ter cenas de ação.
Aí entra um dos maiores problemas do filme. Como tudo se passa por manipulação de elementos, as pessoas não lutam realmente. Elas fazem umas danças esquisitas misturadas com golpes de kung fu para poder manipular os elementos, e fica basicamente só nisso. Um dança e lança fogo, o outro dança e apaga com água e por aí vai.
Esse não é o único dos problemas. Eu nunca tinha assistido o desenho, mas procurei alguns episódios no youtube. O desenho tem cores vibrantes, é bem colorido. O que torna os absurdos da trama passarem desapercebidos. Shyamalan fez seu filme sombrio demais. Algumas cenas são tão escuras que não consegui ver detalhes de nada no filme. Mas o pior de tudo é que os efeitos especiais são tão ruins que estragam o que deveria ser o trunfo do filme: as manipulações.
Não posso dizer que os atores são ruins, já que não conheço a maior parte, mas todo o elenco está péssimo. Mesmo os atores que eu conheço não estão bem, apesar de já os ter visto atuando bem em outros filmes. Difícil dizer se tratar de uma escolha ruim ou até mesmo pela falta de um material que possa dar um suporte aos atores. Nenhuma fala do filme é dita com convicção. Até mesmo Patel se propõe apenas a ficar gritando o filme inteiro.
Mesmo para pessoas que gostam de filmes como Transformers, esse filme está um patamar abaixo. Ele não só entedia como aliena as platéias. Os vilões não são assustadores como deveriam ser. Não há nada que nos envolva no filme. Espero que o título seja verdadeiro, e este seja o último.

segunda-feira, 7 de março de 2011

ECLIPSE


NOTA: 3.
- Ele não tem uma camisa?

Hollywood não cansa de nos mostrar que todo mundo tem seu preço. Dessa vez, quem se vendeu foi o diretor David Slade. Depois de um início promissor com Menina má.com, ele abraçou um projeto mais comercial, 30 dias de noite. Quando perguntado sobre a Saga Crepúsculo, ele falou mal do filme e disse que jamais faria parte da franquia. Agora estou aqui escrevendo sobre o último filme da saga dirigida por ele.
Continuamos acompanhando o trio amoroso formado por Edward, Bella e Jacob. Sim, Bella continua sendo uma menina bem sem graça que é disputada por dois príncipes. Provavelmente o sonho de qualquer menina. Parando para pensar, percebi que a complicação desse filme é a mesma desde o primeiro e acentuada no filme anterior. É o fato de Jacob estar apaixonado por Bella e por talvez ela o amar de volta. Está certo que várias vezes vemos as mesmas histórias sendo contada, mas pelo menos mudam os personagens. Aqui nem isso.
Para disfarçar que a história não é a mesma, a ameaça agora é que (de novo ela) Victoria (dessa vez interpretada por Bryce Dallas Howard) está formando um exército de vampiros recém formados. A ameaça é grande, porque ao contrário de todos os outros filmes e mitologia de vampiros, os vampiros aqui ficam mais fracos ao passar dos anos. Os novos são mais fortes porque ainda tem sangue humano correndo em suas veias. O que me faz supor que já que meu sangue é 100% humano eu sou mais forte do que qualquer vampiro, certo?
Claro que não é isso que atrai as pessoas para assistirem o filme. Tudo que atrai está no filme: Jacob continua 90% do filme sem usar camisa e Bella continua seu romance tão forte com Edward que chega a doer. 
Geralmente os filmes são sobre adolescente querendo perder sua virgindade. O tema gera bons filmes. Aqui temos o inverso, a virgindade é posto num patamar tão alto que irrita, mas a virgindade de Bella tem um preço: para dormir com Edward ela deve casar com ele, e para aceitar casar com ele, ele deve transformá-la em uma vampira. Por isso Bella deve começar a se despedir das pessoas que conhece e nunca mais vê-los. Se transformar em um vampiro, parece, é deixar toda sua vida para trás. Assim como parece que eles só podem casar se ela se transformar.
Eu aproveito para aprender que vampiros se quebram como vidro quando levam um soco e também que são altamente inflamáveis. Para matá-los, basta um soco forte e um fósforo. Já que pegam fogo tão fácil assim, não sei porque perdem ainda tempo lutando entre si. Não é mais fácil apenas jogar o fósforo? Ou usar um isqueiro como arma?
Até que chegamos na famosa cena da cabana. Para proteger Bella, Edward a leva para uma montanha que está totalmente congelada. Bella está para morrer de hipotermia quando Jacob, obviamente sem camisa, chega para deitar abraçadinho com Bella e a esquentar. Edward diz que está feliz por ele estar lá. Que se não fosse um lobisomem e apaixonado por ela, que eles poderiam ser amigos. Jacob diz que nem assim. Acreditem ou não, achei a melhor cena do filme, o que diz o que achei qual é o nível do filme.
É um filme de muitos diálogos em que nenhum personagem fale qualquer coisa digna de nota. Os efeitos especiais são péssimos e as cenas de luta são pouco interessantes. Vale destacar o entrosamento entre lobos e vampiros, daquele estilo "eu jogo para o alto e você corta", o que torna pior ainda. Os próprios lobos não convencem. Mas pelo menos, continua sendo uma saga constante. Para delírio das fãs.

sexta-feira, 4 de março de 2011

JULIE & JULIA


NOTA: 6.
- Eu não estou brincando com você. Alguém vai publicar seu livro. Alguém vai ler seu livro e perceber o que você fez. Porque seu livro é incrível. Seu livro é uma obra de um gênio. Seu livro, vai mudar o mundo.

Meryl Streep é considerada por muitos como uma das melhores atrizes de todos os tempos. Os mais pessimistas podem dizer que ela é a pior perdedora do Oscar, já foram 16 indicações em que ela venceu apenas duas vezes. Um dos motivos, são indicações por filmes como esse. Claro que ela faz um trabalho competente como sempre, mas não é uma interpretação tão arrebatadora assim. Talvez a academia fique tão ansiosa pra homenageá-la, que com certeza é a maior atriz viva, que qualquer atuação lhe vale uma indicação. Aqui, ela se junta a Amy Adams, que já acumula 3 indicações sem vitórias.
Vamos ao filme que é baseado na vida de duas mulheres que existiram. Acompanhamos a vida das duas em época distintas. Julia se muda para Paris para acompanhar o marido que trabalha na embaixada. Cansada de ficar sem fazer nada, ela tenta diversos cursos para aprender alguma coisa, até que vai parar num curso de culinária avançada em uma sala onde só tem homens. Julie tinha uma carreira promissora, mas acabou tendo que trabalhar em um cubículo atendendo telefonemas o dia inteiro.
O que as une é a culinária francesa e o desejo de compartilhar esse conhecimento com as outras pessoas. Julia, através de um livro. Julie, através de um blog na Internet. O desejo das duas, porém, é bem diferente. Julia quer um livro que seja revolucionário, que mude o mundo, talvez. Julie quer apenas elevar sua abalada auto estimada. Julia leva 8 anos para terminar o livro e tentar publicá-lo, Julie quer pegar todas as 524 receitas do livro e cozinhá-las em um ano.
As duas são, aparentemente, adoráveis, mas depois de um tempo as duas começam a ficar irritantes. Uma com suas obsessões de querer fazer tudo perfeito e outra que é insegura demais e tem crises pelos motivos mais bobos. De qualquer forma é o leva o filme adiante.
Geralmente os filmes que mostram culinárias, tendem a deixar o espectador com vontade de comer aquelas comidas maravilhosas, ou pelo menos com vontade de conhecer aquela culinária. Este filme, escrito e dirigido por Nora Ephron, falha nas duas coisas. Em nenhum momento fico interessado pelas comidas do filme. Nem com vontade de conhecer nenhum prato ou coisa parecida da culinária. Uma pena.
O que realmente me incomodou no filme, porém, foram os maridos. Mesmo quando os atores principais não são tão bons assim, bons coadjuvantes poderiam ajudar. Mas os maridos nesses filmes são nulos e mais desinteressantes ainda, apesar de terem papéis relativamente grandes. Paul (Stanley Tucci), marido de Julia só serve para dizer o quão maravilhosa sua esposa é. E, claro, quão boa é a comida dela. Eric faz o mesmo papel de apenas elogiar a comida de Julie, a diferença é que ele sempre parece um morto de fome comendo pizza na frente da TV.
Talvez com personagens mais interessantes eu gostasse mais do filme, mesmo sem me importar tanto com a comida. No geral, não gostei muito de descobrir como a cozinha e a literatura, mudou a vida dessas duas mulheres. O filme tem seus momentos de graça, mas não chega a ser bom. De qualquer forma, valeu outra indicação para Streep.

quarta-feira, 2 de março de 2011

CISNE NEGRO


NOTA: 9,5.
- Você poderia ser brilhante, mas é covarde. A única coisa que está no seu caminho, é você mesma.

A vida de uma bailarina profissional, é pautada pelos sacrifícios. São anos de treino durante muitas horas por dia para atingir a perfeição. Quando alcançam a perfeição. É um sacrifício tanto físico quanto mental de se dedicar a essa carreira. Um profissional que tenta atingir essa perfeição, corre o risco de sacrificar sua vida pessoal, sempre querendo agradar um treinador ou um parente.
Nesse caso é Nina (Natalie Portman), uma bailarina de 28 anos que pode ter sua primeira grande chance de estrelar uma montagem. Quem ela quer agradar é a sua mãe, Erica (Barbara Hershey), uma bailarina que abandonou a sua própria carreira para cuidar da vida e carreira da filha. Difícil dizer se a carreira de Nina foi uma escolha totalmente dela, mas de qualquer forma ela dedica sua vida para a dança, treinando não apenas na companhia, mas também em casa por horas a fio.
Há alguma coisa muito estranha nessa relação entre mãe e filha. Quando elas param para conversar, mais parecem duas irmãs fofocando. Apesar de sua idade, Nina não faz nada sozinha. Ela sequer pode trancar a porta do quarto ou mesmo do banheiro para tomar banho. O tipo de comportamento que os pais tem com filhas pequenas que ainda não podem tomar conta de si mesmas. Todo o comportamento combinando com seu quarto rosa decorado com caixinhas de música e pelúcias por toda a parte.
Quando o diretor da companhia onde ela dança, Thomas Leroy (Vincent Cassel), afasta a principal estrela e amante, Beth (Winona Ryder), de forma não amigável, começa a busca pela nova pima ballerina. Em sua arrogância, ele quer remontar de maneira totalmente original os clássicos, a começar por "O lago dos cisnes", que exige da nova estrelas dois papéis bastante distintos. Nina é a escolha óbvia para o cisne branco, mas se quiser desempenhar o papel com perfeição, deve se transformar para encarnar também o negro. O diretor quer que ela sinta a dança, e não apenas execute os passos.
É então que o filme mistua uma série de fatores para embolar de vez a cabeça de Nina. Além do tratamento da mãe e do diretor que abusa dela, há ainda a chegada de uma nova bailarina que é seu oposto, Lily (Mila Kunis). Nina é doce e inocente, e provavelmente virginal apesar de negar no filme. Lily é impulsiva e sensual. Profissionalmente, ela é uma ameaça. Pessoalmente, ela fascina Nina.
Aqui entraria minha única crítica ao trabalho do diretor Darren Aronofsky. Apesar de toda sua criatividade e paixão que imprime em seus projetos, ele ainda se mostra tradicional demais, e o filme segue a fórmula de mostrar os bastidores e o que acontece nos palcos, que não chegam a se misturar. Ao contrário do que acontece na cabeça de nossa heróina, que mistura realidade e loucura.
Ainda assim, Aronofsky e Portman seguem até o final nos limites que a personagem pode alcançar com uma coragem impressionante, tal qual  nos outros filmes do diretor. Portman é desafiada pela segunda vez num papel que exige tanto de sua mente quanto de seu corpo. Para nossa sorte, ela melhorou consideravelmente desde seu papel em V de vingança. Aqui, ela mostra uma atuação perfeita que faz com que sua premiação no Oscar não tenha nada de injusto.No final do filme, eu me lembro de Crepúsculo dos deuses. Como as personagens são parecidas em sua loucura apesar de serem tão diferentes.
Nos filmes do diretor, os personagens praticamente abandonam suas vidas em função da carreira. Alguns dizem que um artista deve se perder em sua arte. Nina perde a sua cabeça.
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