terça-feira, 31 de maio de 2011

A LUTA PELA ESPERANÇA


NOTA: 8,5.
- Eu tenho que acreditar que quando as coisas estão ruins eu posso mudá-las.

Existem atores que se encaixam perfeitamente na pele de seus personagens, e este filme exemplifica com perfeição o caso em questão. Russel Crowe vive o pugilista (real) Jim Braddock em uma história inspirado na vida dele. Crowe teve que fazer um personagem que fosse extremamente amável dentro de casa, mas que ao mesmo tempo pudesse parecer com um boxeador de verdade dentro dos ringues. Talvez Tom Hanks pudesse fazer um personagem tão amável quanto, mas duvido que pudesse parecer tão bom no ringue. Russel Crowe executa as duas tarefas com perfeição.
No início, o acompanhamos voltando para a casa depois de uma luta, lugar com certo luxo mas que não tem nada ostensivo. Braddock quer dar conforto para sua família mas sem tirar os pés do chão. Ele sabe que a fama é passageira e investe seu dinheiro para enfrentar dias piores. Para seu azar, a depressão chega e acaba com seus investimentos. Além disso, ele quebra sua mão direita e perde lutas tão ruins que resolvem tirar sua licença de pugilista. Reduzido à extrema miséria, só lhe resta trabalhar como estivador nas docas.
Seu jeito de ser não muda. Seja antes ou depois, Braddock permanece a rocha que mantém a casa de pé, sempre estável. Sua preocupação é sempre com a família. Se sua filha está com fome, ele lhe dá a sua comida e fica sem nada. Na cena mais emocionante do filme, ele vai mendigar dinheiro para que possa ligar o aquecimento da sua casa e dar o mínimo de conforto para seus filhos. Sua mulher, Mae (Renée Zellweger), também quer o melhor para seus filhos, mesmo que para isso ela tenha que admitir que não tem condição de criá-los. Ele vai fazer o que for preciso para mantê-los junto dele. Essa é sua força.
Seu antigo empresário, Joe Gould (o também ótimo Paul Giamatti), consegue uma última luta para Braddock, um lutador se machucou e ninguém aceitaria substituí-lo em tão pouco tempo para treinar. Ninguém que tenha alguma coisa a perder, o que não é o caso de Braddock. Ele luta e vence de maneira espetacular. Seu adversário era um possível candidato a disputar o título, e aquele homem que não lutava há tempos consegue derrotá-lo. O feito é tão extraordinário que Gould consegue outras lutas para Braddock, e vitória após vitória ele finalmente chega à disputa do título.
Filmes como esse, de bom coração, são cada vez mais difíceis no mundo cínico atual. Este é muito mais do que um filme de boxe, esta é a história de um bom homem que enfrentou tempos desesperadores e conseguiu dar a volta por cima. Muito lutam por dinheiro, em uma entrevista ele diz que luta para dar leite para os seus filhos. Sua vida é praticamente um conto de fadas, e não há apelido melhor para ele do que "Cinderella Man", como um jornalista lhe deu.
Na época em que ele estava lutando, o país precisava de um homem como aquele. Ele era boxeador, mas era um homem que tinha as mesmas condições que a maior parte da população: pobre e sem possibilidades de emprego. Suas vitórias davam esperança a cada pessoa de ter um futuro melhor. Esse é o tipo de história que eu gosto de ver, pena que seja um tema cada vez mais em desuso.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 03: DOWNHILL, WHEN BOYS LEAVE HOME (1927)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.


NOTA: 6.
- Essa é a história de dois rapazes que fizeram um pacto de lealdade. Um dos dois manteve o pacto, por um preço.

Hitchcock trabalha novamente com o ator Ivor Novello, que era o autor da peça na qual esse filme se baseia. Segundo o próprio diretor, a peça era bem medíocre, com diálogos muito ruins. Como o filme é mudo, não há nada que atrapalhe muito, mas o desenvolvimento da história realmente não é dos melhores, mesmo sem os diálogos.
Na história, acompanhamos Roddy (Novello), um estudante do liceu em Paris com futuro promissor mas que é expulso por ser acusado de um furto que não cometeu. Quando volta para a casa, seu pai não acredita na sua inocência e o expulsa de casa, o que faz com que o garoto comece uma vida de depravação. Depravação que vai de dançarino em um cabaré até o casamento com uma atriz que o trai. O início da "descida" se dá através de uma cena em que o rapaz desce pela escada rolante, uma coisa que o diretor considera ingênua e que não faria novamente.
Novamente, o diretor buscava a habilidade de fazer um filme mudo que usasse uma quantidade mínima de cartelas, e ele realmente usa poucas, só que algumas partes do filme parecem um pouco difíceis de entender plenamente. Em algumas parte, eu optaria por ter mais algumas cartelas.
Ao contrário do seu filme anterior, aqui não há os elementos de suspense que tanto o fez famoso, é um simples drama que hoje conta uma história que é totalmente ultrapassada. Mesmo os mais puritanos que possam dizer que não funciona agora, mas que já funcionaram, tem que admitir que o próprio diretor não considera um grande filme e que não foi um sucesso na época. Hitchcock não deu seu selo de qualidade para este filme.
A história é longa demais e tem um final dos mais simplórios possíveis, onde o rapaz não é apenas perdoado pelo seu pai mas também é inocentado no colégio, para onde volta. Somente no final do filme, temos um lampejo da genialidade do diretor. Precisamente, quando o garoto começa a delirar e tem sonhos quando está na cama. Hitchcock fundiu a cena do sonho com a realidade, coisa que era não era usual na época e os sonhos eram sempre desfocados entre outras coisas.
Essa cena é interessante, mas muito pouco para despertar qualquer outro interesse diferente de: "é um filme de Hitchcock". Fosse de outro diretor, talvez tivesse se perdido e não faria muita falta.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

8MM


NOTA: 8.
- Se você dança com o demônio, o demônio não muda. O demônio muda você.

Quatro anos antes desse filme ser realizado, o roteirista Andrew Kevin Walker já tinha surpreendido as platéias do mundo inteiro com o intenso Seven, dirigido por David Fincher. Lá, eram dois policiais comuns que se deparavam com um psicopata culpado de terríveis assassinatos. Aqui, a história não é muito diferente, temos um detetive, pai de família, que se vê mergulhado em um obscuro mundo de masoquismo e sangue para resolver o caso pelo qual foi contratado.
O detetive em questão é Tom Welles (Nicolas Cage). Também é um homem comum mas mais acostumado com crimes de adultério e especializado em clientes de alto poder aquisitivo e que preza muito pela discrição. Por esse motivo, é contratado pela viúva de um milionário que encontra, no cofre do falecido, um vídeo de uma mulher sendo morta. Tudo que ela quer saber é se aquele vídeo é real ou não, e principalmente se a menina do vídeo está viva ou morta. Nada que pareça muito complicado a uma primeira vista.
Descobrir a menina em questão não é tão complicado assim. Checando os arquivos da polícia, ele descobre o nome e onde ela morava, mas seu paradeiro é desconhecido. A verdadeira complicação é descobrir se ela está viva ou morta, e para isso ele terá que ir fundo na investigação descendo até o submundo dos chamados filmes snuff (como são chamados esse tipo de filmes). Welles acredita que esse tipo de filme não existe, que é uma mera lenda urbana, mas lenda ou não ele descobre que há um mundo podre por trás dessa indústria.
Ajudado por um balconista de uma loja de filmes pornográficos chamado Max California (Joaquim Phoenix), ele começa a mergulhar cada vez mais nesse submundo, chegando até o produtor de filmes eróticos Eddie Poole (James Gandolfini), um daqueles caras que podem te apresentar a qualquer pessoa, e é através dele que Welles chega até o estranhíssimo diretor Dino Velvet (Peter Stormare) que está sempre acompanhado de Machine, uma espécie de homem fetiche que usa vinil por todo o corpo e não que não gosta de remover sua máscara.
É de se esperar que Welles se envolva em algum tipo de perigo com esses caras, e ele realmente chega a esse ponto, mas o assunto não é tratado de maneira banal, como mera desculpa para cenas de ação e tiroteios. O roteiro nos leva até dilemas morais que alguns podem concordar ou não. A idéia é colocar um homem comum em meio a uma situação extraordinária. Até que ponto este homem pode chegar a matar uma pessoa ou não? Mesmo que a pessoa mereça. Esses homens não são vítimas de violência doméstica ou coisa parecida, eles simplesmente são pessoas ruins. Será que isso faz com que a morte seja justificada?
Assim como Seven, não é um filme de fácil digestão. Aqui os atos tem suas consequências e os personagens tem que viver com elas. Isso o faz um filme muito interessante. 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

CANDY


NOTA: 7.
- Eu não estava tentando arruinar a vida da Candy, eu só queria tornar a minha melhor.

O título e o cartaz deste filme pode enganar muita gente. Pode-se olhar para o cartaz e ver um sorridente e lindo casal apaixonado e achar que esta é apenas mais uma história de amor, mas isso significaria em um grande erro. Não que os dois não sejam um casal apaixonado, é só que esta história de amor está muito longe de ser linda e feliz. Talvez por isso seja um filme interessante.
O casal é Dan (Heath Ledger) e Candy (Abbie Cornish), dois jovens australianos viciados em heroína. O único interesse de Dan é poder manter os dois sempre altos, e nada além disso. O filme se divide em três capítulos: Paraíso, Terra e Inferno. Os personagens começam de um jeito e logo começam a "descer" até o inferno. Como é de se esperar, quanto mais descem mais eles sofrem. Pior é o vício e pior ainda se torna a maneira como eles vivem.
Não demora muito para Dan perceber que o vício crescente do casal tem um custo. Para um homem que não quer trabalhar, os custos se tornam cada vez mais difíceis de serem bancados. Apesar de conseguirem dinheiro por algum tempo com pequenos golpes e furtos, não demora muito para que Candy tenha que começar a se prostituir para conseguir dinheiro enquanto ele fica o tempo todo dentro de casa sem fazer nada.
Existe todo um mundo fora de suas vidas que eles mal fazem questão de fazer parte. Somente visitam esse mundo esporadicamente e por necessidade, geralmente para comprar comida ou comprar mais drogas. Provavelmente não sairiam para nada se pudessem. Algumas visitas aos pais de Candy lhes garante comida e às vezes algum dinheiro, enquanto visitas ao amigo mais velho Casper (Geoffrey Rush) rende heroína caseira feita por ele. Eles não tem outros amigos ou qualquer coisa parecida com isso, esse é todo o mundo que lhes interessa.
Filmes como esse tende a nos fazer lembrar de outros filmes, geralmente melhores, sobre o mesmo tema. Imediatamente me veio a cabeça Trainspotting, especialmente por conta da cena em que o casal passa por abstinência quando tentam se livrar das drogas. A cena já foi mostrada melhor, mas o diretor Neil Armfield tem um grande trunfo: seu casal protagonista. Ledger sempre teve uma grande capacidade de passar sentimentos para a platéia, aqui não foge do padrão mostrando sua dor. Se a cena não é muito inventiva, pelo menos não falta talento.
Não apenas para esta cena, mas por todo o filme. Ledger, não precisando disfarçar seu sotaque dessa vez, faz um personagem muito interessante. Ele é quase uma criança no corpo de um adulto. Quando pede dinheiro emprestado para os pais de Candy, parece um menino pedindo sua mesada para o pai. Além disso, há algo no seu olhar que impressiona, sempre vagando e nunca parecendo estar quieto. A surpresa do filme, porém, está na atuação de Cornish. Em nenhum momento ela fica de coadjuvante em cena e faz parte do filme tanto quanto ele.  Bem surpreendente.
Acredito que esses papéis são daquele que todos os atores clamam querer fazer. Papéis que surpreendam o público e que possam mostrar o quão talentosos eles realmente são, mas que depois que alcançam o sucesso poucos tenham coragem de realmente arriscar a fazer. Uma pena que o filme não seja o sonho de todo ator. Ele segue todas as fórmulas do gênero e se torna quase dispensável. A fórmula é tão óbvia, que nos leva por trilhas que já caminhamos antes, exceto que não há surpresas dessa vez. Se há ainda alguma coisa a se dizer sobre esse universo das drogas, não é aqui que iremos ouvir. Vale mais pelas atuações do que pelo filme em si.

terça-feira, 24 de maio de 2011

TUBARÃO


NOTA: 10.
- Eu não vou ficar perdendo meu tempo com um homem que está entrando na fila para ser o próximo almoço.

Este é filme que começou a mudar o cinema americano. Algumas pessoas até mesmo clamam que é o início da infantilização do cinema que começou com Spielberg aqui e logo depois com o lançamento de Star wars de George Lucas (os dois também logo se juntariam para fazer a série Indiana Jones). Se os dois são culpados, isso é outra história, mas é fato que os cinemas hoje ficam cheios de lançamentos de blockbusters e foram os dois que começaram a moda. 
O que devemos começar a analisar, pra começar, é que uma moda não começa a partir de uma coisa ruim ou de um fracasso. Os dois filmes se tornaram fenômenos porque são filmes muito bons, se fossem ruins a onda de filmes de grande orçamento não teria acontecido. Foi em algum lugar no meio do caminho que a coisa se distorceu e blockbusters viraram sinônimos de filmes ruins com grande orçamento (com exceções, claro).
Tubarão fez tanto sucesso em seu lançamento porque é uma ótima mistura de filmes de ação com suspense de dar medo. Não aquele medo apavorante como o de O exorcista, mas um medo mais palpável, de alguma coisa que não vem de outro mundo (seja lá de cima ou lá de baixo). Com um orçamento estimado de U$ 8 milhões, o filme fez uma bilheteria de mais de 400 em todo o mundo. Nunca um filme tinha mostrado que cinema poderia ser tão rentável antes.
O filme, porém, vai além disso. É um filme que não foca somente em efeitos especiais, ação ou suspense, foca em seus personagens. Apesar de mostrar um ataque logo na primeira cena, o tubarão só vai aparecer depois de mais de uma hora de filme. Até então, estamos totalmente imersos naquela pequena ilha e com seus personagens, principalmente na disputa entre o xerife Brody (Roy Scheider) que quer fechar a praia para evitar novas mortes e o prefeito que quer a praia aberta para manter a saúde financeira da cidade.
É preciso outras mortes para que o prefeito concorde em pagar para o caçador de tubarões Quint (Robert Shaw) eliminar definitivamente a fera que está aterrorizando a pequena ilha. E é com mais da metade do filme que Quint, Brody e o especialista em animais marinhos Hooper (Richard Dreyfuss) partem para a caçada em alto mar tal qual Ahab caçando a baleia. Spielberg diz abertamente que o tubarão só aparece depois de tanto tempo porque parecia falso. Que sorte a dele, já que a demora em mostrar o tubarão só aumenta o suspense do filme. Menos é mais aqui. Quando o tubarão realmente aparece ele realmente parece falso, mas já estamos tão imersos no filme que não faz diferença nenhuma.
O que importa é que o filme funciona perfeitamente apesar de qualquer limitação. O close do tubarão pode parecer falso, mas o conjunto das sombras dele na água, junto com as filmagens de um tubarão verdadeiro misturados com o tubarão mecânico funcionam muito bem, e o que importa é o conjunto, certo? É um filme como é cada vez mais raro de encontrar, não é muito violento, não tem cenas de ação demais e por aí vai. Nem nada demais nem nada de menos. Na medida certa para apenas curtirmos um bom filme.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 02: O INQUILINO SINISTRO (1926)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.

Algumas fotos são encontradas na internet e são tudo que sobrou do filme.

O segundo filme de Hitchcock como diretor, foi The mountain eagle, filme que ele próprio considera como muito ruim. Tentativa dos produtores de penetrar no mercado americano. O filme se perdeu e ele não considera a perda como ruim. Tudo que sobrou do filme são fotos.
Truffaut lê um resumo do roteiro: "É sobre o gerente de uma loja que persegue com seu assédio a jovem professora inocente; ela se refugia na montanha sobre a proteção de um eremita que acaba se casando com ela. É isso mesmo?" Ao que o diretor lhe responde: "É, infelizmente!"



NOTA: 8.
- Eu vou colocar uma corda em volta do pescoço desse "vingador".

A história do filme é sobre uma mulher que aluga quartos na casa onde mora com seu marido e sua filha. Londres está sendo aterrorizada por um psicopata no estilo do estripador, exceto que ele se auto-intitula "O Vingador" e mata apenas mulheres louras, como a filha da mulher. Chega na casa um homem que deseja alugar o quarto e que bate bastante com a descrição do assassino, então a mulher passa a maior parte do filme na dúvida se ele é o assassino ou não.
O filme tem um começo muito bom assim como o final também é muito interessante, uma pena que o meio do filme não seja tão bom quanto. Se não é inesquecível com certeza já mostra os sinais do grande diretor que viria se tornar, com algumas tomadas muito inventivas. O grande porém é o personagem principal, estranho do jeito que é retratado, parece mais um vampiro do que um serial killer.
Hitchcock diz na entrevista que este é o que ele considera como o primeiro filme hitchcockiano, mas mesmo assim não se dá totalmente satisfeito com o filme. Não que não goste do filme, apenas acreditava que o star system (sistema usado para explorar a imagem dos atores) prejudicou o resultado do filme. Como seu protagonista era um grande ator reconhecido, ele sabia que não haveria a possibilidade de torná-lo no assassino do filme. Não que fosse o que ele queria, mas seria bom pro filme que isso pudesse acontecer. O mesmo problema se repetiria em O ladrão de casaca. O que ele realmente queria é que ele pudesse ir embora de noite sem nunca sabermos se era culpado ou não, mas com o star system era necessário deixar claro que era inocente.
O diretor usava muitos efeitos nos filmes, que consideraria supérfluos muitos anos depois. Como o fato de gravar o inquilino andando sobre vidro para mostrar que quando ele anda o lustre abaixo dele se move. Depois de amadurecer, ele não colocaria efeitos apenas por usar. Truffaut acreditava que Hitchcock não fazia uso gratuito de efeitos como muitos diziam que ele fazia. 
Este é também o primeiro filme hitchcockiano que usa usa o tema do homem acusado de um crime que não cometeu, tema que seria recorrente na sua carreira. Também pela primeira vez ele apareceria na frente das câmeras. Aqui, simplesmente porque eram produções modestas e ele precisava preencher a tela. Ele disse que depois virou uma superstição até se tornar uma gag que ele não conseguia mais evitar, por isso apenas tratava de aparecer logo nos primeiros minutos do filme para as pessoas aproveitarem melhor o filme.
O filme foi odiado pelos produtores e quase não foi lançado. O produtor que o demitiu anteriormente chegou a declarar que sequer entendia o que Hitchcock filmava. Depois que finalmente lançaram o filme, foi o primeiro grande sucesso de Hictchcock e chegaram a declarar que era o melhor filme inglês feito até então. Exagero ou não, é realmente um filme interessante.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

ZATOICHI



NOTA: 9.
- Mesmo com meus olhos bem abertos, eu não posso ver nada.

Como de costume, o diretor Takeshi Kitano também atua em um dos papéis principais do seu filme, mas este não é um filme usual do diretor. Ao contrário dos seus demais filmes mais reconhecidos, este se passa no tempo do Japão Feudal, contando a lendária história do samurai cego.
Assim como os outros personagens que costuma interpretar, Zatoichi também é um sujeito durão, sisudo e de poucas palavras que anda com seu cajado que se transforma em uma espada. Ele segue sua vida pelo código dos samurais, mas este parece um pouco distorcido (tomando como base os outros filmes de samurais) pelas suas próprias regras. Talvez por isso ele ainda se mantenha vivo.
O samurai é um errante que vai caminhando pelo Japão como um massagista. O fato do personagem ser agora interpretado por Kitano, dá uma nova dimensão a ele, o que o torna muito interessante. Quase sempre sério, mas que se permite rir para si mesmo por um segundo. Sua falta de visão faz com que perceba as coisas ao seu redor melhor do que nó que enxergamos. Este é um homem realmente perigoso.
Outro trunfo de Kitano, é dar espaço para outros personagens do filme. Ele recebe abrigo de uma velha senhora que trabalha com cultivo. Um dia, com o sobrinho dela, ele conhece também duas geixas (uma na verdade é um menino) que ficaram órfãs depois de o chefão da cidade liquidou toda a sua família. Há também o guarda-costas do tal chefão, um ronin muito habilidoso que vende suas habilidades com a espada para poder cuidar da irmã doente. Todos os personagens com dimensão e profundidade.
Apesar de não prometer ajuda ou vingança para as geixas, eventualmente os capangas do chefão vão aparecendo em seu caminho e vão tombando diante sua espada/cajado. Não é preciso dizer que é questão de tempo até que os dois (ele e o ronin) cheguem a um embate.
O diretor se valeu de uma tática interessante para realizar esse filme: embora as lutas pareçam muito verossímeis, o sangue parece extremamente falso. Não acho que deva ser qualquer tipo de falha, apenas acredito que foi uma opção estética mesmo e o resultado é bom. A cada corte da espada, um sangue artificial e feito no computador esguicha para onde quer que o diretor queira. O foco dele não são as lutas de espadas, apesar dessas existirem, é a história. Veja um exemplo de quando ele luta com uns 8 homens em uma casa de aposta, não vemos como ele realmente mata a todos, apenas vemos o sangue espirrando e os corpos caindo. De certa forma, nessa luta, estamos tão cegos quanto ele.
O filme de Kitano é um alento para os fãs do gênero. Talvez por ser um diretor já reconhecido, ele se dá ao luxo de fugir do lugar comum e entregar um filme diferente do que estamos acostumados. Pra mim o resultado é ótimo.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

ANICRISTO


NOTA: 3.
- Natureza é a igreja de Satã.

Existem todo o tipo de cineastas que fazem todo o tipo de filme. E existem pessoas como Lars Von Trier que se mascaram de cineastas para fazer "filmes" que são grandes barbaridades e ainda são taxados por muitas pessoas como grande gênio. Me admira que esta classe de "diretores" continuem a fazer filmes e que ainda existam atores (em especial atrizes) que queiram trabalhar com ele. Não se espantem pelo poster do filme, o conteúdo é muito pior.
Este filme começa mostrando logo de cara para o que veio. Personagens sem nome interpretados por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg estão fazendo sexo selvagem, com direitos a cenas explícitas e em close da penetração, quando o filho do casal sai de seu berço, sobe em cima da mesa que fica convenientemente colocada sob a janela e escorrega para a morte. A morte da criança deixa feridas profundas na mulher e seu esposo, um psicoterapeuta, a leva para uma cabana para poder curá-la.
Quando eles vão para a mata, a coisa só piora. A mulher entra em um estado pior do que já estava por conta da perda e a relação entre os dois começa a ficar violenta. Até o sexo começa a ser praticado com mais violência e conforme o tempo vai passando ela não melhora, mas mesmo assim ele acredita que pode curá-la e não desiste da sua tarefa.
Difícil torcer para algum personagem neste filme. Ele é um chato de um terapeuta que fica jogando frases de Freud para cima dela afim de encontrar uma cura. Além disso, é extremamente prepotente de achar que é a melhor pessoa para tratar da esposa. Ela não é muito melhor. Narcisista e extremamente depressiva. Depois ainda vamos descobrir que ela é uma péssima mãe além de se tornar uma pessoa totalmente atormentada durante o filme. Belo casal, não?
Como é comum nos filmes do diretor, as mulheres são maltratadas, martirizadas e reduzidas à sua pior forma. Aqui não é muito diferente. Elas não são más ou coisa do gênero, apenas ele deve gostar de ver o que sadicamente se faz com as mulheres (e as atrizes que as interpretam) em seus filmes. Aqui, a mulher com certeza não é o anticristo que dá o título do filme, acredito que o anticristo é o próprio filme. Um anticristo do cinema.
Se o espectador não se importar com castrações, violência, sexo explícito, bizarrizes, facadas, ejaculação com sangue, a humilhação da dupla de atores entre outras coisas, até pode vir a curtir os simbolismos que o filme apresenta, apesar dele exagerar demais na quantidade dos mesmos.
Esse deveria ser o filme de terror de Von Trier, mas ele falha miseravelmente. Ele se considera tanto um artista, mas o final de seu filme não fica devendo à nenhum filme de Sexta-feira 13, com facadas e perseguição entre o algoz e a vítima. Um "filme" típico de Von Trier. Para os fãs é prato cheio. Para quem não conhece, uma aposta perigosa e para quem não gosta a certeza de que ele não é para o seu bico. Assim como não é para o meu.
PS: Ele continua aterrorizando o mundo e ontem lançou Melancolia, com Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg. Em sua maneira "engraçada" de ser, ele falou sobre a cena de nudez de Dunst e sobre como ela declarou que queria mais ainda. Então Dunst deve protagonizar o (que ele considerou) próximo filme pornô do diretor. Para completar a entrevista ele declarou: “Por um tempo, eu sempre gostei de pensar que fosse judeu, mas depois descobri que minha família era alemã e que na verdade eu era nazista, o que também me deu um certo prazer. O que posso dizer é: eu entendo Hitler. Claro que ele fez algumas coisas erradas, mas eu entendo o homem, simpatizo um pouco com ele. Não pela Segunda Guerra. Não sou contra judeus. Mas os israelenses são um pé no saco...” Claro que ele entrou para o rol das celebridades que se desculpam depois de comentários infelizes dizendo que foram mal interpretadas. Triste.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ALMAS À VENDA


NOTA: 7,5.
- Acredite. Quando você se livra da sua alma, tudo começa a fazer sentido. Tudo se torna mais funcional e com mais propósito.

A diretora e roteirista deste filme é Sophie Barthes, que alguns anos antes lançou um curta onde um homem ia na farmácia e comprava uma caixa de comprimidos escrita "Happyness". Então não é de se estranhar que a diretora tenha um gosto pelo incomum. Talvez inspirada até mesmo pelo cinema de Charlie Kaufman, que também sempre foge do lugar comum.
Aqui ela conta com Paul Giamatti interpretando um personagem chamado Paul Giamatti. Ou seria o ator interpretando a ele mesmo? De qualquer forma, o Paul do filme também é ator e está ensaiando a peça de Chekov Tio Vanya. O problema é que ele não está lidando bem com o personagem. O que está realmente complicando, é que a intensidade do personagem o está afetando. Ele não consegue dormir ou mesmo manter relações com sua esposa, Claire (Emily Watson).
Para resolver seu problema, um amigo lhe indica um artigo em uma revista. O artigo conta como cada vez mais as pessoas estão retirando sua alma e armazenando em depósitos. E quando eu digo em retirar a alma, eu falo em uma coisa realmente física, como se fosse uma parte de cérebro. No caso, a dele parece muito com um grão-de-bico. Retirar a alma deixa a pessoa mais leve, mais despreocupada. Nos ensaios ele parece outra pessoa com mais energia, entusiasmo e confiança. O problema é que ficar desalmado o torna também um péssimo ator.
Paralelo a isso, o filme mostra também todo um mercado negro de almas que acontece na Rússia (afinal, jamais haveria um mercado negro nos EUA, certo?). Esse mercado negro envolve o tráfico de almas entre os países através de mulas, sendo a principal delas Nina (Dina Korzun). O problema é que cada retirada deixa um pouco de alma que está se acumulando em sua cabeça. Talvez por isso ela comece a adquirir uma consciência sobre o negócio do qual faz parte.
O filme levanta algumas boas perguntas mas poucas respostas. O próprio médico, Dr. Flintstein (David Strathairn) confessa não ter todas todas as respostas apesar de fingir um ser um grande especialista no assunto. Parece muito mais um grande negociante do que um grande médico. Ele faz tudo parecer rotina, mas oferece poucas respostas para seus cliente e consequentemente para nós.
Difícil dizer se esse filme é ficção científica ou drama. Provavelmente estaria mais para uma mistura das duas coisas. Eu gosto de filmes desse tipo, só achei uma pena que ele tenha apostado pouco em mostrar as implicâncias de uma pessoa ficar desalmada ou mesmo de ficar com a alma de outra pessoa, mas ainda assim é um filme bem interessante.

terça-feira, 17 de maio de 2011

TOOTSIE


NOTA: 9.
- Você é um psicopata.
- Não, eu sou um contratado.

Na década de 1940 esse tipo de filmes não eram tão incomuns e eram bem aceitos pelo público. Misturavam uma certa seriedade na trama misturada com situações absurdas para fazer uma boa comédia. Em 1959, Billy Wilder repetiu o feito e manteve seu filme em preto e branco para que a aparência dos atores não causasse estranheza no público. Neste filme, de 1982, o gênero aparece novamente mas dessa vez em cores mas ainda assim como uma boa comédia. Ao contrário as péssimas produções atuais como As branquelas e outros lixos do gênero.
Dustin Hoffman interpreta Michael Dorsey, um personagem que deve ter sido inspirado no próprio ator antes de fazer sucesso. Dorsey é um ator muito talentoso mas também muito intempestuoso, por isso criou para si uma péssima reputação de encrenqueiro. Quando vai falar com seu empresário George Fields (o também diretor Sydney Pollack), este lhe avisa que ninguém em Nova York ou até mesmo em Hollywood irá contratá-lo. Ninguém quer trabalhar com ele.
Um dia, Dorsey acompanha uma amiga sua em um teste para um papel em uma novela, mas ela não consegue o papel. Dorsey volta para casa e resolve ele mesmo se travestir para tentar o papel e acaba o conseguindo depois de mostrar que pode ser uma "mulher forte" como eles querem. Michael Dorsey pode não conseguir ser contratado, mas Dorothy Michaels tem um trabalho fixo na TV agora.
Talvez muitos possam pensar que este também deveria ter sido filmado em preto e branco para que Hoffman parecesse mais natural. Para mim ele funciona de uma certa maneira peculiar. Disfarça a voz através de um sotaque que criou para o personagem. A roupa é muito exagerada, assim como a peruca e seus óculos, mas tudo faz parte do conjunto. Quem nunca viu nas ruas uma mulher exagerada que parecia uma drag queen? Ele é um homem vestido como uma mulher que parece uma drag. Por isso acredito que funciona.
Assim como acredito que funciona tão bem porque é também uma grande comédia. Mesmo que as maquilagens e as roupas não funcionassem em algum nível, ainda assim restaria um filme com ótimas cenas e muitas risadas. Especialmente nas cenas entre Hoffman e Bill Murray, que interpreta seu amigo Jeff. Mais impressionante ainda que todas as falas de Murray foram improvisadas por ele.
Dorsey começa a ter que conviver com um ator da novela que parece se apaixonar por ele, uma "namorada" que acredita que ele está tendo um caso com Dorothy (apesar dele afirmar ser impossível) enquanto ele mesmo começa a se apaixonar por uma das atrizes da novela interpretada por Jessica Lange e que vê um Dorothy uma ótima amiga.
O melhor de tudo é que o filme não é tão superficial como parece ser. Dorothy começa a tomar vida própria por conta da sua popularidade. E se torna mais um problema que ele deve enfrentar. Situação que até mesmo dificulta sua saída da novela. Além disso, é um filme que se torna muito tocante, especialmente no final. E surpreende que um comédia tenha tanta delicadeza.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 01: THE PLEASURE GARDEN (1925)


Recentemente tive uma vontade de reler o livro Hitchcock Truffaut, apenas que dessa vez meu pensamento foi de ler o livro assistindo os filmes do diretor. Serão cerca de 50 filmes abordados, sempre descritos de forma a integrar o que é abordado no livro com as resenhas do filme. O resultado será postado periodicamente conforme for avançando no livro e assistindo aos filmes.
Para quem não sabe, este filme é fruto de uma longa entrevista que o diretor francês realizou com Hitchcock. Truffaut o considerava um gênio, um verdadeiro autor, enquanto todo o resto desprezava o seu trabalho por ele ser muito famoso e bem sucedido. Diziam que seus filmes não tinha substância. Um repórter disse a Truffaut que ele tinha gostado de Janela Indiscreta porque ele não conhecia o Greenwich Village, ao que o diretor respondeu: "Não é um filme sobre o Village. É um filme sobre cinema, e eu conheço cinema."
Hitchcock era vítima de seu enorme sucesso. O livro surgiu do desejo de Truffaut de provar a todos da genialidade de Hitchcock. Chegaram a dizer para ele que este livro seria mais prejudicial à sua carreira que seu pior filme. Felizmente, para a carreira dos dois, ele estava errado.


NOTA: 7.
- Eu tinha que te conhecer porque adorei os cachos de seu cabelo.
- (Ela retira os cachos postiços e o entrega) Então eu lhe dou e espero que você se divirta. Não foi uma cantada muito inteligente, foi?

Hitchcock começava aos 25 anos a fazer sua carreira no cinema depois de se formar em engenharia. Sempre apaixonado por cinema e teatro, ele desenvolvia cartelas para os diálogos dos filmes mudos, quando mostrou seu trabalho foi contratado imediatamente. Em filmes de baixo orçamento, ele virou também roteirista, cenografista, assistente de direção e teve até mesmo teve que fazer a fotografia de um filme seu. Só depois que foi demitido por seu produtor por ciúmes que Michael Balcon o chamou para dirigir esse filme. Seu primeiro. Hitchcock diz que sequer passava pela sua cabeça virar diretor, mas aceitou o desafio.
Seria também a primeira adaptação de um livro. No caso, um livro de Oliver Sandys que conta a história de duas mulheres que se tornam amigas, Patsy e Jill. Uma trabalha como dançarina no tal The Pleasure Garden e outra veio pra cidade para começar a trabalhar como dançarina também. Patsy ajuda Jill ao perceber que ela foi assaltada e não tem onde ficar. Não somente lhe dá abrigo como a ajuda a conseguir o emprego.
Acontece que sua nova amiga não partilha dos mesmos valores que ela e larga seu noivo por um príncipe rico. O auge das desavenças acontece quando Patsy pede dinheiro à amiga para visitar seu marido que está doente, e ela lhe nega porque estava gastando muito dinheiro com roupas e outras coisas.
Como o próprio diretor disse, melodramático mas com algumas cenas interessantes. Apesar de ele não considerar que esse filme tenha sua marca, tem algumas cenas que já mostravam suas tendências (tendências ao anormal, voyerismo e simbolismos) que se desenvolveriam mais nos filmes seguintes. Como a cena em que o fantasma de uma mulher assassinada volta para assustar seu algoz, mas realmente de interessante mesmo só fato de ser o surgimento do mito.
Antes que alguém pergunte, o diretor não aparece na frente das telas, mas foi aqui que conheceu sua mulher.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

OS AGENTES DO DESTINO


NOTA: 8.
- Tudo que eu tenho são as escolhas que eu faço, e eu escolho Elise. Aconteça o que acontecer.

Alguns filmes levantam questões interessantes e intrigantes para contar uma história. Matrix se valeu desse conceito para contar um sci-fi com toques de kung-fu e muita ação. Aqui, o diretor (e roteirista) George Nolfi usa o mesmo conceito, mas saem as correrias, tiroteios e pancadaria e entra uma história romântica. Tanto que escolhi esse poster acima ao invés do principal que vem sendo divulgado com o casal correndo. Este não é um filme de ação.
O diretor escreveu o roteiro baseado num conto de Philip K. Dick, o mesmo autor dos contos que deram origens a filmes como Blade runner e Minority report. Como de costume, o autor levanta questões interessantes misturados com fatos surreais. Aqui, a questão interessante é um debate sobre o livre-arbítrio e destino.
Matt Damon é um político chamado David Norris. No dia da eleição, ele perde e se prepara para dar seu último discurso. Ele entra no banheiro, que acredita estar vazio, e ensaia o que vai dizer. Acontece que escondida no banheiro, estava Elise (Emily Blunt). Ela está lá porque foi pega invadindo um casamento e está agora se escondendo para não ser pega pela segurança. Os dois se conectam imediatamente e se beijam antes que ela tenha que sair correndo. O encontro anima tanto Norris, que ele faz um discurso improvisado que é o melhor de sua campanha.
No dia seguinte, num curto intervalo de tempo, ele (re)encontra sua nova paixão no ônibus e logo depois descobre, por acidente, a existência de uma espécie de grupo de "anjos" no escritório do seu publicitário. Todos no prédio estão paralisados e esses "anjos" estão fazendo alguma coisa com ele. Ele tenta fugir mas acaba pego. Eles decidem contar a verdade, que estão lá para fazer pequenos ajustes nas pessoas para que elas continuem seguindo, mesmo sem saber, um plano de uma entidade superior. Ao que parece, não temos o direito do livre-arbítrio. Quando eles nos deram realmente a chance de escolher fizemos guerras e outras desgraças, por isso agora eles nos encaminham para o bom caminho. Para Norris ficar no caminho, não deve revelar a existência deles para ninguém e nem deve vê-la novamente.
Ao contrário de outros filmes onde vemos bons anjos, esses aqui não estão de brincadeira. Se não obedecer, Norris será "resetado", terá toda sua mente apagada. E eles também não medirão esforços para alterar várias coisas para que Norris não a encontre e continue no plano. O único que parece se incomodar com isso é o anjo Harry (Anthony Mackie), que acaba revelando muitas coisas a ele.
Damon e Blunt dão interpretações tão boas, que ficamos realmente torcendo por eles. Realmente parecem feitos um para o outro, então, por que querem mantê-los separados? Nós torcemos para eles porque queremos que fiquem juntos. As performances são tão boas que acabamos perdoando certos deslizes do filme. 
O filme, porém, não deixa de ter seus defeitos. O principal é não se aprofundar nas implicações das questões que levanta. É um conflito entre o destino e as escolhas que fazemos. Se tudo está acertado, que diferença faz que decisão tomamos? Eles mesmos dizem que não podem cuidar de todos todo o tempo. O que aconteceria se alguém, inadvertidamente fizesse algo fora dos planos? Quando pedem para não vê-la, não estariam apelando para o livre-arbítrio dele? Apelando para que escolhesse não a ver novamente?
Se fosse um filme mais corajoso poderia ser excelente, mas ainda assim é um bom filme. E o melhor romance que assisti nesse ano.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

FAÇA A COISA CERTA

Graças a um problema no Blogger, as postagens de quarta-feira até sexta-feira foram apagadas. Aparentemente, um problema que aconteceu com todo mundo. Felizmente, consegui resgatar a postagem de quarta e estou postando novamente para quem não leu. 


NOTA: 100.
- Qual é o seu problema? Isso não é pelo dinheiro. Não podia ligar menos para o dinheiro. Está vendo esse lugar? Eu construí com minhas próprias mãos.

Não há nada minimalista neste filme de Spike Lee. Este é um filme que vibra em cores, ódio, preconceito e intolerância, e tudo isso no calor de um único dia no Brooklyn. É também um filme controverso que causa muita discussão sobre ele. Especialmente o final.
Talvez algumas pessoas possam achar o filme confuso, mas devemos nos perguntar se ele não deve ser confuso. Lee faz uma mistura de personagens que mora nos bairros: são latinos, asiáticos, negros, brancos e descendentes de italianos. A grande genialidade, é que ele consegue falar de racismo entre todas essas raças e em momento nenhum toma parte de qualquer um. Ninguém aqui está certo, ninguém está errado. Há apenas a forma que eles e pronto. E todos os personagens são enfatizados.
O próprio Lee faz um personagem, Mookie, um entregador de pizza da pizzaria de Sal (Danny Aiello), o descendente de italiano que montou seu restaurante há muitos anos no bairro e toma conta com a ajuda de seus filhos, Pino (John Turturro) e Vito (Richard Edson). Mookie é casado com uma latina com quem tem uma filha e leva horas entre uma entrega e outra, e entre essas andanças ele passa por outros personagens como "Da Mayor", um homem que se diz o prefeito e que varre a calçada por alguns trocados.
Desde o início do filme, Lee ressalta o calor que está fazendo. Aquele tipo de calor que incomoda qualquer pessoa. Incomoda ao ponto de deixar as pessoas ainda mais intolerantes. Um homem que vai comprar pilhas para o seu rádio no mercado, quase arruma uma briga porque os asiáticos não entendem o tipo de pilha que ele quer. Qualquer coisa é motivo de confusão. E conforme o dia vai passando, as coisas não ficam melhores. Tudo vai chegando ao clímax onde todos são afetados.
Apesar de ser um bairro de maioria negra, não há um único negócio que apareça no filme que tenha um dono negro. A pizzaria é de um italiano e o mercado é dos asiáticos. As fotos na parede da pizzaria são todos de atores ítalo-americanos famosos. "Por que não há uma foto de uma celebridade negra?", Buggin Out (Giancarlo Esposito) pergunta. Abra seu próprio negócio e coloque a foto de quem quiser, é a resposta de Sal. Ele volta na pizzaria com Radio Raheem (Bill Nunn), que também está irritado com Sal por ele pedir para baixar seu rádio. Raheem está errado por incomodar todos com o som, Sal fica errado por quebrar o rádio e quando a polícia chega eles também incorrem em erro. Tudo é realmente uma confusão só.
O dia seguinte não traz melhoras. Todos tratam apenas de pegar o que sobrou de suas vidas e seguir adiante. Uns sem negócios, outros sem emprego e há aqueles que não vão ter mais nada. Ainda assim, nada muda no bairro. Talvez seja assim que as coisas funcionam. Lee deu uma entrevista recentemente onde lhe perguntaram se ele tinha feito a coisa certa no filme. Ele respondeu dizendo que nunca um negro lhe perguntou isso. Esse é o tipo de atitudes pungentes que temos no filme. Por isso ele é tão brilhante. Seja você quem for.

terça-feira, 10 de maio de 2011

THOR


NOTA: 7.
- Eu sacrifiquei muita coisa para conseguir a paz. Responsabilidade. Dever. Honra. Estão não são meras virtudes que devemos aspirar. Elas são essenciais para cada soldado, cada rei.

A Marvel lança seu mais recente lançamento baseado nos quadrinhos do herói nórdico também conhecido como o Deus do Trovão. Misturando os quadrinhos clássicos com uma pitada do universo Ultimate ( que está modernizando os personagens da Marvel para os novos tempos) e um pouco de Henquique V, de Shakespeare, o diretor Kenneth Branagh consegue contar uma boa história sobre o personagem Thor.
Começamos acompanhando uma equipe de pesquisa acompanhando fenômenos cósmicos durante a noite. Jane (Natalie Portman), Erik (Stellan Skarsgard) e Darcy (Kat Dennings) acabam atropelando no meio do deserto Thor (Chris Hemsworth). Aí o filme corta para um (longo) interlúdio que explica como ele foi parar no deserto, contando com uma batalha contra gigantes de gelos até seu banimento por Odin (Anthony Hopkins) e perda de seus poderes (e sua camisa).
A história então passa a contar como o herói se vira na terra do século XXI, um lugar bem diferente de sua terra natal e com costumes mais adversos ainda, enquanto tenta recuperar seu martelo mágico e sua divindade. No meio do caminho ele aprende sobre a humildade que seu pai tanto prega e, claro, se envolve romaticamente com Jane.
Então, temos aqui todos os requisitos de um filme de super-heróis: o herói, um vilão (Loki, interpretado por Tom Hiddleston), romance e boas cenas de ação entrecortadas por cenas cômicas. Nada dá muito errado nesta produção. Em poucos anos como produtora de filmes, a Marvel já dá sinais que descobriu sua "fórmula" de produção que pretende atrair o público para suas próximas produções, que vão culminar em um filme dos heróis reunidos chamado Os vingadores, sem apostar em nada que possa dar errado.
Esse é um dos principais fatores que me incomodaram no filme. Ele é certinho demais e se arrisca muito pouco. Se por um lado é uma aposta certa, por outra deixa uma margem muito pequena para chegar mais perto de filmes do gênero com mais alma (e muito superiores também) como Homem-Aranha 2 e O cavaleiros das trevas. É a vitória do cálculo do sucesso mercadológico sobre a criatividade e a ousadia. E mesmo a presença de um diretor como Branagh não conseguiu fazer a balança pesar mais para a arte do que para o tal cálculo. Muita preocupação com o futuro de suas franquias. Do contrário, quem pode explicar a presença de Jeremy Renner no filme? Sua única função é aparecer em um filme antes de Os vingadores, já que não terá seu próprio filme.
Interessante é ver que, mesmo com um elenco com dois vencedores de Oscar (Hopkins e Portman), dois "novatos" conseguem chamar muito mais atenção nos filmes que os "veteranos". Hemsworth era mais conhecido como o "pai de Kirk" no novo Star Trek. Aqui, ele caracteriza Thor de forma a não somente acharmos a escolha adequada, mas também a considerar uma missão difícil achar um ator melhor para o papel. Seu único real rival no filme é também o antagonista do filme. Hiddleston, que intepreta Loki, rouba a cena cada vez que aparece e se torna uma ótima surpresa.
É um filme que se encontra na faixa entre o mediano e o divertido, o que acaba saindo um pouco decepcionante. No final, fica a sensação que o personagem é interessante mas que não foi feito o suficiente para aproveitá-lo. Em breve, Capitão América: O primeiro vingador chegará aos cinemas e possivelmente no mesmo estilo.

domingo, 8 de maio de 2011

ABRAÇOS PARTIDOS


NOTA: 10.
- Eu era chamado Mateo e era um diretor de filmes. Sempre fiquei tentado a ser uma pessoa diferente. Por isso criei o pseudônimo Harry Caine. Mateo e Harry Caine usavam o mesmo corpo, até que chegou um momento em que eu podia ser apenas Harry Caine.

Almodóvar é provavelmente o cineasta mais conhecido e aclamado internacionalmente se não contarmos com os diretores que trabalham nos EUA. Duvido que tenham faltado convites, mas nunca apeteceu ao diretor ir trabalhar por lá. Sorte para ele e para nós, já que lá provavelmente ele teria seu trabalho mutilado por algum produtor para agradar mais as platéias. Almodóvar pode não ser para todas as platéias, mas com certeza é para qualquer um que goste de cinema.
Acompanhamos a história da bela Lena (Penélope Cruz, que está em Hollywood mas sempre volta para trabalhar com Almodóvar para ter os melhores papéis de sua carreira). Lena casa-se com um rico empresário para quem trabalhava. Depois do casamento, ela deixa de trabalhar e acaba ficando entediada, por isso tenta um teste para trabalhar em um filme, uma comédia escrita e dirigida por Harry Caine (Lluís Homar), um homem que no início do filme aparece cego.
Caine aprova Lena e a chama para ser protagonista do filme. Durante as filmagens, os dois acabam tendo caso. Além desse problema, o filme é patrocinado pelo marido de Lena, que começa a ficar cada vez ciumento e violento com o andamento das filmagens. Tudo isso é contado por flashbacks depois que Caine recebe a visita de um diretor que quer um roteiro seu. Acontece que o diretor que bate em sua casa é o filho do tal empresário e que estava incumbido pelo pai de acompanhar as filmagens para vigiar a mulher. Deve ser isso que acontece quando você "compra" uma esposa, fica louco de ciúmes.
Caine é no presente um famoso escritor. Duas pessoas o auxiliam, Judit (Blanca Portillo), que é sua empresária e ajuda na sua casa, e o filho de Judit que bate o texto que Caine dita no computador. Parece haver uma relação muito forte por parte de Judit. Talvez ela ame Caine, mas seus sentimentos parecem ir além disso. Ela era sua fiel escudeira no passado, agora que ele é cego se tornou indispensável.
Como grande parte dos filmes de Almodóvar, este também trata de amor e abandono. O caso de Lena e Caine vira muito mais do que apenas isso, esses dois estão realmente apaixonados e dispostos a largar tudo para ficarem um com o outro. Lena está disposta a largar sua vida de luxo, Caine está disposto a largar sua carreira ao abandonar o filme em fase de finalização.
Assim como o personagem principal é cego, o diretor também nos mantém cegos durante todo o filme. É somente no final que vamos descobrir as peças faltando, e somente com essas peças podemos compreender totalmente o filme. A estratégia é genial e é feita com perfeição. Assim como acontece dentro do filme, são os ângulos de filmagem e a edição que nos faz compreender o todo. Provavelmente Hitchcock ficaria orgulhoso de ver que ainda tem diretores habilidosos capazes de nos surpreender como só ele fazia. 

sábado, 7 de maio de 2011

HOMEM-ARANHA 2


NOTA: 9.
- Nós precisamos de heróis. As pessoas torcem para eles, gritam seu nome. Eu acredito que há um herói em todos nós. Que nos mantém honestos, nos dá força e nos faz nobres. Mesmo que tenhamos que desistir da coisa que mais queremos. Mesmo dos nossos sonhos.

Agora sim um filme que merece o rótulo de grande filme de super-heróis. Não apenas isso, um filme que realmente remete ao personagem e ao tipo de história que as pessoas que estão acostumadas a ler os quadrinhos vão identificá-lo plenamente. Aqui, não falo nem de efeitos especiais ou apenas uma boa história bem contada, falo que todo um clima. O verdadeiro clima de uma história de Homem-Aranha. Uma história em especial é a que vemos um Peter Parker que não sabe se está disposto a carregar o fardo de ser o herói que todos querem que ele seja. No filme, o diretor até usa a capa da revista onde Parker abandona o uniforme no lixo.
Peter (Tobey Maguire) não se encontra melhor do que o excluído socialmente que era no primeiro filme. Na verdade, está ainda pior. Ser o herói está tomando muito mais do que sua horas vagas. Peter não consegue trabalhar direito, e olhe que é um trabalho de entregador de pizzas, assim como não consegue estudar direito. Seus trabalhos estão todos atrasados, ele é demitido, perto de reprovar na faculdade, morando num cubículo e sequer conseguiu assistir a peça de Mary Jane.
Tudo o que não considerei bom no primeiro filme foi corrigido aqui. Sam Raimi, agora mais familiarizado com o material e em como filmar um filme desse porte, sabe exatamente para onde deve levar o filme. Assim, as cenas de ação e as cenas dramáticas não parecem deslocadas uma das outras. Grande parte também por causa da evolução dos efeitos que melhoraram consideravelmente. O Homem-Aranha agora parece realmente de carne e osso.
Dessa vez o vilão é o Dr. Otto Octavius (Alfred Molina), brilhante cientista que promete criar uma nova fonte de energia barata e sustentável. Ou destruir toda a cidade. Peter admira esse cientista. Para ajudar no experimento, Otto cria quatro tentáculos que obedecem aos seus comandos. Quando o experimento dá errado, os tentáculos se incorporam ao corpo do cientista e começam a dominar sua mente, o deixando maligno. Esse novo Doc Ock vai tentar repetir o experimento, nem que tenha que roubar para financiar tudo e realmente destruir a cidade no processo.
Nesse meio tempo, Peter primeiro decide que não pode ficar com MJ para que ela não corra perigo. Depois disso, ela fica noiva e ele decide que quer ficar com ela. Na verdade, ele descobre o que já havia falado antes, que o fardo é pesado demais para suportar. Assim, ele decide abandonar a carreira de herói. Claro que infelizmente os vilões não decidem a mesma coisa e somente o Aranha pode deter Doc Ock. Ele deve deixar de lado seus desejos de uma vida normal e cumprir o seu papel.
As duas histórias são muito bem contadas, dessa vez. As cenas de ação não estão lá simplesmente para dar mais emoção ao filme, elas estão lá para levar a história adiante. E quando há personagens falando, eles falam de amor, heroísmo, amizade e outros valores. Não há sequer um momento tentando explicar porque seus poderes falham. Isso não vem ao caso. Tudo aqui traz profundidade ao filme. Por isso ele funciona tão bem. Além disso, foge do simples rótulo de filme de super-heróis e passa a ser um filme que possa ser apreciado por fãs ou não. Até agora, a aventura definitiva do Aranha.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

RIO





NOTA: 6.
- Isso é ótimo. Estou acorrentada ao único pássaro do mundo que não sabe voar.

Carlos Saldanha é o brasileiro, carioca para ser mais exato, colaborador da trilogia A era do gelo. Ele já havia assumido a direção dos dois últimos filmes de série e aparentemente este deveria ser o passo adiante da animação do estúdio. O filme pode estar batendo recordes de bilheteria e tudo o mais, mas este filme não apresenta um passo adiante nem para o estúdio e nem para o diretor.
O filme mostra a única coisa que evoluiu em relação aos outros logo na abertura: uma sequência musical onde pássaros cantam e dançam lindamente mostrando todas as cores possíveis ao invés do gelo e a falta de cores. A sequência é cortada porque contrabandistas aparecem e capturam todas as aves, incluindo o pequeno Blu que ainda nem sabia voar. Ele acaba sendo adotado por uma menina nos EUA.
Tudo vai bem até eles receberem a visita de um especialista em pássaros, Túlio, que afirma que a espécie de Blu está em extinção. Ele pode ser o último macho de sua espécie, e Túlio quer levá-lo (de volta) para o Rio onde vai juntá-lo com a fêmea que encontrou para salvar a espécie. O que se passa na cabeça dele para ficar tentando encontrar uma ave brasileira raríssima na terra do Tio Sam eu não faço ideia, mas de qualquer forma seu plano funciona.
Para acabar de esculhambar com a imagem que o cinema passa do Rio, obviamente que as aves são roubadas por bandidos da favela para serem vendidas no mercado negro. Assim como também é óbvio que a história se passa em pleno Carnaval que todo mundo, incluindo animais, ama. Quando alguém diz que não gosta de Carnaval, um pássaro quase morre de desgosto. Afinal, pela lógica do filme, todos amamamos o Carnaval.
Esses estereótipos foram pouco a pouco me irritando, e quando as sequências mais agitadas começaram a coisa só piorou. O diretor faz com que cada sequência no Rio tenha perigo e ameaças de morte. Em uma parte, Blu diz que gostaria de ficar cinco minutos sem quase morrer. Eu também gostaria, mas isso deve ser parte para atrair as platéias mais jovens.
São muitos personagens coadjuvantes querendo roubar a cena e nenhum deles é engraçado o suficiente para merecer a atenção. Na verdade, em geral o filme não é engraçado. Tem um senso de humor muito estranho com pequenas subtramas que substituem uma história no filme.
A familiaridade do material, fez com que uma produção da Pixar fosse cancelada. Uma pena, já que poderia ser interessante como eles tratam do assunto e esperar um bom filme. Aqui é um filme mediano que abusa demais dos clichês até mesmo para um desenho animado. Para crianças pode ser divertido, mas para adultos (eu, pelo menos) é um tanto enfadonho. Grande parte da nota vai para o visual da cidade que, como Gilberto Gil canta (e mesmo com o tempo não deixa de ser verdade): "O Rio de Janeiro continua lindo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

HOMENAGEM AO ANIVERSÁRIO DE AUDREY HEPBURN: COMO ROUBAR UM MILHÃO DE DÓLARES


NOTA: 7.
- Não sabia que durante sua vida Van Gogh vendeu apenas um quadro? Enquanto eu, em memória à sua grande genialidade, já vendi dois.

Assim como disse sobre Elizabeth Taylor, posso dizer também que Audrey Hepburn pertence a uma outra categoria de estrela. Ela também era de uma época onde havia grandes estrelas, e ela era uma delas. A eterna "bonequinha de luxo". Aqui ela divide as telas com o  também grande  Peter O'Toole.
Ela é Nicole, a filha de um grande falsário de obras de arte. Ele é tão bom, que vende pessoalmente suas "obras" sem medo de qualquer represálias ou que mesmo alguém descubra de onde vem seu acervo particular.
Uma noite, ela flagra um "bandido" dentro de sua casa. O tal bandido é Simon (O'Toole), que, para evitar confusões, ela acaba o levando para o hotel onde está hospedado. Na verdade, o objetivo de Simon é descobrir se as obras são reais ou não.
Enquanto isso, seu pai concorda em exibir a "escultura de Cellini" de seu acervo particular. A Venus que está na família há muitos anos e foi feita, na verdade, pelo seu avô. O problema é que o museu insiste em colocar a estátua, avaliada no milhão que dá o nome ao filme, no seguro, e para fazer isso ela terá que passar por um teste de autenticidade. Porque não fazem o teste antes de expor eu não sei, mas de qualquer forma isso dá a ela  alguns dias para roubar a estátua do museu. Para fazer isso, ela pede a ajuda de Simon. Aí então, o filme passa a ser o planejamento e à execução do plano do roubo.
O filme tem muitas coisas que são um tanto quanto difíceis de engolir. A atitude demasiadamente preocupada de Nicole em ver o pai na cadeia, afinal ela sabe as consequências de seu "trabalho". Sua associação com Simon, um homem que mal conhece para ajudá-la num roubo. A falta de experiência para realizar um roubo bem-sucedido. Até mesmo o fato de as falsificações serem tão boas que a estátua é reconhecida como uma das maiores obras de Cellini.
O grande lance, porém, é você curtir todo esse pastelão. É ruim de engolir? Nem tanto. Com um elenco afinado como esse, em atuações bem elegantes, uma boa história cômica e pronto. Um filme divertido e que pode ser muito bem saboreado, em parte graças a direção estilosa e sempre competente de William Wyler.
Não é um dos grandes filmes da atriz, mas pode ser uma boa pedida para quem quiser uma diversão sem compromissos. Além de ser uma ótima chance de ver Hepburn e O'Toole atuando (muito bem, por sinal) em um mesmo filme. Encare como diversão descompromissada e não irá se arrepender. E parabéns a essa grande estrela do cinema.

terça-feira, 3 de maio de 2011

HOMEM-ARANHA


NOTA: 6.
- Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades.

 Não sei dizer se o problema é assistir a esse filme depois de assistir às continuações ou se ele realmente não parece ser tão bom assim, mas de qualquer forma ele me decepcionou bastante. Lembro de ter achado interessante em seu lançamento, mas agora sua força parece ter diluído.
Acompanhamos o surgimento de um dos heróis de quadrinhos mais queridos das pessoas. Peter Parker (Tobey Maguire) é um garoto de colégio magro, nerd, que não enxerga sem seus óculos e praticamente inexiste socialmente. Além disso, é um órfão criado pelos seus tios e seu único amigo é Harry Osborn (James Franco), filho do bilionário Norman (Willem Dafoe). Como a maioria já sabe, ele é picado por uma aranha modificada geneticamente e acaba com os poderes do aracnídeo.
Como imagino que a maioria das pessoas faria, ele pensa em utilizar os poderes para seu próprio proveito. Ao deixar um bandido fugir, este acaba matando seu tio, que antes lhe havia dito que "com grandes poderes vem grandes responsabilidades". É a morte do seu tio que lhe faz perceber o peso dessas palavras, e ele decide que só deve vestir o uniforme para ajudar as pessoas.
Antes que esqueça de falar, ainda o interesse romântico do herói, assunto obrigatório para qualquer personagem. Neste caso, estamos falando de Mary Jane, que na primeira metade do filme é a vizinha de Peter e na segunda acaba virando a namorada de Norman. Por que ela não fica com ele? Bem, na primeira metade ela está ocupada com o garoto mais popular da escola e no segundo com um garoto rico. Não parece um clichê ambulante?
Assim como também é claro que surge que surge o vilão. Todo bom herói precisa de um grande vilão. E aqui começa um dos problemas do filme. Seu vilão parece um boneco de Comandos em ação com uma armadura muito esquisita.
Isso na verdade só ressalta outro detalhe que me decepciona no filme. Os efeitos especiais não são tão bons quanto deveriam ser. O filme se divide na parte com efeitos e nas partes sem efeitos. Nas partes sem efeitos, tudo funciona muito bem. Maguire personifica com perfeição o personagem bem apoiado pelos resto do elenco. A parte dos efeitos não funciona muito bem. Além do problema do vilão, o próprio aranha parece uma animação perdida no meio do filme. Justamente as cenas de ação não funcionam no filme, e ele perde a maior parte da sua força.
Uma pena que isso acaba dividindo todo o filme. As cenas não parecem conectadas uma com a outra, parecem fazer parte de dois filme diferentes. E ao final, eu fiquei me perguntando mais ainda: "por que não ficou com a garota dos seus sonhos?" Não é pra isso que se tem uma identidade secreta no final das contas?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

COMO VOCÊ SABE


NOTA: 6.
- Não beba para se sentir bem, beba para se sentir melhor.

Este filme é uma comédia romântica. Também se trata de um triângulo amoroso onde Owen Wilson e Paul Rudd disputam o amor de Reese Witherspoon. É também sobre duas dessas pessoas que não sabem o que vão fazer sobre seu futuro e sobre um esporte que as pessoas envolvidas nunca aparecem jogando. Como saber porque não funciona? No caso de uma comédia romântica é fácil, é quando não é romântica e nem engraçada.
Lisa (Whiterspoon) é uma jogadora da seleção americana de baseball que acaba de ser dispensada do time. O técnico percebeu que ela está ficando velha e já ficou 0.3 segundos mais lenta. George (Rudd) trabalha na empresa do pai, Charles (Jack Nicholson) e está envolvido em um grande problema jurídico que pode mandá-lo para a cadeia. Entre o possível romance entre os dois está o jogador profissional Matty (Wilson).
George parece ser um cara mais agradável e sério do que Matty, mas um problema de timing faz com que os dois (Rudd e Whiterspoon) não fiquem juntos de cara. Com seu novo calendário que a deixa com bastante tempo livre, ela acaba se envolvendo e se mudando para o apartamento de Matty. Não que Matty seja um homem ruim, é apenas que é narcisista demais para pensar em outra pessoa. Pelo menos é extremamente positivo. "Não foi o melhor sexo que já fez?" Não é a melhor bebida que já tomou?"
O único problema é que as pessoas ficam muito presas nas suas características principais. George é tão ingênuo que consegue ser enganado por todas as pessoas e não faz idéia do que acontece na empresa. Ele pode ir preso e sequer sabe porquê. Matty existe apenas para falar dele mesmo e de sexo. E mesmo Nicholson consegue fazer muito pouco como um magnata que não merece sequer o filho que tem. É Wilson que acaba tendo o melhor personagem do filme. Ele quer ser bom, só não sabe como. Dos outros personagens, sabemos exatamente o que esperar deles.
Talvez qualquer um dos dois pudessem fazer a mocinha feliz. Como disse antes, é só uma questão de timing que não está certo. A vida de George está caindo aos pedaços, e Matty ainda não amadureceu. Ainda assim, George não tem nada a oferecer a ela. Matty tem muito dinheiro mas é surdo às questões femininas.
Eu esperava mais desse filme, especialmente por ser escrito e dirigido por James L. Brooks, de Melhor é impossível Laços de ternura. Mas mesmo ele falha ao tentar dar vida ao filme. Ele nunca decola. Nunca nos leva para lugar algum. Parece dar voltas até conseguir chegar ao seu ponto final.
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