NOTA: 10.
-Eu tenho que olhar para cima, que é de onde minha inspiração vem.
O talento pode vir de onde menos esperamos, e as pessoas podem tirar a inspiração de diversos lugares. Você já passou por pessoas como Séraphine na rua antes, apenas não se lembraria dela. Isso porque ela não tem nada de especial, fisicamente falando. Não é bonita e muito menos tem um corpo escultural. Nem ao menos parece capaz de ter uma grande conversa, já que é extremamente fechada, mas ainda assim é dona de um grande talento.
Ela é uma empregada doméstica que não parece ser capaz de grandes proezas. Tirando o esforço que mostra para fazer limpezas, ela leva a vida com certa calma. Ela anda pelo campo, aprecia as plantas, sobe nas árvores e observa as flores. Quando não está trabalhando, rouba cera de velas das igrejas e sangue do açougue para misturar e fazer suas tintas. E de noite ela pinta.
Ela não teve aulas de pintura e muito menos pinta para ganhar dinheiro. Ela diz que pinta porque seu anjo da guarda falou para ela fazer isso. E, por causa de sua origem humilde, apenas um milagre poderia fazer com que sua obra atingisse grandes públicos.
Como sua inspiração é divina, porém, um milagre não é muito problemático. Não apenas é um milagre que ela seja tão talentosa mesmo sem estudos, como é um milagre que um grande crítico de arte, Wilhelm Uhde, vá passar um tempo em sua cidade e a descubra. Ele encontra por acaso um pequeno quadro largado no chão e se apaixona pela beleza da pintura. Fica surpreso ao descobrir que é a mulher que limpa seu quarto a responsável por ele e decide em transformá-la numa grande pintora. Foi ele que descobriu o talento de Rousseau.
A primeira guerra mundial, porém, explode, e Uhde se vê obrigado a abandonar a França, por ser alemão e temer represálias. Ele perde sua preciosa coleção e o contato com Séraphine. Acabada a guerra, ele volta para a mesma cidade, Senlis, e dá como certa a morte da pintora, apenas para descobrí-la em uma exposição local. Não mais pequenos quadros, mas grandes e mais belos do que ele podia imaginar. Chegou a hora de ela abandonar a vida de faxineira e abraçar a vida artística. E é o que ela faz.
Não aprendemos sobre sua infância ou qualquer tipo de trauma. A vemos apenas em seu cotidiano. A única anormalidade são seus delírios que vão crescendo durante o filme. O filme se passa num intervalo onde sua arte é descoberta até sua morte em um asilo (será que veremos um filme onde um grande pintor morreu rico da sua arte?).
Depois da estréia desse filme, o mudeu de Senlis quadruplicou a quantidade de visitantes que "descobriram" a arte de Séraphine Louis depois de assistir a esse premiado filme. Ainda hoje sua arte impressiona e atrai as pessoas. Uma coisa que adorei no filme, é que cada quadro parece real. Uma obra genuína da pintora. E mesmo nas telas de cinema, seu traços impressionam muito.
Talvez devêssemos ter pena por ela ter morrido louca e internada em um asilo, mas não acho que seja o caso. Suas pinturas estão espalhadas em diversos museus, dos mais importantes da Europa. Sua vida será sempre lembrada pelo seu talento. Talvez todo grande artista acabe absorvido por sua inspiração. Talvez seja daí que saíram as maiores obras de arte. Alguns artistas apenas não conseguem voltar para o mundo real, mas seu trabalho ficará por muitos anos que virão.
A verdadeira Séraphine, fotografia copiada no filme. |
Legal, nunca tinha ouvido falar deste filme. Já vai pra minha lista...
ResponderExcluirObrigadão pela dica!
Grande Abraço!
Não ser muito falado não é problema (podes ver no meu blog q tem um monte de coisa bem pouco conhecida como os filmes do Xavier Dolan - que alías, acho que tu vai curtir bastante).
ResponderExcluirQuando alguém com conhecimento de causa como tu, recomenda um filme, geralmente é coisa boa!
comecei a ver esse filme por acaso, nunca havia ouvido falar no diretor, muito menos Séraphine.
ResponderExcluirmais ela me encanto, além de suas obras, sua pureza, só ela mesmo faria quadros tão lindos e cheios de vida!