sexta-feira, 21 de agosto de 2009

RIO CONGELADO


NOTA: 9.
“Por que você não sai pra conversarmos? (dá um tiro) É sério, querido.” Ray Eddy para seu marido.
Esse é um daqueles casos em que o filme ganha força pela atuação de seus atores principais. Aqui, as forças são Misty Upham e Melissa Leo. As duas interpretam mães solteiras com extremas dificuldades financeiras na fronteira entre EUA e Canadá, mais precisamente em território Mohawk.
Ray Eddy (Leo), tem dois filhos e está para perder a entrada que deu num novo trailer. Lila Littlejohn (Upham) trabalha no bingo e teve seu filho roubado pela sogra. Seus caminhos se cruzam porque Lila dirige o carro do marido de Ray, um viciado em jogo que abandonou o carro para pegar um ônibus e ir embora. Como Ray não consegue levar os dois carros, Lila a convence a levar para um homem que pode pagar U$ 2 mil por ele. Na verdade, é uma armação de Lila para transportar imigrante ilegais pela fronteira.
Assim nasce uma “amizade” baseada em pura conveniência. Lila tem os contatos e Ray tem o carro com uma mala grande. Além disso, Ray é branca e a menos que dê motivo, não será parada pelos policiais. Para isso, elas usam um caminho sobre o rio congelado que dá nome ao filme.
Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Sundance, o filme se equilibra de forma exata entre suspense e o drama. Ray é o mais perto de uma heroína em um filme como esse. Sustenta os dois filhos com um trabalho de meio expediente e não deixa o filho sair da escola para tentar um emprego. Seu ingresso no transporte de ilegais acontece por acaso, e diz que só vai continuar até poder pagar suas divídas. E mesmo durante o transporte, ela mantém sua integridade: quando tem que transportar um casal do Paquistão ela joga a bolsa que eles carregam fora porque “Pode ter gás venenoso e não quero ser responsável por isso”.
Para Lila a vida é mais triste. Ele tem que se contentar em ver seu filho em um encontro casual numa lanchonete ou aos cuidados da avó em cima de uma árvore. Sempre a distância.
Elas não são criminosas. Não querem uma vida de luxo. O que elas buscam é o básico: uma casa quente, comida na mesa e a companhia dos filhos. Elas mal conversam uma com a outra. Na verdade, quase ninguém no filme conversa entre si. É como se os habitantes se tornassem tão frios quanto seu habitat.
Mas essa história não é sobre amizade. Estamos falando de uma história sobre necessidade. Necessidade de duas mulheres para manter a família unida.

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