quinta-feira, 12 de julho de 2012

O MARTÍRIO DE JOANA D'ARC - LA PASSION DE JEANNE D'ARC



NOTA: 100.

É impossível fazer qualquer retrospectiva da história do cinema e não mostrar o rosto acima. O rosto pertencia a Maria Falconetti, e este é o único filme que protagonizou. Felizmente para ela, o suficiente para gravar seu nome na história do cinema. Em um tempo em que o cinema não tinha palavras, o lendário diretor Carl Theodor Dreyer usou o rosto da atriz para capturar a essência da personagem e conseguiu com um poder impressionante. É assistir o filme e olhar nos olhos da atriz para perceber que está diante de uma imagem que não vai te abandonar.
A renomada crítica de cinema Pauline Kael escreveu que essa pode ser a melhor performance já realizada em frente de uma câmera. Falconetti tinha uma expressão tão impressionante, que Dreyer a convidou para fazer o filme depois de assistir uma comédia que ela estava fazendo no teatro. Apesar de se tratar de uma comédia, havia algo no rosto da atriz que hipnotizou o diretor. "Havia uma alma atrás daquela fachada", como ele disse.
Diz-se que Dreyer jogou fora o roteiro e filmou a partir das transcrições do julgamento de Joana D'Arc. Essas "simples" transcrições contam a história de uma mulher que se transformou em uma lenda. A história de como uma mulher simplória do campo, se vestiu como um homem e liderou as tropas francesas contra os ingleses. Ela acabou sendo capturada por franceses leais à Inglaterra e julgada pela inquisição pois suas alegações que tinha inspirações divinas foram consideradas heresia e queimada na fogueira em 1431.
Outro fato que se conta deste filme, é que Dreyer descobriu que a montagem que fez foi acidentalmente destruída, e que ele teve que remontar o filme a partir de material que rejeitou na primeira montagem. Talvez por isso, tenhamos um filme sem uma única cena aberta e que mostre o grandioso cenário construído para o filme. Seja qual for a intenção, os closes funcionam tão bem estabelecendo uma relação entre os acusadores que temem a coragem da mulher.
E a montagem vai além. pouquíssimos planos tem elementos de continuidade entre um plano e outro, e fica muito difícil determinarmos geograficamente o lugar que estamos vendo e onde estão as pessoas neste espaço. O que podemos ver é como ele diferencia a filmagem de Joana D'Arc em tons claros, contrastando com a forte iluminação dos acusadores que mostra as imperfeições de todos os rostos sem maquiagem, prática incomum mesmo na época. 
Não temos nenhum outro filme com Falconetti para podermos comparar sua atuação, mas não posso deixar de ressaltar novamente a força que ela traz para o filme. Hoje em dia, estamos acostumados com emoções que vem através de diálogos. Assistir um filme como esse é perturbador por se tratar de uma experiência tão íntima que assusta. Ela passa tudo que precisamos saber apenas com sua expressão. Este é um filme que fala sobre os momentos finais de Joana D'Arc e nada além disso, e Dreyer contou como nenhum outro diretor conseguiu contar até o momento.

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