segunda-feira, 25 de julho de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 11: ASSASSINATO - MURDER (1930)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.


NOTA: 7.
- Ah, minha querida. Você deve guardar essas lágrimas. Elas vão ser muito, muito úteis na minha próxima peça.

Este filme, pelo seu tema, parece ser um autêntico filme de Hitchcock, mas não é. Apesar de conter um crime, ele utiliza uma ferramenta que raramente usou e que ele chamava de whodunit (algo como "quem fez isso?"). É quando o único suspense do filme fica em torno sobre o culpado, o que o diretor não considerava muito interessante já que todo o interesse se concentrava quase que exclusivamente na parte final do filme, enquanto o desenvolvimento é composto por investigações enfadonhas.
No caso, a questão é quem matou uma atriz de uma companhia de teatro. Ao lado do corpo, é encontrada uma colega que está catatônica que não se lembra de nada do que aconteceu. Essas evidências são suficientes para ser condenada à morte. No jurado, há um ator/autor que não acredita que a moça pode ser culpada, por isso resolve ele mesmo começar uma nova investigação para achar o verdadeiro culpado do assassinato.
Há no mínimo duas inovações introduzidas por Hitchcock que não posso deixar de destacar. Um é a introdução de um personagem gay no cinema, que aparece em determinada cena do filme travestido e falando como certos costumes seus não eram bem vistos. O principal porém foi ouvirmos o pensamento do personagem. Como ele não queria introduzir um personagem inútil para forçar um diálogo, a melhor maneira era a platéia ouvir o que o personagem estava pensando. Embora ele reconheça que era um efeito muito utilizado no teatro, foi a primeira vez no cinema que isso aconteceu. Duas opções muito corajosas.
Assim como ele também é corajoso a deixar nítida toda a veia teatral que a história contém. Para descobrir o culpado, é feita uma leitura de uma suposta nova peça que se passa nos moldes do assassinato cometido, de forma a fazer com que o assassino se denuncie. Da mesma forma que Hamlet usou para descobrir se o rei era realmente culpado.
Ao seu modo, é um filme até divertido, mas longe ainda dos filmes que fizeram o sucesso que o diretor viria a se tornar. Talvez seja pela própria presença do whodunit que não parece deixar o diretor à vontade, talvez seja pela própria expectativa que tinha ao esperar suspense do filme. Mesmo com algumas boas gags espalhadas pelo filme, fica a nítida impressão que tudo é apenas uma forma de passar o tempo até a chegada da descoberta que dará sentido ao filme, enquanto nos filmes do diretor o melhor é realmente o desenvolvimento da história (coisa que ele sempre prezava).

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