segunda-feira, 18 de julho de 2011

HITCHCOCK TRUFFAUT 10: JUNO AND THE PAYCOCK (1930)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.


NOTA: 4.
- A religião está sumindo. Veja as pessoas que realmente são de Dublim, por exemplo. Elas sabem mais de Charlie Chaplin do que sobre Pedro ou Paulo.

Até agora, o que tem de pior na obra do diretor. Ele mesmo diz que realizou o filme contra sua vontade pois não encontrava uma maneira cinematográfica de fazê-la. Isso transparece na forma preguiçosa como ele optou por fazer o filme. Parece uma peça de teatro com uma trupe de artistas irlandeses com uma câmera colocada na platéia. "Fotografei essa peça com o máximo de imaginação, mas do ponto de vista criativo não foi uma boa experiência", como ele mesmo diz.
Incrível ainda acreditar que o filme recebeu todo o tipo de elogios dos críticos de cinema. Truffaut mostra uma das críticas da época: "Juno and the Paycock me parece estar muito perto de uma obra-prima. Parabéns Sr. Hitchcock, parabéns atores irlandeses, e parabéns Edward Chapman. Eis um magnífico filme britânico." Hitchcock se sentia envergonhado, pois sentia que estava roubando o trabalho de outra pessoa, e os críticos o elogiavam por causa da qualidade literária do filme, não cinematográfica.
De importante para a carreira do diretor, foi a lição que ficou. Ele nunca mais filmou uma importante obra literária, e confessa que jamais filmaria Crime e castigo por se tratar da obra de uma outra pessoa. Quando a ideia lhe agradava, pegava a base da ideia e fazia cinema. Para adaptar Dostoiéviski, ele acreditava que deveria criar uma linguagem que transformasse cada palavra do autor em imagens, o que num trabalho sério de um filme o deixaria com seis ou dez horas de duração. Principalmente em relação ao tempo do filme: "Contrair ou dilatar o tempo não é a primeira missão do diretor do cinema? Você não acha que no cinema o tempo jamais deveria ter relação com o tempo real?".
O filme se passa entre 1922-1923, início da guerra civil irlandesa. Acompanhamos a família Boyle, que tem como patriarcas o Paycock, um capitão que está ocioso e sem previsão de conseguir emprego, e sua esposa Juno, que comanda a casa. Um dia, um homem bate à porta e lhes avisa que um parente morreu e que eles estão prestes a receber uma herança. Acontece que muitos problemas acontecem em relação a essa herança na família que esta pode deixar de existir.
Quanto ao livro, fica o que pode ser a parte mais famosa da entrevista:
"A diferença entre suspense e surpresa é muito simples, e costumo falar muito sobre isso. Mesmo assim, é frequente que haja nos filmes uma confusão entre essas duas noções. Estamos conversando, talvez exista uma bomba debaixo desta mesa e nossa conversa é muito banal, não acontece nada de especial, e de repente: bum, explosão. O público fica surpreso, mas antes que tenha se surpreendido, mostraram-lhe uma cena absolutamente banal, destituída de interesse. Agora, examinemos o suspense. A bomba está debaixo da mesa e a platéia sabe disso, provavelmente porque viu o anarquista colocá-la. A platéia sabe que a bomba explodirá à uma hora e sabe que faltam quinze para uma - há um relógio no cenário. De súbito, a mesma conversa banal fica interessantíssima porque o público participa da cena... No primeiro caso, oferecemos ao público quinze segundos de surpresa no momento da explosão. No segundo caso, oferecemos quinze minutos de suspense. Donde se conclui que é necessário informar sempre que possível, a não ser quando a surpresa for um twist, ou seja, quando o inesperado da conclusão constituir o sal da anedota."

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