quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ESPECIAL GODARD: A CHINESA


NOTA: 10.
"Se uma coisa como Marxismo-Leninismo pode existir, então tudo é possível" Kirilov

É incrível como o cinema pode produzir tanto efeito com tão pouco. A maior parte do filme se passa todo dentro de um apartamento todo decorado de vermelho com cinco personagens habitando aquele espaço. Foi só isso que Godard usou e que arrebatou a atenção de muita gente pelo mundo afora. Diz-se que os estudantes de uma universidade em Columbia que invadiram e ocuparam o campus teriam se inspirado nesse filme. mito ou realidade? De qualquer forma, mais um mito em volta do nome do diretor.
O filme conta um verão onde esses cinco personagens, militantes políticos, passam dentro de um espaçoso apartamento desocupado. Lá dentro, eles formam uma célula "Maoista" onde discutem política, revolução e até mesmo decidem chegar ao ponto de armar planos terroristas para conseguir mudar a política francesa da época. Isso sempre citando nomes como Lenin, Marx, Mao e outros comunistas. Em determinados momentos parecem que eles estão se educando para isso.
Na verdade, parece que estamos acompanhando cinco crianças em um jardim de infância. Até mesmo como eles se organizam para receberem uma espécie de palestra sobre as idéias lembram um jardim de infância. Tudo muito bem decorado com cores vermelhas. Seja em livros, ou mesmo portas e janelas devidamente pintadas. Entre os integrantes estão uma filha de banqueiro, seu namorado que é ator (Jean-Pierre Léaud, um dos ícones da nouvelle vague e que já havia feitos papéis menores em filmes anteriores de Godard), uma ex-prostituta não muito inteligente, um outro militante com nome tirado de livro de Dostoiévski e o último que é expulso do grupo por não concordar com terrorismo.
Godard realiza um dos primeiros falsos documentários do cinema (não me arrisco a dizer que foi o primeiro por não ter certeza), gênero que até hoje faz sucesso em filmes recentes como Distrito 9 entre outros. Em uma determinada parte, Guillaume olha para a câmera e faz um discurso. Ele diz que não está falando por estar em frente da câmera e a câmera é mostrada. Assim como em inúmeras partes os atores respondem perguntas como se estivessem sido entrevistados para um documentário. No resto do filme, agem normalmente. Alheios a presença de uma câmera.
O filme chegou a ser considerado como impossível de ser lançado nos EUA. Não à toa, Godard fez  inúmeras viagens pelas universidades para mostrar o filme para estudantes (talvez por isso exista o mito que tenha inspirado a invasão da universidade de Columbia). Ele acabou conseguindo fazer barulho suficiente para o lançamento do filme no país. No dia 3 de abril de 1968. O clima de revolução era grande, no dia  4 de abril,  Martin Luther King seria assassinado. Realmente era o filme certo a ser feito na época certa e de fora corajosa.

3 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...