NOTA: 4.
"Eu nasci aqui. Sou tão alemão quanto você é. Eu lutei pela Alemanha na guerra. Não há nada que me prenda aqui?" Maurice
Não foi boa a estréia de Vicente Amorim (O Caminho das Nuvens) em um filme americano. E olha que tinha tudo pra dar certo. Uma história sobre o nazismo, uma dupla de atores de respeito (Viggo Mortensen e Jason Isaacs) e um texto baseado em uma peça de teatro de relativo sucesso, ainda que roteirizada pelo novato John Wrathal que só tem um outro roteiro em seu currículo.
Mas não decolou.
John Halder é um professor de literatura em uma universidade em 1933, época em que Hitler está chegando no poder. Seu melhor amigo é Maurice, um judeu que lutou ao lado dele pela Alemanha na guerra anterior. Ele é chamado para conversar sobre um romance que escreveu, livro que despertou a atenção do próprio Hitler. Acontece que Hitler gostou do trabalho de Halder e quer que este escreva para ele. A única mancha que acham no passado de Halder é sua relação com um Judeu e o fato de não estar afiliado ao partido nazista. Visto como uma forma de humildade, ele ganha o prestígio de trabalhar para o fürher e um título honorário na SS (espécie de guarda costas do partido nazista alemão).
Claro que com sua ascensão, ser ligado a um judeu é um perigo para Halder, que se vê aos poucos tendo que se afastar de seu amigo. Ele pergunta porque Maurice não sai do país se não há nada que o segure lá. "Eu nasci aqui." é a resposta que recebe. E quando Maurice percebe que realmente não há salvação, ele procura seu amigo para lhe ajudar. Para Halder, ajudá-lo é um perigo.
Viggo faz de seu personagem um homem meio ingênuo. Sua casa é uma bagunça, sua mulher uma relaxada, seus filhos super exigentes e ainda tem uma mãe com lapsos de memória. Apesar de ter um caso com outra mulher, com a qual acaba casando posteriormente, ele é uma boa pessoa. Ele realmente acha que nada de ruim pode acontecer com seu amigo. E quando se dá conta da realidade, pode ser tarde demais para ele conseguir sua redenção e tarde demais para a platéia se importar.
Se falta emoção para Halder em querer realmente ajudar seu amigo, falta emoção para todo o resto do filme, cujo cerne da história deveria ser esse. A apatia do personagem, apenas reflete a apatia que o filme tem. E falha ainda como relato histórico, a chamada Noite dos Cristais, que nunca vi retratada em um filme, pode facilmente passar despercebida para quem não conhece a história. Mesmo o assassinato de Von Rath (a desculpa que faltava para os alemães atacarem os judeus) não recebe a devida atenção.
Antes os nazistas eram maus e quase sempre só maus. Alguns filmes recentes mostram nazistas que eram bons (Operação Valquíria e O Leitor). Aqui, o nazista Halder não é nada, o que o faz não ser nem digno de nota. Uma pena.
Good. Ano: 2008. Duração: 96 minutos. Com: Viggo Moertensen, Jason Isaacs, Mark Strong e Jodie Whitaker. Direção: Vicente Amorim; Roteiro: John Wrathall; Música: Simon Lacey; Fotografia: Andrew Dunn; Edição: John Wilson.
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