quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

GÊNIO INDOMÁVEL


NOTA: 8,5.
- Você não deve a si mesmo, deve a mim. Não me leve a mal. Você é meu melhor amigo, mas se em 20 anos você ainda estiver morando aqui, indo pra minha casa assistir jogos e ainda trabalhando em construções, eu te mato. Não é uma ameaça, é um fato. Você está sentado em um bilhete de loteria, premiado, só não tem coragem de retirar o prêmio.

Sabe quando você assiste um filme com Matt Damon ou Ben Affleck e aparece que eles ganharam Oscar. Bem, Damon até foi indicado pelo seu papel neste filme, mas a verdade é que nenhum dos dois ganhou o prêmio por atuação. O Oscar que eles tem é pelo roteiro que escreveram a quatro mãos deste. Quem saiu com a premiação por sua atuação foi Robin Williams, que entregou um de seus melhores trabalhos e quando quer faz papéis memoráveis.
Interessante é que um dos melhores papéis do filme cabe a Stellan Skarsgard como professor Lambeau. Um dos menos badalados. Ele é um dos maiores nomes da matemática, estudou a vida inteira e ganhou prêmios por seu trabalho. Tudo isso pra descobrir que um faxineiro que não tem metade da sua escolaridade consegue resolver problemas que ele nunca irá conseguir. E com a maior facilidade. Mais doloroso ainda deve ser ver alguém com essa capacidade jogar tudo fora.
Para desafiar seus alunos, ele lança um problema num quadro, um problema que ele mesmo demorou dois meses para resolver. Na manhã seguinte, o problema está resolvido no quadro. Como nenhum dos alunos diz quem resolveu o problema, ele lança um segundo ainda mais complicado como forma de retaliação. Um que  ele mesmo levou mais de um ano para resolver. No dia seguinte pega Will resolvendo o problema no quadro.
Automaticamente fica claro que Will é um gênio da matemática, e Lambeau consegue livrá-lo da prisão de agressão a um policial em troca de resolver problemas juntos e análise uma vez por semana. Depois de passar por vários profissionais, Lambeau convence seu antigo colega de quarto da faculdade, Sean (Robin Williams), a orientar o garoto. O próprio Sean parece ser um talento que acabou arruinando a própria vida depois da morte da esposa.
O fato de Will ser um gênio não o torna muito diferente das outras pessoas. Ele tem amigos como Chuckie (Ben Affleck), Morgan (Casey Affleck) e Billy (Cole Hauser), e uma namorada, Skylar (Minnie Driver). Todos eles estão dispostos a ajudar Will. Todos sabem que ele tem talento e que somente precisa de coragem para vencer na vida.
A única coisa que o impede de ser tudo que ele pode ser, é ele mesmo. Violência doméstica e abandono o fizeram criar uma proteção contra todas as pessoas. Chuckie percebe isso, Skyler também. E essa se torna a maior questão a ser confrontada durante as sessões de terapia com Sean. Intelectualmente, este é o único que o desafia.
O filme tem a estrutura previsível. Sabemos o que vai acontecer, mas isso não importa muito. O que interessa são os indivíduos e como eles se relacionam. Tudo feito com grande sutileza. Há uma cena que Skylar diz para Chuckie que quer conhecer os irmãos de Will. Chuckie sabe que Will não tem irmãos. Percebemos que ele reage mas nada diz. Talvez por isso, ele se permita ser tão franco com Will. Alguém naquela relação tem que ser sincero.
Um belo filme com uma direção inspirada. Quando Gus Van Sant (o diretor) erra, erra feio, mas quando acerta o trabalho é ótimo. A dimensão que ele dá para os diálogos fazem o filme funcionar perfeitamente. A cena de discussão entre Will e Skylar não poderia funcionar melhor. É a valorização do texto. E este é um belo roteiro. Por isso seus atores foram para o estrelato depois disso. Com méritos.

OBS: Chukie vai para uma entrevista se fazendo passar por Will. O nome da empresa é Holden & McNeil. Holden McNeil é o nome do personagem de Affleck em Procura-se Amy.

2 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...