Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui.
NOTA: 9.
- Eu sei o que se sentir sozinho e sem ajuda de ninguém e ainda ter o mundo inteiro contra mim. São coisas que nenhum homem ou mulher deveria sentir.
Hitchcock começa a colocar em prática o que ele declarou anteriormente: pega um livro e o usa apenas como base para construir seu filme. Tanto é, que diversas cenas do filme não estão presentes no livro, como quando o herói vai parar em uma fazenda (onde ele confessa ter retirado a ideia de um conto), ou mesmo o personagem de Mr. Memory, um homem que responde qualquer pergunta sobre qualquer assunto que lhe for enderereçada.
É numa das apresentações de Memory que conhecemos o personagem principal, Hannay (Robert Donat). Ele é um canadense que está passando um tempo em Londres. Há uma confusão na platéia e tiros são disparados. Todos correm para fora e Hannay cruza com uma misteriosa mulher que lhe pede abrigo. No apartamento dele, ela lhe explica que é uma espiã e que está sendo seguido por outros espiões (dos tais "39 degraus). Ele não lhe dá muita atenção até que ela aparece na sua cama com uma faca enfiada nas costas.
Confuso, ele somente sabe duas coisas que ela lhe disse: uma é que sua vida agora está em perigo e outra é que ele deve ir para Escócia para tentar descobrir o que está acontecendo. Em seu caminho ele é perseguido tanto pela polícia, que acredita ser ele o assassino da mulher, quanto é caçado pelos espiões que acham que ele sabe demais. Um homem comum posto em uma situação terrível (tema comum nos filmes do diretor) que consegue escapar por muito pouco dos perigos.
O filme já apresenta um salto à frente em relação ao trabalho anterior de Hitchcock, que era O homem que sabia demais. Aqui, o filme é mais coeso e os atores parecem entender melhor o que ele espera do filme. Donat no papel principal, funciona tanto nas cenas de perseguição como nas de comédia, e seu par, Madeleine Carrol é doce o suficiente para nos importarmos com ela. Além das cenas muito melhor acabadas e emocionantes.
Truffaut destaca que é a partir desse filme, que o diretor começa a "maltratar" (usando a expressão que ele usa) os roteiros de seus filme. O que ele quer dizer na verdade, é do costume do diretor de não se preocupar com a verossimilhança em detrimento da emoção. Não importa como as coisas acontecem ou porque certas pessoas estão ali, o que interessa é que aquelas pessoas estejam lá e que as coisas aconteçam para que a história tenha não somente emoção, mas um ritmo indispensável para os filmes.
Mais interessante é quando eles conversam sobre críticos (o próprio Truffaut começou como um). Ele traça uma idéia interessante: quando o diretor se sente perseguido pelos críticos, ele se refugia na bilheteria. Mas ele diz que um diretor que faz filmes apenas pela bilheteria, deixa-se arrastar pela rotina. O que é muito ruim. Me fez lembrar de Michael Bay no lançamento de seu último filme. Ele declarou que os críticos são uns chatos. Que ironia, não. Para terminar, as palavras do próprio diretor:
"Nunca filmo uma fatia de vida porque isso as pessoas podem muito bem encontrar em casa ou na rua, ou até defronte da porta do cinema. Não precisam pagar para ver uma fatia de vida. Por outro lado, também afasto os produtos de pura fantasia, pois é importante que o público possa se reconhecer nos personagens. ... O drama é uma vida cujos momentos maçantes foram eliminados."
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