terça-feira, 29 de maio de 2012

SOB O DOMÍNIO DO MEDO - STRAW DOGS (1971)


NOTA: 5.
- Ok, vocês já se divertiram. Vou dar mais uma chance, e se não forem embora agora vai ter um problema de verdade. Falo sério. 

Sam Peckinpah era um diretor com tato para filmar a violência. Foi esse tato que o levou a realizar alguns grandes filmes com Meu ódio será sua herança e alguns estranhos (mas também muito bons) como Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia. A semelhança entre seus filmes é que geralmente a violência sempre parecia ser seletiva. Apesar de num tiroteio mulheres e crianças eventualmente serem atingidas, geralmente são pessoas com moral um tanto distorcido os alvos das balas.
Parecia que Peckinpah havia algo diferente a dizer no meio daquela violência. Hollywood tinha um código durante muito tempo que obrigava os filmes a recompensarem a justiça e punir as pessoas que agiram mal. Mesmo com o final desse código, faroestes continuaram seguindo o código. Em Meu ódio..., o diretor parecia querer quebrar o moralismo e fazer algo novo no cinema. Uma pena que o conceito vá por água abaixo ao descobrir esse filme que ele realizou depois mostrando a violência de forma abusiva num filme machista e ultrapassado mesmo para a época.
O filme se passa em uma pequena vila inglesa. Tão pequena que toda a população do filme parece ser o elenco. Um jovem matemático americano, David (Dustin Hoffman), se mudou para lá junto com sua esposa, Amy (Susan George), cujo pai tem uma casa naquele lugar. David quis se mudar para lá para escrever um livro sobre uma teoria matemática que não é explicada muito bem. Para todos os efeitos, o que interessa é que David é um intelectual.
Um bando de trabalhadores vão trabalhar na casa de David para consertar o telhado. Ele é diferente de todos eles, e todos parecem rir da cara dele o tempo inteiro enquanto trabalham. Isso quando trabalham. Um deles, Charlie, teve um caso com Amy antes e parece não gostar do americano. Talvez ele ache que David roubou uma mulher que deveria ter sido sua ou coisa do gênero. E talvez por isso eles começam a perturbar o americano de forma cruel.
Paralelamente, conhecemos a história de Niles e a filha de um homem que parece ser o mais cruel do pub. Niles parece ter algum tipo de doença mental e todos se preocupam quando ele se aproxima de alguma garota por conta de algum erro que ele cometeu no passado. Claro que eles vão se encontrar e algo vai dar errado, e por uma série de coincidências David acaba o atropelando e o levando para casa enquanto tenta encontrar um médico. O pai da moça se junta ao bando que trabalhava na casa de David para matar Niles, e David resolve tomar partido e fica encurralado lá dentro contra os invasores.
O problema do filme é que ele acaba sendo muito hipócrita. O personagem principal tenta agir de forma moralista, mas o que o diretor mostra durante todo o filme é um comprometimento com a violência. Todos os personagens em determinado momento parecem apreciar a violência, mesmo o personagem de David, que acaba parecendo estar tendo um moralismo barato, jogando qualquer intenção de mostrar o contrário pelo ralo.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

FLORES DO ORIENTE - THE FLOWERS OF WAR


NOTA: 7.
- O que você fez hoje te transformou em um herói.

É comum em filmes americanos que vejamos um grupo étnico realizando algo sob a supervisão de um branco. Um filme que escrevi anteriormente tem essa perspectiva: Tempo de glória, sobre um batalhão de soldados negros que são liderados por um branco. Vemos a história de todos esses homens apenas através do que o comandante nos apresenta. É comum em filme americanos, mas me surpreende ver esse tipo de perspectiva em um filme chinês.
O filme se passa durante uma grande atrocidade que aconteceu durante a guerra. Em 1937, o Japão invadiu a cidade de Nanquim, que era então a capital da China imperial. A invasão culminou em uma série de ataques, saques e assassinatos a civis, com números que podem chegar até a 300 mil mortos. Foram localizados 155 mil corpos, mas estes números não contam os queimados ou jogados nos rios. Pra piorar, os soldados japoneses caçavam mulheres e adolescentes para realizar estupros coletivos. Não é incomum que civis morram no curso da guerra, mas esse tipo de atrocidade vai muito além de ser um crime de guerra. A história é tão vergonhosa, que o governo japonês proíbe que ela seja ensinada nos colégios.
Pela primeira vez eu vejo um filme sobre o assunto, e o diretor Zhang Yimou (O clã das adagas voadoras e Herói) nos conta a história de um bêbado americano que trabalha como coveiro chamado John Miller (Christian Bale). No meio de tiroteios e explosões, ele chega para enterrar o padre de uma igreja católica, que teoricamente é um terreno neutro na guerra. Como na escola se encontram apenas crianças, incluindo um menino que ajudava o padre e as meninas estudantes, Miller resolve ficar por lá bebendo Whisky e dormindo em uma cama. Depois de sua chegada, se escondem ainda um grupo de prostitutas em  uma espécie de porão secreto debaixo do altar.
Miller começa o filme como apenas um bêbado incapaz de fazer alguma coisa, mas aos poucos, ele começa a se endireitar e durante um ataque de soldados japoneses interessados em estuprar as meninas, ele se veste como padre e coloca todas as mulheres sob a sua proteção. Apesar de não ser fisicamente capaz de proteger as meninas (os soldados não sabem que as prostitutas se encontram lá), o pensamento rápido dele e a ajuda de um oficial japonês que parece ser honrado consegue manter as meninas em segurança, até um determinado ponto. Miller deve conseguir fazer um caminhão da igreja funcionar para tirá-las do perigo. O plano, que não ouso revelar para não estragar surpresas, envolve a redenção de Miller e das prostitutas ao mesmo tempo.
Nesse ponto, um pensamento começa a me incomodar um pouco: fora dos muros da igreja, milhares (talvez milhões) de pessoas estão morrendo. Japoneses estão atirando em qualquer pessoa que apareça no caminho, mas parece que tudo que interessa neste filme é a redenção do americano bêbado e a salvação de um grupo de mulheres. Mais ainda, alguém consegue me explicar porque há a presença de um americano neste filme? Não poderia ser um padre chinês? Sequer sabemos o que ele está fazendo naquele país em guerra.
O filme é, como esperado de um filme de Yimou, um grande espetáculo. Incrivelmente fotografado, e usando o que acredito ser ótimos sets, especialmente a igreja e seus arredores. E o filme tem um bom elenco para nos segurar durante a projeção, incluindo um Bale que apesar de começar de forma desastrosa, cresce como o herói do filme, apesar de seu personagem faltar em profundidade e histórico. Uma pena que o plot central da história enfraqueça a força que o filme poderia ter.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

HITCHCOCK TRUFFAUT 35: PAVOR NOS BASTIDORES - STAGE FRIGHT (1950)

Para ler o que já saiu de Hitchcock Truffaut, clique aqui. 


NOTA: 7.
- Eu nunca espero ser apreciado. Sua mãe me curou desse problema.

Novamente, Hitchcock volta para um filme que constitui em um whodunit, como ele costumava chamar, mas havia alguns motivos para que ele fizesse isso. Um motivo é que o livro havia saído há pouco e alguns críticos escreveram que daria um bom filme de Hitchcock, fato que ele lamenta ter acreditado. Outro é que teve uma relação conturbada de trabalho com Ingrid Bergmen durante as filmagens do seu filme anterior, e procurava alguma coisa mais leve para o próximo trabalho. O último motivo, é que se interessou em fazer uma história sobre o teatro.
O filme foi um novo fracasso na carreira do diretor, que novamente se encontrava em uma situação delicada ao acumular dois fracassos seguidos. Dessa vez o filme não chega a ser ruim como foi na ocasião anterior, mas realmente parece um filme um pouco abaixo da média para ele. Hitchcock parece mais interessado nas cenas individuais do que no filme como um todo. Há vários momentos interessantes, mas falta um pouco de coesão na edição final ou mesmo um tempo menor de filme.
O mundo do teatro londrino é realmente um fascinante cenário onde uma estudante de atuação se disfarça de ajudante de uma grande atriz, Charlotte Inwood (Marlene Dietrich), para descobrir a verdade sobre a morte do marido dela. A intenção dela, é ajudar seu amigo que tinha um caso com a famosa atriz que está sendo procurado pelo assassinato. Normalmente, esse tipo de argumento causaria uma perseguição, mas aqui a história não chega realmente a decolar.
Depois do lançamento do filme, Hitchcock foi duramente criticado por começar o filme com um flashback que depois acaba se revelando uma mentira. Não acredito que hoje esse tipo de artifício causaria qualquer tipo alvoroço, pior já foi feito com resultados menos interessantes. Funcionando ou não, pelo menos o diretor tentou um artifício diferente.
O que ninguém pode negar é que este filme tem um dos melhores elencos que o diretor já teve em um filme seu. Repleto de talentos ingleses, brilha mais ainda a estrela alemã de Marlene Dietrich. Mesmo com menos tempo em tela que Jane Wyman, a atriz não precisa de muito para mostrar porque é uma das grandes estrelas do cinema. Como Hitchcock diz na entrevista: "Quanto mais perfeito o vilão, mais perfeito será o filme". E a vilã de Dietrich é fantástica mesmo em um filme mediano.
O grande problema mesmo do filme é a falta de tensão que costumamos ver nos filmes do diretor. Ele mesmo reconheceu que percebeu isso durante as filmagens, mas não havia mais nada que pudesse fazer. Nenhum dos personagens parece estar em perigo em nenhum momento, o que não faz com que acompanhá-los se torne muito interessante. Fica mais de curiosidade do que por qualidade.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

GUERREIRO - WARRIOR


NOTA: 8.
- Você está tentando? Agora? Onde você estava quando importava? Eu precisava disso quando era garoto, não agora. Agora é muito tarde. 

O chamado MMA (sigla para "artes marciais mistas") é o esporte que mais cresce no mundo, fazendo com que seus lutadores tenham grande popularidade. O brasileiro Anderson Silva até mesmo ganhou um filme lançado há pouco tempo. Por isso não é uma surpresa que se lance um filme sobre esse esporte, a surpresa é que o filme chegue com três peças importantes no seu clímax com uma lógica e história envolventes. História que lembra grandes clássicos de luta como Rocky, mas dessa vez envolvendo uma família tumultuada.
Por cerca de uma hora, o filme desenvolve a histórico e motivação de seus personagens. Os protagonistas são Brendan (Joel Edgerton) e Tommy Conlon (Tom Hardy), dois irmãos que há muito não se veem por conta de problemas com o pai, Paddy (Nick Nolte). Ambos eram lutadores quando mais novos treinados pelo pai, e hoje Brendan é um pai de família com dívidas e Tommy é um ex-fuzileiro desempregado. Os dois chegam à conclusão de que devem lutar para conseguir dinheiro.
Claro que assim que essa premissa se estabelece, sabemos que Brendan e Tommy vão se encontrar no ringue. O interessante não é esse fato em si, mas sim o fato que o filme não toma partido de nenhum lado, o que nos impede um pouco de também ter alguém por torcer mais ou menos. Nós conhecemos e entendemos os dois personagens, sabemos suas motivações e emoções para que cada um aja do jeito que agem. Eles podem até mesmo se odiarem pelo que aconteceu pelo passado, mas nós acabamos torcendo por todos eles.
O fato é que quando eram crianças, Paddy era um alcoólatra tão violento que a mãe deles resolveu fugir. O plano era que ela fugisse com os dois filhos, mas Brendan não foi junto por causa da então namorada e que hoje é a sua esposa. Tommy, mais novo, teve que cuidar da mãe e vê-la morrer sozinho, sem ninguém para lhe auxiliar, seu irmão ficou sozinho aturando o pai, e Paddy considera que foi abandonado e hoje comemora seus mil dias sóbrio no AA. 
Todos parecem ter os seus motivos, e suas histórias são ainda entrecortadas outras secundárias de personagens ligados aos protagonistas, incluindo Paddy, a mulher de Brendan (Jennifer Morrison) e o treinador. Há também a mulher de um amigo de Tommy, o que envolve um segredo sobre o passado de guerra dele que é melhor não revelar. 
E apesar de contar todas as histórias, o diretor Gavin O´Connor também não deixa de explorar o esporte. As lutas são coreografadas com grande energia e violência, e acabam sendo lutas boas como é difícil de vermos nas competições de verdade. Mas o melhor mesmo é que as lutas não parecem gratuitas em momento nenhum, porque toda a história tem como alicerce personagens de verdade. E melhor ainda, um filme de luta onde o espectador tem dificuldade de escolher por quem torcer. Eu não queria que nenhum dos dois perdesse. É um tipo de complexidade que engradece muito o filme, e o diferencia dos demais.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO - WE BOUGHT A ZOO


NOTA: 6.
- Sabe? As vezes o que você precisa é de vinte segundos de coragem insana. Literalmente vinte segundos de uma coragem embaraçosa, e eu prometo que algo ótimo virá.

Neste filme, Matt Damon interpreta Benjamin Mee, um viúvo pai de dois filhos que acaba comprando um zoológico. Realmente existiu um Benjamin Mee na Inglaterra que comprou o zoológico de Dartmoor que fechou em 2006. Adaptando essa história, o que o diretor e roteirista (de Jerry Maguire e Quase famosos) fez, foi simplesmente jogar os Mees, com a exceção da esposa, para os Estados Unidos e segue a fórmula básica de roteiros.
Não é um filme desprovido de charme, ele tem os seus trunfos. O Mee de Damon com certeza é um ponto forte do filme. Ele é capaz de fazer ao mesmo tempo um sujeito teimoso que se mete em uma confusão sem saber como sair dela, mas ao mesmo tempo é extremamente agradável. Scarlett Johansson também consegue fazer um bom trabalho, apesar de sua personagem eventualmente ter que se interessar romanticamente por Mee simplesmente porque isso está no roteiro. Os demais personagens, porém, não parecem existir além do fato de que o zoológico necessita de outros empregados. Temos até Patrick Fugit, o eterno herói de Quase famosos, que anda para cima e para baixo com um macaco no ombro. Talvez uma tentativa desesperada de fazer com que seu personagem seja interessante se não aparecer sem o animal.
Como descobrimos no início do filme, Mee ainda está de luto pela morte da mulher enquanto tenta criar seus dois filhos. Rosie é uma adorável criança de 7 anos típica de filmes onde a criança é um adulto em corpo infantil. Dylan é o mais complicado, e depois de uma série de problemas no colégio, acaba sendo expulso por ser pego roubando. Decidido a mudar de ares, Mee começa a procurar uma nova casa, e na busca sua filha se apaixona por uma afastada da cidade. A pegadinha? Era um antigo zoológico particular, e quem comprar a casa terá que assumir também os cuidados dos animais.
Comprar um zoológico não parece ser uma coisa que venha na cabeça de uma pessoa, tanto que seu irmão e contador, Duncan (Thomas Haden Church), lhe sugere que não compre. Assumir o zoológico implica nas despesas da propriedade, funcionários e os custos pra manter os animais. Talvez um milionário pudesse assumir esse tipo de risco, mas poucas pessoas "normais" poderiam. Não adianta, Mee viu os olhos da filha naquele lugar e sabe que é onde ela pode voltar a ser feliz.
Os funcionários tem que ter paciência com Mee, que tem muito a aprender. Em especial Kelly (Johansson) e MacCready (Angus Macfadyen). Outros como Lily (Elle Fanning) estão felizes com a situação, ainda que sua personagem só exista para ser o segundo romance que temos no filme. Quem não tem paciência com Mee é Walter Ferris (John Michael Higgins), o inspetor sacal que dará o alvará ou não do funcionamento do parque. O motivo para ser tão chato é que Mee e seus empregados devem conviver com prazos e novas regras para funcionar. Basicamente, ele é um gerador de crises para o filme.
Talvez melhorasse um pouco se os animais estivessem mais envolvidos no filme, mas isso nunca acontece. Eles estão sempre isolados dos humanos e pouco acrescentam ao filme. Os amantes de animais poderiam adorar se eles não parecessem meros animais de zoológico. Crowe fez bons filmes na sua carreira, mas ultimamente parece se contentar com filmes que seguem à risca a cartilha de roteiros, oferecendo uma história previsível e sem muita energia. 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A SEPARAÇÃO - JODAEIYE NADER AZ SIMIN - A SEPARATION


NOTA: 10.
- O que é errado é errado, não importa quem disse ou onde está escrito.

Este é o tipo de filme onde não há vilões. Não há ninguém fazendo alguma coisa para propositadamente prejudicar outra pessoa ou mesmo fazendo alguma coisa errada. Você pode até não concordar com a atitude de algum personagem, mas a verdade é que todos os personagens importantes estão apenas tentando levar suas vidas da melhor forma possível, dentro dos limites da mesma religião. O problema é que a melhor forma de levarem suas vidas nem sempre está em harmonia e eles acabam tendo que resolver suas diferenças perante um juiz. 
O filme se passa no Irã dos dias de hoje, uma cidade que está se modernizando mas que ainda tem que viver sob o rígido regime do islamismo. O filme não critica a religião ou qualquer coisa do gênero, mas nos mostra como a inflexibilidade pode frustar algumas pessoas algumas vezes. A verdade é que em qualquer lugar as pessoas podem ficar frustradas com as leis ou religiões que seguem, e aqui não é diferente.
Começamos em uma casa de classe média em Teerã, onde vivem o casal Nader e Simin, junto com a filha dos dois, Termeh, e o pai senil dele. Eles haviam concordado em se mudar do país e Simin está pronta e ansiosa para partir onde Termeh talvez consiga ter um futuro melhor, mas Nader não quer se mudar para poder tomar conta do pai. 
Aqui já encontramos a primeira diferença de pontos de vista. Simin diz que o velho não reconhece o próprio filho e que a presença dele não vai fazer diferença alguma, mas Nader responde que ele o conhece. Em cada ponto de vista, os dois estão com razão, mas Simin se muda para a casa da mãe e dá entrada com um pedido de divórcio, ainda que ambos queiram permanecer casados. Nader contrata uma mulher, Razieh, que mantém a natureza do seu trabalho em segredo do marido, Hodjat, um mulçumano que jamais permitiria que ela trabalhasse na casa de um homem separado da mulher.
A trama complica quando Nader chega em casa um dia e encontra seu pai desacordado e amarrado a uma cama. Ela teve um bom motivo para fazer o que fez, mas ele não sabe disso e nem nós. Ele a demite e a expulsa da casa, o marido dela acaba processando Nader por achar que ele é culpado pelo aborto que ela acabou tendo e todo o caso acaba diante de um juiz. Juiz que sempre tenta manter a mente aberta e parece ser justo, mas realmente não tem uma tarefa fácil.
O diretor e escritor, Asghar Farhadi, conta a história da maneira mais neutra que pode. Talvez possamos não concordar pelo rumo que a história toma ou mesmo com a decisão do juiz que não é igual ao que sentimos, mas pelo sabemos porque essas decisões estão sendo tomadas. Ele consegue fazer com que tenhamos empatia pelos personagens, e mesmo o mais estourado Hodjat pode ser compreendido. Ele ainda tem a ajuda de um elenco maravilhoso em suas mãos, capaz de nos fazer acreditar em toda a história e em tudo que está acontecendo.
É um filme que nos mostra de forma brilhante como está a vida no Irã de hoje, longe de mostrar as "barbáries" que ouvimos falar, como as punições severas para adultério ou roubo. O que temos são personagens que estão apenas tentando fazer a coisa certa, cada um a seu jeito. Leis e regras são criadas a partir de situações hipotéticas que possam acontecer nas nossas vidas, mas aqui vemos que é difícil falar de lei quando estamos lidando com sentimentos humanos. Nem tudo pode ser calculado.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

GATO DE BOTAS - PUSS IN BOOTS


NOTA: 6.
- Tudo que eu preciso, são as botas.

Depois de servir de coadjuvante para Shrek em alguns filmes, agora que o ogro parece ter cansado as plateias chegou a hora do Gato alçar carreira solo. Muitos provavelmente irão dizer que já era hora, e para esses o filme vai ser uma boa surpresa que agrada tanto no visual quanto na parte da ação. E mesmo quando as cenas de ação não chamam tanta atenção, visualmente o filme nunca deixa de ser interessante e filme até mesmo supera os filmes do ogro.
Obviamente, temos a volta de Antonio Banderas dublando o gato mimado com delírios de grandeza, que seguindo o exemplo dos outros filmes que participou, se junta Humpty Dumpty (Zach Galifianakis), Jack (Billy Bob Thorton) e Jill (Amy Sedaris) e a mãe ganso dos ovos de ouro, sem contar a habilidosa ladra Kitty Pata Mansa (Salma Hayek) que perdeu suas garras mas desenvolveu uma incrível habilidade de roubar as pessoas sem que elas percebam. 
Apesar de o filme parecer mais bonito, a verdade é que o personagem do Gato de Botas não é tão memorável quanto Shrek. Ele tem seu charme, mas a verdade é que sequer consegue ser atraente como o Burro. Talvez por isso, a história pareça tão improvisada e não impressione muito. O personagem do Ovo Humpty Dumpty, que começa como amigo do Gato e depois se mostra inimigo, é de longe o personagem mais complexo, e também o mais interessante.
Os dois se conheceram no orfanato e se tornaram melhores amigos. O Ovo já tinha seus planos de conseguir os feijões mágicos que o levariam pra grandes riquezas quando crescessem e o levasse para roubar os ovos de ouro, mas uma traição acontece e eles somente se encontram anos depois para formarem novamente um time.
Diferente dos filmes de Shrek, o Gato de Botas não tem uma personalidade tão clara quanto nos filmes do ogro. Acaba se envolvendo em uma história de vingança e perdão que não ressoa como deveria. Ainda que agrade pelo apuro visual, o filme carece da malícia com que o roteiro de Shrek tinha. Gato de Botas é direcionado para um público mais jovem, com certeza, e isso não é desmérito algum. Só faltou um pouco para ser um melhor filme.

terça-feira, 8 de maio de 2012

ANJOS DA LEI - 21 JUMP STREET


NOTA: 8.
- Eu sei o que estão pensando: capitão negro e nervoso. Adivinhem? Eu sou negro a ralei muito pra ser capitão. E algumas vezes eu fico um pouco nervoso. Então me chupa.

Esse filme é baseado em uma série que foi ao ar durante o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Lembro de ter assistido ao longo de minha infância mas tenho poucas recordações dela. O que me veio em mente, é que tirando o fato de ser uma série que revelou Johnny Depp, não há muito do que lembrar. Aproveitando o fato de não parecer ter uma grande demanda, aproveitaram o plot da série, abandonaram uma fidelidade à ela e transformaram em uma boa comédia. 
Acompanhamos a velha fórmula da estranha dupla, que aqui são Schmidt (Jonah Hill) e Jenko (Channing Tatum). Eles estudaram no mesmo colégio, onde Jenko era um garoto popular e Schmidt o nerd que ele humilhava. Eles se encontram anos depois na academia de polícia, exceto que dessa vez se unem para conseguir passar pelos exames. Um ajudando na parte física e outro na parte teórica. O filme não gasta muito tempo explicando a relação dos dois, sabemos apenas o suficiente.
Depois de um começo nada promissor patrulhando parques de bermuda e andando em bicicletas, eles conseguem efetuar uma prisão, mas como fazem tudo errado o meliante é solto imediatamente. Beirando a incompetência, eles são mandados para trabalhar infiltrados. E por parecerem novos, trabalham infiltrados dentro de um colégio onde está sendo distribuída uma nova droga responsável pela morte de um dos alunos. Seu capitão é Dickson (Ice Cube), que não parece acreditar que nenhum deles possa servir para alguma coisa.
Geralmente, os alunos de colégio parecem ser muito velhos para ainda estarem estudando. E aqui não é diferente. Apesar do capitão achar que eles parecem adolescentes, a verdade é que eles realmente parecem mais vellhos. A vantagem do filme é usar o fato para brincar com a situação. Não apenas o roteiro brinca com a impossibilidade de eles se passarem por adolescentes, como há várias piadas contra os próprios personagens. Até mesmo, quem poderia imaginar a dupla se passando por irmãos?
A confusão começa quando eles trocam as identidades um do outro. Cada um tinha suas aulas marcadas de acordo com a personalidade deles, e cada um terá agora que se virar fora de seus ambientes naturais, seja Jenko tendo aulas de química avançada ou Schmidt tendo aulas de teatro interpretando Peter Pan (o que além de parecer não ter a idade apropriada, também não parece ter o peso certo). Os dois terminaram o colegial de maneira insatisfatória e agora terão uma segunda chance.
Infelizmente, este é um filme de comédia com ação, o que faz com que tenha que ter cenas de ação. Infelizmente, porque o que costumamos ter em filmes desse porte são cenas de ação pouco interessantes. Existem algumas exceções, mas não é este o caso. Mas tirando essas cenas, o resto do filme funciona muito bem. O mais importante é que ele é um filme muito engraçado. No geral, acabou sendo um filme muito melhor do que achei que seria.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

OS VINGADORES - THE AVENGERS


NOTA: 8,5.
- Havia uma ideia de juntar pessoas extraordinárias, de modo que, quando precisássemos, eles poderiam lutar as lutas que nunca conseguiríamos.

Geralmente, o que acontece em filmes de super-heróis é que eles não parecem existir além do seu próprio universo. Uma das armas da Marvel para dominar os cinemas, foi criar filmes de personagens em grande velocidade, e ao contrário do usual, esses heróis existem no mesmo tempo espaço que os demais, e pouco a pouco eles foram sendo encaixados nos filmes uns dos outros. Embora fossem tratados em filmes individuais, tudo era apenas uma estratégia para juntar os heróis em um único filme.
Muito esperado pelos fãs, se juntam Homem de Ferro (Robert Downey Jr), Thor (Chris Hemsworth), Capitão América (Chris Evans) e Hulk (Mark Rufallo, fazendo sua estreia como o herói) junto com outros dois que tiveram participações em alguns filmes desses heróis citados: Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e Viúva Negra (Scarlett Johansson). Todos tem poderes diferentes. O Hulk e o Homem de Ferro são pessoas muito inteligentes mas sem poderes, até um ficar zangado e o outro vestir uma (super) armadura. Thor é um semi-deus com um poderoso martelo e o Capitão tem força e habilidades ampliadas além de um escudo multi-uso. Um pouco deslocados estão a Viúva e o Gavião, que não tem super-poderes mas parecem estar em boa companhia.
A razão de todos eles se unirem é Loki (Tom Hiddleston), meio-irmão de Thor que fez um acordo com uma estranha raça alienígena que pretende aniquilar a vida na Terra. Eles se consideram tão superiores que sequer cogitam que podem estar cometendo uma atrocidade. Seria como culpar um humano por ter matado formigas ou algum outro inseto. Não chega a ser pessoal, o único motivo de escolherem a Terra é por causa de um cubo chamado Tesseract que está no nosso planeta. O acordo é que essa raça dá a Loki um exército e depois que tudo estiver dominado Loki será o governante do que restar. Tirando que o cubo funciona como uma porta para diferentes pontos do universo, não sabemos onde Loki vive, o que são esses estranhos alienígenas ou como suas máquinas funcionam, o que acaba estragando um pouco o final do filme.
Nick Fury (Samuel L. Jackson) une os heróis para lidar contra a ameaça, mas a união faz com que antigas rivalidades venham à tona. Eles só conseguem aprender o valor do trabalho de equipe depois de alguns discursos pouco inspirados sobre nobreza. E claro que isso somente acontece depois de muitas lutas entre eles. Tantas lutas que a partir de um certo momento comecei a sentir que já tinha passado o momento de se unirem e enfrentarem a verdadeira ameaça.
Uma pequena crítica que fazia aos filmes dos heróis em suas aventuras solo, é que os filmes não se arriscavam e faziam o feijão com arroz, entretinham com qualidade mas em alcançar a excelência. Era como se não quisessem arriscar que algum filme pudesse dar errado. Talvez tudo estivesse sendo guardado pra este filme, mas não senti ser realmente esse o caso. O que parece é que o filme é muito similar aos outros, a diferença é que nos dá muito mais do mesmo. 
Os fãs dos heróis vão adorar o filme. Ou como foi descrito por alguns: "terão orgasmos múltiplos". As cenas finais da batalha são repletas de cenas de ação e efeitos especiais que destroem metade da cidade de Nova York. Sem precisar contar as origens dos personagens, Joss Whedon (roteirista e diretor do filme) começa mostrando na dose correta o suficiente para conhecermos os personagens (levando em conta que ninguém tenha assistido aos outros filmes) e dirige o filme com energia e estilo, provavelmente entregando o que os fãs querem. Mas ainda ficou faltando um pouco para ir além. Certinho demais, a trama enfraquece um pouco o filme, assim como o final é um pouco frouxo, e, por nos negar conhecer o mínimo dos atacantes, acaba de maneira um pouco frouxa. Nada que vá estragar o prazer de assistir o filme, seja você fã ou não.
PS: As exibições também estão sendo feitas também em IMAX 3D. O 3D é convertido e não acrescenta nada ao filme. Além disso, há uma cena no meio dos créditos.
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