quinta-feira, 29 de março de 2012

O LORAX: EM BUSCA DA TRÚFULA PERDIDA - DR. SEUSS'S THE LORAX



NOTA: 5.
- Então você quer saber sobre o que aconteceu com as árvores? Eu pensei que ninguém mais se importasse.

Hollywood sempre foi famosa por "atualizar" as histórias que conta nas telas. Em Watchmen o final foi mais moderno. Em alguns casos a mudança é ainda mais radical, como em uma versão de Moby Dick onde Ahab conseguia matar a baleia e voltar para os braços de sua amada. Mas em nenhum caso eu me lembro de os realizadores terem se desculpado pelas mudanças. Aqui, começamos com uma estranha criatura chamada Lorax (Danny DeVito) dizendo: "Tem mais nesta história do que se encontra nas páginas". Bem, ele nos avisou, não?
Apesar de manter a moral da história, de fundo ecológico, o filme acrescenta muitas outras coisas que o autor não havia colocado em suas páginas. E talvez tenha tido um motivo para que ele não tenha colocado essas coisas: a maioria do que foi posto não é um material muito bom, e outra parte simplesmente não se encaixa muito com o espírito das histórias de Seuss.
Começamos com o fato de apesar de Lorax abrir o filme e dar nome a ele, não ser nem de perto o protagonista da história. Muito pelo contrário, é um personagem coadjuvante com pouquíssimo tempo em tela. O personagem principal é Ted (Zac Efron), que tem que ser uma criança esperta pra ver se desperta interesse nas plateias. Ele é apaixonado por uma menina, Audrey (Taylor Swift), que gostaria de ver uma árvore, por isso o garoto sai da cidade de Sneedville para tentar encontrar uma, já que não há uma muda sequer no lugar.
Apesar de protagonizar o filme, o garoto era apenas apenas mencionado no livro. Para preencher mais tempo em tela, personagens devem ser criados, mas nenhum deles aqui é agradável. Especialmente Ted, uma dessas crianças de filme que são praticamente adultos. Esse irritante ser é quem acompanhamos por uma terra estranha onde encontra Umavez-ildo (Ed Helms) e ouve a história de como as árvores deixaram de existir. Isso com a ajuda de uma vó legal (dublada por Betty White) e contra um grande e influente empresário que quer impedí-lo, Sr. O'Hare.
Uma coisa me intriga: já que há uma modernização do filme e um personagem é acrescentado para buscar a verdade fora da cidade, por que não pode ser a menina interessada por árvores? Não seria mais interessante atenuar o tom sexista (infelizmente, umas das autênticas marcas do autor) da história? Isso, e tudo que grita a vontade do filme em ser pop, como temas de Missão impossível, seres que parecem os Minions que fizeram sucesso em Meu malvado favorito e Taylor Swift, tudo isso apenas faz o filme soar bobo e sem conteúdo.
É somente quando o menino ouve a história contada em flashback, que o filme se aproxima do seu material original. Uma pena que isso não é o foco do filme, que está mais preocupado em ser cool do que qualquer outra coisa. Umavez-ildo corta as árvores para fazer um produto que ninguém precisa mas todos querem. Há uma forte metáfora aqui que se encaixa, tão ou mais, perfeitamente nos dias de hoje assim como a questão ecológica, mas o filme não parece interessado em explorar qualquer coisa além.

quarta-feira, 21 de março de 2012

ENROLADOS - TANGLED


NOTA: 8.5.
- Alguma coisa te trouxe aqui, Flynn Rider. Chame como quiser: destino...
- Um cavalo.

Assistir ao novo desenho da Disney, não ligado à Pixar, é como assistir aos bons e velhos filmes da casa do Mickey com um gostinho de modernidade. Sim. O filme me lembra muito aos antigos e bons desenhos que assistia, seguindo quase a mesma fórmula. Mas ao mesmo tempo, sentimos um frescor de novidade, que não fica apenas no estilo de animação moderna por computador que se faz hoje em dia. Não uma releitura, mas uma modernização.
Começa pela arquitetura, com um castelo que vai lembrar muitos outros de várias histórias de princesas anteriores, onde podemos até mesmo reconhecer a torre onde Rapunzel fica. Temos também os personagens clássicos, como a princesa cercada de animais com emoções distintas. Aqui seriam um camaleão e um cavalo. Ainda assim, temos um ritmo mais acelerado e cores mais vibrantes para dar nova vida ao antigo.
Isso é no mínimo um ambiente agradável para visitarmos. E acreditem, isso quer dizer muita coisa. Para quem não lembra, só depois de muito tempo a Disney volta a lançar bons filmes em sequência, depois de uma "era negra" com Chiken Little e demais filmes dessa época. Mas ainda que tenha lançado bons filmes antes desse, eles não pareciam ter a essência da Disney. É esse filme que parece finalmente resgatar o espírito da antiga produtora.
Como grande parte dos desenho de hoje, começamos a história ouvindo uma voz meio esperta, meio malandra contando a história da infância de Rapunzel (Mandy Moore), que é uma princesa raptada e criada como filha por uma bruxa que quer se manter jovem, ela é chamada de Gothel. A voz é do ladrão Flynn Rider (Zachary Levy), que rouba uma jóia e vai encontrar a princesa perdida em sua torre sem portas. Um lugar aparentemente perfeito para se esconder.
Para seu azar, ele é nocauteado por Rapunzel que esconde sua jóia roubada. A troca é simples: ela quer sair da torre pela primeira vez para ver uma luzes que surgem no céu no dia do seu aniversário todo o ano. Ela sequer pisou fora da torre, por isso Flynn deve servir de guia nesse estranho mundo que ela não conhece. Quando ela voltar para casa devolve os "pertences" do rapaz. Claro que nessa aventura terão perseguições e emoções além da aproximação do casal. Tudo como manda o roteiro.
Um ponto interessante é Gothel. Disney tem muitas madrastas, mas nenhum me lembrou essa aqui. Não é uma relação simples entre as duas. Rapunzel a ama, afinal ela acredita que esta seja sua mãe, e Gothel sabe que deve cultivar esse amor de alguma forma para não perder a sua "fonte da juventude". Uma relação das mais interessantes das que costumamos ver em quadrinhos.
Para finalizar, somos presenteados com cenas de muita emoção e de tirar o fôlego de tão lindas. Sei que vai ficar repetitivo, mas é exatamente o que a Disney costumava fazer: nos maravilhar com as mais lindas cenas, como a das lanternas subindo no céu no aniversário de Rapunzel. É um uso maravilhoso da nova tecnologia aliado na melhor tradição que ela já teve. Apesar da história um pouco batida, é um prato cheio pros fãs de ontem e hoje.

terça-feira, 20 de março de 2012

GUERRA É GUERRA - THIS MEANS WAR

NOTA: 2.
- Eu vou direto pro inferno.

Sabe quando você está assistindo um filme tão ruim que de repente começa a despertar um certo interesse? Que acabamos chamando depois de "tão ruim que fica bom"? Não é o caso desse filme. Ele é ruim suficiente para ser um filme ruim, e nada além disso. Não sou fã de comédias de ação, mas piora muito a situação quando nos deparamos diante de uma comédia de ação incompetente. Basicamente, aqui ele falha tanto nas cenas de ação quanto nas cenas de comédia.
É a história de uma mulher um tanto irritante, Lauren (Reese Whiterspoon), que começa a namorar dois agentes secretos da CIA. Não apenas isso, eles são melhores amigos de muitos anos que trabalham em mesas um de frente pro outro. Que coincidência hilariante, não? E só fica melhor: ela os conheceu por conta de um site de relacionamento onde sua melhor amiga fez um perfil para ela.
Talvez fosse compreensível se fosse um filme feito com adolescentes, mas não é esse o caso. Todos os atores estão na faixa dos 30 anos, e eles parecem ter seus 30 anos. Pra começar, nessa idade eles já deveriam ter mais cuidado para não cair em armadilhas como esse filme. Seguindo, apesar de todas as coincidências (im)possíveis, que os dois espiões se apaixonem à primeira vista por Whiterspoon é pedir demais. Ela é uma gracinha sim, mas exalar um forte sexy appeal ao estilo Marilyn Monroe, não é uma das suas qualidades. Guerras já começaram por mulheres, mas geralmente elas eram tão bonitas quanto Helena de Tróia.
Claramente, seria mais fácil para mim acreditar que ela pudesse servir de conselheira amorosa para os dois. Ao contrário do que outros filmes com grandes amizades mostravam, o que temos aqui é um casal homossexual em uma paixão não declarada um pelo outro. FDR Foster (Chris Pine) e Tuck (Tom Hardy) não fazem nada longe um do outro, incluindo as cenas de ação de gosto duvidoso com os dois.
Basta analisarmos bem. Cada um usa milhões de dólares em equipamentos de vigilância da CIA (o que só deveria aumentar a graça do filme, pelo visto). O que eles fazem? Eles observam as fitas de vigilância juntos pra saber o que ela está fazendo quando não está com nenhum dos dois. Aonde alguém pode observar qualquer disputa hétero entre os dois?
Sem contar que personagens neste tipo de filme tendem a viver melhor que seus salários podem ser capazes de pagar. Está certo que não faço ideia de quanto a CIA paga, mas duvido que seja o suficiente para ter um apartamento cujo teto dê para o fundo de sua piscina particular. Sem contar que o nome de um deles é FDR. Talvez ele tenha esse nome porque o filme é dirigido por McG. Já este, ainda está devendo um filme que justifique sua contratação.

segunda-feira, 19 de março de 2012

PROTEGENDO O INIMIGO - SAFE HOUSE


NOTA: 7,5.
- Lembre-se da regra número um: Proteja seu convidado. Eu sou seu convidado.

Denzel Washington está chegando na casa dos 60 anos, e se está envelhecendo não demonstra nas telas de forma alguma. Continua ano após ano a fazer grandes filmes e blockbusters. E aqui, ele corre, ele bate e atira um pouco. Depois ele repete tudo de novo como se fosse fácil. E mais ainda: de forma elegante e impecável. Ele é Tobin Frost, um ex-agente que está sendo caçado. Pode não parecer muito interessante, mas Washington faz um trabalho tão bom que parece que podemos acreditar em qualquer coisa que ele faça.
Mais pela interpretação dele do que pelo roteiro, Frost é um mistério a ser revelado. Terá ele traído seu país ou não? Essa é a questão que ele carrega pelo filme. Desde o momento em que se deixa ser capturado e é levado para uma "casa segura" que é guardada por um agente novato que ainda não foi posto à prova, Matt Weston (Ryan Reynolds). Alguém quer Frost morto, e depois de tentarem matá-lo nas ruas eles chegam até essa casa que tem localização desconhecida por quase todo mundo. Poucos sabem a localização, menos ainda saberiam que Frost estaria lá dentro.
Como grande parte dos diretores de ação modernos, Daniel Spinosa tende a fazer cortes rápidos entre duas cenas, e em algumas partes entre até quatro cenas diferentes. Na maioria das vezes, isso pode fazer com que o filme vire um caos. Talvez pelo talento de Spinosa ou de seu editor, Richard Pearson (que entre outros filmes trabalhou em A supremacia Bourne, o filme consegue se manter com uma narrativa coerente. Sem fazer com que percamos noção do tempo ou do espaço onde a ação toma lugar.
Ao mesmo tempo, talvez por influência do mesmo, o filme parece querer dar impressão de ser uma espécie de sucessor de Bourne. Neste caso, talvez até mesmo o roteirista, David Guggenheim (que assim como o diretor, tem aqui seu primeiro grande trabalho de sucesso) tenham tido um pouco de culpa. De qualquer forma, aqui temos uma história que nos parece mais familiar do que grandes conspirações envolvendo grupos secretos de agências do governo. 
Isso porque o filme é muito mais simples. Essencialmente, é um de perseguição e tiroteios com um elenco muito inspirado. Mas é Washington que serve de âncora para todo o filme. Quando ele está na tela, tudo parece tomar uma importância maior. Seguido por um Reynolds que segue em altos e baixos na sua carreira, mas que aqui traz uma vulnerabilidade ao personagem que o deixa bem interessante. É seu personagem que deve desvendar o mistério.
O filme deve ganhar bastante atenção pelas cenas de ação, sejam elas em espaços pequenos ou abertos. Mas é o trabalho com os atores que deixa o filme mais interessante. Incluindo nomes que não citei, como Brendan Gleeson, Vera Farmiga e Sam Shepard. Com um belo trabalho de fotografia (Oliver Wood, também de Bourne), o filme nos prende do início ao fim. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN - WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN


NOTA: 9.
- Eu costumava achar que sabia porquê. Agora já não tenho mais certeza.

Novamente, Tilda Swinton consegue uma interpretação brilhante à frente de um filme. Ela é a protagonista onde vemos a mente de uma mãe que vive ás voltas com o fato de ter tido um filho psicopata. Talvez a culpa não tenha sido inteiramente dele, já que ela não parece ter tido a vontade de ficar grávida e sequer sabe se quer continuar casada com Franklin (John C. Reylly, também ótimo). Ela não faz ideia de como é ser mãe e disfarça sua hostilidade atrás de uma falsa delicadeza.
O filme se move de forma fragmentada pelo presente e diferentes tempos passados dessa mulher chamada Eva (a própria Swinton). Não parece haver um padrão para as indas e vindas, mas aos poucos a confusão vai esclarecendo a história e começamos a montar o quebra-cabeça. É o cabelo de Eva em diferentes tamanhos que faz com que possamos montar melhor essa história. Em uma das primeiras cenas ela é agredida sem nenhum motivo aparente, mas logo começamos a juntar os pontos.
A verdade é que não há motivo para o filme seguir uma ordem cronológica. Duvido que ele fosse fazer mais sentido dessa forma. A forma como a vida de Eva se desenrola não parece fazer sentido, não importa que ordem ela siga. Ela sequer está no centro das coisas que acontecem à sua volta, ela apenas paga o preço pelo que seu filho realizou. Kevin cresceu sádico, e parece fazer tudo de forma instintiva. Ele sabe o que fazer para que sua mãe sofra.
Kevin aparece em três estágios de crescimento. Ainda muito pequeno, ele parece apenas uma criança irritante capaz de aborrecer qualquer pessoa. Um pouco mais velho (provavelmente entre 6 e 8 anos), sua malevolência começa a transparecer ainda mais e já parece ser um pequeno monstro que deliberadamente faz coisas para claramente somente irritar a mãe. Adolescente, ele já é um psicopata formado que realiza todas as suas ações de forma propositada e calculada.
Eva e Kevin mantém essa relação doentia por anos. Ela tenta se aproximar dele e ele faz tudo para machucá-la. Apenas  ela sabe a verdadeira face do filho, que para os outros tenta parecer normal e amável. Franklin tenta ser sempre amável, mas isso apenas esconde uma ignorância em relação a tudo que acontece. Totalmente desconexo naquela família. Apenas a filha mais nova parece ser normal, apesar de numa família dessas isso poder ser uma coisa quase impossível.
Ao contrário do que o nome pode sugerir, ninguém na realidade conversa sobre Kevin. Entre os pais, parece haver algumas tentativas, mas Franklin prefere a ignorância. No colégio ou entre médicos não parece haver a necessidade, pois ele se faz de garoto modelo. Tudo isso faz com que Eva fique num estado de choque durante todo o filme. Ela não sabe porque as coisas acontecem com ela. Ela apenas aceita sua punição, apesar de não parecer aguentar muito mais. As grandes atuações só fazem desse filme ainda mais poderoso.

terça-feira, 6 de março de 2012

A ÁRVORE DA VIDA - THE TREE OF LIFE


NOTA: 10.
- A única maneira de ser feliz é amando. A menos que ame a vida vai passar por você num piscar de olhos. Seja bom com as pessoas. Questione. Tenha esperança.

Este é o filme mais ambicioso de Terrence Malick, diretor acostumado a filmes onde diálogos não parecem ser necessários. Ele é capaz de até mesmo acompanhar toda a existência de vida na Terra e nos fazer acompanhá-la através de incontáveis vidas, algumas até mesmo microscópicas. Outro diretor que realizou um trabalho com tanta coragem e visão foi Stanley Kubrick, com seu 2001 - Uma odisséia no espaço. O trabalho de Malick não é tão bom quanto, mas com certeza é o que mais se aproxima desde então.
O filme começa no passado, onde acompanhamos uma típica família de um subúrbio americanos. São três crianças que crescem em uma vizinhança onde ninguém parece se preocupar com falta de segurança e todas as casas ficam com portas e janelas destrancadas. Eles são criados por um pai que os trata com disciplina e  severidade na esperança de que cresçam fortes e uma mãe que parece pronta para desculpar quaisquer deslizes que os filhos cometam.
Os pais são identificados apenas como Sr. O'Brien (Brad Pitt) e Sra. O'Brien (Jessica Chastain), sem primeiros nomes. Talvez seja pelo fato de que naquela época nenhuma criança tivesse o hábito de chamar as pessoas pelo primeiro nome. Até mesmo desconfio se elas sequer sabiam o primeiro nome dos adultos. E os próprios filhos se referem a eles apenas como "pai" e "mãe". Uma dessas crianças é Jack O'Brien (Sean Penn), e é ele que vai crescer para se tronar no Sr. O'Brien.
O filme capta o cotidiano dessa família e o crescimento dos três filhos, em especial Jack que é o mais velho. Depois de uma cena inicial onde vemos a chegada de uma carta que causa grande tristeza aos pais, o filme  corta para um monte de cenas que podem parecer muito estranhas. O que eu acredito que sejam, é o Big Bang na visão do diretor, onde ele mostra muitas cenas de água. Na água acompanhamos a multiplicação de células que darão origem à vida. Incluindo eu e você.
Depois disso, vemos muitas cenas que parecem ser desconexas da vida dessa família, mas que aos pouco vão montando um quadro geral de como eles realmente são. Através de narrações que vem da voz da mãe, ouvimos sobre os caminhos da "graça divina" e os da "natureza", e como a natureza cria a vida e depois a tira de nós. Um dos rapazes O'Brien morre, e vemos Jack se transformar em um adulto. O que acontece então? A visão do diretor do que deve acontecer depois da vida.
Brad Pitt está ótimo como o provedor da família. Seu cabelo cortado bem curtinho e sua caracterização o fazem parecer nada mais que um cara normal, e não o galã de Hollywood. Ele pode parecer muito austero algumas vezes, como se não gostasse dos filhos. Ele gosta de seus filhos, e sempre que tem a chance ele os fornece carinho. Ele apenas está os criando da maneira que ele acha ser a melhor possível. Ele mesmo conversa com seu filho em determinada parte e admite que pode ter sido muito duro com ele, mas que só queria o melhor. O garoto responde à altura, não culpando o pai, mas entendendo. É assim que acontece. De repente as crianças crescem e passam a ter maior entendimento das coisas. Num piscar de olhos tudo pode mudar. E aqui, é muito bom ver como acontece.

segunda-feira, 5 de março de 2012

GIGANTES DE AÇO - REAL STEEL


NOTA: 7.
- Eu só quero que lute por mim. É tudo que eu quis.

Esse filme imagina um futuro próximo onde o boxe não é mais praticado por humanos. Talvez pela reclamação de muita gente que diz que é brutal demais para ser considerado um esporte (mera suposição minha), as lutas agora são travadas entre robôs enormes e cheios de recursos contralados por humanos. Eles também são ricos em cor e design, glamorosos de uma forma futurista e retrô ao mesmo tempo. São robôs capazes de parecer que tem muita história para contar.
A história, porém, nada tem de futurista, mas sim lembra alguns filmes do (nosso) passado. Ela lembra muito uma mistura de Rocky com Falcão, o campeão dos campeões (ambos com Sylvester Stallone nos papéis títulos), mas que também não são estranhas a muitos outros filmes. Filmes onde pais que não conhecem seus filhos são obrigados a passar um tempo com eles por algum motivo e acabam criando laços profundos de amizade entre eles.
Não é Stallone que estrela aqui, e sim Hugh Jackman como Charlie Kenton, um boxeador aposentado que agora tenta sobreviver controlando robôs em lutas do circuito alternativo, mas nem para isso seu robô serve, perdendo até mesmo para um touro (não um mecânico). Com isso, ele tenta desesperadamente conseguir robôs melhores enquanto vai se afundando cada vez mais em dívidas com cada vez mais pessoas diferentes.
As lutas são bem coreografadas, fato que já percebemos desde as primeiras cenas do filme. Diferente de Transformers, onde os robôs batem uns nos outros e ninguém sabe o que realmente está acontecendo. De forma inteligente, o filme não segue a linha confusa com cortes rápidos que tentam dissimular a falta de continuidade. Apesar de deixar várias perguntas sem resposta, as lutas pelo menos ocorrem que uma forma possível de acontecer.
Claro que o filme não se trata apenas de lutas de robôs. Seria um filme bem irritante se fosse e até mesmo deixaríamos de nos importar com qualquer coisa. O drama entra na vida de Charlie quando sua ex-mulher morre e ele deve passar um tempo com seu filho Max que não vê há anos. Temos o pai ausente e a criança que parece ter nascido para irritá-lo, mas que se interessa bastante por robôs para ficar ao lado do seu pai (não são todos assim).
Por pior que eles sejam um com o outro, é o garoto que consegue encontrar um robô que possa lutar, apesar do pai achar que ele não vai servir para nada porque era apenas um robô-sparring (eu acho engraçado que um robô precisa de sparring, mas...). Apesar de tudo, Max e Charlie ensinam o robô alguns novos truques e descobrem uma função "espelho" que faz com que ele imite os movimentos de quem o estiver controlando.
Claro que tudo vai levar o filme para a previsível luta final contra um robô indestrutível de nome Zeus que nunca perdeu uma luta. Na verdade, que nunca chegou a ir para o segundo assalto de uma. E para a minha surpresa, a luta final acaba sendo bem interessante. Isso porque os donos de Zeus são pessoas insuportáveis além do fato de Adam (o robô-sparring) ter uma aparência mais agradável aos olhos que todos os outros robôs mais modernos.
Ao contrário do que se possa pensar, este é um filme com bons personagens. E personagens reais. Apesar da luta ser entre robôs, nos importamos com os humanos e com que eles fazem. A trama é batida, mas prende a atenção. É o tipo de filme que pretendia ver quando assisti a Transformers. Algumas vezes eu acho que o filme não vai entregar nada demais, e ele me surpreende da forma que esse filme fez.

sexta-feira, 2 de março de 2012

DRIVE


NOTA: 9.
- Se eu dirigir para você, terá seu dinheiro. Você me diz onde começamos, onde vamos e onde vamos depois. Eu te dou cinco minutos quando chegarmos lá. Qualquer coisa que acontecer nesses cinco minutos, eu sou seu. Nâo importa o que aconteça. Qualquer minuto antes ou depois e você está por conta própria. Eu não carrego uma arma. Eu dirijo. 

Ryan Gosling é um ator que constrói personagens muito interessantes, e aqui ele empresta seu talento para contruir um dos personagens de ação mais interessantes do ano. Ele não tem nome, todos o conhecem apenas como o "Piloto". Sem outro nome ou outra vida. Isso é o que ele faz. Logo na primeira cena, o vemos dirigindo um carro de fuga de um roubo. Ele foge da polícia não usando apenas velocidade e habilidade, mas astúcia ao explorar as ruas e enganar a polícia. Quando não faz isso, ele é dublê de atores em filmes onde realiza capotagens em carros. Seus empregos não apresentam conflito. Ele é um piloto.
Seu personagem me lembra muito o clássico personagem sem nome dos filmes de Sergio Leone interpretado por Clint Eastwood. O "Piloto" não tem familiares, passado ou mesmo demonstra muitas emoções. Talvez alguma coisa tenha acontecido em seu passado e o deixado do jeito que é, mas isso não é algo que descobriremos.
Talvez isso o qualificasse para ser um herói sem importância num filme de ação medíocre com muitas explosões, efeitos especiais e perseguições (claro), mas Drive é mais um exercício de estilo e emoções que podem estar escondidas do que um filme de ação tradicional. E ele funciona porque talvez não se esforce para responder questões. O "Piloto" lembra um personagem da antiga Hollywood, como um detetive noir como os que Bogart interpretava.
Ele mora num apartamento há um tempo mas somente conhece sua vizinha quando a encontra no elevador. Ela é Irene (Carey Mulligan), mãe de um garoto conhecido como Benicio, que atrai a afeição do "Piloto". Talvez por nenhum dos dois aparentarem ser do tipo efusivo. Eles se aproximam mas uma semana depois o marido de Irene é libertado da cadeia. Ao contrário do que possamos pensar, Standart (o marido) não se vê com ciúme ou incomodado com a presença do rapaz.
O problema é que Standart está devendo dinheiro para umas pessoas que o espancam e ameaçam de machucar sua mulher e filho a menos que ele participe de um roubo. Preocupado com a segurança dos dois, nosso herói decide participar do roubo dirigindo o carro de escape para ter certeza que nada aconteça. Ele sequer aceita parte do dinheiro do roubo, ele quer apenas que ninguém saia ferido durante a operação. É isso que vai nos levar até o resto do filme.
O filme é dirigido pelo diretor Nicolas Winding Refn, o mesmo que realizou Bronson. Ao contrário do que fez com seu filme anterior, onde ele se preocupava em contar os mínimos detalhes de seu personagem título, aqui ele tenta contar o mínimo. Assim como as pessoas ligadas a eles, incluindo seu "mentor", Shannon que costumava ser dublê, e uma dupla de mafiosos que vão patrocinar sua ida às corridas de Stock Car (interpretados por Ron Pearlman e Albert Brooks).
Mencionei efeitos especiais antes, mas não acho que esse filme tenha algum. Se tem, foi muito bem feito, pois não consegui identificar uma cena que o tenha usado. Acho mesmo que as cenas foram filmadas à moda antiga. Todas as cenas de perseguição do filme parecem possíveis de serem realizadas no mundo real, e não apenas nas telas do cinema. Outra parte do filme funciona pelo talento de Ryan Gosling, que só sabe criar personagens realmente poderosos. Em um filme, ele até mesmo me fez acreditar que estava em uma relação com uma boneca inflável (daquelas sexuais). Ele é desses atores capazes de fazer qualquer coisa. A combinação faz deste um bom filme que vale a pena ser visto nos cinemas.

quinta-feira, 1 de março de 2012

JOVENS ADULTOS - YOUNG ADULT


NOTA: 8.
- Eu sou casado.
- Nós podemos superar isso.

É muito comum filmes que mostram as tais "rainhas do baile" dos colégio americanos. Elas geralmente são metidas, tratam todo mundo com desprezo e aprontam as piores coisas com os alunos que não são populares. Este filme se vinga contra essa "classe". Aqui, a antiga rainha do colégio é uma mulher se aproximando dos 40 anos que tem uma vida muito mais miserável que todas as outras pessoas que eram do seu colégio.
Ela é Mavis (Charlize Theron, uma das melhores atrizes em atividade no cinema americano), uma personagem que começamos não gostando e terminamos com uma sensação muito pior sobre ela. Uma mulher linda que se mudou de uma pequena cidade para a grande cidade onde se transformou em uma escritora que a deixou mais ou menos famosa. Isso porque ela escreve para uma grande série de livros sobre vampiros que faz sucesso, mas não foi ela a criadora da série. Mesmo assim, todos que a conheciam acham que ela é uma espécie de celebridade. É claro que ninguém a vê em anos.
Infelizmente, eles vão revê-la. Cansada de ficar sozinha em seu apartamento apesar de encontros que não parecem servir para nada, que parece um chiqueiro, ela resolve voltar para sua cidade. Isso, porque ela recebeu uma mensagem de de Buddy (Patrick Wilson), seu antigo namorado de colégio, dizendo que sua filha nasceu. Em algum lugar da doentia cabeça de Mavis, ela deve ir reencontrar Buddy e terminar com o casamento dele para que eles fiquem juntos.
Jason Reitman repete a parceria que fez sucesso em Juno com a roteirista Diablo Cody. De lá para cá ele fez o bom Amor sem escalas, já Cody escreveu o ruim Garota infernal. Em Juno, os dois fizeram sucesso centrando o filme em uma adorável menina. Aqui eles usam como protagonista uma mulher que parece amedrontar qualquer pessoa que se aproxime. Além de passar a maior parte do tempo bebendo, ela gasta o resto do tempo dizendo as piores coisas pra pessoas.
Quando um filme tem uma personagem que seja detestável assim, também precisa de um personagem que possa "amaciar" a situação. Esse personagem é Matt (Patton Oswalt), que no colégio sentava ao seu lado mas que ela só lembra dele por sua deficiência e fofocas que diziam sobre ele. Eles não tem nada a ver um com o outro. Ele sabe o que ela está aprontando e sabe que está indo em direção ao fracasso. Matt é o personagem chave do filme. Charlize está ótima como a megera e Wilson como o cara legal, mas é o personagem de Oswalt que faz com que a platéia tenha alguém com quem se identificar.
Mavis é o "elefante na sala" de qualquer lugar que vá. Provavelmente, parte disso deve vir de seu alcoolismo. Mas é interessante observar seu comportamento destrutivo e seu comportamento inapropriado. Talvez essa mulher seja até mesmo insana. É um estudo de personagem. Não é um personagem que vá atrair grandes emoções, mas pode ser divertida de acompanhar.
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