sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O CÉU DE SUELY


NOTA: 7.
- Quer comprar uma rifa?
- Qual o prêmio?
- Uma noite no paraíso.

Karim Aïnouz apareceu nos cinemas com Madame Satã, ótimo filme sobre a controversa figura cujo apelido dá nome ao título. Comparado ao seu filme anterior, este é um retrocesso na carreira do diretor. Isso pelo fato de ser muito menos interessante. Ainda que Hermila Guedes construa um personagem por quem possamos torcer, não chega perto do personagem criado por Lázaro Ramos.
Todos os atores interpretam personagens que tem seus próprios nomes. Hermila é uma mulher que está indo de São Paulo para o nordeste com o filho pequeno para ir morar na casa de sua avó e a tia, que é gay. Ela se vira na cidade trabalhando com o que pode enquanto espera pela chegada do pai da criança. Mas ele nunca chega e ela então percebe que está por conta própria. Ela sonha com uma vida melhor, como todos sonham, só não sabe como fazer com que seu sonho se realize.
Uma das formas de conseguir dinheiro, é vender rifas. Como ela começa vendendo uma garrafa de whisky, mas é muito pouco pro seu novo plano de comprar uma passagem para ir para Porto Alegre, onde vai tentar melhorar de vida. Para isso, ela resolve rifar "uma noite no paraíso", que significa que o felizardo terá uma noite com ela para fazer o que quiser. Como é a mulher mais cobiçada da cidade, ela não tem dificuldades de vendar a rifa. Assim como a notícia se espalha rapidamente, chegando até a avó, e todos começam a criticá-la e se virar contra ela.
Hermila dá à sua personagem características que não parecem vir do roteiro. Ela consegue variar pelos estados da personagem sem dificuldades, seja da tristeza de perceber que seu namorado não chegará à alegria de um barato gerado por ficar cheirando acetona. Ela também faz um tipo bem esperto, diferente da maioria das pessoas da cidade, o que dá um gostinho de acompanhar a sua saga.
Onde o filme falha, é em dar reais motivações para que a personagem queira sair da cidade e se rifar. Ela tem apoio da vó e da tia, consegue arranjar um namorado interpretado por João Miguel que parece ser louco por ela. As pessoas na rua a ajudam espontaneamente e até tomam conta do seu filho. Da onde sai essa necessidade de largar tudo, o filme não diz, apenas insinua. O que é muito pouco para comprarmos a ideia de que ela ela deve fazer aquilo. Principalmente porque ela veio de uma grande cidade, o que fará que ela tenha melhor sorte em outra?
O problema também, é que uma vez que ela resolve criar a rifa, fica claro e evidente o caminho que o filme vai tomar. Uma outra coisa que me incomodou, são versões brasileiras de músicas internacionais que ficaram pioradas no filme. Sem ritmo ou grande conteúdo, se sobressai mesmo apenas os talentos de Hermila e em menor escala de João. Mas pelo talento, os dois, assim como Karim, merecem um filme melhor.

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