NOTA: 6.
- Em quem de nós você acha que a polícia vai acreditar?
A exemplo do que já havia feito na Inglaterra, Hitchcock realiza um filme que fala sobre terrorismo. E com esse filme, ele entra na mesma linha que 39 degraus, Trama internacional e Correspondente estrangeiro. A história é padrão de grande parte dos filmes de Hitchcok, homem que é acusado de um crime que não cometeu foge para provar sua inocência, encontra uma garota que não acredita nele mas depois acaba acreditando e acaba por ajudá-lo.
Acontece, porém, uma coisa que não acontece nos outros filme citados: ele não funciona como os outros. Ele mesmo identifica um dos grandes problemas de seu filme, que são os atores protagonistas. O diretor diz que foi emprestado por Selznick a um produtor independente, tanto que o filme foi distribuído pela Universal. A atriz, segundo suas próprias palavras: "Não era uma mulher para um filme de Hitchcock.", além disso, para filmes desse tipo, o ideal é ter um astro para que o público dê maior importância aos perigos que ele está correndo. Para completar, ele não conseguiu um vilão que pudesse fazer um contraponto ideal aos mocinhos, e acabou tendo que ficar com um "vilão tradicional", Otto Kruger.
Há uma coisa, porém, a ser destacada. O final do filme na estátua da liberdade é brilhante e leva a marca do diretor em cada frame. Ela conta com o mocinho e outro vilão interpretado por Norman Lloyd (muito bem em seu papel) e termina com o vilão pendurado prestes a cair. O diretor diz que a cena seria muito mais forte se ao invés de ser o vilão pendurado, o perigo estivesse em cima do herói. Mas o que é realmente interessante é que mesmo assim, a cena causa grande impacto. A única coisa que senti falta, foi uma coisa que Hitchcock dominaria algum tempo mais tarde: a importância da trilha sonora. Principalmente depois de formar a parceria com Bernard Herrmann. Fosse pontuada pela trilha, essa cena poderia ser inesquecível.
Qualquer semelhança com Intriga internacional, um filme mais conhecido do diretor, não é mera coincidência. Tanto que ele próprio classifica Intriga como uma refilmagem deste filme, e até mesmo as cenas finais são muito semelhantes. A diferença é apenas que a "refilmagem" é muito superior e não apresenta nenhum dos problemas citados aqui, principalmente em termos de elenco (que conta com Cary Grant e Eva Marie-Saint).
A verdade é que o diretor não consegue aparar as pontas do roteiro. Muita coisa acontece, e contrariando o que ele mesmo procurava pregar, nem tudo é interessante. Ou emocionante. Ele acredita que talvez tenha coberto um território vasto demais, Truffaut diz que o problema é a mocinha e saber quando colocá-la e em perigo ou não. Seja lá se o problema são todos esses ou não, o problema é que o filme nunca chega a decolar.
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