quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

CORIOLANO - CORIOLANUS


NOTA: 9.
- Um beijo longo como meu exílio, e doce como a minha vingança.

Um dos principais motivos pelo qual as peças de Shakespeare fazem sucesso por tanto tempo, é a linguagem que o dramaturgo usou. Histórias parecidas temos aos montes, mas personagens que falam como Romeu ou Hamlet só encontramos em suas obras. Sabendo disso, Ralph Fiennes interpreta e dirige o filme sobre o personagem título sem mudar esse aspecto que é, na minha opinião, um dos pontos fontes da peça, e portanto do filme.
O lugar é "conhecido como Roma", e Fiennes é uma fera de guerra, o líder brutal de um exército. As espadas são trocadas por rifles e lança-granadas, em um lugar onde as paredes são todas pichadas e grafitadas. Observando as locações e figurinos, poderia-se pensar que se trata de um moderno filme de guerra, e não uma peça de teatro de séculos atrás. De antes de existirem os equipamentos que os homens usam para travar as batalhas.
Fiennes é sempre capaz de surpreender como ator. Não é fácil imaginá-lo como um grande soldado, e ainda assim ele se reinventa aparecendo forte, com a cabeça raspada e um dragão tatuado no pescoço. Pode não ser a idealização do que Shakespeare escreveu, mas como o cenário é bem diferente, eis aqui um homem capaz de liderar qualquer exército em qualquer filme de ação e aventura, e mais preocupado com batalhas que qualquer outra coisa. E melhor ainda, ele é capaz de liderar seu batalhão inteiro apenas com um olhar e entonando cada fala como esta deve ser falada. O que é ainda melhor saboreado quando ele dialoga com grandes atores como Brian Cox e Vanessa Redgrave.
Sua principal batalha é travada contra os exércitos Volscos liderados por Aufidius (Gerald Butler), a quem admira mais que odeia seus compatriotas romanos, mas ele supera as forças inimigas e consegue a vitória. Na verdade, parece algumas vezes que ele sozinho é capaz de vencer a guerra, e para muitos ele realmente venceu. Tanta é a glória que recebe, que não mais ele pode ser "apenas" um soldado, e encara uma desastrada carreira política que acaba resultando em seu banimento de Roma.
Para seu azar, ele não é talhado para qualquer cargo político. Chego a duvidar se ele é capaz de manter uma relação com qualquer ser humano e me surpreende que ele tenha uma mulher e um filho. A única pessoa capaz de conversar com ele é sua mãe, Volumnia (Redgrave), a quem parece mais afeiçoado que sua própria esposa, Virgilia (Jessica Chastain). Mas tudo isso fica pra trás e ele se une a Aufidius para lutar junto com os Volscos em um ataque contra Roma. Somente preocupado com guerra, ele prepara sua vingança com sangue, mesmo que para isso ele derrame o de sua própria família.
É um filme muito interessante, ainda que pareça ter muito mais ação do que realmente haveria em uma peça de Shakespeare. E olha que algumas peças dele tem até bastante ação. Esse provavelmente foi o preço que Fiennes deve ter tido que pagar para produzir um filme caro como esse. Mas o que importa é que as ações dos personagens, e o que é falado, continua atual. As palavras podem ter mudado, mas o conteúdo permanece. Para mim, fica a maravilha de ver que a linguagem de Shakespeare continua viva e podendo ser usada para adaptar mais peças além de que costumamos ver.  As obras do autor vão muito além disso, e é Fiennes que nos mostra isso.

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