NOTA: 9.
- Você não sabe o que eu posso fazer ou o que eu vou fazer. Eu sou bom. Eu tenho boas coisas que você não conhece. Eu vou ser algo e não diga que não.
Este filme tem uma característica rara: tudo nele é surpreendente. Até mesmo a forma como o nome do filme surge inesperadamente em neon surpreende. O filme de Paul Thomas Anderson é um épico que contém todos os ingredientes de Hollywood: fama, inveja, cobiça, sexo, talento e dinheiro. A diferença é que acompanhamos as transformações da indústria pornográfica a partir do surgimento de uma nova estrela: Dirk Diggler.
O filme abre em 1977, em uma época que os filmes eram rodados em filme e exibidos em cinemas, tal qual acontecia na grande indústria dos filme "convencionais". É nessa época que o produtor Jack Horner (Burt Reynolds) sonha em fazer um filme tão bom que faça que as pessoas queiram ficar nos cinemas mesmo depois de alcançarem o que buscam assistindo um filme como esse. E ele termina em 1983 quando a indústria se rende ao videotape e a esperança que filmes como esse ainda sejam feitos morrem.
E acompanhamos pelos olhos de Diggler (Mark Whalberg), que trabalha em uma casa noturna como lavador de pratos até ser descoberto por Jack Horner. Horner tem um pressentimento em relação a esse garoto, que ele mesmo diz acreditar que debaixo dos jeans tem algo maravilhoso querendo sair. A própria história do filme soa um pouco como se fosse um filme pornô, e Anderson não deve ter feito isso por acaso, mas é importante lembrar que não estamos diante de um filme pornô com uma história que as pessoas queiram assistir depois de chegarem ao clímax.
É importante ressaltar, porque ao contrário do que se vê nesses tipos de filmes, nada aqui parece amador. Estamos falando de uma indústria e todos agem com o máximo de profissionalismo. Não é um passatempo para nenhum dos envolvidos e nós acompanhamos os bastidores de um filme adulto. Ou pelo menos como eu acredito que os bastidores sejam. E acompanhamos Horner, que é provavelmente o maior produtor (não vemos outros para comparar). Reynolds dá uma atuação muito interessante de um homem que vive de sexo mas ao mesmo tempo parece fora dele. Nunca o vemos tendo relações com ninguém, apesar de viver com Amber (Julianne Moore), que serve como uma mentora e ajuda Diggler em sua primeira cena.
Apesar de lidar com o assunto, Anderson limita o que vemos da indústria realmente trabalhando, por assim dizer. Até mesmo a nudez é limitada no filme, e somente por uma breve cena vemos porque todos se impressionam com o "talento" de Diggler. Como quando o Coronel, que financia os filmes de Horner, pede para ver. Acompanhamos apenas o rosto dele enquanto ele observa, para e fica observando o que o rapaz está lhe mostrando. Somente pelo seu olhar e tempo com que admira sabemos que se trata de algo impressionante, mas fica mais interessante que realmente ver.
O elenco é muito maior, e o diretor sabe mesclar com habilidade seu material humano e seu material cômico. Ele consegue frazer o que muitos filmes não conseguem. Consegue fazer com que mergulhemos na história, que é uma qualidade que somente os grandes filmes conseguem. Como escritor e roteirista, Anderson consegue diálogos espetaculares e detalhes da época que são muito interessantes. Parece um pouco como um documentário nos mostrando a vida de cada um dos realizadores desses filmes. E é uma sensação ótima.
Este filme traz uma das melhores reconstituições de época da história de Hollywood. Uma impressionante viagem de volta aos anos 70 em detalhes refinadíssimos, principalmente em termos de cultura pop.
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