NOTA: 10.
A França produziu um dos personagens mais agradáveis da história do cinema, que ficou conhecido como Sr. Hulot e foi imortalizado pelo grande ator Jacques Tati. Se você nunca assistiu um filme com o personagem Hulot, sugiro que o faça (Playtime, As férias do Sr. Hulot, entre outros). E se você o conhece, deve assistir a este filme que é melancolicamente parece traçar o ato final da carreira deste grande ator.
O ator morreu em 1982, mas antes de partir deixou esse roteiro que a princípio era para ser um filme estrelado por ele que infelizmente acabou nunca conseguindo realizar. O roteiro estava na posse da filha dele que entregou para o diretor Sylvain Chomet, que realizou o também ótimo As bicicletas de Belleville, que em 2004 perdeu o Oscar para Procurando Nemo. Chomet realizou como desenho animado o que cai muito bem no filme, até mesmo porque dificilmente algum ator poderia substituir Tati.
O filme não é com Hulot, mas sim com Tatischeff, um mágico que anda de cidade em cidade fazendo apresentações em pequenos lugares e até mesmo em festas onde ninguém presta muita atenção nele. Até chegar no interior da Escócia onde finalmente encontra uma pequena fã. A menina trabalha numa estalagem onde ele faz uma apresentação e ela acaba se mudando para ficar com ele, onde faz as tarefas de casa. Eles não criam uma relação sexual, é apenas uma menina que idealiza um mágico, e este parece se afeiçoar com ela e dorme no sofá lhe cedendo o quarto.
O tempo vai passando e vai ficando cada mais difícil de conseguir trabalhar como mágico, já que as pessoas parecem mais interessadas em bandas pop que lotam estabelecimentos com adolescentes. Adolescente que não se interessam por mágicas. Ele atinge seu nível mais baixo, se apresentando em uma vitrine de uma loja como forma de atrair fregueses. É a partir desse ponto que ele começa a procurar outros empregos longe dos palcos ao mesmo tempo que seus amigos artistas também passam por momentos difíceis.
A verdade é que o mundo não parece mais ter utilidade para Tatischeff. Ele é um mágico bem competente e tirando seus problemas com o coelho não costuma errar um truque sequer. É realmente uma pena para ele que o mundo tenha mudado de forma que não o favoreça. Não sei em que época Tati escreveu essa história, mas deve ser interessante comparar com que época da sua vida estamos falando. Será que foi antes de se transformar em um sucesso?
Digo isso, porque o personagem, apesar de fisicamente parecer um pouco diferente, é o próprio Tati, cujo nome original era Tatischeff como o mágico do filme. E o filme funciona por causa dele, da graça com que foi desenhado e construído. É um desenho animado, porque realmente ninguém poderia imitar a linguagem corporal de Tati. Esse é o canto dos cisnes de um dos personagens mais encantadores do cinema. E uma bela homenagem.
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