segunda-feira, 9 de abril de 2012

INQUIETOS - RESTLESS



NOTA: 8.
- Nós temos tão pouco tempo para dizer as coisas que realmente queremos dizer.

Este filme é um interessante relato da relação entre dois jovens intimamente ligados à morte. Enoch (Henry Hopper) é um estranho garoto que tem uma admiração incomum pelo assunto. É a menina, Annabel (Mia Wasikowska), que com muita delicadeza e tato consegue tirar o rapaz desse universo e o trazer de volta para a terra dos vivos. Ainda que, como vamos aprender logo no início do filme, um câncer no cérebro vá levá-la em menos de três meses.
Eles se conhecem em um dos muitos funerais que Enoch costuma frequentar. Ela conhecia o rapaz, vítima de câncer como ela, enquanto ele apenas invade as cerimônias fúnebres. Algo nele desperta a atenção dela. Talvez seja a obsessão de Enoch pela morte. Na primeira cena, vemos o rapaz deitado no chão fazendo uma marca de giz em volta de seu corpo, como a polícia faz em volta de cadáveres em uma cena de crime. Uma cena sem palavras diz quase tudo que precisamos saber sobre o rapaz.
Eles vão se aproximando cada vez mais um do outro, criando uma afeição cada vez maior. Ela lhe pede apenas uma coisa: ele não deve conversar com ela sobre sua doença. Totalmente compreensível, já que é a doença que vai fazer com ela morra em um futuro muito próximo e ela quer aproveitar o pouco que lhe resta da vida. Ela quer simplesmente ignorar sua condição e curtir sua primeira relação romântica de sua curta vida.
Tem um outro personagem importante para a trama que não consigo explicar direito. É um fantasma de um kamikaze japonês que morreu durante a segunda guerra mundial chamado Hiroshi (Ryo Kase), o único amigo de Enoch. Será realmente um fantasma? Um amigo imaginário? Em uma jogada esperta do diretor Gus Van Sant, o filme não explica, apenas usa o personagem como confidente de Enoch, coincidentemente o único do filme que consegue vê-lo.
Annabel também tem uma confidente, sua irmã mais velha que toma conta dela e da mãe alcoólatra, que talvez tenha começado a beber por causa da doença do filme, mas o filme também não explica. Ela é Elizabeth (Schuyler Fisk) e suspeita desse estranho rapaz que se mete em uma relação tão complicada como esta, como não desconfiaria? Ela diz que nunca se deve confiar em um homem, mas Annabel sabe que de alguma forma pode confiar no amor dele.
Todos os personagens conseguem encontrar o tom correto em um filme como esse. Ninguém se "esforça" demais para tentar passar alguma emoção. Não há uma alma desesperada e extremamente chorosa. Todos parecem em paz de uma maneira melancólica. Apesar de parecer que todos deveriam estar sofrendo muito, o tom dá uma sensação interessante. E acredito que até mesmo mais triste do que seria se todos estivessem em desespero.
Assim como a própria doença é tratada em um tom diferente. Ela tem um cabelo bem curto, o que pode indicar que tenha feito quimioterapia, mas todos os sintomas e problemas da doença só vão aparecer no final do filme, ou sequer vão aparecer. Toda a doença, ainda que sirva como ponto de referência da relação dos dois, fica apenas como pano de fundo do filme. Ela parece muito bem (mas muito bem mesmo) para um doente terminal.
E isso em nada atrapalha o filme. É um filme sobre escapismo e consolação. Em uma determinada parte, me lembrou Love Story, onde uma doença eleva um romance que parecia ser comum. Cria uma história de superação, mesmo que mantenha a triste realidade da doença de fora das telas.

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