NOTA: 100.
- Um homem não diz uma mulher o que fazer. Ela diz a si mesma.
Como Truffaut ressalta, este filme é o que mais se aproxima de toda a essência do que é um filme hitchcockiano. A quintessência de Hitchcock. Pelo menos de todos os filmes preto e branco. E isso porque o filme basicamente se resume a um único MacGuffin: uma amostra de urânio escondido dentro de uma garrafa de vinho. Esse é um dos simples que o diretor já usou, e talvez por isso seja o mais eficaz. Com certeza o melhor até agora. Na verdade essa é a genialidade do filme: se aproximar da simplicidade, e o faz com tamanha competência que o filme se torna algo além do que se podia esperar. Se torna genial.
Para convencer os produtores de que o MacGuffin funcionaria, o diretor teve trabalho para vender a ideia do filme. Ideia essa que surgiu em 1944, um ano antes das bombas de Hiroshima e Nagasaki explodirem. Inclusive, ele relata que a pesquisa que fez pro filme sobre a bomba atômica o fez ser vigiado pelo FBI. Mesmo depois de explicar ao produtor o que era um MacGuffin e a pouca importância que se deve dar a ele, o produtor resolveu se livrar do filme e os atores envolvidos. Erro que provavelmente o fez se arrepender depois de ver o sucesso do filme.
Junto a Casablanca, esse filme é que garante imortalidade a Ingrid Bergman. Ela é Alicia Huberman, mulher com fama notória (o que dá o título original do filme) que é convidada pelo governo americano a espionar nazistas que estão radicados no Rio de Janeiro. Quem a convence a realizar o trabalho é Devlin (Cary Grant), agente por quem ela se apaixona e que acaba a jogando nos braços de outro homem para que ela possa se infiltrar. No final, se trata apenas de uma história de amor entre um homem e uma mulher que acabam não ficando juntos por desencontros e mal entendidos.
Aqui acontece uma coisa interessante. Ao passo que vemos que ela está realmente apaixonada por ele, nunca temos certeza se ele a ama. Ele ainda a joga nos braços de outro homem, Sebastian (Claude Rains, outro que apesar de coadjuvante também se tornou imortal no cinema). Ele é realmente apaixonado por ela e acabamos criando uma certa empatia por ele. E ainda marca ainda mais sua presença quando se mostra um vilão que não puxa uma arma, mas sim se mostra calculado para realizar seus atos. Esse é um personagem realmente mau.
E quanta ironia: Devlin é mais alto e bonito que o inseguro, ciumento e dominado pela mãe Sebastian. Ainda assim, apenas uma vez vemos Sebastian desafiar sua mãe, e ele faz isso em prol de sua amada. Devlin quase nada em favor dela.
E para terminar, um final sensacional. Mesmo o diretor, que anteriormente caiu na armadilha de terminar seus filmes com perseguições ou grandes de cenas. Aqui, tal qual o MacGuffin, ele extrai o suspense de algo simples. Não há brigas, nem perseguições, explosões ou qualquer coisa do gênero. A cena é simples e guarda todo o suspense do filme. Ela é calma e delicada. E talvez por isso seja o filme preferido de Truffaut. Realmente é genial e finalmente começamos a nos aproximar da genialidade que fez o diretor ser quem é.
Boa! Esse filme é massa mesmo
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