NOTA: 100.
Depois do lançamento de O nascimento de uma nação, o diretor D. W. Griffith provavelmente se deparou com dois desafios. O primeiro seria apagar a fama de racista recém adquirida tão logo o filme foi lançado. O segundo, é como ele poderia fazer um filme que fosse ainda mais grandioso. A resposta para ambos os desafios é este filme, que mostra a intolerância que as pessoas podem ter umas com as outras (assim como tiveram com ele), contadas em quatro histórias diferente e em tempos diferentes, o que faz o filme ter cenários espetaculares. É uma obra de arte que nenhum espectador tinha visto anteriormente.
Para a produção, especula-se que Griffith gastou mais de dois milhões de dólares com construções de cenários gigantescos (conta-se que um deles permaneceu montado por muitos anos durante a época de ouro de Hollywood, como uma espécie de monumento) e muitos (e muitos) figurantes que participam do filme. A produção foi tão suntuosa pra época, que Griffith mandou decorar todos os cinemas que exibiam o filme. O resultado é que o diretor se viu sem dinheiro pra sequer desmontar o cenário depois que o filme foi lançado. E mesmo depois, a produção não conseguiu se pagar.
Querendo mostrar os perigos que a intolerância pode causar, ele usa como base de seu filme a história de um casal pobre que tem um filho. Numa série de circunstâncias infelizes, o marido vai preso por conta de um crime que não cometeu. Quando é novamente condenado, mesmo sendo inocente de novo, sua sentença é a morte. Que culmina numa cena entrecortada com a mulher tentando salvar seu marido enquanto ele caminhava para a forca. Suspense que somente ele conseguia realizar.
Para "ligar" as cenas, temos Lilian Gish como uma mulher que somente balança um berço o tempo inteiro. E embora esta história do casal seja a mais interessante do filme, a história era modesta demais para servir aos propósitos do diretor. Depois de lançar um épico, ele provavelmente achou que não podia lançar nada que fosse menor. Então, para complementar, temos ainda uma parte bíblica com Jesus Cristo, uma parte persa, uma babilônica e uma francesa da idade média.
O filme não conta as histórias em ordem cronológica, mas sim vai indo e vindo entre uma e outra de forma bem interessante. O problema é que mesmo hoje, esse tipo de filme não é completamente compreendido pelas plateias. O exemplo mais recente que posso citar é A viagem, que conta muitas histórias paralelas em tempos e mundos diferentes. E hoje, as pessoas já estão acostumadas a assistirem filmes assim (graças a Eisenstein, MTV e outros). Imaginem o impacto que Griffith causou ao fazer isso quase cem anos atrás? O filme não foi entendido por muitas pessoas. Isso pode explicar parte de seu fracasso, mas também pode ser porque quis contar uma história que pregava paz a e tolerância num mundo que estava prestes a entrar na sua Primeira Guerra Mundial.
Seja como for, hoje o filme é um épico que marcou a história do cinema. É um reflexo de um diretor que mostrava uma genialidade fora de série, não importando a história que contasse. E mais interessante ainda, é uma obra que mostra o quanto eles estava a frente de seu tempo. Ainda que tenha suas falhas, mostra que Griffith estava, pelo menos, décadas a frente de qualquer outro diretor. Não por acaso, o que temos aqui é uma obra de arte que é o maior espetáculo da era muda.
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