NOTA: 8,5.
- Eu tive um sonho que minha vida seria diferente desse inferno que estou vivendo.
Este filme é um musical no sentido puro da palavra. O que eu quero dizer com isso, é que se trata de um filme praticamente destituído de diálogos. Os atores não conversam entre si, eles cantam. Sobre essa parte, cabe cada espectador saber se gosta ou não. Eu gosto, e o que vi foi um dos melhores musicais que o cinema produziu nos últimos anos.
E na figura principal do filme, temos um Hugh Jackman no que pode ser seu melhor papel no cinema. Ele é alma da história e carrega o filme nas costas. História essa enorme escrita por Victor Hugo, em que ele interpreta Jean Valjean, um homem condenado a trabalho escravo por quase duas décadas por ter roubado um pedaço de pão para salvar sua sobrinha de morrer de fome. Finalmente liberto, ele adota outra identidade para fugir de seu passado, e com a ajuda de um bispo que lhe dá prata de sua própria igreja, ele consegue reescrever seu destino adotando um novo nome, já que seu nome verdadeiro é condenado por toda a sociedade.
Para seu azar, Javert (Russel Crowe), autoridade que servia como uma espécie de diretor de onde Valjean cumpria seu trabalho escravo, chega na cidade e reconhece o antigo prisioneiro, que agora é procurado por ter fugido de sua condicional. Por uma série de eventos que se seguem, Valjean deve novamente fugir enquanto é caçado pelo implacável Javert, mas dessa vez ele foge com Cosette (Isabelle Allen), filha de uma mulher a quem fez uma promessa.
A mulher é Fantine (Anne Hathaway), que trabalhava na sua fábrica e foi mandada embora injustamente por intriga de outras trabalhadoras. Cosette está sendo (mal) cuidada pelos Thénardier (Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, rendendo os melhores momentos cômicos do filme), que mentem dizendo que ela está sempre doente para que Fantine mande mais dinheiro. O desespero atinge a mulher que vende seu cabelo, alguns de seus dentes e começa a se prostituir para poder ter dinheiro para mandar para a filha. O sacrifício é tanto que ela não resiste aos maus tratos e morre, mas não antes de entregar a melhor cena do filme. Se Susan Boyle impressionou o mundo cantando "I dreamed a dream", ela vai ser rapidamente esquecida (se é que não foi ainda) depois da performance impressionante de Hathaway, que por si só já é motivo suficiente para valer a entrada do cinema.
E isso por causa de um grande acerto do diretor de não dublar nenhuma música como se costuma fazer em filmes musicais. Todos os atores catam enquanto interpretam, e cada cena ganha em carga dramática. Hathaway em close cantando em uma tomada única, é de simplesmente cortar o coração.
Não é, porém, um filme perfeito. Ainda que Jackman e Hathaway estejam muito bem em seus papéis, nem todo o resto do elenco acompanha. Crowe começa o filme tímida demais, e o dueto que faz com Jackman, que deveria ser uma espécie de duelo, só confirma que ele é coadjuvante no filme. Depois, Cosette é interpretada por Amanda Seyfried, que pouco acrescenta ao filme.
Outro problema, é que o filme perde muito de seu impacto no segundo ato. Nesse ponto, Crowe até cresce um pouco em seu papel, mas sua interminável perseguição à Valjean já perdeu interesse e fica cansativa. E o amor de Cosette por Marius (Eddie Redmayne) desperta pouco interesse, principalmente porque Seyfried é ofuscada por Samantha Barks, que interpreta uma Eponine também apaixonada pelo rapaz idealista.
Depois de passar o filme inteiro em closes nos rostos dos personagens, o diretor finalmente afasta sua câmera e começamos a ver cenários durante a revolta do povo contra o governo. Se você não conhece a história, não irá saber do que se trata aqui, porque em nenhum momento o filme nos situa do porquê exato da revolta e o que está em jogo no caso de uma derrota, e a montagem do conflito ainda destoa do resto do filme, e atrapalha um pouco do andamento do filme.
Problemas que não atrapalham tanto o filme. Apesar de tudo isso, o filme é uma experiência cinematográfica única e merece ser visto mesmo por quem não goste de musicais. Assim como pelos que conhecem a história, pelos que conhecem o musical ou mesmo os que não tenham a menor ideia sobre o que o filme trata.
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