segunda-feira, 1 de outubro de 2012

HITCHCOCK TRUFFAUT 37: A TORTURA DO SILÊNCIO - I CONFESS (1953)


NOTA: 7.
- Eu abusei da sua bondade. Você que me deu uma casa e uma esposa. Até mesmo amizade. Uma coisa tão maravilhosa para um refugiado, um alemão, um homem sem lar.

Um filme menos celebrado do diretor, mas que toca em uma questão interessante da igreja católica. Um padre ouve a confissão de um homem, Otto, que trabalha na sua paróquia. Otto homem lhe diz que estava tentando roubar um dinheiro de um advogado, quando flagrado acabou cometendo assassinato. Coincidentemente, o advogado estava chantageando uma mulher que teve um caso com o padre, e este sem poder dizer quem é o real assassino, pois foi uma confissão, acaba sendo acusado pelo crime.
O diretor diz que lhe faltou humor nesse filme. Não que isso quer dizer que faltem cenas engraçadas no filme, mas ele sempre procurou tratar de assuntos sérios com uma certa ironia. E talvez pela sua criação em um colégio jesuíta, ele não tenha conseguido encontrar uma forma de deixar o filme menos tenso. Até mesmo seu protagonista, Montgomery Clift, leva um semblante sério durante todo o filme. Não que isso seja ruim, o ator se destaca no filme com uma ótima atuação, mas apenas talvez indique a forma como o diretor tratou o filme.
Um dos problemas do filme e que incomodaram muitos críticos na época, é o fato de sabermos desde o início quem é o assassino e que o padre sabe sua identidade logo na primeira cena. Por mais que a plateia saiba que o padre não pode trair o segredo que ouviu no confessionário, se espera que ele faça alguma coisa para sair daquela situação. Mas de forma alguma, o roteiro dá qualquer alternativa para que ele saia daquela situação. O que ele faz durante todo o filme é aceitar que vai para a prisão pelo crime de outra pessoa. Situação atípica em um filme de Hitchcock.
Além disso, Hitchcock toca em outro assunto. Ele demonstra que certos personagens não servem para serem filmados. Sempre há pessoas que você conhece que quando conta para alguém, esse alguém não acredita que possa existir uma pessoa assim. Católicos sabem que o padre deve ficar calado, mas pessoas de outras religiões não aceitam esse conceito. O personagem do padre, é um personagem que não traz credibilidade para uma parte da plateia, portanto ele considera que houve um erro na concepção do filme.
Independente se a plateia pense que o padre deveria ou não contar, o fato é que o filme arrasta essa questão por muito tempo. Tanto tempo, que em determinado momento o filme toma um outro caminho e se prende por uma boa quantidade de tempo para contar a história de amor entre o padre e a mulher chantageada. História secundária que pouco acrescenta ao filme.
Não é um problema de ser um filme ruim, apenas se esperava mais de um filme do diretor que nessa época já gozava de certa fama. Ainda assim temos belas cenas, onde ele mostra sua habilidade em contar mais que os diálogos conseguem. Como na cena quando a mulher do assassino está servindo café para os padres e tenta descobrir as intenções de Logan. Eles não trocam uma palavra, mas sabemos exatamente a tensão que há na mulher. Cenas que só encontramos em um filme de Alfred Hitchcock.

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