NOTA: 9.
- Pessoas sempre olham torto para prostitutas. Nunca dão uma chance porque acham que elas tomaram a saída mais fácil, quando ninguém imagina a força de vontade que é necessária para fazer o que fazemos.
Muito se falou da interpretação de Charlize Theron neste filme, interpretação laureada não só com o Oscar de melhor atriz mas também como praticamente todos os prêmios no mundo da categoria. Sua performance é quase incontestável e o motivo é simples, quando uso a palavra "interpretação" eu estou cometendo um erro, Theron não interpreta, ela incorpora a personagem. Não é apenas ganhar peso, maquiagem e próteses, é ser o personagem. É só olhar a maneira como seus olhos vagam inquietos, a maneira nervosa como fuma um cigarro, ou mesmo a move seus braços. Tudo compõe essa personagem de forma fantástica.
O julgamento, condenação e execução de Aileen teve grande estardalhaço na imprensa. A própria Aileen teria declarado que os policiais não a prenderam antes para que ela ficasse famosa. Ela disse que a intenção é que quando isso acontecesse, sua prisão traria notoriedade aos policiais e possíveis lucros com venda de livros entre outras coisas. Se isso é verdade ou não, é difícil saber, mas é verdade que ela só foi presa depois de sete assassinatos em que ela também roubava suas vítimas.
Ela acaba sendo condenada depois que sua amante, Selby (Christina Ricci) a entrega para a polícia. Ao que parece, Aileen não tinha experiência gay antes de conhecer Selby, mas quando estava numa situação difícil Selby foi gentil com ela e as duas criaram uma conexão. Aileen se prostitui para conseguir dinheiro o suficiente para ir morar com Selby em algum outro lugar, e até tenta uma nova vida procurando um emprego, mas não tem muitas possibilidades e acaba voltando para a prostituição.
Selby por sua vez não faz nada para ajudar. Não trabalha ou sequer procura um emprego. Apenas reclama quando falta alguma coisa dentro de casa e que quer sair para se divertir. Ela se mostra totalmente alheia ao que sua companheira faz para sustentar as duas e até mesmo fica preocupada com a falta de dinheiro quando Aileen diz que quer parar de se prostituir, mas nunca parece ligar para os diferentes carros que aparecem.
Embora o primeiro assassinato tenha sido do homem que a espancou, as outras mortes parecem vir do ódio que Aileen tem pelos homens. Durante todo o filme, ela só parece ter um único amigo. Os homens a trataram mal todas as vezes que ela se lembra, e antes de cada morte ela parece recordar tudo que lhe fizeram de mal para justificar suas mortes. Até culminar no homicídio do único homem que tentou estender a mão para ajudá-la. Mesmo para ela, é longe demais.
Uma coisa que me pareceu interessante é que o filme não coloca Aileen como vítima ou culpada. Não há desculpas para o que ela faz, mas também há certas razões para ela tomar essas atitudes. Ela é desleixada, desbocada, impulsiva e raivosa, o que a leva a ser também muito violenta. Isso tudo apoiada por uma das interpretações mais surpreendentes da história do cinema. Theron não quer que olhemos para ela e vejamos uma mulher que é culpada ou inocente, quer apenas que acompanhemos seus últimos atos, sejam justificáveis ou não. E o faz com uma performance inesquecível.
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