NOTA: 9.
- Estamos apaixonados. Nós só queremos ficar juntos. O que tem de errado nisso?
O diretor e roteirista Wes Anderson é um autor único no cinema atual. Suas histórias rapidamente se tornam algo que não vem do mesmo mundo onde eu e você moramos, elas deixam de ser eventos que podem acontecer no cotidiano e passam a tomar um rumo totalmente inesperado. Passam a tomar forma em um lugar mágico que funciona com suas próprias regras. Geralmente, esses mundos são criados baseados no intelecto do diretor, mas este filme parece ter saído do seu coração.
Esse novo mundo criado por Anderson é uma ilha, e o ano é 1965. O ano até poderia não importar tanto, pois poderia ser em qualquer época, mas vale para observar a caracterização do filme. Nosso casal de protagonistas são duas crianças: Suzy, que vive em um farol junto de sua família; e Sam, um órfão que vive num acampamento de escoteiros. Os dois se conheceram um pouco tempo antes e começaram a se corresponder através de cartas. Agora, ambos fugiram de seus lares para ficarem sozinhos sem a supervisão de um adulto.
Sam é um escoteiro, por isso ele leva consigo diversos equipamentos para acampar, mapas e outros materiais de sobrevivência que considera essenciais para poder manter os dois vivos. Já Suzy é uma sonhadora e leva uma mala que tem comida para o gato que está levando com ela, livros e um tocador de disco de vinil portátil com baterias extras.
Presente em quase todos os filmes de Anderson, Bill Murray vive o pai de Suzy, Walt Bishop, que é casado com Laura (Frances McDormand). Ambos estão ótimos, mas me impressiona como Murray sempre parece a escolha certa para um papel nos filmes de Anderson. Será que o diretor já escreve tendo em mente o ator ou será que ele é uma combinação ideal para o clima melancólico que permeiam os filmes?
A fuga separa o filme em dois mundos. Temos as crianças que estão aproveitando o tempo que têm de serem irresponsáveis e imaturos ainda que seja por um período curto de tempo, e temos o mundo adulto que se une em uma busca para encontrar as crianças que estão desaparecidas. Além dos pais da menina, isso inclui o capitão Sharp (Bruce Willis), o chefe dos escoteiros Ward (Edward Norton) e a assistente social conhecida como Assistente Social (Tilda Swinton).
O que realmente torna um filme de Anderson especial é como ele conta uma história como essa. É claro que sabemos que os eventos que estamos vendo são bem improváveis de acontecer, mas o importante é que sentimos que em nenhum o momento ninguém do elenco (em especial as crianças) estão brincando. Todos levam o filme a sério, o que dá gravidade ao material mesmo que seja tudo lírico. Tudo é fantástico, e muitas vezes o que acontece em forma de fantasia é mais interessante do que o que acontece na vida real. Ou pelo menos é mais interessante da forma que acontece na cabeça de Wes Anderson.
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