
NOTA: 8.
"Eu mato qualquer um que encostar em você. Porque este é meu trabalho." O Homem
O livro A estrada, de Cormac McCarthy (Onde os fracos não tem vez), é um daqueles livros que as pessoas diziam que não podiam ser adaptados. Algumas vezes, quando isso é dito, o resultado é decepcionante, como visto recentemente nos cinemas com Watchmen, aqui já não é. Claro que temos ter em mente que o filme deve ser avaliado pelo que ele é, não pelo que é em relação ao livro. Ambos tem seu valor, mas a forma como aprecia um livro não é a mesma que se tem em relação a um filme.
Acompanhamos personagens sem nome. O Homem (Viggo Mortensen) e seu filho, O Garoto (Kodi Smit-McPhee). Por algum motivo que nunca fica claro, o mundo virou um caos pós-apocalíptico. Guerra nuclear? Não tem muita importância para o filme, o que interessa é como o mundo ficou depois disso. Os dois andam pela estrada em direção sul sempre com muita cautela. Encontrar alguém na estrada não significa encontrar um companheiro de viagem, pode significar o encontro com alguma quadrilha canibal.
Basicamente, o filme é separado em dois grupos: a dupla são as pessoas boas, quase todo o resto são as pessoas más. Assim como visto em Ensaios sobre a cegueira, quando o pior acontece a humanidade não se une, ela se divide e os mais fortes querem se dar bem em cima das outras pessoas. O medo do Homem é não viver o suficiente para que seu filho aprenda a se virar sozinho, o garoto teme perder a humanidade. "Ainda somos os mocinhos?", ele pergunta frequentemente.
O elenco funciona perfeitamente. Mortensen está ótimo como o pai, sempre disposto a qualquer coisa para proteger seu filho. Mais um personagem para a galeria diversificada de sua carreira (já interpretou um Amish, um rei e um chefão da máfia russa, pra citar alguns). O Garoto é uma ótima surpresa. Smit-McPhee apresenta um garoto num mundo onde sua inocência não tem vez. Charlize Theron é uma presença luminosa que aparece em flashbacks. O único porém é que aparecem flashbacks demais que parecem querer aproveitar a sua presença e que pouco acrescentam a história. Há ainda a ótima presença de Robert Duvall, que infelizmente só dura uma cena.
O diretor John Hillcoat monta seu mundo destruído de forma impressionante. Os figurinos e cenários todos parecem se encaixar perfeitamente no visual do filme. O Homem e o Garoto vestem o que parece ser necessário para a sobrevivência naquele mundo. As casas que aparecem, estão sempre com aparência de abandonados. É um visual triste para um filme tão triste quanto.
Lembro de ter escrito há pouco tempo que bons filmes geralmente causam uma sensação. Aqui ele incomoda, e não parece ter uma chance de redenção para nenhum personagem.